DELEGADA MARIA ELISA (PARTE LXIX): A POLÍCIA DE VIDEIRA (DELEGADOS FLARES DO ROSAR, LUIZ FELIPE DEL SOLAR FUENTES E PATRÍCIA CEMIM), UMA ESCRIVÃ “PEDACINHO DO CÉU” E SINAIS GERMINAIS?
Por Felipe Genovez | 27/02/2019 | HistóriaDia 24.08.07, por volta das sete horas da manhã, ainda estava hospedado no Hotel Verde Valle e, ainda, sem fazer a barba e tomar banho resolvi ir para o café. Na descida da escada encontrei “Zico” de retorno para seu quarto, e o cumprimentei rapidamente. Quando retornei do café resolvi dar uma passada no computador que estava disponível para uso dos hóspedes, antes disso telefonei para a recepção pedindo que avisasse “Zico” para levar Marilise e Ariane até a Delegacia Regional porque eu me atrasaria um pouco para a audiência.
Delegados Flares, Priscilla e “Luiz Felipe”:
Quando já eram nove horas e dez minutos “Zico” veio me apanhar e fomos para o gabinete do Delegado Regional (Flares do Rosar), onde se realizaria a ouvida de uma testemunha. Logo que entrei no gabinete percebi que Marilisa estava sentada numa poltrona e ficou olhando de maneira engraçada, deixando escapar uma fagulha de brilho no olhar talvez pelo fato de estar me revendo e me desejar um excelente dia. Tentei reservar aquele seu jeito matinal de me recepcionar, era como se ela ficasse feliz por me ver chegando, sentindo a minha energia amiga, o calor da presença. Talvez até pensasse que eu tivesse me distanciado propositalmente da equipe ou não que quis tomar café da manhã junto com o pessoal por algum motivo profissional, e realmente era isso, tinha que terminar um relatório e remeter para a Corregedoria, por isso tinha ficado mais tempo no hotel para passar o resto do dia mais tranqüilo. Durante à madrugada eu tinha ficado acordado até mais tarde ultimando digitações para a nossa “posteridade”... e talvez um dia ela viesse a compreender tantas coisas “não ou mal ditas”. Procurei ficar um porquinho próximo dela e sentir o seu calor, afeto e companhia, também comutar tudo aquilo numa via de mão dupla.
Uma Escrivão pedacinho do céu:
Terminada a audiência, fui até a Delegacia da Comarca de Videira (em frente do prédio da Delegacia Regional) para uma visita rápida aos Delegados Luiz Felipe e Priscilla Cemin (sua esposa e Delegada de Tangará), dois excelentes profissionais. Antes de acessar o gabinete de Luiz Felipe, passei pela sala da Escrivã Ivone e fiz questão de cumprimentá-la, uma pessoa deslumbrante, marcante, com uma energia excepcional, uma profissional diferenciada... e lamentei, também, não poder buscar uma proximidade maior, especialmente, em razão da distância. Noutras oportunidades já tínhamos conversado e pude perceber a sua grandeza interior, seus valores, princípios... Quando cheguei ao meu destino, o gabinete do Delegado Luiz Felipe, logo que me viu chegar se levantou disse:
- “Ué, quer dizer que a Corregedoria vai se mudar para cá agora? Hoje já esteve aqui o Hilton Vieira, o Nilton Andrade e agora tu também?”
Argumentei:
- “É mesmo, tiveram aqui?”
Rapidamente, fui entregando cópia do anteprojeto do “Fundo de Aposentadoria” e o casal já revelava que tinha conhecimento do assunto. Luiz Felipe chegou a ironizar:
- “Eles conseguiram até vinte por cento para os Coronéis...”.
Interrompi:
- “É verdade. Mas nós temos que fazer alguma coisa, temos que formar uma onda, levar a idéia para a ordem do dia. Vocês sabem que se não tomarmos a iniciativa não vai acontecer nada...”.
Sim, o entendimento era geral, ou seja, se formos esperar pela direção da Associação dos Delegados, pela cúpula da Polícia Civil correríamos o risco de só ficar vendo navios.
Por volta das dez horas e trinta minutos iniciamos nosso retorno para Joinville e coloquei aquele acústico do “Kid Abelha”, com aquelas faixas: “Grande Hotel”, “Só Penso em Você”, “Errado Errante”, “Como eu Quero”, “Casinha de Sapê”..., tudo dentro de um clima e para barrar maus agouros, especialmente vindos de “Zico” que parecia às vezes incorporar uma energia muito ruim em razão dos seus problemas financeiros pessoais. Fomos até Curitibanos ouvindo aquele “CD” em volume médio a alto. Quando já estava próximo de meio dia chegamos num restaurante bastante conhecido e freqüentado por nós noutras oportunidades, localizado no centro da cidade para almoçarmos. Eu e Marilisa sentamos juntos e do outro lado da mesa “Zico” e Ariane. Depois que terminamos nossa refeição eu e Marilisa ficamos sozinhos na mesa e passamos a conversar de forma mais reservada. Marilisa antes do almoço tinha ido no banheiro e retirado seu casaco, deixando transparecer sua camisa com os ombros descobertos, provavelmente em razão do calorão pós almoço. Aproveitei para colocar minha mão direita com a palma estendida passando por suas costas desnudas como forma de provocação e fui dizendo:
- “Puxa, como a tua pele está quente!”
Marilisa se manteve imóvel e impávida diante do meu gesto. Em seguida pedi que ela fizesse uma revisão da nossa alimentação durante nosso almoço, lembrando que ela era muito carnívora. Comente que na noite anterior ela tinha comido toda a carne do petisco praticamente sozinha, fazendo aquilo com alguns toques que denotavam certa compulsividade meio que disfarçada, talvez em razão do cansaço da nossa jornada. Mirei seus olhos e disse:
- “Tá vendo como perto dos teus olhos está inchado? Já te vi algumas vezes depois de acordar que tu estavas com o rosto desse jeito...”.
No momento em que falava isso, peguei minha mão direita e com o dorso passei suavemente por sua face, procurando mostrar seus pontos reveladores daqueles sintomas. Logo que me dei conta, retirei a mão e comentei:
- “Puxa, pode ser que eles estejam nos vendo (falava de Zico e Ariane) e não vão entender nada, acho melhor a gente se cuidar um pouco, retomar a nossa postura oficial...”.
Sinais germinais:
Marilisa (que não tinha feito nada de mais) também concordou, mas sem fazer muita questão de partilhar desse meus “insights’ e de querer ir embora, parecia não ter muita pressa. Era nítido que ela queria ficar mais, conversar e talvez ouvir alguma coisa bem temperada, uma história linda, um conto engraçado, uma lenda sobre o fundo dos oceanos e seus mistérios... Aquelas nossas sementes filosóficas parece que davam sinais germinais e pude perceber um salto na sua evolução, especialmente, na nossa amizade, sentimentos e afinidades que nos energizavam. Aliás, nesse ambiente sensorial ela continua sendo muito fria, não era capaz de se arriscar além do seu mundo formal, de dizer algo sensível, do coração, de pensar na grandeza do gesto, na força de versos da alma, até de dizer um obrigado pelo carinho, pelos sentimentos..., só o convencional. No entanto, tudo estava sendo compensado com sua presença e com aqueles pequenos sinais que só eu poderia sentir a caminho das estrelas. Argumentei que cheguei num ponto da minha vida que pretendia ser cada vez mais “invisível”, porém, o destino talvez não me reservasse essa opção. Marilisa apenas ouviu, porque aquilo era uma experiência que se contrapunha a toda a sua visão de mundo, a sua forma de se inserir na sociedade joinvillense, buscar um viés político para sua vida.
Base “discursal” quântica e uma visão semiótica?
A seguir resolvi falar um pouco sobre o pensamento na linha “quântica”, de como éramos reféns de um mundo físico plano, a começar pela nossa condição humana, da natureza animal e da sociedade feita à imagem dessa realidade determinista que impunha processos civilizatórios permanentes, padrões sociais, econômicos e jurídicos de cidadania para submeter as pessoas, instituições públicas e privadas, uma verdadeira orquestra e sua simbologia macro para impor miríades formas de temor de forma ostensiva ou introjetada, ferramentas opressivas visíveis e invisíveis direcionadas as pessoas, a submissão cega ao Estado onipotente e onipresente, a seus governantes, regimes políticos em que parlamentares são eleitos pela sociedade para defender interesses outros, mas não de “eleitores” ou das pessoas em geral que são mantidas “distraídas” intensa e permanentemente por meio de “sinais” difusos, fortes ou fracos, que se renovam como o vento, tudo isso sob o “olhar” do poder econômico que controla o mundo, opera próximo ou à distância dentro do próprio Estado, dita todas as regras. Dentro desses “insights” me permiti brincar dentro de uma “visão semiótica”:
- “Imagina se eu e você resolvêssemos ficar pelados aqui em frente, no meio da rua, usando grandes crucifixos pendurado em nossos pescoços e gritando palavras de ordem contra tudo que impõe à sociedade dor e sofrimento, invocando ‘Jesus’, filho do criador, o que ocorreria conosco, o que iriam pensar?”
Marilisa achou graça e disse:
- “Tudo bem, se fosse numa praia de nudismo...”.
Interrompi:
- “Eu sou meio careta com essas coisas, eu não estou falando em ficar pelado mesmo, é puro simbolismo, eu estou falando em quebrar regras, estou falando como nós somos condicionados a seguir normas, desde as mais simples e quando as transgredimos ficamos com um sentimento de culpa, sem contar os julgamentos, as conseqüências, então imagina a força opressiva por trás disso tudo...”.
Marilisa ouvia tudo com certa atenção e eu procurei comentar ainda que também não adiantaria se querer complicar tanto as coisas, porque a beleza estaria apenas num gesto simples. Citei como exemplo uma equação matemática. Quando não a entendemos achamos um bicho de sete cabeças..., mas depois de resolvida tudo parece simples. Argumentei que assim era a vida e acabei comentando que a menor distância entre dois pontos sempre deveria ser uma “reta”, tentando mostrar que não deveríamos complicar tanto as coisas e que poderíamos conversar até por meio de nossos próprios “sinais” próximos ou distantes, desde que estivéssemos sempre irmanados..., e que simplesmente nunca haveria “silêncio” em nossas vidas.