DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE LXIII): UMA SITUAÇÃO EXTREMA NO CENTRO DA POLÍCIA ESTADUAL E O QUE PENSAVAM OS DELEGADOS GENTIL JOÃO RAMOS E ADEMAR JOÃO REZENDE.

Por Felipe Genovez | 25/02/2019 | História

O que pensava o Delegado Gentil João Ramos:

Dia 20.08.07, por volta das quatorze horas fui até a sala do Delegado Gentil João Ramos para trocar alguma conversa.  Gentil estava sentado lendo um jornalzinho e eu fui direto para falar sobre promoções e dos esquemas para acerto de situações de Delegados, tipo “balcão de negócios”, como era flagrante o caso da Delegada Magali. Gentil comentou  que tinha conhecimento que a coisa fluiria daquele jeito, tudo por meio de “acertos”...  Acabamos falando do caso “Marcucci” e argumentei  que achava que se desse uns noventa dias de suspensão para ele estava de bom tamanho, mas pedir a demissão  era demais, em especial, quando tínhamos  conhecimento que tudo foi um complô de cúpula ... e mais o pessoal da Justiça lá de Joinville e foi usado de forma eficiente. Gentil deu a impressão que não estava muito de acordo, provavelmente contaminado com as informações que circulavam  e por estar alheio a apuração. Comentei  que meu argumentos estava embasados no fato de  Marcucci se encontrar em dificuldades financeiras e se tivesse “roubado” estaria bem de vida. Também argumentei que seria interessante que Marcucci se agilizasse para reverter sua situação. Gentil fez uma cara de ironia, e estrategicamente não disse nem que sim e nem que não, dando a nítida impressão que duvidava que conseguiria uma reeleição para a Câmara de Vereadores. Comentei ainda que na verdade Marcucci foi perseguido,  quiseram destilar a vindita contra ele quando não fez um acerto político com a cúpula da Delegacia-Geral,  já que era candidato a Deputado Federal e concorria diretamente com o Delegado-Geral que também era candidato, cujos fatos eram do conhecimento de todos. Também, comentei que o Delegado Hilton Vieira acabou se deixando usar na condição de chefe da Corregedoria... (leia-se: Gerência de Orientação e Controle).  Senti uma energia carregada nessa conversa com o Delegado Gentil porque o mesmo dava a impressão que apenas queria ouvir a minha opinião, sem interagir, talvez sabendo que estava ali para provocá-lo... Todos sabíamos dos problemas de Marcucci, novo, inexperiente, ambicioso, acabou entrando no mundo político, totalmente incompatível com a atividade policial limpa, honesta, digna, verdadeira, séria... Para efeito de comparação e diferença de tratamento, acabei citando o “caso” do Delegado “G. V.” e a comparação com o tratamento dispensado ao Delegado Alcino Silva, ocorrido na época da Secretária Lúcia... Depois citei a situação dos ex-governadores que enquanto no cargo recebem um salário de dez mil reais para segurar os salários do Executivo. Depois de cumprirem o mandato e como forma de “prêmio” passam a perceber aposentadoria de “Desembargador”, com vinte e quatro mil reais. Citei o caso do ex-governador Eduardo Pinho Moreira que ficou apenas um ano no cargo, substituindo Luiz Henrique, e  se aposentou com um salário  de “Desembargador” . Para minha surpresa Gentil argumentou:

- “Mas, Felipe, tu tens certeza que isso é verdade?” 

Era demais, fiquei impressionado com o autismo proposital ou casual de Gentil, totalmente alheio a realidade, criticando a tudo e a todos (Delegados), como se não fizesse parte desse universo.  Quando dei ciência sobre o anteprojeto de  lei que pretendia criar o “fundo de aposentadoria dos policiais civis”, copiado da legislação da Polícia Militar, Gentil ficou passado e sugeriu  que seria bom repassar o assunto para o jornalista Moacir Pereira. Contraditei dizendo que não era o caminho, devíamos, isto sim, lutar para  conquistar o benefício, mas jamais prejudicar os militares. Gentil deu de ombros como se dissesse que era impossível, quem iria fazer isso, para nós tudo era complicado...  No final Gentil culpou todos os Delegados pela situação que enfrentávamos, desde a história da disputa dos “TCs” com a Polícia Militar... Aproveitei para comentar  que existia muita gente dona da verdade, mas ninguém tomava providência alguma.  Acabamos falando sobre a Associação dos Delegados e concluímos que estávamos amordaçados. Após encerrar a conversa com o enigmático Delegado Gentil não tive certeza se externou a verdade ou somente quis concordar comigo como forma de manter a conversação fluente...

O que pensava o Delegado Ademar João Rezende:

Por volta das dezesseis horas o Delegado Ademar João Rezende veio me fazer uma visita. Logo que adentrou minha sala senti que ele estava  com aquele seu ar de cansado, meio que já passando da terceira idade, mas se tratava de um baluarte na instituição, com posições institucionais, luz própria...  Relatei  para Ademar sobre a lei do “fundo de aposentadoria  dos policiais militares e ele argumentou  que desconhecia o assunto, mas leu  a legislação e deu a impressão de que não acreditava em nada daquilo, como se fosse uma lei fantasma, ninguém sabia de nada.  Concordamos que estávamos amordaçados e Ademar Rezende relatou o último encontro dos Delegados realizado no mês de junho na cidade de Curitibanos. Relatou que   na mesa central sentaram a presidente da Adpesc (Delegada Sonéa), o seu marido Delegado Neves (Secretário Adjunto), mas o Delegado-Geral da Polícia Civil Maurício Eskudlark..., e que aquela imagem revelava  total comprometimento de todos e acabava impondo um círculo fechado de  amordaçamento de toda a categoria, já que as lideranças estariam cumpliciadas para calar a todos.  Ademar confessou que não foi ao encontro, mas se baseou no relato dos que foram e  criticou, sem dar nomes aos ex-presidentes, que a Adpesc  havia comprado  um  “prédio”, dispensando  um dinheirão para manutenção sem beneficiar em nada os Delegados.  Tivemos que lembrar o nome do Delegado Mário Martins que teria comprado o prédio (na verdade era um apartamento) e Ademar adicionou contando que também pegaram um terreno em comodato, próximo da BR 101,  gastaram quase cem mil reais em aterro e o imóvel que era do governo estava em estado de abandono. Depois Ademar citou o Delegado Maurício Noronha que comprou mais duas salas no edifício onde funcionava a sede da Adpesc, gastaram novamente um dinheirão e ninguém freqüenta o local, está tudo abandonado, um festival de gastança, mentiras, enganações.. Aproveitei para argumentar que seria preferível uma coisa pequena e se investir recursos em ações, pareceres de juristas renomados, defesas de Delegados... Ademar concordou e assim encerramos nosso bate-papo.

Por volta de dezessete horas a Escrivã Margarete Jansen veio até minha sala para que eu assinasse alguns documentos relativos as intimações dos Juízes Marcos Buck e Roberge, ambos de Joinville, bem como dos Delegados Thomé e Hilton Vieira, no processo disciplinar do Delegado Marcucci. Depois de assinar os documentos Margarete perguntou se  eu que desejava conversar com a Delegada Marilisa porque ela tinha ligado e conversado a respeito da viagem desta semana, afirmando que ligaram da Corregedoria para o seu celular. Respondi que eu não tinha ligado para ela e que talvez tivesse sido a Escrivã Ariane.

Por volta das dezessete horas e trinta minutos, estava pronto para viajar para São Francisco do Sul quando a policial Nora me avisou na portaria que havia uma ligação e logo que atendi soube que se tratava da amiga  Marilisa que  me perguntou  se  tinha ligado para ela. Respondi que não e ela foi dizendo que havia conversado com a Escrivã Margarete, pois pensou que se tratava daquela comissão da qual ela era secretária, quando descobriu que era Ariane... Marilisa, de maneira  sutil, argumentou:

- “Mas eu liguei para ti também, disseram que tu tinhas dado uma saída aí eu tentei falar com elas...”.

Depois que Marilisa falou aquilo fiquei pensando: “Puxa, taí, como ela sabe articular as coisas,  como é habilidosa...”. Mesmo já conhecendo um pouco a sua mente, sabendo que quanto mais fácil mais ela desdenhava, quanto mais dominado, mais repelia, quanto mais fácil..., quanto mais aproximação mais indiferença, quando mais busca, mais fuga... Sabedor desses jogos mentais básicos, procurei  fazer aquele jogo me tornando uma coisa bem barata, disponível, dizendo:

- “Me pegasse aqui nas últimos, estou indo nesse momento agora para São Francisco. Amanhã temos audiência em Jaraguá do Sul, mas vou deixar meu carro em Joinville, na Delegacia Regional, na quarta também...”.

Marilisa interrompeu com aquele seu jeito de “barbarella” cativante, de que tinha tudo sobre o seu controle, dando ares de  quem parecia estar na superfície:

- “Sim, mas nossa viagem é na quinta e sexta. Hoje estou de plantão na Central de Polícia...”.

Interrompi:

- “Sei, amanhã tu dormes o dia todo. Bom, como na sexta eu disse que iria ligar para ti. Bom, eu iria ligar mais tarde, adivinhasse meus pensamentos...”.

Marilisa deixou escapar um riso  de conformação e eu continuei:

- “Bom, na quinta a gente viaja junto...”.

Marilisa:

- “Pois é, mas eu queria saber se a gente vai sair junto aqui de Joinville?”

Respondi:

- “Sim, claro que vamos, eu vou deixar meu carro na Regional”.

Marilisa:

- “Ah, então eu já vou deixar tudo certo, vou conversar com a Ana (Escrivã Ana Balestrin) lá na Regional, já vou pedir o carro...”. Terminamos a ligação com aquele beijo formal e o até logo. Era triste aquele seu jeito, uma constante constrição de forças, sua mente era complicada,  acabava a desafiar minha sensibilidade,  num estágio primário, com  um misto de orgulho, vaidade, beleza, delicadeza...  e você acabava sendo forçado a sucumbir ou fugir. Mas tinha o outro lado, essa energia  envolvia aprendizado,  apesar da recorrência, das contingência..., esse era o lado que possibilitava um grau de evolução, muito embora  revelasse também ser uma pessoa altamente consumidora de energia dos mais próximos porque possuía dependência de emoções que servia de  de combustível para o seu dia-a-dia. Nisso, as pessoas deveriam  transitar num plano invulgar, pois do contrário poderiam  servir como meio catalisador  final de  espasmos neurais que exigiriam ação, reação, dormência, repressão...  E nesse processo o sofrimento, a dor e outros sentidos funcionavam como variáveis e fontes primárias. Para tanto, ela precisava amar, querer bem, parecer boa... e, ao mesmo tempo, sentir tudo isso de volta. Na  outra ponta precisa compensar de alguma forma a energia gasta para alcançar seu  estágio de equilíbrio,  ou de qualquer outro meio, como por meio de remédios, menos praticando algum tipo  de maldade direta, só de forma velada e sutil... Sim, a indiferença comigo, o descaso, o distanciamento, a negação, o desdém..., parecia funcionar  de forma involuntária no abastecimento de suas energias, tudo resultado de meu processo de aproximação, de minhas estratégias para manter sempre viva a nossa relação, alimentar minha proximidade para que tivéssemos uma amanhã. Era  certíssimo que precisava urgente daquele processo que me consumia, me torna próprio refém de seu magnetismo, mas precisava resistir e continuar em frente para que existisse uma amanhã. Mas,  toda aquela experiência já era valida,  gostava muito dela., apesar de que até aquele nossa  amizade convencional ainda era bastante incipiente,   faltou a supremacia dos  “setes” e restaram a força dos “zeros”. Sobrevivemos!

Por volta das vinte e um horas liguei para o celular de Marilisa querendo dar um oi e saber se estava tudo bem, mas nada dela. Por que não quis atender? Será que estava num plantão daqueles de amargar, isso como ela  sempre me dizia,  no dia seguinte só restava  dormir, dormir, dormir...  Bom, qualquer coisa que eu pense poderia não refletir a realidade e o negócio era  esperar até o amanhã, quando provavelmente teria  as respostas ou alguma novidade. De qualquer maneira sempre era  uma emoção muito boa esperar por Marilisa, nem que fosse por meio de uma  ligação, um oi, ou um alô...