DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE CXXXV):  “ALMAS GÊMEAS E ESPÍRITOS ESPELHADOS?  PROMOÇÕES, REMOÇÕES E LOTAÇÕES SERVIRIAM COMO ‘BALCÃO DE NEGÓCIOS’ OU PARA FAVORECIMENTOS POLÍTICOS E PESSOAIS? A EXÓTICA DELEGADA RUTH HEHN.”

Por Felipe Genovez | 30/05/2019 | História

Almas gêmeas?

Dia 22.11.07, por volta das quatorze horas, estava retornando do almoço com a policial Patrícia Angélica e o motorista Dílson Pacheco, dirigindo-me para a DRP/Joinville para ouvir mais uma testemunhas pertinentes a um procedimento disciplinar. No trajeto Patrícia Angélica me fez um questionamento:

- “Doutor, o senhor não achou aquela Ivonete parecida com a doutora Marilisa? Elas parecem iguais até na maneira de se vestir, no óculos, no jeito de falar...”.

Olhei para Patrícia Angélica e respondi:

- “Claro que sim, Patrícia. Elas são superamigas e acabaram desenvolvendo uma  convivência ficaram super parecidas. Também observei as semelhanças entre elas...”.

Patrícia acabou achando graça porque pensamos a mesmíssima coisa ao mesmo tempo que pensei: “Agora entendo um pouquinho mais minha doce amiga, levando em conta que a querida Ivonete tem sua vida pessoal e há anos é amiga de Marilisa”. Patrícia Angélica fez um último comentário:

- “As duas parecem que têm os mesmos problemas... e acabam influenciando os policiais que trabalham com elas desabafando seus problemas...”.

Interrompi para dizer:

- “Sim, é verdade, as duas ficam reclamando do estresse para as outras e acabam contaminando todo mundo com um clima ‘deprê’, o que é natural no nosso meio, ainda mais quando as pessoas têm seus problemas pessoais e acabam desabafando no local de trabalho, até como uma forma de compensação...”.

Um balcão de negociatas ou favorecimentos...? 

No dia 23.11.07, por volta das oito horas e trinta minutos, estava na Delegacia Regional de Balneário Camboriú e encontrei a policial Julita, secretária do Delegado Regional Ademir Serafim,  que me avisou que seu “chefe” chegaria mais tarde.  Fui para a sala de audiências onde Patrícia Angélica me aguardava e, a seguir, comecei ouvindo a Delegada Ruth Hehn com quem havia acertado aquele horário. Ruth parecia feliz por estar trabalhando na cidade onde residia seus familiares. Anteriormente, atuava em Joinville com Marilisa, só que segundo soube acertou sua remoção com o Delegado-Geral Maurício Eskudlark, no velho esquema de promoções arranjadas, vindo a ser “designada” para atuar naquela cidade. Nada a censurar nessa conduta porque esse já era um mecanismo bastante usado pelas direções que passaram Polícia Civil desde a entrada em vigor das LCs 55/92 e 98/93, utilizando-se o sistema de entrâncias como “balcão de negócios”, vigorando a velha máxima: “Para os amigos os benefícios da lei...”. Também, tinha que se considerar que poderia ser uma jogada política, pois a mãe de Ruth, com idade já avançada e problemas de saúde, residia há anos na monumental Balneário Camboriú e, segundo soube (havia mais de trinta anos), portanto, seria possível que o Delegado-Geral não tivesse como não ceder a um pedido político de uma instância superior tendo que proceder sua designação para prestar serviços naquela comarca. 

A “éxotiqué” Delegada Ruth:

No curso da conversa, Ruth se mostrou bem à vontade, sempre sorridente e muito simpática, uma profissional competente e dedicada, dando a impressão que estavas de bem com a vida... Observei que ela estava trajando um vestido branco e com um rabinho nos seus cabelos loiros, destacando-se seus olhos salientes esverdeados e claros... Calculei que Ruth já deveria ser uma quase quarentona, pois seu corpo e rosto não escondiam sua faixa etária, muito embora ainda revelasse resquícios de formosura, de um porte físico esguio e bem delineado,  um charme nos gestos... Sua voz também tinha um quê de sensualidade, porém, discreta. Ruth fez uma crítica ao encontro dos Delegados (Adpesc), previsto para o dia 30.11.07, na cidade de São Miguel do Oeste, quando foi acertado que haveria escolha de vagas para fins de promoção...  Na verdade, Dirceu Silveira já havia reclamado que marcaram a escolha de vagas para movimentações funcionais para a data do encontro da Adpesc, misturando assuntos classistas com questões administrativas institucionais, tudo bem ao gosto de Maurício Eskudlark. Fiquei pensando: “Claro, óbvio, se fosse só a assembleia, provavelmente haveria cobranças, críticas, exigência de posições ideológicas, contraposição ao governo, adoção de medidas... e com a presença da cúpula da Polícia Civil, certamente que qualquer reação classista ficaria inviabilizada, pois o pessoal iria se sentir ‘controlado’, ‘pressionado’, ‘desestimulado’... Sim, foi uma jogada de mestre da Delegada Sonêia e seu marido Neves (SSP Adjunto), do Delegado-Geral Maurício Eskudlark e seus ‘assessores’ e, também, do próprio Secretário Ronaldo Benedet que talvez preferisse todos os Delegados com características de ‘ordeiros’... Na verdade a maioria dos Delegados pareciam ‘alienados’, ‘neófitos’ e não iriam se dar conta que essa estratégia montada seria uma forma de ‘calar a boca’ do pessoal, prevenir reações contra o governo e manter todos conformados, submissos, sem reação... Ruth, a exemplo da Delegada Magali (antes na Corregedoria e depois “designada” para atuar em Balneário Camboriú onde também residia sua família...)  era um exemplo disso e era bem provável que iria para uma assembleia da Adpesc (e da cúpula da SSP e DGPC) para dar o ar da sua graça, sem que viesse a contestar o “sistema” ou que tivesse a coragem criticar o governo pelas perdas salariais, absolutamente diria nada, não contrariaria seus superiores... e pensei: “pobres delegados!” E eu que fui o autor também da lei de promoções e sonhei com um sistema de distribuição de Delegados que respeitasse critérios sérios, rigorosos, desprovidos de ingerências político-partidárias (a exemplo do Judiciário e “MP”), me senti na pele de Santos Dumont...”.

No final da audiência fiz um elogio:

- “Ruth, agora entendo porque me disseram que você é uma mulher exótica, puxa vida, não é que é mesmo...!”.

Ruth esticou o pescoço e com um sorriso largo me questionou de pronto:

- “Quem disse isso? Quem disse? Mas que bom que acham que eu sou exótica...”.

Olhei para ela, afundado na cadeira e externando um olhar ‘fantástico’, disse:

- “Não posso te dizer, mas não foi a Patrícia Angélica...”.

Ruth pareceu um pouco desconfiada com minha secretária que estava que nem uma vara verde no computador, com um olhar arguto, argumentou:

- “Ah, mas que bom que me acham ‘exótica’, quem bom...!”

Completei:

- “É, mas é verdade, imagina, com esses olhos lindos, claro que és ‘éxotiqué’”. Ruth reiterou sorrindo, sorrindo, sorrindo: “Éxotiqué, é isso aí éxotiqué!”

Assim encerramos nosso contato, de qualquer forma Ruth me pareceu uma pessoa bastante agradável, com senso de humor, presença de espírito, simples..., sem deixar de transitar entre o “exótica” e o “simples”, lembrando dos comentários reservados de Patrícia Angélica, pensei: "Apesar da passagem do tempo ela parece tirada de estórias de castelos da Idade Média, talvez seja a mulher mais exótica que conheci pessoalmente no meio policial..., e se eu fosse diretor 'hollywoodiano' certamente que teria seu lugar assegurado em alguma importante série de época, talvez até como 'Guinevere'...". Depois que nossa testemunha deixou o ambiente me pus a pensar: “Báh, como sou tolo, depois de tanto tempo, assim como tentava falar uma linguagem com Marilisa sem conseguir penetrar seu âmago, não conseguiria me fazer entender com outros..., como foi a experiência do nosso “grupo” de Delegados...  (leia-se: Delegados Jorge Xavier, Braga, Rubem Garcez, Eduardo Senna, Cláudio Palma Mora, Ostetto, Wilmar Domingues, Valério Brito...), o  mesmo ocorria com Ruth, pois durante nosso contato comentei sobre as “três vias” responsáveis pelo “poder” dentro da Polícia e como poderiam fazer as coisas acontecerem no plano de projetos, mudanças..., falei dos Delegados Regionais que contatei com a proposta de criar o ‘Colégio de Delegados Regionais’, mencionando, inclusive o caso do Delegado Juraci Darolt (ex- DRP de Blumenau) e do próprio Gilberto Cervi e Silva (ex- DRP de Balneário Camboriú), e mais parecia um ‘tolo da corte’ falando coisas sem nexos, desconexas para uma alma tão distante...,  me senti um completo extraterrestre, totalmente disforme com a realidade circundante, mas tinha que registrar, como se fosse uma missão...”.

Nesse momento o Delegado Gilberto Cervi já se encontrava no local e na presença de Ruth perguntou se estavam falando mal dele...? Aproveitei para relembrar na sua presença todas as investidas feitas para se criar o Colégio de Delegados Regionais..., inclusive, quando lhe propus que a primeira reunião ocorresse justamente em Balneário Camboriú, durante o período que estava na condição de "DRP". Ruth comentou que quando se apresentou naquela cidade (DRP de Balneário Camboriú) foi o Delegado Gilberto que a recepcionou... Entretanto, logo a seguir, quando iniciou suas atividades na Delegacia da Comarca, estranhou o fato do ex-DRP ter sido "descartado" tão rapidamente, pois passou a ocupar uma “salinha” ao lado da sua na Delegacia da Comarca, ouvindo suas queixas reiteradas de dores pelo corpo... (foi substituído pelo alegre e energizado Delegado Ademir Serafim...).  Não pude deixar de lembrar do caso do Delegado Juraci Darolt (PMDB) que depois que foi desbancado da DRP de Blumenau também passou a apresentar um quadro depressivo, enquanto que o substituto, Delegado Rodrigo Marchetti, assumiu o seu lugar de forma triunfante e energizado, sob a proteção de um Deputado Estadual da região (Jean Kuhlmann do PSD).