DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CXXII): “VIVER ‘FORA DA CASINHA’ PODERIA SER UMA ‘ESCAPADA QUÂNTICA’? CURIOSIDADE OU SERIA ESSE UM ‘SEGREDO FETICHE’? UMA DELEGADA OU UM SER BRILHANTE?”
Por Felipe Genovez | 29/04/2019 | HistóriaUma curiosidade ou uma questão de fetichismo?
No dia 06.11.07, às oito horas e vinte minutos, estava tomando um café próximo da Corregedoria da Polícia Civil (Florianópolis) quando percebi que havia uma ligação da Marilisa registrada no meu celular. Verifiquei o horário da ligação e estava datada do dia anterior à noite, às vinte uma horas e quarenta e sete minutos. Em seguida descobri que também havia um torpedo da Marilisa com a seguinte mensagem: “Recebi sua mensagem, mas estou em reunião no Conseg, bjs Ma.” Inicialmente fiquei pensando naquele pronome “sua” que dava uma idéia de “sua eminência”, “sua majestade”..., coisa tipo brega e que revelava o seu lado formal, de trato distanciado, afinal esperava algo mais casual, de amigos do coração, mas não adiantava, a impressão era que ela tinha uma mente formatada. Mas aquilo mais parecia detalhe, coisa da cabeça da Marilisa, resquícios de quem ainda parecia amedrontada com a figura do “Corregedor”, talvez desconfiada, insegura..., sem conseguir me ver como um verdadeiro “amigo”, como isso era difícil de construir dentro do universo policial, recheado de pessoas carregadas de frustrações, verdades absolutas, “egos”, “alter egos”, enfim... Resolvi ligar para Marilisa e do outro lado da linha alguém atendeu o celular querendo saber quem era. Inicialmente achei que era a querida dita cuja, só que a pessoa falava com uma certa indiferença, sem reconhecer minha voz. Quase que falei uma besteira, tipo: “Como é que é Marilisa, não reconhece mais a minha voz? Como é que Marilisa, vai te catar...”. Mas do outro lado a mulher perguntou se eu queria conversar com a “doutora Marilisa”. Percebi que era outra pessoa mesmo e ela quis saber o meu nome. Revelei que era “Felipe” e a mulher que me atendeu foi levar o celular para Marilisa que conversou comigo prontamente. Demos sequência a nossa conversa:
- “Puxa, juro que pensei que era tu que atendeu o telefone”.
Marilisa interrompeu:
- “Não, era a minha Escrivã aqui, a minha amigona (Ivonete Bastos), foi ela que atendeu. Estou num sufoco aqui. Posso dizer que estou meio que fora da casinha. Hoje estou fora da casinha, estou resolvendo um problemão aqui e ela está me ajudando...”.
Interrompi:
- “Pô, quase que eu falei uma besteira para ela, pensando que era você, viu!”.
Marilisa interrompeu já mais solta e risonha:
- “O quë? Me diz o que tu pensasses em dizer, me diz?”
Fiquei sem ação porque não esperava aquela sua curiosidade e ela me deixou sem jeito, tentando enrolar. Marilisa insistiu:
- “Ah, me diz o que tu pensasses em me dizer, diz, diz!”
Acabei inventando:
- “Ah, tá bom, eu ia dizer: ‘Marilisa tu é foda, não liga mais para mim’”.
Marilisa deu uma risada gostosa e indagou:
- “Tu ias me dizer isso mesmo?”
Argumentei:
- “Não, juro que é brincadeira, não era isso não!”
E realmente não era, na verdade eu tinha pensado em fazer uma brincadeira, dizendo: “Ô, sua doida, não estais reconhecendo a minha voz, sou eu, uauuuu”. Acabamos mudando de assunto e Marilisa quis saber onde eu estava naquele momento. Revelei que estava me dirigindo a Jaraguá do Sul, depois para São Francisco. Marilisa perguntou sobre a viagem de quarta-feira para o oeste e eu disse que estava tudo certo e que às nove horas da manhã a gente se encontraria na Delegacia Regional de Joinville. Marilisa perguntou se o pessoal iria apanhar a gente em Joinville. Argumentei que sim e que se acontecesse qualquer coisa diferente eu a avisaria. Marilisa disse que leu o meu anteprojeto e comentou:
- “Ah, Felipe, eu li, meu Deus, se eles implantarem aquilo tudo vai ser uma revolução, eu duvido que eles consigam, eu duvido que eles lutem por aquilo ali que tu estais propondo. Bom, se for aprovado vai ser uma revolução daquelas e eles vão ter que te agradecer...”.
Interrompi com certa dor de barriga:
- “Marilisa, sinceramente, eu duvido muito que eles coloquem aquele projeto para frente. Eles não têm capacidade de mobilização, articulação, falta visão...”.
Marilisa insistiu:
- “Mas vamos ver, vamos esperar, realmente a tua proposta é revolucionária. Quando a gente viaja pelo interior eu vejo o quanto tu conversas com os Delegados, com os policiais para tentar mobilizar o pessoal, é um trabalho de formiga, é muito importante...”.
Interrompi:
- “Olha, Marilisa, tem um filósofo meio doido que escreveu um artigo com uma máxima, anota aí, vê se não esquece, depois eu vou te cobrar...”.
Marilisa do outro lado deu outra risada gostosa e comentou:
- “Ta bom, mais uma, qual é, manda?”
Continuei:
- “O filósofo escreveu o seguinte: ‘como são pequenas as nossas conquistas’. Entendesses? Pensa bem, ‘como são pequenas as nossas conquistas, tais anotando?”
Marilisa meio sem jeito interrompeu:
- “Não..., mas nesse caso se o teu projeto for aprovado vai ser uma revolução. Mas tens razão, pensando bem, as nossas conquistas são muito pequenas, mas o que fazer, o jeito é lutar, não é?”
Respondi:
- “Você é um ser ‘brilhante’, sabia!”
A Delegada “brilhante”:
E, enquanto ela fazia seus comentários fiquei pensando: “Não vou nem dar muitas explicações porque a luta para aprovar propostas daquela magnitude exigiriam um esforço muito grande de toda a classe policial, e certamente não seria o caso. De qualquer maneira fiquei contente de conversar com Marilisa e lembrei que ela era mesmo um ‘brilhante’”. Marilisa quando ouviu chamá-la de “brilhante” comentou:
- “Nossa, como hoje tu estais poético, só tu mesmo para ver isso em mim”.
Interrompi:
- “Sério, você é um ‘brilhante’ e isso é o que importa”. Na verdade a torcida de Marilisa para que o anteprojeto desse certo era algo sublime e revelava seu carinho, sua preocupação, seu desejo interior. A conversa terminou e acertamos que à noite eu ligaria para confirmarmos nossa saída no dia seguinte para a cidade de Videira. Marilisa ainda comentou que precisava conversar uma coisa séria comigo. Acabei dando uma risada e ela pareceu ficar um pouco sem o que dizer e perguntou:
- “Sim, estais rindo? Ah, já sei, é porque não dá para me levar a sério, sei...”.
Interrompi:
- “Não é isso não. Estou rindo por causa de outra coisa...”.
Não disse, para deixá-la mais curiosa, já que isso poderia ser um...?