DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CXL): “O GABINETE DE UM VEREADOR DE JOINVILLE E A DONA DO PEDAÇO! TUDO VALEU A PENA? UM MAGISTRADO ‘INSUSPEITO’! MUITOS DILEMAS PARA O DELEGADO MARCO AURÉLIO MARCUCCI?”
Por Felipe Genovez | 03/06/2019 | HistóriaDia 29.11.07, Horário: dezesseis horas, estava na Câmara de Vereadores de Joinville, juntamente com a policial Investigadora Patrícia Angélica e mais a Escrivã Ana Balestrim, cuja pretensão era ouvir o Delegado Marcucci que havia agendado seu depoimento naquele local. Procurei não criar dificuldades e fui até ele, procurando não ferir seu ego e lhe dar uma chance para que pensasse que ainda detinha poderes na cidade e perante a administração policial, especialmente, depois de tudo o que havia passado desde a sua prisão.
Era incrível como “Marcucci” externava um certo ar de grandiosidade, impetuosidade..., na verdade poderia ser descrito como uma forma de compensação para quem estava no fundo do poço... No seu ainda gabinete sua secretária de nome Luana mais parecia a autoridade-mor e logo que nos cumprimentamos percebi sua estatura “baixinha”, cabelos loiros pintados, “magrinha”..., tudo isso temperado por uma voz carreada de energia e vitalidade. Dava a impressão que era a “dona do pedaço”, pois além de dar ordens parecia controlar tudo com determinação e agilidade. Trajava um vestido preto que mostrava detalhes da sua calcinha “asa delta” e para compensar sua estatura, calçava um sapato super alto para compensar sua altura. Observei que havia um outro cidadão que mais parecia um estagiário amorfo o que acabava contrastando com a figura da secretária. Logo que Marcucci percebeu a minha chegada foi logo franqueando a entrada no seu gabinete e que era para aguardarmos um pouco que precisava ir até o banheiro. Entramos no seu reservado e notei que era um local amplo, com uma aparelhagem de som no chão para ouvir o serviço de rádio interno das “sessões”. Procurei sentar numa mesa de reuniões que havia no canto do gabinete, enquanto Patrícia Angélica se acomodou na cadeira de Marcucci e começou a digitar um texto no computador que já estava disponibilizado. A seguir, logo que Marcucci retornou veio sentar na minha frente e avisando:
- “Não dá, o meu processo está lá no Palácio com o Governador que não decide nada! Ele não decide se me demite ou se me absolve e isso cria uma insegurança na gente. Eu vou impetrar um mandado de segurança contra o presidente da comissão de promoções, não dá. Tu acredita, Genovez, que eles me excluíram da relação de contagem dos pontos. Desse jeito eu vou ficar empacado. O governador não decide o meu processo e eu sou prejudicado, não posso ser promovido, isso é uma injustiça. Então, eu pensei, vou entrar com um mandado de segurança, o que tu achas?”
Olhei sério para Marcucci, respirei discretamente e resolvi respondeu o que realmente pensava:
- “Olha, eu acho que tu já estais tão visado, se entrares com um mandado de segurança agora vai ser mais um motivo para deixar o pessoal puto da cara contigo. Vais acabar emperrando o processo e o pessoal vai ficar num veneno, pensa bem!”
Marcucci ouviu meu comentário, porém, bem a seu tipo, com ares laconianos, reiterou que estava pensando seriamente em impetrar o mandado de segurança. Acabei, na presença de Ana e Patrícia complementando minha opinião:
- “Bom, um argumento importante para se impetrar o mandado de segurança é o fato de que os processos disciplinares deveriam ser concluídos no prazo de sessenta dias, renováveis por mais sessenta. Eu quase tenho certeza que se alguém impetrar um mandado de segurança sob o argumento de que está respondendo a um processo disciplinar há meses, como é o teu caso, talvez a Justiça mande incluir o teu nome na relação de promoção. O objetivo do legislador, e tu sabes que foi eu quem trabalhou nessa legislação, foi evitar que policiais que respondem a processos disciplinares ainda sejam promovidos por merecimento. O desgaste à instituição é muito grande, a experiência tem mostrado isso...”.
Marcucci me olhou com um ar de satisfação e foi me questionando:
- “Ah, então quer dizer que eu posso usar dois argumentos no meu mandado de segurança. Eu posso também utilizar esse argumento aí de que a comissão extrapolou o prazo para conclusão do processo e causou prejuízos para mim, não é?”
Deixei escapar um sorriso e fui argumentando:
- “Ah, sinceramente, eu não vou dizer o que você tem que fazer. Eu só estou dizendo que esse seria um grande argumento, agora se você vai utilizá-lo é outra história, não depende de mim...”.
Marcucci parecendo mais confortado revelou que tinha acabado de sair do gabinete do Prefeito Tebaldi e que havia desabafado com ele que queria retornar ao trabalho numa Delegacia de Polícia, mas que não estavam deixando, ou seja, na semana anterior se apresentou para o Delegado Regional Dirceu Silveira que encaminhou o seu pedido para a Delegacia-Geral, entretanto, determinaram que se apresentasse para o Diretor de Polícia do Litoral Delegado Márcio Collato em Itajaí. Marcucci – com certo desdém - comentou que não se apresentaria a alguém como o Delegado “Collato”, pois era um.... Aproveitei para dizer a Marcucci que o melhor seria ele insistir com o Delegado-Geral, já que eram do mesmo partido (PSDB), ele e o Delegado Maurício Eskudlark... Marcucci argumentou que Maurício estava enrolando, não queria lhe receber e ficava lhe dando rasteiras, enfim, evitando qualquer contato... Marcucci ainda aproveitou para me indagar se no processo disciplinar que eu estava presidindo naquele momento ele estava na condição de acusado ou testemunha... e ele fez um desabafo:
- “Puxa, até que enfim eu não sou mais réu, sou testemunha, meu Deus, até agora só fui acusado...”.
Interrompi:
- “Olha só, no teu processo eu recebi o requerimento reiterando o pedido de ouvida do dileto e competente Juiz João Marcos Buch, só que vou indeferir novamente pelos mesmos argumentos anteriores”.
Marcucci me interrompeu:
- “Mas, como é que o ‘João Marcos Buch’ pode alegar ‘suspeição’ se ele só foi responsável pela minha condenação noutro processo que não tem nada a ver com esse outro meu...?”
Respondi:
- “Bom, tu sabes que a arguição de suspeição é subjetiva, diferente do impedimento. Eu não vou querer dar uma aula sobre o assunto aqui contigo, mas é isso. A suspeição é declarada de ofício e como eu sou o presidente posso aceitar ou não, não é?”
Marcucci deu a impressão que estava inconformado com a minha decisão e insistiu que era ele que estaria certo... Argumentei que o seu processo passaria para a fase de relatório final, mas que antes lavraria um despacho de indeferimento do seu pedido (ouvida da referida autoridade judicial), e que também juntaria um depoimento do Delegado Regional Dirceu Silveira numa sindicância disciplinar. Marcucci somente ouviu e me formulou uma pergunta:
- “Ô Genovez, o que tu achas que vai dar esse meu processo?”
Respondi:
- “Olha, Marcucci, não compete a mim pré-julgar, não vou fazer isso, por favor...”.
Ele forçosamente teve que concordar..., inclusive, afirmou que não era minha intenção ser antiético e completou:
- “Bom, eu que passei por tantas nos últimos anos. Fui preso, perseguido, sofri tanto e isso me deixou melhor. Acho que fiz um balanço da minha vida, fiquei mais humilde...”.
Interrompi:
- “Pois é, isso que aconteceu contigo foi uma provação, podes ter certeza. Eu acho que se um dia tu chegares a algum lugar, após ter passado por tudo isso, acredito que vais concluir que tudo valeu a pena, foi necessário para a tua vida...”.
Marcucci novamente se reportou à reunião que teve minutos antes com o Prefeito Tebaldi que lhe disse que já estava reeleito, segundo pesquisa realizada pelo partido na cidade. Marcucci se mostrou otimista e energizado com a manifestação do Prefeito e eu completei:
- “Bom, tu sabes, a tua reeleição vai ser fundamental neste momento, seria a volta por cima...”.
Marcucci me interrompeu:
- “Não sei se vai ser para vereador ou deputado, ainda vou decidir”.