DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE CXIX):  “ENTRE DORES DE CABEÇA E REPASSES PROCEDIMENTAIS. CARGOS DE DIREÇÃO E TROCA DE PRIVILÉGIOS? UM TESTE PARA O CORREGEDOR NILTON ANDRADE?”

Por Felipe Genovez | 29/04/2019 | História

Conversa com o Corregedor:

Dia 30.10.07, horário: dez horas da manhã, estava na Corregedoria da Polícia Civil, numa semana de plantão, quando fui surpreendido por uma dor de cabeça daquelas de matar qualquer um... Era uma dor generalizada, acompanhada por tonturas, fisgadas, dor nos olhos..., sendo impossível qualquer concentração e o jeito foi mesmo tomar “Toragesic” (indicado pelo meu neurologista),  ir para casa,  ficar no mínimo uma hora no banho quente...

Por volta das quinze horas estava na Corregedoria da Polícia Civil e resolvi dar uma chegada no gabinete da Escrivã Cleide para levar meu relatório de ponto do mês de outubro. Cleide me avisou que na parte da manhã o Corregedor Nilton Andrade havia me procurado para passar “carga” de procedimentos disciplinares.  Esperei alguns minutos até que o Delegado Nilton ficasse sozinho na sua sala e fui verificar qual eram os autos que seriam repassados. Nilton argumentou que havia deixado a carga com a Escrivã Cleide, ligando para a mesma e pedindo que trouxesse o material até seu gabinete para poder me repassar.  Enquanto não chegavam a carga de autos resolvi fazer um “teste” com Nilton, a fim de avaliar seu grau de sensibilidade, razão  porque fiz o seguinte comentário:

- “Hoje de manhã me deu uma dor de cabeça violenta, de vez enquanto isso ocorre e eu tive que ir embora...”.

Nilton me interrompeu:

- “Outro dia eu também tive uma dor de cabeça. Eu nunca tive dor de cabeça, mas fiquei preocupado. Fiz os exames e o médico descobriu que não tinha nada, a dor era causada por nervos atrás do pescoço. A gente fica pensando que pode ser um tumor, alguma coisa do tipo...”.

Nilton relatou que um conhecido seu começou a ter dores de cabeça e quando foi descobrir estava com um tumor na cabeça vindo logo  aem seguida a definha. Na sequência a Escrivã Cleide se juntou a nós, eis que trouxe os procedimentos, em cujo momento aproveitei para falar um pouco mais sobre a minha dor de cabeça, na verdade queria dividir um pouco àquela "desordem" pessoal, porém, Nilton não deu a impressão quê não quis dar muito atenção ao assunto e foi logo me repassando a carga ao mesmo tempo que comentava cada  um dos casos, sendo que enquanto ele assim procedia  procurei então me concentrar um pouco nas informações, apesar dos resquícios da dor de cabeça na mente. Depois que Nilton terminou seu relato, aproveitei para voltar a carga sobre “dores de cabeça”:

- “Bom, sabes como é que eu curei a minha dor de cabeça? Eu tomei um remédio forte, tive que ir para casa...”.

Nilton teve que me ouvir  parecendo meio forçado àquela condição  e relatou que sua esposa também tinha fortes dores de cabeça. Interrompi:

- “Eu fui aprender a ter dor de cabeça na época da ‘Fecapoc’”.

Nilton soltou uma risada e eu continuei:

- “Bom, até aquela época eu não sabia o que era dor de cabeça. Comecei a construir a sede no Campeche, a ajudar as entidades de classe no interior do Estado para construírem também suas sedes, passei a pagar os dois apartamentos ali no centro e como não queria dívidas, acabei descobrindo o que era ‘dor de cabeça’. De lá para cá eu tenho que controlar, e só tomando remédio...”. 

Nilton interrompeu para reiterar que sua mulher também tinha esses problemas. Continuei:

- “Bom, ontem à noite comi um ‘copa’ e acho que foi isso...”.

Nilton concordou:

- “Ah, sim, então foi isso...”. 

Enquanto Nilton tentava manter uma conversação, mas pude observar que suas considerações careciam de profundidade, não havia emoção, interesse e conclui que se tratava apenas de um compromisso formal de me ouvir, de se solidarizar com uma frase de superfície, o que me levou a pensar:  “Tudo bem que Nilton tem as suas limitações, tem o seu estilo próprio, mas esperava mais dele nesta hora, um Delegado Especial, vizinho de sala, há anos atuando no órgão... Se bem que em certos momentos ele me surpreendia positivamente, aliás, dava banho nos “Especiais” Hilton Vieira e Sérgio Maus quanto a se respeitar  os colegas e qualquer pessoa, uma das razões porque continuava seguindo meu caminho ao seu lado”.

Mas a questão da hierarquia se constituía uma variável terrível porque os Delegados escolhidos a dedo para ocupar postos de comando eram fáceis de serem manobrados, não ofereciam perigo ou exerciam qualquer tipo de pressão, justamente porque aspiravam por benesses, seja no que dizia respeito a auferir  vantagens pecuniárias, ascensão funcional, receber diárias, usar viatura para uso exclusivo e etc. Acreditava piamente que se um dia houvesse um grande revés na  Polícia Civil como instituição, certamente que grande parcela de culpa seria creditada especialmente aos Delegados de Polícia que pertenciam às três vias de poder (cúpula, Delegados Regionais e lideranças classistas).  O caso de Nilton Andrade se afigurava bastante emblemático, pois  outros Delegados como “H. V.” e “S. M.”  enquanto estiveram na direção do órgão correcional  defenderam acima de tudo  seus privilégios para aceitar e se manter nos seus cargos. Nilton Andrade  foi escolhido e se manteve  no posto  por conta principalmente da suas habilidades em se relacionar com policiais e por ser útil ao comando, claro que também aspirava sua promoção  para  Delegado Especial (foi o que me confidenciou noutra ocasião). Teria algum projeto institucional?  Não saberia responder, mas claro que  sua a nomeação  teve forte influência dos Delegados Maurício Eskudlark e Ademir Serafim... Lembrei aquele mês de  outubro de 2007 havia terminado  com oitenta e uma horas extras, sem receber a remuneração relativa a elas porque ultrapassaram o teto de dez mil reais (salário do governador do Estado, uma grande piada...) e para completar tinha que conviver com aquelas dores de cabeça. “O que estou fazendo aqui?” pensei.  Nilton me passou mais cinco casos para serem presididos, que somados aos que já tinha em carga, exigiriam  mais trabalho, dedicação e dores de cabeça. A seguir me pus a refletir: “Não sei como Maurício, Nilton Andrade e todo o pessoal da cúpula podem conviver no meio de tantas mentiras, tanta farsa,  carência de efetivo, perdas salariais históricas, sob intensas derrotas sofridas...? É impor sofrimento a toda uma instituição e seus membros, concorrer para retrocessos... E, o pior, é que muda o governo e a maioria desse pessoal permanece nas funções, justamente porque eles têm o perfil que os governos querem, ou seja, são hábeis..., passam a falsa impressão de que honestos, externam preocupação com a coisa pública, aderem o discurso do descontentamento, muitos nada fazem, pelo contrário...” pensei.

Às dezessete horas e trinta minutos a policial Ariane veio até minha sala para conversar a respeito do relatório de instrução do caso envolvendo o “Delegado Gilberto Cervi e Silva”. No curso da conversa disse  que “Gilberto” não era mais o Delegado Regional e que foi substituído pelo Delegado Ademir Serafim. Fiquei pensando: “Sinal dos novos tempos? Gostaria de saber o que levou a essa mudança, de qualquer maneira as relações entre Gilberto e Maurício devem ter se deteriorado de maneira irreversível, apesar daqueles ‘cartõezinhos’ encima da mesa do ‘DRP’”.