DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CXCII): “BORBULHAÇÕES: ENTRE CORES, SABORES E DESAFIOS CONSTANTES: O ESPÍRITO ‘DELEGADO GARCEZ’ PRESENTE ENTRE DOIS ‘AZES LOQUAZES?’ ENTRE CAPRICHOS, REGALOS E FATOS BRILHANTES!”
Por Felipe Genovez | 10/09/2019 | HistóriaRetorno ao Hotel Windsor:
Data: 18.09.08. Horário: 06:30h. Finalmente chegamos no Hotel Windsor (São Paulo) e formos atendidos pelo Senhor Álvaro que comandava a recepção. Marilisa ficou dormindo no carro, enquanto eu e Dílson acertávamos a nossa entrada naquela primeira hora da manhã. Fomos avisados que havia somente dois quartos disponíveis. Dílson, imediatamente argumentou que eu e Marilisa poderíamos ocupar os quartos disponíveis e que ele ficaria esperando até um pouco mais tarde. Argumentei no balcão que a preferência era dele, já que dirigiu a noite toda e deveria estar muito cansado. Na verdade sabia que não era assim, e com um café da manhã Dílson estaria em ponto de bala, pois já havia me relatado que noutras ocasiões chegou a dirigir mais de dois dias sem dormir e Marilisa tinha ouvido isso em alto e bom som. A seguir Dílson foi chamar Marilisa no carro e os dois se dirigiram para o café da manhã, sendo que mais uma vez fui ignorado, digamos, esquecido... e acabei ficando isolado, optando por não me juntar a eles. Permaneci aguardando alguns instantes e depois fui até eles avisar que estava me dirigindo ao meu quarto para descansar um pouco. Marilisa me olhou com uma “cara” de quem não estava muito animada e parecendo se esforçar para me convidar para o café, dando a impressão que estava torcendo que eu dissesse não, ou que eu nem tivesse ido até eles ou que os deixassem em paz porque tinham muito a fazer... Aliás, desde a noite retrasada (quando voltamos de Mogi Guaçu/SP), quando tinha planejado a ida até o Anhembi, depois um jantarmos juntos... Marilisa havia mudado sem comportamento, muito provavelmente influenciada pela proximidade de Dílson que teria dito que ficaria assistindo o jogo do Avaí no hotel (“imagina, em São Paulo, como?” pensei) e que estava cansado e dormiria cedo (imagina, para quem costumava viajar dois dias e duas noites sem dormir? Sim, não tinha explicação...). No dia seguinte, quando já estávamos viajando, tinha avisado que havia jantado novamente na “Famiglia Mancini” na noite anterior e perguntei a ele se havia apanhado seu celular na recepção, e a res´psta foi afirmativa, dando a impressão de que não queria que eu me aprofundasse nesse assunto. Lembrei que havia insistido em afirmar que quando entreguei o celular dele na recepção fui informado que os dois estavam jantando no restaurante... Dilson, rapidamente, disse:
- “Ah, eu as nove horas da noite já estava no segundo sono...”.
Fiquei pensando naquele deslize de Dílson, pois passei na recepção depois da novela “A Favorita” que terminou passado das vinte duas horas e eles ainda estavam jantando. O jogo de Marilisa dava a impressão que lhe trazia muita satisfação, demonstrava cumplicidade, e ela com aquele ar de “poderosa”, aqueles nuances de glamour e ao mesmo tempo a forma como se alimentava dessa energia..., de outra parte Dilson mais parecia algo quase que inquebrantável naquele triângulo de forças. Sim, Dilson dava a impressão que se deixava usar docemente, aliás, de acordo com minhas observações em nossas viagens ele sempre foi assim com as mulheres, procurava estar atento, presente, prestativo, comunicativo, cheio de “moles”... E nessa relação de força, o “motorista” talvez acabasse servindo de “isca” ou de “mala”. Era triste tudo aquilo, estávamos num nível de relação e energia que dava a impressão estar permeadas pela pobreza de espírito, mas de qualquer forma aquilo afetava minha vida, sugava minhas energias e no meu caso o regral era ter sangue frio. Aliás, Marilisa conseguia vibrar num padrão onde minhas forças atingiam um nível prudencial e o que tinha que fazer era me blindar e distanciar dela, pois era “inconsertável” aquela sua maneira de ser, talvez, mais por manifestação doentia do que decorrente de seu comportamento instintivo. Conviver com Marilisa era como viver num misto de mundo vazio e borbulhante de cores e sabores, apesar de que nessa adversidade surgiam condições para que se construísse e se descobrisse outros universos. De certa forma Marilisa me remetia ao Delegado Rubem Garcez, guardadas as devidas proporções..., dois “puros”, dois “pombinhos”... e, ao mesmo, tempo, “nada bobinhos”, muito “espertos”, dois “azes loquazes”, “sobreviventes”..., mas, também, infelizes, vagantes, de fachadas e vidas fechadas em seus respectivos mundinhos.
Entre regalos e fatos brilhantes?
Já passava das onze horas da manhã, acordei no quarto n. 604 (sexto andar) e comecei a pensar nas imagens de tudo que aconteceu nos últimos dias e horas, no conjunto da obra, e me perguntei: “O que eu estou fazendo aqui?” Desci até a recepção decidido a desaparecer do mapa, com direito a deixar todos os regalos do passeio para meus companheiros de viagem.. Já no térreo encontrei o Senhor Álvaro que me informou que Marilisa e Dílson tinham tomado café cedo, depois foram às compras na famosa rua “25 de Março” que não ficava muito longe do nosso hotel. Pensei: “Bom, tá aí, aquele papo da Marilisa que disse que Dílson tinha que descansar, coitadinho, havia dirigido à noite toda..., dava a impressão nítida que fazia parte de pura artimanha, tipo: ‘fatos brilhantes’. Na verdade Dílson estava muito à vontade fazendo companhia para Marilisa e passei a me sentir como uma “ave de mal agouro, o que vinha de encontro ao brilho que deveria ser dado ao final da viagem. Marilisa parecia transpirar alegria e nisso levava Dilson na sua calda de cometa, bem do jeito que ela mais parecia apreciar, ainda mais com a visibilidade do seu contagiante “charme-venera”, instigando, entusiasmando, elevando os gostos, provocando cores e sabores quentes, ao mesmo tempo que parecia tripudiar, pisar, desdenhar..., tudo ao seu talante e gosto impulsivo e tórrido, o que não parecia o suficiente para abastecer toda a sua verve. Dilson fazia às vezes de “tira-colo” se espraiando em alegria por estar no paraíso da cidade grande, do consumo, da companhia misteriosa..., e os agrados faziam parte desse cenário, coisas do gênero... Em silêncio me despedi da Associação dos Delegados logo em frente ao hotel, dei adeus à Corregedoria-Geral da Polícia paulistana, acenei para um “caminhão caixudo” que passava na esquina e simbolizava o Anhembi e mirei uma “santinha” aos fundos da recepção como se dissesse “amém” para o Museu do Ipiranga. Da rua ouvi alguém num megafone anunciando a greve dos Delegados de São Paulo, o início de uma luta, o grito contra o tratamento injusto de uma governo (José Serra). Era um momento histórico e eu pensando que Marilisa teria a grandeza de pelo menos ir comigo até a diretoria da Associação dos Delegados (a um passo do Hotel Windsor) para emprestarmos nossa solidariedade, trocarmos informações, acompanhar de perto os acontecimentos, trazer material a respeito do movimento..., mas “que nada, Marilisa preferiu ir às compras, mas deixa prá lá, como esperar que ela desse o que não tinha...? Seu mundo se apresentava colorido e será que isso servia de alimento para seu espírito...?” Pensei na Delegada Sonêa e se seria capaz de divulgar os acontecimentos de São Paulo, justamente ela que preferia veicular notícias a respeito do “uso de algemas”, julgamentos no Supremo Tribunal Federal, artigos prontos e copiados de outros ‘sites’ sem qualquer conotação salarial ou relativa a direitos de servidores... Também, pensei no que o ex-marido de Marilisa deveria ter passado por conta do seu jeito de ser, entretanto, resolvi voltar à realidade e ao que me esperava, até porque minha querida amiga possuía um rio de coisas lindas que em tanto aprendi a conhecer, venerar e registrar. Perguntei para o Senhor Álvaro se ele tinha a chave da nossa viatura (viajamos num ‘Logan/Renault da Polícia Civil), e ele respondeu negativamente repassando a informação de que havia ficado com Dilson, muito embora o carro continuasse estacionado em frente ao hotel. Dentro do carro estavam minhas chaves e mais um MP4. Resolvi mesmo assim dar andamento na minha decisão de partir antecipadamente, enfim, era a hora da hora e não poderia esperar mais, muito menos me submeter a ficar à mercê de caprichos, sandices... ou comer amoras vendo a lentidão das horas passar, além do que precisava de um tempo para respirar...