DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE CLXXXVII): “O `CARTAZ´. QUEM JÁ FOI REI NUNCA  PERDE A MAJESTADE? O TEMPO VENCE OS CAMPEÕES, ENTÃO O QUE SE DIRÁ DAS MENTES... ? SERIA O TIÇÃO POLICIAL MANECA OU APENAS VERBORRAGIA?”

Por Felipe Genovez | 05/09/2019 | História

O Escrivão Raul: 

Data: 12.09.08. Horário: 09:00h.  Havia chegado na  Delegacia Regional de Joinville e logo no estacionamento (na parte dos fundos do prédio) encontrei Dirceu Silveira que havia recém chegado na companhia do Escrivão Raul, o que me fez intuir: “Taí, toda noite o Raul leva o chefe para casa  e de manhã retorna com ele, estacionando a mesma embaixo da cobertura destinada aos carros oficiais, tudo ótimo, tudo muito bom para quem pode”. Também lembrei, que há duas semanas atrás cheguei de viagem e encontrei um cartaz na janela do meu carro particular com a seguinte advertência: “Esse lugar é reservado apenas para carros oficiais”.  Certamente que Dirceu Silveira mandou o Escrivão Raul colocar aquele cartaz, talvez, desconhecendo de quem pertencia e acabei lembrando  do dia em que fui multado no estacionamento daquele órgão porque  tinha estacionado no local destinado as viaturas oficiais, muito embora estivesse me locomovendo em serviço com meu carro particular. Depois lembrei de uma outra oportunidade  que Dirceu Silveira criou problemas com as férias  da Delegada Marilisa por ter interrompido as mesmas para viajar pela Corregedoria da Polícia Civil em razão de uma convocação de minha parte. Marilisa havia  sacrificado  dois dias úteis das suas férias e Dirceu Silveira quando soube que ela pretendia repor seu direito, na minha presença, praticamente a humilhou mandando que ela se virasse com a Corregedoria porque a convocação não foi dele (convocação para atuar como vogal em processo disciplinar). Na verdade, a impressão era que em todas essas circunstâncias Dirceu Silveira  pretendia externar poder para seus subordinados, mais ou menos dizendo que era ele  quem mandava ali e que ninguém estava acima dele, muito menos a Corregedoria, o que me fez lembrar da velha máxima popular: “Quem já foi rei não perde a majestade”. Mas era engraçado como Dirceu Silveira em determinadas circunstâncias e diante de determinadas pessoas precisava externar poder... Não seria só uma questão de estar no cargo de comando, mas poderia ser o poder de fato, o se sentir superior,  também, poderia ser  algo cismático, doentio, uma questão de ego...?”

Depois de voltar a realidade, procurei fechar a porta da minha caminhonete devagarzinho, sob o olhar atendo do escudeiro Escrivão Raul que parecia observar minhas  reações porque certamente  foi ele quem colocou aquele cartaz  (janela do lado do passageiro), bem visível, com letras garrafais em negrito, para que  prestasse bem a atenção... O Escrivão Raul se mostrava um pouco receoso com o que fez, parecia meio que amedrontado, mas se valendo do pseudo-poder que recebia e de quem partiu a ordem...

Na seqüência ouvi a voz-comando de Dirceu Silveira que pedia que eu me apressasse para acompanhá-lo. Procurei agir normalmente observando que o DRP estava trajando  traje social,  muito embora o paletó tivesse deixado na  sua cadeira. Fui ao seu encontro e no curso da caminhada o DRP  saiu com uma de araque, me perguntando qual o caminho mais curto para ir até a cidade de Lages. Respondi:

- “Ah, sim, o caminho mais curto é por Guaramirim, Massaranduba, Blumenau, Rio do Sul, Otacílio Costa. Só que por esse trajeto há muitas cidades, muito trânsito. O melhor caminho é pela Serra Dona Francisca, Mafra, descendo a BR 116...”.

Andando ao lado do pequeno (estatura) Dirceu Silveira percebi que certamente  sua mente parecia não andar muito bem e refleti em silêncio que ele deveria se cuidar porque o “tempo também vence os campeões, o que se dirá das mentes...”. De certo modo a convivência com Dirceu Silveira fazia sentido em termos de registros históricos.

Por volta das dezoito horas e trinta minutos me dirigi até o gabinete do Delegado Regional Dirceu Silveira a fim de  bater um papo  de final de expediente e marcar um pouco minha presença. Ao acessar o interior do gabinete  observei que Dirceu Silveira estava no celular conversando com sua sobrinha estudante de arquitetura na Capital. Depois fiquei sabendo que ela havia comprado um carro novo (Citroen) e um manobrista num estacionamento na Capital acabou batendo o veículo e aí estaria precisando de aconselhamentos. Depois resolvi consultar Dirceu Silveira sobre o caso da “Escrivã Helga Sheila” da 3ª DP/Norte de Joinville. Comentei  que tinha acabado meu relatório pedindo o arquivamento do feito porque não havia acusação alguma contra a policial. Dirceu Silveira me interrompeu coçando a cabeça deixando escapar uma certa ironia nos gestos e na fala  e argumentou  que todo mundo reclamava da Escrivã Helga, que o comentário dos policiais era que a policial  era  “l.“.  Dirceu Silveira sugeriu que eu conversasse com os Delegados daquela repartição para me inteirar melhor sobre os fatos. Argumentei que os Delegados Zulmar, Priscila e Coronha falaram muito bem da policial e Dirceu Silveira meio desconcertado duvidou. Insisti que todos prestaram depoimento favorável, inclusive as colegas da investigada, no caso as Escrivãs Isabel e Marines. Dirceu Silveira pensou em ligar para um daqueles  Delegados citados para tirar a limpo essa informação, porém  pedi que não fizesse isso porque meu relatório já estava pronto e não seria mais alterado. Dirceu Silveira resolveu questionar como a Escrivã Helga recebia horas extras se trabalhava numa Auto Escola o que me fez argumentar  que as fichas de freqüência foram todas assinadas pelos Delegados, conferindo veracidade às informações quanto a jornada de trabalho da investigada, portanto  não se poderia questionar as provas apresentadas, ainda mais que aqueles mesmos Delegados elogiaram a policial. Perguntei para Dirceu Silveira se ele daria um depoimento contra a Escrivã Helga, desmentindo os Delegados e aproveitei para argumentar  que se ele fizesse isso poderia então realizar outras diligências e, talvez, até mudar meu relatório, muito embora achasse  que ele não deveria fazer isso porque teria que provar suas acusações, inclusive, contra os próprios colegas. Dirceu Silveira se recompôs e passou a concordar  comigo e que seria melhor deixar como estava. Agradeci as informações reservadas, inclusive, mencionei que não duvidava que talvez ele tivesse sido o único a me dizer a verdade... Dirceu Silveira resolveu perguntar se eu tinha amizade com a Delegada Marilisa e eu estranhei a pergunta, respondendo que sim. Dirceu Silveira resolveu fazer  um comentário que me deixou intrigado:

- “... Essa menina (imaginei na hora ele se assim à Marilisa), quando foi Delegada Regional aqui acabou se desgastando, depois tiraram ela do cargo, aí veio gente da Capital...”.

Interrompi:

- “Sim, eu sei, o Maurício Eskudlark...”.

Dirceu Silveira:

- “Sim, o Maurício veio assumiu tudo, ela entrou em depressão e nunca mais teve jeito, vive chorando, se acabou...”.

Dirceu Silveira:

- “Tu tens amizade com essa menina?”

Respondi:

- “Bom, tenho, mas evito o contato porque esse estado dela é muito contagiante, às vezes ela passa uma energia difícil...”.

Dirceu Silveira deu a impressão que entendeu e comentou:

- “Ah, sim, ela vive em depressão, qualquer coisa chora, ninguém aguenta, é difícil, não dá para falar nada para ela...”.

Interrompi:

- “Bom, eu gosto muito dela, na semana que vem vamos viajar juntos, vou ter que segurar um pouco a barra, mas ela é uma pessoa muito querida...”.

Depois mudamos de assunto e eu relatei o que havia ocorrido no dia anterior  na Delegacia Regional de Itajaí:

- “Tu conheces o Silvio Gomes, não? Ele é muito habilidoso, tá louco, ele é super contemporizador, eu estava apurando denúncias lá de corrupção envolvendo policiais do ‘COP’ (Central de Operações Policiais de Itajaí), em razão de que o Comissário ‘Maneca’..., tu conheces? ... Isso, irmão do Delegado ’C.D.’. Bom, o suspeito é o ‘Maneca’, eles fizeram uma abordagem de uma casa onde funcionava um ‘cassino’ e houve denúncia de que sumiu dinheiro das mesas...”.

Dirceu Silveira fez uma cara de repulsa e comentou:

- “Bom, esse ’C.D.’ tu conheces, todo mundo conhece, eu quero distância... e esse ‘Maneca’ é uma encrenca... Eu vou te contar uma em reserva porque confio em ti, quando eu assumi a direção da Deic esse ‘Maneca’ quis ir trabalhar lá e eu não deixei, ah, não quis ele lá. Eu não entendo, até hoje eu não entendo a relação desse ‘Maneca’ com o ‘Padilha’, tu sabes? Eu não sei como é que esse ‘Maneca’ tem tanta ascensão com o ‘Padilha’, tu precisas ver, ele manda no ‘Padilha’, como é que pode, eu queria entender isso...”.

Relatei que quando estava no gabinete do Delegado Regional Silvio Gomes o Comissário ‘Maneca’ entrou no local e quase que aos gritos foi advertindo que não faria mais curso algum na Capital, era quase uma ordem... Eu fiquei olhando para ele e para o Delegado Sílvio e fiquei pasmo, mas procurei manter minha calma porque aquilo não era comportamento que se esperava de um policial civil na presença de seus superiores...”.

Dirceu Silveira fez mais alguns comentários sobre assuntos diversos e depois me fui!