DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE CLXXXIX): “À ADPESP, À FAMÍGLIA MANCINI! À INVISIBILIDADE IMINENTE, ÀS AMENIDADES TECIDAS E ÀS EMPATIAS ENTORPECENTES.  SISTEMA DE PROMOÇÕES CABRESTO PARA COOPATAR E CALAR?”

Por Felipe Genovez | 06/09/2019 | História

O nosso “presente” e as incertezas futuras:

Data: 15.09.08. Horário: 21:00h. Já havíamos chegado em São Paulo e fomos a pé jantar no“Restaurante Famiglia Mancini” (Rua Augusta). Logo no início do trajeto resolvi dar uma passada pela sede da Associação dos Delegados de Polícia que ficava no caminho (Rua Ipiranga - centro) e fomos direto até o “décimo andar” onde funcionava o restaurante. A ideia era que Marilisa tivesse uma visão da importância do lugar e da necessidade de voltarmos no dia seguinte para uma conversa com a diretoria da entidade, também, para que conversássemos sobre a greve que estava sendo deflagrada pelos policiais civis bandeirantes e, assim, que pudéssemos intercambiar informações, divulgarmos dos nossos projetos de “indenização aposentatória” e de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”, enfim, eram tantos assuntos para se conversar, tantos interesses comuns, desafios futuros, lutas institucionais por melhorias, descobertas... Logo que chegamos no restaurante da Adpesp Marilisa e Dilson deram uma olhada rápida pelo local e se mostraram surpresos com a estrutura e apresentação o que me fez pensar: “Bom, amanhã a gente vem almoçar aqui e à tarde faremos as visitas à direção da entidade, depois, iremos até a Corregedoria-Geral da Polícia Civil...”.

Naquele momento tudo impressionava, parecia maravilhoso, a começar pelo piano de calda..., porém, não para os mais experientes e vividos... A seguir, caminhando, chegamos na “Famiglia Mancini e, invariavelmente, tivemos que pegar senha, pois o local estava lotado. Ficamos na frente do restaurante em clímax de relax depois de horas na estrada. Bebemos, conversamos, jogamos conversa fora... e, a seguir, fomos instalados numa mesa de canto. Na saída eu e Marilisa demos de cara com o apresentador Amauri Junior da Rede TV... Ficamos aguardando durante algum tempo enquanto Dílson resolvia o problema da nota fiscal para justificar nossa presença e despesas. Fomos e viemos a pé (Hotel – restaurante), pela Ipiranga, Consolação... Engraçado, mas em alguns momentos Marilisa me tratou como “doutor”, “chefe”... coisas do tipo “Delegado”, coisa que cheirava demais a formalidades e me perguntei: “Pra quê, heim?”Era algo formal, mas sabia que havia o fator Dilson Pacheco e era preciso manter certas aparências diante do desconhecido, cujo pano de fundo seria reforçar meu simbolismo correcional e autoridade.

Acabei viajando no tempo e lembrando dos tempos que almoçamos algumas vezes juntos em Joinville e ela telefonava para seus filhos avisando que não poderia almoçar em casa porque estava com o “Corregedor”. O tempo passou, ficamos bastante amigos e quando ela invocava o formal aquilo me soava desafinado, chegava a lembrar a Delegada Ana Cláudia que quando me encontrava fazia questão de me chamar de “Delegado” porque achava bonito, o que acabava me causando um frio na barriga porque eu me considerava muito simples, direto, como numa família, talvez por isso que cada vez me tornar mais consciente de buscar meu fim, a minha invisibilidade, e para isso era imperativo ir me preparando para o apagamento paulatino. Durante o curso do nosso retorno reiterei o que já tinha dito na viagem: “O passado é história, o futuro mistério e, o momento atual é presente, por isso leva esse nome...”. 

Dia 16.09.08, horário: sete horas e quarenta minutos, estávamos hospedados no Hotel Windsor (centro de São Paulo, atrás da Associação dos Delegados de Polícia – Adpesp). Tinha acabado de tomar café sozinho e quando estava prestes a tomar o elevador dei de cara com o motorista Dilson que comentou que estava se dirigindo para o café, foi então que resolvi avisar que aguardaria a descida de Marilisa. Dilson se antecipou avisando que havia ligado de manhã cedo para Marilisa convidando-a)para o café da manhã. Argumentei:

- “Opa, então já avisasses ela, então eu vou subir, faz companhia que estarei no quarto”.

Dilson era um sujeito esperto e tinha algumas qualidades potenciais, além da experiência de vida era altamente útil, principalmente com as mulheres. Já com os homens sabia lidar e ao mesmo tempo fazer o jogo de habilidades. Assim era comigo, como já havia percebido das outras vezes Marilisa e Dilson pareciam ter desenvolvido uma afinidade rápida e com isso eu poderia ficar mais solto e ao mesmo tempo me dedicar a leitura... Enquanto que Marilisa utilizava um mix que envolvia ares de afeição, carinho, atenção..., o que resultava numa excelente empatia e forma de imantar as pessoas no seu raio de relações. Além disso, a partir de seu rosto meigo, sua voz doce, seu olhar cativo e sorriso de aparente pureza..., ela acabava sendo uma pessoa muito querida. Dilson era extremamente parceiro, sempre disposto a acompanhar, especialmente, as mulheres nas compras, visitando lojas, contando piadas, procurava ser engraçado, descontraído, fazia brincadeiras...

Pois bem, passados uns quinze minutos resolvi descer porque tínhamos combinado a viagem para Jundiaí e Mogi Guaçu às oito horas da manhã e eu já estava preocupado com o adiantado da hora. Logo que pisei o térreo do hotel conversei com o atendente e perguntei sobre o “casal”. O recepcionista apontou que ambos estavam ainda tomando café e fui até a porta de vidro que separava a recepção do local onde se encontravam quando constatei que Dilson estava de costas e conversava animadamente com Marilisa. Como ela não me viu, pensei: “Bom, se a conversa está boa e já passou do horário combinado, então não vou ser estragas prazeres, retorno para meu quarto e espero mais uns quinze minutos”.

Por volta das oito horas e trinta minutos deixamos o hotel em direção a cidade de Jundiaí, onde chegamos por volta de dez horas e trinta minutos, depois de enfrentarmos um engarrafamento mostro em São Paulo. Quando findou a audiência, isso por volta das doze horas, a Escrivã Renata da Corregedoria Seccional de Jundiaí me encaminhou para conversar um pouco com o Delegado Corregedor. Juntamente com Marilisa fomos até o segundo andar do prédio e demos de cara com um Delegado estilo clássico (terno e gravata). Iniciamos a conversa e o Delegado começou a criticar o governo “Serra” do PSDB, aliás, não só ele, mas todos os outros governadores desse partido tucano, desde a época de Mário Covas, pois tinham tratado os policiais de maneira vil, humilhante, degradante. O Delegado Corregedor lembrou que iniciaram um movimento grevistas a partir do dia dezesseis de setembro e comentou que os governos do PSDB no passado foram presos pelo Dops e agora suas lideranças no poder procuravam se vingar, impondo aos policiais civis salários aviltantes.

Ainda, o velho sistema de promoções cabresto?

Na sequência o Delegado Corregedor lamentou que o sistema de promoções por merecimento no Estado de São Paulo fosse altamente político, ou seja, só era promovido por mérito aqueles que tinham padrinhos políticos. Fiquei passado e lembrei que em Santa Catarina conseguimos reverter esse mesmo quadro com uma lei especial de promoções que foi de minha iniciativa (LC 98/93). Além disso, aprovamos uma nova estrutura jurídica para a carreira de Delegados de Polícia, a partir do sistema de entrâncias (como no Judiciário e Ministério Público), sendo que isso trouxe maior prestígio aos Delegados, mitigou ingerências políticas, possibilitou uma inamovibilidade relativa e maior segurança no exercício profissional, na medida que suprimiu a possibilidade de usurpação da função de autoridade policial. Também, citei a reclassificação das carreiras policiais, eliminando o primeiro grau, passando a exigir nível superior para Escrivães de Polícia, Comissários e Técnico Criminalísitcos. Também, aproveitei a presença de Marilisa para relatar que apresentamos o projeto de indenização aposentatória... Finalizei com o projeto de “Pec” que pretendia criar a “Procuradoria-Geral de Polícia” e o segundo grau na carreira dos Delegados. Após ouvir meu relato, com um ou outro aparte do Corregedor, aproveitei para pedir que refletissem sobre essas ideias, porém, lamentavelmente, não senti firmeza, principalmente, porque tudo parecia distante, a impressão era que o Estado de São Psaulo era o centro da galáxia e nós um simples asteroide, sem contar os egos... E o que dizer que o sistema de promoções por merecimento segue a velha linha de cooptação política por governos...?