DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CLXXVIII): “OS INTERNACIONAIS. SONHOS DE DILSON PACHECO. O PROJETO DAS MEDALHAS POLICIAIS (VIVA SANTA CATARINA!)”.

Por Felipe Genovez | 02/09/2019 | História

Os outros:

Data: 28.08.08. Horário: 15:00h.  Viajava na companhia de Dílson Pacheco (motorista da Corregedoria da Polícia Civil) e da policial Patrícia Angélica. Nesse momento vínhamos  da cidade de Toledo/PR (no retorno demos uma esticada até “Cidad Del Leste”, no Paraguai, mudando o trajeto por Missal), onde fui presidir uma audiência de ouvida de uma testemunha, e fazíamos o retorno com destino à Joinville. A certa altura Patrícia Angélica relatou que a Escrevente Policial Graziela (atuava no protocolo da Corregedoria da Polícia Civil) encontra-se de férias com o marido na cidade de Milão (Itália). Dílson Pacheco confirmou argumentando que Graziela era uma pessoa fora de série... Patrícia Angélica completou:

- “Sim, ela é internacional. Ela e o marido já viajaram por muitos lugares no mundo...”.

A forma como Patrícia Angélica trouxe aquela “boa nova” soava engraçado porque parecia dar a entender que Graziela fazia um estilo “fashion”, ou seja, impunha sua personalidade e poderia acabar conseguindo despertar uma pontinha de inveja... Em seguida, também em “tom de boa nova”, Patrícia Angélica trouxe outra novidade:

- “Outro que é internacional é o doutor Gentil, sabia doutor Felipe?”

Dílson, de forma engraçada e endossando o relato da minha “secretária”, confirmou esse fato enquanto Patrícia Angélica foi mais além:

- “O doutor Gentil vive viajando pelo mundo todo, ele e a esposa. No mês que vem ele vai para Milão...”.

Interrompi:

- “Sim, é verdade, no mês que vem tem a feira de Milão, é a maior do mundo das decorações, eu sempre quis ir lá...”.

Patrícia Angélica aproveitou para alfinetar a Investigadora Hieda (telefonista) da Corregedoria:

- “...Ah, enquanto a Graziela é discreta, não conta para quase ninguém as viagens internacionais que faz, a Hieda faz uma viagem para o exterior e só falta mandar colocar nas colunas sociais, ela fala para todo mundo, credo, meus Deus, como eu sou faladeira”.

Depois, em silêncio, fiquei pensando nos meus projetos, em todo o tempo que dediquei à instituição, sem contar as horas “roubadas” do convívio familiar, a expectativa de minha esposa em fazer aquela tão sonhada viagem para Europa e eu sempre priorizando o trabalho, a obstinação pela polícia e os projetos institucionais, o foco nos policiais e na história... e, por último, a Corregedoria...

Pensei também em minha filha e do pouco tempo que lhe dedicava, ou seja, quase nenhum, lembrei da Maria Eduarda (minha neta), tão distante... Pensei nos amigos de verdade, como Cilene Isabel Meireles, sua irmã Lurdes, também na Clara (filha da Cilene)...,  pensei na minha saúde, já sentindo o peso da idade. 

Um certo Delegado Gentil e o direito de sonhar:

Por volta das vinte e uma horas, aproximadamente, já estávamos na cidade de Palmas, na “Pizzaria Maticaias” (centro da cidade) e resolvi retomar na conversa sobre o “internacional” Delegado Gentil. Aproveitei para lembrar a discussão que tivemos sobre o projeto da “indenização aposentatória” no gabinete do Delegado Regional de Itajaí (Sílvio Gomes) e não pude deixar de comentar:

- “Eu não tenho muito interesse em conhecer o mundo, depois que comecei a estudar história entendi que o mundo é muito pequeno, tudo é ilusão...”.

Dílson Pacheco reiterou o que já tinha dito à tarde:

- “Eu não tenho vontade nenhuma de viajar pelo mundo. Eu gosto é de viajar por Santa Catarina. A minha mulher é que quer viajar para Portugal. Ela disse que o sonho dela é conhecer Portugal e eu ainda vou dar um jeito dela fazer essa viagem, mas eu fico aqui...”.

Interrompi:

- “Ah, Dílson, o que é isso, vai junto. Eu também quero conhecer Portugal...”.

Patrícia Angélica também reforçou minha sugestão:

- “É, Dílson, tens que ir junto, não tem graça viajar sozinha...”.

Dílson Pacheco ficou meio desconfortável com a nossa pressão, porém, no meu caso caso entendia a sua opinião, mas de jeito-e-maneira deixaria minha esposa viajar sozinha para o exterior, acho que seria uma falta de consideração muito grande, faltaria sensibilidade... Aproveitei para fazer um desabafo:

- “Bom, agora eu até entendo o Gentil, ele gosto de culinária, gosta de viajar pelo mundo... Enquanto que eu prefiro fazer projetos para nossa instituição, para melhorar a vida dos nossos policiais. É triste, mas essa é a grande realidade, por isso que estamos nessa situação, todo mundo prioriza seus interesses pessoais, enquanto que a instituição..., a instituição, meu Deus...”.

O retorno à Santa:

No dia seguinte (29.08.08), às onze horas e quarenta e cinco minutos, estávamos chegando na cidade de União da Vitória/PR e ao avistar o imponente Rio Iguaçu, imediatamente me veio um “click” e interrompi o silêncio dentro da viatura:

- “Puxa vida, agora lembrei de uma coisa, bah, como é que eu não pensei nisso antes...”.

Patrícia Angélica pareceu curiosa e quis saber do que eu estava falandoe eu não fiz segredo:

- “Quando eu trabalhei na lei especial de promoções da Polícia Civil e ‘bolei’ um sistema novo de medalhas para nossos policiais, na verdade eu quis também homenagear as regiões do nosso Estado. Foi uma forma de inovar e sair daquele sistema tradicional de medalhas tipo ‘Don João VI’, ‘D. Pedro I, ‘Princesa isabel’, ‘Anita Garibaldi’. Eu criei um sistema novo, fugindo daquele negócio de ‘medalha de bronze’ para dez anos de polícia, ‘medalha de prata’ para vinte... e ‘medalha de ouro’ para trinta. O novo sistema é cinco anos de polícia ‘medalha Planalto Serrano’... e trinta e cinco anos de atividade policial civil sem punição disciplinar ‘medalha..., qual é mesma essa medalha Dílson?”

Dílson Pacheco arriscou um palpite:

- “Sei, ‘Ponte Hercílio Luz’, não é?”

Corrigi:

- “Puxa, quase que tu acertasse, mas é a medalha ‘Ilha de Santa Catarina’”.

Dílson Pacheco reforçou:

- “Sim, sim, então, é quase a mesma coisa...”.

Completei:

- “Então, essa medalha deveria vir com uma mostra da ponte Hercílio Luz, da ilha... e o diploma também. Mas eu esqueci do Rio Iguaçu, imagina, coloquei o ‘Rio Uruguai’, o ‘Rio do Peixe’ o ‘Rio Itajaí’, mas esqueci o ‘Rio Iguaçu’ que é muito importante na nossa história, especialmente para o norte do Estado. A divisa do território catarinense com o Paraná deveria ser o Rio Iguaçu. Na verdade o Estado do Paraná perdeu por três vezes no Supremo Tribunal Federal a velha questão dos limites de fronteira para Santa Catarina, mas o nosso governo na época optou por um acordo, e daí perdemos Palmas, Pato Branco, Clevelândia, Francisco Beltrão... Hoje somos Estados irmãos, mas acho que merecia uma medalha ‘Rio Iguaçu’, ah se eu pudesse consertar isso...”.

Patrícia Angélica comentou:

- “Puxa, isso foi bem bolado, foi uma boa ideia se valorizar o Estado de Santa Catarina. Eu acho que Santa Catarina é o melhor Estado do Brasil, conheço outros, mas não existe melhor do que este aqui...”.

Interrompi:

- “Não tenhas dúvida Patrícia, o nosso Estado é o melhor Estado do Brasil, e Florianópolis é a cidade mais bonita do mundo...”.

Dílson Pacheco, de forma carinhosa sempre concordava quando eu falava de Florianópolis, e Patrícia Angélica há muito que havia deixado de ser mineira...

Marilisa: “soberbices” e “soavices”?

Por volta das vinte e duas horas já estava na cidade maravilhosa de São Francisco do Sul assistindo o “Globo Repórter” e nada de Marilisa dar um sinal de vida, o que me fez pensar: “êta figurinha difícil, essa é a Marilisa, insensível, casual, indiferente, soberba, ‘soave’, mas também é a grande mulher e profissional que me mantém plugado o tempo todo”. Depois lembrei que no nosso último contato comecei a tossir de forma frenética e ela chegou a pensar que eu estava com outra pessoa na minha casa porque fiquei muito ruim... Mas, a bem da verdade eu achava que a fragilidade da minha saúde, aquelas gripes fulminantes a cada ano, talvez tenha feito com que ela ficasse um pouco frustrada comigo, um pouco repelida emocionalmente...