DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CLXVII): “UMA CONVERSA COM A DELEGADA SANDRA ANDREATTA. ENTRE SONHOS REVELAÇÕES E ‘ERROS CRASSOS’. 'MÉDICOS' DE ALMAS E POLICIAIS ENFERMOS?”
Por Felipe Genovez | 24/07/2019 | HistóriaInvestidas governamentais sobre lideranças sindicais:
Data: 10.07.08. Horário: 14:30h. Estava na Delegacia da Comarca de Canoinhas e fui direto a uns dos cartórios conversar com o Escrivão Camilo (soube que o “DRP” não se encontrava no prédio). Solicitei que Camilo entrasse em contato com os policiais daquela região para tratar sobre as eleições do “Sintrasp” (Sindicato dos Trabalhadores da SSP – ex-Fecapoc – Federação Catarinense dos Policiais Civis) e as dificuldades que criaram para que a chapa de oposição não fosse habilitada no certame, o que foi possível somente por meio de medida liminar judicial. Camilo no início não abriu o jogo, mas depois foi colocando as cartas na mesa ao afirmar que o pessoal tinha se reunido e discutido a questão, ou seja, concluíram que era hora de mudar, que tinham que dar um basta na atual direção classista que estava há dezesseis anos no poder e que pretendia se eternizar...
Por volta das quinze horas estávamos deixando a cidade de Canoinhas e logo após o trevo a Delegada Sandra Andreatta me confidenciou um fato até então desconhecido de minha parte:
- “Delegado, sabe como é que o Paulinho resolveu se candidatar à presidência do Sintrasp?”
Estranhei aquela pergunta e fiquei curioso enquanto Sandra Andreatta completou:
- “Foi o Milton Sché, eles são muito amigos. O Milton que é assessor lá do Delegado-Geral foi quem fez a cabeça do Paulinho para montar uma chapa de oposição. O Paulinho também é muito amigo do doutor Maurício...”.
Naquele momento me deu um frio na barriga. Tinha acabado de sair da Delegacia de Canoinhas, em cuja região acreditava ter uma grande credibilidade com os policiais em razão do meu passado de lutas classistas e se soubesse que o Escrivâo “Paulinho” era um candidato ‘chapa-branca’ jamais teria me posicionado a seu favor. Em razão disso, argumentei:
- “Puxa, Sandra, por que você não me disse isso antes? Meu Deus, ai se eu soubesse disso antes de ter entrado lá na Delegacia de Canoinhas...”.
Sandra Andreatta ficou surpresa com meu desabafo e me questionou:
- “Por que, Delegado? Não tem nada demais...”.
Interrompi:
- “Sandra, Sandra, espera aí, claro que tem. Se eu soubesse que isso foi um esquema político do Maurício Eskudlark para derrubar o João Batista jamais teria me posicionado. Eu acho que deveria voltar lá na Delegacia e conversar com os policiais colocando eles a par do que realmente está ocorrendo. Tudo bem, tudo bem, acho que tem que haver renovação, mas não quero me manifestar mais, chega, de jeito nenhum! Imagina, vamos que o Paulinho ganhe as eleições e logo o pessoal pode vir a descobrir que ele é um ‘p’, uma criação do Delegado-Geral e que só se candidatou para fazer o jogo deste governo que está aí, imagina se isso venha acontecer? Em alguns meses os policiais vão se revoltar, vão querer a cabeça dele. Além disso, corre-se o risco do João Batista e companhia limitada retornarem ao poder triunfalmente, como salvadores da pátria, já pensou?”
Sandra Andreatta deu a impressão que viu as suas fichas caírem e acabou me dando razão, chegando a pedir desculpas por não ter me revelado aquela informação anteriormente.
Por volta das dezesseis horas, aproximadamente, estávamos viajando em direção à Joinville e a certa altura Sandra Andreatta comentou que gostava de crianças e cachorros, pedindo que eu interpretasse isso, depois de mais algum tempo, revelou que também gostava de tempo nublado, vento, chuvas, tempestades, água parada e que detestava ondas do mar, novamente pedindo que eu interpretasse. No primeiro caso fiz a minha leitura, no segundo achei que não deveria...
"Delegação para almas" e policiais enfermas:
No dia 11.07.08, por volta das doze horas e trinta minutos, tinha acabado de ouvir os Delegados Uriel e Cristine em Jaraguá do Sul e juntamente com a Delegada Sandra Andreatta (vogal), passamos a conversar sobre assuntos institucionais. Recomendei que durante a assembleia itinerante da Adpesc eles redigissem um documento elencando prioridades e repassando à Delegada Sonêa, evitando discussões difusas e sem nexo, geradoras de catarse, bem ao gosto daqueles que utilizavam a velha máxima: dividir para exercer o poder absoluto. Percebendo no olhar de Cristine e na sua fala um certo desânimo, também, lamentava-se de um processo depressão, dos desgastes funcionais, da falta de motivação.... E se não bastasse isso a Delegada Sandra Andreatta resolveu fazer um desabafo, dizendo-se totalmente frustrada com a instituição policial, que não tinha qualquer motivação para o trabalho, entrando naquela vala comum de que a Polícia Civil estaria se acabando, que não tínhamos futuro. Aproveitei para dar uma injeção de ânimo nas duas Delegadas, relembrando que a instituição era maravilhosa, contabilizava uma história riquíssima, tínhamos muito o que fazer, que o serviço que prestávamos à sociedade era muito digno e louvável e que poderíamos ajudar muito as pessoas... Citei como exemplo o Juiz de Direito Geraldo Bastos da 2ª Vara Criminal de Lages, pois quando fui ouvi-lo tempos atrás como testemunha num processo disciplinar, já instalado no seu gabinete, pude observar ostentando as paredes vários “sinais” que identificavam a presença da Polícia Civil..., tudo como louvor à época em que atuou como Delegado em Balneário Camboriú e descobriu o que era ser policial de verdade, quando aprendeu a comandar uma repartição policial, sorveu tudo que a vida policial poderia ofertar, respirou a nossa história... e que seu sonho era continuar sendo Delegado de Polícia, entretanto, apenas por questão salarial, teve que optar em fazer concurso e ingressar na magistratura... Depois de meu relato, observei que os Delegados, inclusive Sandra Andreatta, externaram brilhos nos seus olhares, orgulho e satisfação de integrarem a instituição policial.
Logo que deixamos o prédio, Sandra Andreatta ainda comentou que eu tinha o dom de tocar o coração das pessoas, que era muito bom ser ouvido e muito importante se passar aquele tipo de mensagem... Argumentei que só fiz aquilo porque senti o clima pesado no ambiente e que tinha que atuar como médico de almas no meio daquelas Delegadas...