DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CLIX): “UM ENCONTRO COM A DELEGADA ANGELA ROSLER (DRP DE SÃO BENTO DO SUL)” E O EFEITO “CHUCK BARRY”. O AMARGOR E OS ESTRAGOS DO ‘RAPAZITO’ DELEGADO SÉRGIO MAUS: SERIA O RESCALDO DE MAIS UM DESCARTE?”
Por Felipe Genovez | 11/07/2019 | HistóriaUm encontro com a Delegada Angela Rosler:
Dia 02.07.08, por volta das horário dezoito horas estava na Delegacia Regional de São Bento do Sul ainda sob forte influência da profícua conversa momentos antes com o Capitão Zelindro que havia me restaurado as esperanças e os velhos sonhos sobre as possibilidades de se dar um futuro seguro para a criação da nova Polícia Estadual. Meu objetivo era encontrar o Delegado Leonísio Marques e logo fui informado na recepção que o mesmo se estava licenciado porque seria candidato à reeleição à vereança. Soube que a Delegada Regional era a Ângela Roesler que só conhecia de nome. A seguir resolvi dar um giro pelo prédio da “DRP” e acabei percebendo a presença da Delegada Angela no hall de entrada do prédio. Soube pela própria recepcionista que ela estaria cuidando pessoalmente da mudança de móveis enquanto a recepcionista apontava com o dedo na direção de Ângela, dizendo que ela era a nova Delegada Regional. Fui ao seu encontro e me apresentei enquanto Ângela comentou que me conhecia apenas de nome. Depois de alguns instantes a nova DRP me convidou para subir até seu gabinete e perguntei pelo Delegado Leonísio. Ângela fez uma cara de quem não queria ouvir falar naquele nome e percebi que havia diferença entre os dois, a seguir, comentou que Leonísio era conhecido como um tipo “boca-mole”, ou quem “não decidia nada, não tinha iniciativa”. Dava para perceber que Ângela era bastante ativa e que gostava de mudanças, agitação, até que me jogou um balde de água fria ao afirmar:
- “Sabe quem é que está aqui trabalhando com a gente? ...O Sérgio Maus. Ele está nos ajudando num mutirão, temos muitos inquéritos policiais atrasados e ele está lá na Comarca (Delegacia) ajudando...”.
Interrompi:
- “Eu só acho que ele deveria mudar o nome dele para ‘Sergio Bons’, mas tudo bem...”.
Ângela fez uma cara de surpresa e comentou:
- “Puxa, mas ele tem sido tão bom...”.
Resolvi perguntar:
- “Sim! Ele está sozinho?”
Ângela respondeu que sim e que iria ficar vinte dias ajudando o que me fez pensar: “O Sérgio achou uma fórmula de ganhar diárias e..., deve ser acerto do Maurício, do Ademir, do Collato... É, pode ser também uma forma de compensá-lo pelos trabalhos na comissão de promoções, pela atuação na época da ‘Corregedoria’...”. Em seguida mudei de assunto e fui até o computador (notebook), entramos no “site” da Assembleia Legislativa e imprimimos o “projeto” de lei da “indenização aposentatória”. Fiz um relato sobre o trabalho da Delegada Marisa junto ao Deputado Darci de Matos, repetindo a rotina que repassei para a Delegada Regional Patrícia de Rio do Sul e para o Delegado Regional Silvio Gomes de Itajaí. Ângela me ouviu atentamente dando a impressão que ficou meio impactado com meu relato sucinto, cadenciado, programático, enfim, um breve monólogo. No final pedi que entregasse uma cópia do projeto para o Delegado Leonísio, porém, não senti muita firmeza, tudo por conta das diferenças. Mas, Ângela, fez questão de dizer:
- “Pode ficar tranquilo que nós vamos encaminhar os documentos todos, vamos colocar o nome do Leonísio e dos outros Delegados, pode ficar tranquilo...”.
Interrompi:
- “Só queria lembrar da ‘teoria da convicção’ e que meu nome não aparecesse”.
Ângela não disse nem que sim e nem que não, muito embora reiterasse que a minha condição de ‘corregedor’ era delicada. No final do encontro Ângela comentou que tinha sido um prazer muito grande me conhecer pessoalmente e, a seguir, pude ouvir seu celular tocar com uma música famosa de “Chuck Berry”... Depois que atendeu a ligação reiterei a respeito da importância da ‘teoria da convicção’ e acabamos nos abraçando e nos despedindo em pé, aproveitei para lhe dar parabéns pelo “Chuk”, sem que ela entendesse, me perguntado:
- “Chuck, que Chuck?”
Expliquei e aí caiu suas fichas o que fez me perguntar se eu era ‘roqueiro’... Achei engraçado e nos despedimos definitivamente já na porta de saída do prédio com meus pensamentos na receptividade da DRP que parecia ter me deixado sob efeito melódico e ótico de encantamento e renovado minhas esperanças. Como não encontrei a Investigadora Patrícia Angélica me dirigir primeiramente até a viatura onde estava o Investigador Fernando para deixar meu material.
O amargor do Delegado Sérgio Maus:
Retornei ao prédio da DRP e me dirigi até a Delegacia da Comarca (andar térreo) e numa das salas me deparei com o Delegado Sérgio Maus digitando alguma coisa num “notebook” que parecia ultrapassado. Sem cerimônias resolvi entrar e olhei para ele esperando algum sinal de receptividade. Sérgio Maus deixou escapar um olhar de desdém, como se simplesmente eu não existisse, não tivesse a menor importância. Em frações de segundos lembrei de outras épocas quando Sérgio Maus conversava comigo e externava um ar de satisfação, prazer, atenção... Depois da nossa fase na Corregedoria e de seus “aprontos” parece que seu recurso era desdenhar, demonstrar ares de superioridade, indiferença... Procurei me manter integral e inabalável na sua frente, muito embora ele não desse muita importância. Perguntei:
- “Ué, que cor é essa rapaz?”
Sérgio me olhou e quis rebater, talvez incomodado com aquele tratamento de “rapaz” (isso já tinha ocorrido numa outra oportunidade), e ponderou:
- “O que tem a minha cor?”
Respondi:
- “Estais com uma cor de fantasma”.
Sérgio replicou:
- “Quem está com cor de fantasma?”
Continuei:
- “Tu, parece que visses um fantasma?”
Sérgio respondeu:
- “Eu não estou com cor nenhuma de fantasma, tu que estais dizendo”.
Em seguida Sérgio aproveitou para atacar com seu ácido característico, pois com um inquérito nas mãos foi comentando:
- “Olha isso aqui. Eu estou trabalhando nesse inquérito, que coisa! Eu hoje me arrependo, como é que não vi isso antes? Deveria como Corregedor ter vindo para cá, tenho certeza que isso não aconteceria, olha só que vergonha. Por isso que hoje eu sou contra o inquérito policial. Tem que acabar mesmo, tem que tirar o inquérito dos Delegados...”.
Pensei em defender o nosso histórico inquérito policial, mas preferi usar outro argumento:
- “Sinceramente, Sérgio, eu acho que se nós tivéssemos uma ‘Corregedoria’ estruturada, se nós tivéssemos Corregedores com prerrogativas, independência funcional, muita coisa disso não aconteceria. Você lembra, Sérgio, na época que tu era Corregedor eu te apresentei um anteprojeto para nós reestruturamos a Corregedoria e no que deu? Não deu nada....”.
Sérgio, meio que sem argumentos tentou rejeitar a minha tese, insistindo que não era bem assim, mas eu me mantive firme insistindo que se tivéssemos um órgão correcional forte o pessoal levaria mais a sério. Evitei entrar num outro tema vital que era a falta de Delegados, da falta de concursos, da carência de policiais, de ausência de estrutura e melhores condições de trabalho, de armamentos velhos..., tudo obviedades e que certamente não interessariam muito ao Delegado Sérgio dentro do seu universo de puro “amargor”. Além disso, o discurso do “anteprojeto da Corregedoria” era uma forma de lembrá-lo que ele procurou o poder (ser Corregedor), deixou-se ser usado, serviu o poder instituído e ao governo, numa época em que se respirava o “poder absoluto” e qual teria sido a sua contribuição? Foi forte com os fracos..., sim viajou o território estadual levando um “banquinho de dados”, auferindo prestígio perante seus pares que lhe valeu votação expressiva na eleição do Conselho Superior da Polícia Civil... Num determinado momento pensei: “A conversa com os Delegados Sérgio Maus e Gentil Ramos parecia um desafio na minha vida, uma mensagem divina, provações, um puro ‘enxuga gelo’...”. Procurei não dizer nada a respeito da minha presença em São Bento do Sul, sobre o projeto da “indenização aposentatória”, até para Sérgio Maus não lhe dar mais motivos para desdenhar era já que essa parecia ser a sua maior expressão e forma de linguagem quando estava fora do poder e uma forma de descontar em colegas. Em seguida, deixei o recinto onde se encontrava Sérgio Maus e fui para a viatura me encontrar com os policiais Patrícia Angélica e Fernando que me aguardavam. Ao entrar no carro Patrícia Angélica foi me dizendo que quando estava no interior da Delegacia da Comarca, especificamente na cozinha, uma policial lhe avisou que quem estava na repartição era o Delegado Sérgio Maus. Patrícia Angélica com um olhar felino comentou:
- “Quando eu ouvi a policial me dizer que ele estava ali eu perguntei: ‘me diz onde ele está, porque eu quero ir para o lado contrário, quero ficar bem longe dele...’. A policial não entendeu e quis me dizer que o Delegado Sérgio Maus era bem bonzinho, faz até café para os policiais, imagina...”.
Quando já estávamos na estrada fiquei pensando naquele jeito engraçado e paradoxal pertinente ao comportamento do Delegado Sérgio Maus, pois enquanto estive conversando com ele só faltava assinar a condenação dos Delegados e agora vinha Patrícia Angélica me dizer que todo mundo achava ele bonzinho. Lembrei, também, que a Delegada Regional Ângela havia me dito a mesma coisa e pensei: “Ah, já sei, ele sabe que eu sei que ele está aqui com diárias corridas, sem limites, fazendo um trabalho que não tem nada a ver com ele, sendo um Delegado Especial e para se justificar talvez esteja só querendo se justificar contra atacando, criticando inquéritos, querendo mostrar dificuldades no trabalho..., que pobreza de espírito, meu Deus! Bom, o Maurício, o Collato... eles é que devem estar arranjando esse tipo de serviço para o Sérgio ficar viajando aí pelo interior e recebendo diárias, até como forma de prêmio por serviços prestados quando esteve à frente do órgão correcional...”.
A grande novidade era que Sérgio Maus estava sozinho em São Bento, ou seja, não se fazia acompanhar por aquela policial que era sua secretária... Patrícia Angélica fez questão de informar que “aquela policial” voltou a viver com seu ex-marido que era Delegado. A seguir Patrícia Angélica desabafou que sofreu muito nas mãos do Delegado Sérgio Maus, isso na época em que ele respondia pela Corregedoria, em cuja época passou por maus bocados, teve muitas dores de cabeça, sofreu muita pressão, além de noites mal dormidas, sofrimento..., tudo isso muito lamentável e triste. Aproveitei o momento para relatar o tratamento frio que Sérgio Maus me dispensou momentos antes quando o encontrei no interior da Delegacia da Comarca, mas que fiz questão de ficar na sua frente e fixa-lo, apesar de todo o seu amargor, descaso... Acabei fazendo um desabafo enquanto prosseguíamos viagem:
- “Meu Deus! Ah se eu pudesse voltar no tempo. Certamente que uma das coisas que eu mudaria seria o Conselho Superior da Polícia Civil. Que besteira eu fui fazer quando trabalhei na lei complementar cinquenta e cinco. Eu coloquei na lei que o conselho seria integrado por sete membros titulares, Delegados Especiais mais votados por todos os Delegados de Polícia, e mais sete suplentes. O conselho também seria integrado por mais sete Delegados nomeados para os cargos de direção da Polícia Civil. O conselho é presidido pelo Delegado-Geral. Eu não imaginava, mas os Delegados Especiais fazem campanha para serem bem votados para o conselho. De que forma? Imagina, Patrícia, os Delegados politiqueiros, puxa-sacos vão fazendo um ‘favorzinho’ aqui, outro ali, é uma diária para um, é uma remoção para outro, é uma licença, uma viagem, um curso, uma lotação confortável, uma autorização para deslocamento... e aí não tem jeito, o diretor passa ser o ‘cara’, o melhor do universo policial. Enquanto isso um Delegado que é ético, não vai atrás de cargo, não puxa o saco de político, não é vaca de presépio, não faz o jogo do poder, não possui poder de influência, não decide, não ajuda ninguém, não presta favores... e acaba não conseguindo nada, é muito triste. Bom, um exemplo é o Garcez, imagina, quando há eleição para o Conselho ele não é lembrando, enquanto que outros, os de sempre, são bem votados...”.
Patrícia Angélica mencionou o Delegado Sérgio Maus que quando era Corregedor da Polícia Civil aproveitou para viajar o Estado acompanhado da policial “Delci”, “orientando” os Delegados novos, apresentando um “programa” de controle dos procedimentos policiais... e com isso acabou adquirindo fama, transformou ele em um “semideus”, e o resultado foi uma expressiva votação nas eleições para o Conselho Superior. Concordei que era assim que funcionava mesmo, pois os Delegados novos não conheciam a história da Polícia Civil e aí aparecia o super Corregedor “Sérgio Maus” que lhes apresentava um “programinha” e como eles se encontram abandonados no interior qualquer um que desse as caras passaria a ser o máximo. Relatei que quando sucedi Sérgio Maus na Corregedoria ele não quis me explicar o tal programa, muito pelo contrário, havia me dito que era dele e que levaria embora. Na época acabamos discutindo e eu tive que me apressar e copiar o seu “programinha”, descobrindo que se tratava de uma coisa muito simples, desenvolvida no “Access”. Comentei que foi muito engraçado quando Sérgio Maus descobriu que eu tinha copiado seu programa, que tinha entendido como desenvolveu suas rotinas e que também fiz um “programinha” baseado no seu e que nós não tínhamos o direito de levar esses programas para casa quando fôssemos exonerados dos cargos ou dispensados da função, justamente porque éramos pagos pelo Estado, usávamos bens públicos... e que Sérgio Maus ficou uma “fera” porque entendia que tinha direitos autorais e que o Estado tinha que lhe indenizar. Relatei que depois de algum tempo Sérgio Maus retornou para a Corregedoria e acabou ensinando seu programa para algumas pessoas do setor do protocolo, pois já sabia que eu estava com “bala na agulha”. Sobre o Conselho Superior argumentei que lamentava não ter poder político para mudar o colegiado, colocando membros representantes dos Delegados, Promotores de Justiça, Oficiais da PM, Advogados e representantes dos policiais civis. Além disso, todos policiais civis, ativos e inativos, poderiam votar para o Conselho, pois não se constituía um órgão dos Delegados e, isto sim, da Polícia Civil. Argumentei, também, que se pudesse criaria o Colégio dos Delegados Regionais, com regimento interno e presidente com mandato... Sim, aquilo tudo era um desabafo, mas tanto Patrícia Angélica como Fernando eram policiais de excelente formação, profissionais de qualidade... e isso certamente deveria ser um orgulho institucional.