DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE CIII): “HAVERIA UM ENCONTRO COM O DEPUTADO DARCI DE MATOS (A QUESTÃO DO FUNDO DE APOSENTADORIA DOS POLICIAS)? O DIA QUE OS DELEGADOS ‘TRITÕES’ TRAJARAM ‘MEL’”.

Por Felipe Genovez | 24/04/2019 | História

Haveria um encontro com o Deputado Darci de Matos?

Dia 09.10.07, horário: 15:00 horas, já estava em Florianópolis na Corregedoria da Polícia Civil e Marilisa me ligou no celular. Ela queria saber se eu estava em Joinville ou São Francisco e se poderia vir com ela para Capital  de carona. Depois de acertamos os ponteiros sobre as audiências previstas para quarta e quinta-feira próximas, Marilisa comentou:

- “Amanhã vou tentar falar com o Darci (Deputado). Eu estou tentando conversar com ele para marcar para amanhã na Assembléia Legislativa...”.

Interrompi:

- “Ah, sim, podemos almoçar juntos com ele...”.

Marilisa fez uma pausa de silêncio e prosseguiu:

- “Eu vou ver se converso com ele, se conseguir ligo ainda hoje para ti, certo?” 

Por volta das 17:00 horas, o Corregedor Nilton Andrade veio até meu gabinete trazer um procedimento para que eu realizasse algumas diligências. Durante o curso da nossa conversa Nilton reclamou que o seu abono permanência (isenção da contribuição previdenciária) ainda não estaria constando do seu contracheque. Argumentei que estava na mesma situação, mas que em face de estar no teto nem resolvi mexer com o assunto porque todo mês teria que devolver dois, três e até quatro mil reais (passaria do  teto de dez mil reais). Acabamos conversando sobre a nossa situação salarial e eu relatei que havia encontrado o Delegado Rogério Zattar  em Joinville. Também, fiz menção à mensagem da Presidenta da Adpesc (Delegada Sonéa) que relou que tiveram audiência com o governador Luiz Henrique e que o mesmo havia dito que ficou  surpreso com as notícias apresentadas quanto aos salários dos Delegados, pois muitas carreiras estavam reivindicando ganhar isonomia conosco (citei que só poderiam ser os Oficiais da PM, os Peritos...) e que isso significaria que estávamos  ganhando muito bem. Concluímos que não havia resistência alguma e que a “hora extra” e a “convocatória” dos Delegados velhinhos se constituíram  “venenos”, pois acabaram silenciando a classe. Comentei que Rogério relatou que estava  trabalhando de manhã e a tarde, no horário das oito às doze e das quatorze às dezoito horas, o que era lamentável... Também, criticamos  a situação da Delegada Sonéa em razão da sua vinculação partidária considerando que seu esposo era o Secretário Adjunto da Segurança Pública e que o mesmo deveria aspirar assumir a titularidade da Pasta  quando o Deputado Ronaldo se desincompatibilizar para concorrer à reeleição.

Dia 10.10.07, por volta das dez horas da manhã, ao retornar de um café da manhã, logo que cheguei na recepção da Corregedoria, dei de cara com a policial Nora (Eleonora) dizendo que já tinha telefonado para o meu celular duas vezes. Em seguido, avistei o Delegado Marcucci e mais seu advogado sentados numa poltrona aguardando a audiência agendada para as onze horas. Fiquei satisfeito de ver que Marcucci já estava circulando em liberdade, isso após pagar alguns dos seus “pecados” e já era hora de começar seu processo de resiliência. Lembrei que Marcucci tinha sido mais vítima de um complô interno, mas, com certeza, o maior inimigo era ele mesmo. Aliás, disso tudo, esperava que a grande lição da sua vida talvez fosse mesmo a lição de humildade. Se ele conseguiu desenvolver algum  “mantra” nesse sentido, com certeza estaria habilitado a alçar seus sonhos... Engraçado que tanto Marcucci como seu advogado estavam de terno cor de mel, o que se contrastava com meu jeito de me vestir, isto é, simples, camisa preta de manga comprida, calça jeans. Pedi licença e disse para eles ficarem à vontade e pensei: “Hoje o dia promete, só falta chegar o restante do pessoal, inclusive Marilisa, que dia!”. Enquanto aguardava o elevador lembrei dos meus “dedinhos” já sentindo o peso da digitação de tantas coisas, tudo em nome do serviço e da história,  veio à mente a amiga Marilisa, sua alegria e energia, aquela música de Larry Carlton... (Those Eyes).

Encontros de “tritões”: 

Por volta das dez horas e trinta minutos estava na minha sala na Corregedoria e o Delegado Especial  Acácio Sardá apareceu na porta para me cumprimentar. Antes ele estava na sala ao lado conversando com o Corregedor Nilton Andrade e eu nem tinha percebido a sua presença, apesar  da porta estar aberta.  Fazia tempo que não via Acácio Sardá e achei que ele estava mais “gasto”, com os cabelos grisalhos, apesar de aparentar aquele vigor mental singular. Sardá  sempre esteve um pouco acima do peso e aquela característica era engraçada porque ao mesmo tempo que parecia “bonachão”, na verdade se constituía um “titã”, lembrando aqueles Senadores do Império Romano, à época de Cícero, com seus  subterrâneos conspícuos e seus mundos que mais lembravam constante estado conspiratório, conchavos, subversão, tirania, traições, “legiferência”, sofreguidão, sub-elevação, mortes... Minha visita passou a fazer um relato sobre sua família, seus filhos e fez uma relato  sobre seus dois filhos maiores que pretendiam entrar para a Polícia, mas ele fez com que desistissem. Chegou a comentar que um deles (formado em Agronomia) foi barrado na prova física e que depois o Delegado T. suprimiu da listagem dos aprovados, conforme alguém havia lhe confidenciado nos bastidores. Comentei  a respeito da necessidade de uma “Emenda Constitucional” para retirar a Polícia Civil da “Segurança Pública” na Constituição do Estado. Depois falei do nosso anteprojeto do “Fundo de Aposentadoria” dos policiais civis.

O dia que os Delegados trajaram “mel”: 

A conversa fluía até que apareceu  o Delegado R. T. que foi entrando no meu gabinete para me cumprimentar, trajando um terno cor de mel, caminhando de maneira imponente,  andar lento e articulado o que me fez pensar : “Báh, taí, hoje tá todo mundo de mel”. Lamentei que tinha deixado a porta aberta enquanto conversava com Sardá porque já estava prevendo aquele acontecimento. T. chegou até onde eu estava  e me cumprimentou formalmente, em seguida foi a vez de Sardá. Parecia uma cena patética, mas procurei me manter normal  de maneira a tratá-lo formalmente, sem ufanismos, sem estrelismos, sem cinismos, sem modismos... porque isso denotaria pobreza de espírito.  Em determinado momento, Thomé comentou:

- “Felipe, então eu sou testemunha de defesa?” 

Confirmei dizendo:

- “Sim, és testemunhas arrolada pela defesa, não foi por mim!”

T. sentiu o clima e foi deixando meu gabinete sem muito o que dizer. Fiquei pensando no “adjetivo” que T. utilizou para se referir ao Delegado Marcucci. Logo que T. deixou minha sala olhei para Sardá e comentei:

“Puxa, que energia, não é fácil ter que olhar para o T. depois de tudo que ele aprontou, fica difícil...”.

Sardá interrompeu:

- “Bom, a Polícia precisava de uma sacudida, mas ele sacudiu tanto que a Polícia caiu, aí não dá. Ele me perseguiu muito, eu não guardo raiva de ninguém, mas esse T. foi demais...”.

Interrompi para desabafar que também me senti muito mal com a forma que vim para a Corregedoria e lancei um questionamento:

- “Mas o que adiantou? Tá aí, sozinho, lamentável...”.

Sardá interrompeu:

- “Ninguém quer saber..., todo mundo foge..., todo mundo fala...  dele”.

Interrompi:

- “Olha, Acácio, este governo do Luiz Henrique foi um dos piores para a Polícia Civil, para os Delegados, acabamos todos nós sendo vítimas dele que foi nosso Escrivão de Polícia, que ironia do destino...”.

Fiz um breve relato  sobre a história dos Delegados Regionais na época do governo Ivo Silveira. Depois falei da época do governo Kleinubing. Comentei que nesses dois governos os Delegados ainda tiveram algumas coisas boas, mas no Governo Luiz Henrique só contabilizamos coisas ruins, só retrocesso, só perdas e argumentei:

- “Pois é, e por trás disso tudo está o T., desde a perda da Academia, da Corregedoria-Geral, da Polícia Científica, da equiparação dos salários dos Oficiais da PM aos Delegados...  Sardá  concordou e quis falar sobre a “PEC” em Brasília, tentando argumentar que já tinha sido  aprovada nas comissões e que estava tramitando muito bem. Interrompi para comentar  que aquilo era vender esperança, que a missão da Delegada Sonéa era administrar os Delegados de maneira a assegurar um governo tranqüilo e com isso seu marido iria se cacifar para substituir do Secretário Ronaldo Benedet no último ano de governo quando o mesmo teria que se desincompatibilizar para concorrer à reeleição. No final da conversa Sardá lamentou que sua saúde não era mais a mesma, relatando que seu filho mais velho que estava com trinta e cinco anos, já estava rico e que em poucos anos na advocacia conseguiu levantar um patrimônio muito maior que ele levou a vida toda para conseguir. Sardá, com certo desdém e discrição,  chegou a comentar que o Delegado Maurício Eskudlark era uma pessoa em quem não se devia... Sobre esse comentário não  quis externar minhas opiniões, apenas disse que na época áurea do Delegado T. o Delegado Maurício Eskudlark fazia o jogo duplo, até que um dia os ventos mudaram... Lembrei que na viagem de retorno de Joinville no dia anterior  o policial “Zico” havia relatado que quando estourou a “bronca” contra o Delegado Marcucci em Joinville, o Delegado Maurício Eskudlark teria “T." e Hilton quando se antecipou telefonando  para Marcucci e avisando que eles estavam indo para Joinville prendê-lo.

No final da conversa argumentei que não guardava rancor algum contra o Delegado "T."  pelo seu tratamento dispensado a minha pessoa  quando assumiu o cargo de Delegado-Geral e que ele  construiu mais inimizades do que fez amigos, vivendo a sua solidão, frustrações, tendo experimentando  falsidades e que a vida dava muitas voltas, finalmente, disse aquele dia tudo parecia muito triste. Pedi licença para Sardá porque Margarete já havia avisado que o pessoal estava aguardando para o começo da audiência.