DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CCX): “O DRAMA DE JUREMA WULF. A IMPUNIDADE SEGUNDO O ‘MP’ (AFONSO GHIZZO NETO). MAIS UMA ‘MARCHA FÚNEBRE’? (CHET BAKER). ‘PALETADAS E OVELHADAS...’ À ‘ANTROPOFAGIA TUPINAMBÁ?’”
Por Felipe Genovez | 28/10/2019 | HistóriaO drama de Jurema Wulf:
Data: 18.11.08, passava das dez horas da manhã e eu estava na minha sala na Corregedoria quando lembrei da tragédia envolvendo a Delegada Jurema Wulf. Naquela manhã lamentei a situação daquela policial e me perguntei: “Por que Jurema Wulf não atendeu meus pedidos quando diversas vezes havia reiterado que se dedicasse à Delegacia Regional de Jaraguá do Sul? Por que aquela sua obstinação em estar no comando direto da Delegacia da Comarca de Guaramirim...? O que tinha de tão importante naquela comarca que acabava consumindo toda a sua energia em detrimento da DRP de Jaraguá do Sul que ficava à mercê de seus subordinados, estagiários...? Sim, Jurema sempre me dia dizia que estava estressada com tanto serviço em Guaramirim e me perguntei: Mas por que, então, não designou um dos Delegados da Comarca de Jaraguá do Sul? Jurema argumentava que tinha pena desses Delegados que estavam sobrecarregados de serviços e preferia ela cuidar de Guaramirim... Mas por quê e a que preço? Esse procedimento prolongado era um caso único no Estado e o pior de tudo agora era o dano causado à imagem da instituição...”.
A impunidade:
Acabei fixando minha atenção ao artigo do Promotor de Justiça Afonso Ghizzo, ex-aluno Delegado da Acadepol, sobre “impunidade”, ‘tão’ apropriado e de maneira pragmática tive que lhe dar razão, não dava para não pensar nos tantos escândalos causados por Delegados ao longo dos anos e que foram manchetes em jornais, tão vulneráveis, tão ingênuos, tão contaminados, tão despreparados, tão inescrupulosos e apequenados, tão-tão...:
“A herança da impunidade, por Affonso Ghizzo Neto - Uma característica marcante e decisiva para a evolução da imoralidade e da corrupção disseminada nas estruturas de poder na administração pública brasileira decorre, sem dúvida, da aceitação da impunidade dos delitos e da prática corriqueira dos atos de corrupção. A impunidade, intimamente relacionada com o ordenamento jurídico adotado, advinha da omissão e da cumplicidade do poder dominante e das camadas dirigidas. As relações íntimas, os interesses comuns e as "razões de Estado" sempre foram circunstâncias determinantes para o aceite da transgressão da lei, convertendo-se em estímulo à reprodução contínua e crescente dos mais variados delitos. A impunidade reinante é facilmente compreendida a partir das características do Estado patrimonial português. Com a aplicação de critérios subjetivos para consecução das metas da Coroa, sempre pautada por relações íntimas de amizade, parentesco e retribuições pessoais, a ordem jurídica - instável e flexível - foi marcada pelo casuísmo e pela arbitrariedade do soberano e seu séqüito. Com a valorização suprema do patrimônio, dos bens e das riquezas materiais - não importando a forma e a maneira da busca pelo conforto ou pelo poder - uma ética perversa passou a ser consentida e cultuada, privilegiando-se a esperteza, a hipocrisia, a bajulação, a manipulação, o tráfico de influência, a fraude e a corrupção. Eventuais punições impostas visavam unicamente repreender e castigar a audácia e o atrevimento dos inimigos que se impunham contra a estrutura de domínio imposta. A escolha patrimonial não permitiu que uma ética voltada ao interesse público e coletivo germinasse no Brasil. Para os mais incrédulos da herança maldita recebida, vale aqui uma consideração: nenhuma sociedade humana altera seus costumes da noite para dia sem investir em educação (Coordenador nacional do projeto ‘O que você tem a ver com a corrupção?’”) (DC, 18.11.08).
Justiça mantém prisão da Delegada Jurema Wulf e da Escrivã Dilva Dolzan (Gama Over):
“TJ mantém 7 suspeitos presos - O Tribunal de Justiça de SC decidiu ontem manter presos os sete suspeitos que tiveram prisão preventiva decretada pela juíza de Jaraguá do Sul, Patrícia Nolli, na Operação Game Over, do Ministério Público Estadual. A decisão de negar habeas corpus (pedidos de liberdade) dos advogados dos presos é do desembargador substituto Tulio Pinheiro. Ainda será julgado o mérito dos recursos. Os promotores anunciaram também que a investigação será ampliada para outras regiões do Estado. A delegada regional afastada de Jaraguá do Sul, Jurema Wulf, a escrivã Dilva Dolzan e o bicheiro José Wodzinski, o Zeca Bicheiro, estão entre os que continuam presos. Seus defensores argumentavam nos pedidos de liberdade a falta de fundamentação nas prisões preventivas e que a ordem pública e a instrução criminal não estavam ameaçadas. Mas Pinheiro lembrou que a investigação constatou os delitos e a presença dos indícios de autoria.A Game Over prendeu 12 pessoas dia 3” (A Notícia, 18.11.08).
Prenúncios de uma marcha fúnebre:
Dia 19.11.08, horário: treze horas e cinqüenta minutos, estava me dirigindo para a Corregedoria da Polícia Civil, e no trajeto da Beira-Mar Norte (Bairro Pantanal – destino Centro) enquanto ouvia a “marcha fúnebre” de Chet Baker voltei meus pensamentos para a Delegada Jurema Wulf. Pensei no projeto que pretendia reformar a “Corregedoria da Polícia Civil” e que havia entregue há duas ou três semanas atrás para que o Delegado-Corregedor Nilton Andrade repassasse para o Delegado-Geral Maurício Eskudlark. Na verdade o projeto não criava um sistema de informações ou inteligência para se prevenir situações como as que ocorreram mais recentemente com os Delegados Jurema, Paulo Freyslebem..., até porque seriam “nati morto”, com resistências intransponíveis nos escalões superiores, mas já seria um bom começo para se romper com um sistema correcional arcaico, pobre, sem expressão..., além de preparar uma estrada para o futuro.
“Paletadas e Ovelhadas: Policial ‘Jorginho’ se reportou a quem...?”
Relembrei das oportunidades em que conversei com Jurema e pedi que assumisse de fato a Delegacia Regional de Jaraguá do Sul... Também, recordei minhas viagens para a região norte do Estado, em cujas ocasiões ouvia uma rádio FM de Jaraguá do Sul que nos intervalos comerciais noticiava os resultados de jogos de azar o que achava muito estranho porque nenhuma autoridade policial da região parecia se indignar, reprimir, contestar..., muito menos representantes da Justiça local. Na sequência pensei nas notícias divulgadas pela imprensa dando conta que o Diretor de Polícia do Litoral havia prevenido Jurema Wulf sobre as operações da “Deic” naquela região. Claro que o policial “Jorginho” que havia sido removido compulsoriamente para Garuva (estava antes na 2ª DP/Itajaí) havia resolvido abrir o verbo e relatar (in off) que naquela região os “jogos de azar” corriam soltos e que havia um centro nervoso, um local de confraternização e festas (churrascos) localizado na Diretoria de Polícia do Litoral, com sede justamente em Itajaí... seria verdade? Depois lembrei do Delegado Regional Silvio Gomes que – segundo constava – até aquele momento não havia visto absolutamente nada, apesar de ter adoração por “paletas de ovelhas”...
À antropofagia Tupinambá?
A bem da verdade só um sistema de inteligência correcional é que poderia contribuir eficazmente para prevenir tais situações como as reportadas pelo policial “Jorginho”, tipo: “paletadas e ovelhadas”, encontros liderados por anões que mais pareciam “abutres-institucionais” tupinambás antropofágicos... que sempre permeiam e vicejam dentro de universos movediços, como de policiais fracos com os fortes...
Sim, a marcha fúnebre de Chat Baker tinha o condão de infundir um quê de pesar a partir do niilismo policial e social, não só por esses acontecimentos pontuais envolvendo autoridades e paladinos da Justiça, mas pela podridão que assolava toda a nação a partir das instituições públicas e privadas, seus extratos mais podres, todos os mecanismos e processos de alienação e escravização do povo.