DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE CCVI): “O REENCONTRO COM O 'DRP' SÍLVIO GOMES FILHO (ITAJAÍ) SOB AS CLAVES DE ‘FÁ' E ‘DÓ’. EDGAR ALLAN POE EXPLICARIA?”

Por Felipe Genovez | 21/10/2019 | História

“Ekipediretivadpesquiana”: Sílvio Gomes vem aí! 

Data: 13.11.08. Horário: 09:00h. Cheguei na Delegacia Regional de Itajaí para mais uma audiência (sindicância para apurar indícios de prática de infração disciplinar atribuída a Delegada Jurema Wolf de Jaraguá do Sul) e resolvi antes dar uma passada pelo gabinete do Delegado Regional Sílvio Gomes. Na recepção dei de cara com o Comissário “Maneca” (irmão do Delegado Carlos Dirceu Silva de Itapema), apesar de que essa não era a minha intenção considerando que o policial estava sendo objeto de uma investigação que estava sob minha responsabilidade (denúnicas sobre “Caça Níqueis” naquela cidade). Quando eu pensei em me retirar “Maneca” deixou o interior do gabinete de Silvio Gomes e passou por mim, dando a impressão que não queria me cumprimentar, o que dava a nítida impressão de pouco caso, afronto... Fiz questão de chamá-lo pelo nome e ele – parecendo fazer um esforço indigesto – me retribuiu sem fixar o olhar e sem se deter um segundo sequer. Fiquei intrigado, porém, não dei a devida importância.  Logo que entrei no gabinete percebi que o DRP Silvio estava sozinho, olhando para a tela do seu computador. Imediatamente pensei: “Puxa, esse Sílvio não sai da frente do computador, acompanha tudo, sabe de tudo...”. Quando percebeu minha aproximação – como já era esperado, Sílvio ergueu-se da cadeira  e veio ao meu encontro esbanjando fraternidade e receptividade:

- “Ôôôhhh, meu doutor, mas que prazer...”.

Sim, estava ali em carne e osso, ele e eu. Fomos direto para o seu cafezinho na conhecida salinha localizada aos fundos do seu gabinete. O assunto na roda passou a ser o último encontro promovido pela “Associação dos Delegados de Polícia” (Balneário Camboriú). Sílvio Gomes comentou que participou da “assembleia-geral” e reverberou as boas novas propaladas pela “ekipediretivadpesquiana”, como a concessão de uma gratificação de representação para os Delegados, o pagamento de uma outra gratificação de vinte e cinco por cento no ato de aposentadoria e a elevação do teto salarial. Fixei o olhar demoradamente em Sílvio Gomes e perguntei se ele tinha visto as fotos da festa. Como resposta o DRP respondeu que não teve tempo (cheguei a duvidar porque ele vivia plugado). Resolvi fazer uma provocação:

- “Ah, sim, mas tudo bem, a nossa presidenta (Delegada Sonêa) parece que estava participando da festa. Esse negócio de se desfilar para ser visto tudo bem, mas não vem ao caso, dá uma olhadinha nas fotos...”.

As claves de “fá” e “dó”:

Sílvio Gomes não disse nem que sim e nem que não. Em seguida chegou o Delegado Ivo Otto Klein que se juntou a nós e justamente no momento em que eu conversava sobre a política de controle exercida pela direção da Polícia Civil sobre os Delegados:

- “...Não se faz uma instituição assim, como é que nós vamos ser fortes se nossos Delegados estão amordaçados. Imagina, os Delegados Regionais fazem um controle velado sobre seus colegas nas suas regiões, por exemplo, as promoções ou remoções, um Delegado é removido ou promovido e acaba não indo para a sua comarca, ele é designado para atuar numa Delegacia mais conveniente, mais próxima do litoral, só que para isso tem que ficar quieto, não pode se manifestar, porque caso contrário ficaria marcado e acabaria removido para o oeste, um verdadeiro balcão de negócios. Bom, aí não dá, é moeda de troca, então, Sílvio e Ivo, não se constrói uma instituição forte sem princípios e valores legítimos, matando nossas legítimas aspirações e ideais, solapando o direito de se manifestar, de criar, cercear nossas liberdades...”.

Sílvio Gomes me interrompeu de maneira reverencial, dando a entender que era para corroborar o meu dito, meio que recolhido, porém, sem esconder uma “aura carapuçal”, arguiu:

- “Sim, o doutor tem razão, eles trazem um Delegado de outra região mais distante e acomodam numa comarca e essa pessoa fica devendo favores, é, é, é isso mesmo, o doutor sabe das coisas...”.

Procurei ignorar o que poderia estar por trás do riso contido de Sílvio Gomes e das suas frases cadenciadas, nas claves de “fá” e “dó”, carreadas de cunho “celebrativo” (uma celebração que poderia parecer um tanto surreal ou funesta?). Procurei manter meu foco sobre o olhar atento e experiente do Delegado Ivo, enquanto Sílvio fazia o papel de maestro ao tentar controlar os nossos espaço e tempo. Aproveitei para enveredar o assunto pertinente ao nosso “projeto da indenização aposentatória” que se encontrava com o Deputado Herneus de Nadal, líder do PMDB na Assembleia Legislativa:

- “Sílvio, eu queria pedir para tu entrares em contato com a Delegada Sonêa, pede para ela ir até o Herneus para apoiar o nosso projeto. Ela é a Presidente da nossa Adpesc, além disso tem o marido que tem respaldo do governo como Secretário Adjunto da Segurança Pública, e você também tem ligações políticas por aqui. Reúne o teu pessoal, coloca eles a par da situação, mobiliza essa gente aqui que eu e a Marilisa fizemos o resto...”.

Sílvio Gomes me encarou, dando a impressão que antes de se manifestar acautelaria suas palavras, e apenas disse:

- “Doutor, o senhor pode deixar que eu falo com os Delegados aqui...”.

Interrompi:

- “Falar com os Delegados aqui é uma coisa. É preciso mais que isso. É preciso conversar com lideranças políticas, a começar pelo Vice-Governador que é aqui da região, é imperativo entrar em contato com a Sonêa, cobrar alguma posição, conversar com os Delegados Regionais lá do oeste e que têm ligação com o Herneus, exigir que a Sonêa vá até o Herneus para inteirar-se...”.

Sílvio Gomes com flagrante parcimônia no uso da palavra apenas sorriu, balançou a cabeça e disse que faria isso, o que me fez pensar: “Ai que vontade de dizer para ele que na semana que vem ligaria para cobrar o cumprimento daquelas medidas...”. A seguir o DRP catapultou meus pensamentos ao limbo formulando um convide para almoçarmos juntos num restaurante próximo daquele prédio, o que foi aceito já que dá outra vez havia recusado (almoço em Navegantes). A seguir descemos até o andar térreo e no estacionamento me dirigi até a DRP a fim de nos deslocarmos para o restaurante que ficava nas imediações. Quando embarquei na viatura percebi alguns “CDs” junto a porta do “caroneiro” e como Sílvio Gomes estava conversando com alguém do lado de fora aproveitei para ver do que se tratava e para minha surpresa eram discos sobre a doutrina espírita. Fiquei impressionado e depois que partimos perguntei se ele era “espírita” e a resposta foi nas devidas claves em tom sublimar:

- “Integralmente!”

Durante o curso do almoço Sílvio Gomes falou bastante sobre suas crenças, sobre espiritismo, reencarnação... Procurei prestar bastante atenção nele, acompanhando suas palavras sem conter meus pensamentos: “Puxa, será que ele acredita piamente nisso tudo? Será que isso é um discurso, uma opção de vida, um caminho, um meio, um varal...? Talvez uma forma de superação, supremacia, dominação ou...? Ou seria uma maneira de dar visibilidade ao seu ‘eu’ interior, de maneira a exercer o cargo maior passando a conspícua visão de líder perene ou, ainda, talvez invocasse um quê de ingenuidade, budismo..., já que o peso do cargo falava por si e a obediência uma condição infungível dos seus subalternos?” Era incrível, mas de certa forma a imagem do DRP me remetia a “Allan Poe”, tipo: contos sobre os mistérios da mente... Enfim, ouvi atento as lições desse notável guru, me permitindo a blindagem e filtragem, em especial, quando doutrinava que a cada nova existência o ser humano reencarna e volta para ser melhor, mais aperfeiçoado... Acabei pensando na minha fé perene num Deus, nas minhas “doutrinas” quanto ao universo “quântico” que também poderiam ser puro delírio, um nada vezes nada...