DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CCIX): “ALBER E A BOLA DE CRISTAL. PRESIDENTA SONÊA (ADEPOL-SC) DESNUDADA? UM ENCONTRO COM O DELEGADO ABREU”.
Por Felipe Genovez | 21/10/2019 | HistóriaA bola de cristal:
Dia 17.11.08, horário: nove horas da manhã, estava na Corregedoria da Polícia Civil, quando fui surpreendido com a chegada do Delegado Alber que foi chegando com tudo e sentando bem na minha frente para dizer:
- “Pô, tem bola de cristal, heim?”
Olhei e não imaginava o que estava querendo me dizer, mas Alber insistiu:
- “Tem bola de cristal, viu, puxa, realmente a ‘Procuradoria-Geral do Estado’ está criando dificuldades naquele nosso projeto que prevê a compactação das entrâncias, eles são contra a compactação. Foi bem como dissesses...”.
Acabei fazendo um histórico sobre o projeto que resultou na Lei Complementar cinquenta e cinco e que mudou a estrutura jurídica da carreira de Delegado de Polícia para o sistema de entrâncias, tal qual nos termos do Judiciário e Ministério Público. Durante o curso da conversa relatei também que nosso projeto que tratava da “indenização aposentatória” encontrava-se com o Deputado Herneus de Nadal e que era importante ser acionada a Delegada Sonêa para fazer um trabalho na Assembleia Legislativa. Alber imediatamente rebateu dizendo que não queria nenhum contato com a Delegada Sonêa, mesmo sendo integrante da diretoria. Achei curioso e evolutivo, porque Alber era membro da diretoria desde os primeiros tempos e agora estava se negando a levar reivindicações, pedidos, propostas... e me perguntei o que será que andou acontecendo? Afinal de contas Albert também não era uma voz ativa da diretoria? Alber comentou que esteve no encontro dos Delegados em Balneário Camboriú e que no projeto constava que os Delegados ganhariam uma gratificação de representação. Acabei lembrando da última conversa com o Delegado Ademar Rezende que me disse que o governo iria aumentar o teto salarial, de resto nada, e isso só iria ocorrer não por que os Delegados queriam mas porque havia uma pressão dos Fiscais da Fazenda, dos Procuradores de Estado e dos Oficiais da PM.
Depois disso, conversamos sobre o aumento do efetivo que constava no projeto e Alber comentou que os cargos de Delegados Especiais iria pular de trinta para noventa e um. Resolvi perguntar questionar meu visitante a respeito de quantos cargos de “Coronel” havia na PM e ele no início parecia não saber a resposta, mas arriscou o número cem. Imediatamente rebati, dizendo que na PM existiam apenas dezenove e que iriam passar para vinte e três nos termos da nova legislação, isso contanto um efetivo de mais de vinte mil homens. Também, argumentei que na “PM” existiam cinco níveis hierárquicos de Oficiais (Tenente, Capitão, Major, Tenente-Coronel e Coronel) e que nos âmbitos do Judiciário e Ministério Público também existiam cinco níveis, contando o segundo grau na carreira. Albert pareceu impressionado e eu adicionei:
- “Olha só, Alber, anota bem, futuramente sabe o que vai acontecer? Eles vão mexer nos salários e um Delegado Especial vai passar a ganhar igual a um Tenente-Coronel, espia bem, com esse projeto aí eles vão dar chance dos Coronéis amanhã apresentarem um projeto salarial só para eles...”.
Alber deu de ombros com esse prognóstico e fui mais além:
- “Bom, e isso não é tudo, poderá haver outros reflexos, porque nós estamos passando a ter apenas quatro níveis hierárquicos, se pelo menos eles criassem o segundo grau na carreira...”.
Albert relatou que viu no projeto a criação da gratificação de vinte e cinco por cento como estímulo à aposentadoria, isto é, quando o policial civil viesse a se aposentar iria ganhar uma gratificação de vinte e cinco por centro. Pensei comigo: “Isso não vai dar certo, mas vamos torcer”. Depois, conversamos um pouco sobre história da Polícia Civil e Alber comentou que sua esposa (Delegada Ivete) anteriormente era “Técnico Judiciária” e se tivesse continuado naquele cargo estaria ganhando hoje três mil e seiscentos reais líquidos, praticamente o que ganhava como Delegada de Polícia, com um monte de incomodações, dissabores, sem contar que a Justiça estava acertando um aumento salarial para seus servidores. Lembrei que a “ekipe” fez os projetos na área da segurança pública, desde o início do governo Luiz Henrique, começando com os Delegados Neves, Thomé, Sonêa e Adriano Luz, depois com a chegada do Delegado Dirceu Silveira e seus grandes feitos que até hoje trazem reflexos, como a perda da “Polícia Científica”, o fim da “Corregedoria-Geral da Polícia Civil”, a introdução dos sistema de horas extras para Delegados, a questão salarial sem precedentes na história... Alber lembrou que em um contato que o Governador teve com esse pessoal do alto clero teria comentado que agora era vez de acertar a situação salarial dos Delegados. Achei graça como Alber falava certas coisas querendo passar convicção, acreditando no que dizia, o que me fez aproveitar para concluir:
- “Olha, Alber, sabes o que nós vamos ter de concreto neste governo? Vão elevar o teto salarial e com isso quem ganha acima desse patamar... e, também, vão pagar a lei dois cinco quatro, mas isso vai ser em parcelas...”.
Encontro com o Delegado Abreu:
Data: 17.11.08. Horário: 20:15h. Estava chegando no interior do Supermercado Angeloni da Beira Mar Norte (Florianópolis) quando me deparei com o Delegado Abreu na fila do caixa, isso quando o mesmo já estava de saída. Logo que me viu Abreu deixou a fila quase que correndo ao meu encontro para conversar. Foi um ato inesperado, não poderia imaginar que ele agisse daquela maneira, que deixasse a fila quando já estava prestes a ser atendido só porque queria trocar algumas ideias comigo. Logo que se aproximou argumentei que ele não precisava ter saído da fila, mas ele respondeu que tinha tempo de sobra. E a conversa não poderia ter sido outra, Abreu começou a pegar pesado no verbo:
- “É muita mediocridade, é muita mediocridade, como é que essa gente pode ser tão medíocre, Genovez?”
Na verdade, estávamos conversando sobre o último encontro dos Delegados em Balneário Camboriú, onde nada de concreto ficou resolvido, e aquele encontro histórico apregoado pela Delegada Sonêa nada mais foi do que uma triste passagem, digna de um enredo de quarta-feira de cinzas. Aproveitei para argumentar:
- “O que existe hoje é um sistema de controle velado dos Delegados. Imagina, na semana passada eu estava lá em Itajaí com o Delegado Regional Sílvio Gomes..., tu conheces? Pois é, eu estava dizendo justamente isso para ele, que os Delegados Regionais controlam os Delegados nas suas regiões, fazendo concessões tipo designação para atuarem em comarcas que não são aquelas para as quais foram lotados por promoção ou remoção horizontal..., entende? Eu que trabalhei na lei de promoções, tu sabes que foi um projeto meu..., então, jamais iria imaginar que a cúpula da Polícia Civil usaria a lei de promoções de maneira ‘politiqueira’, eu sempre imaginei que agiriam com grandeza, como no Judiciário e no Ministério Público. Mas, então, na medida que eu falava com o Sílvio sobre esse controle velado dava para perceber que ele também era instrumento desse mesmo controle na sua região, ou seja, os Delegados eram obrigados a dançar conforme ele queria, cumprindo desígnios superiores, sob pena de terem que ir embora para o oeste, sei lá...”.
Abreu me interrompeu para repetir:
- “Mas isso é um pensamento mediocre, Genovez. Como é que essa gente pode pensar e agir assim, mas como são medíocres...”.
Continuei:
- “Pois é, então esse sistema de dominação que está aí, esse sistema de pequenas concessões acaba gerando isso, não há resistência, todo mundo tem medo, há um processo generalizado de acovardamento, apequenamento...”.
Abreu me interrompeu:
- “Eu outro dia estava conversando com alguns Delegados desses novos e o que eu pude notar é que não é uma questão de medo, não é que eles têm medo, o que eu pude perceber é ‘acomodamento’, eles percebem que esse é o jogo e então se ‘acomodam’, Genovez”.
Interrompi:
- “Abreu, não se faz uma grande instituição com esse tipo de pensamento, não se constrói uma grande nação com esse tipo de gente...”.
Abreu me interrompeu:
- “E o Maurício (Eskudlark)? Você tem visto ele? Só quer viajar, só quer fazer política, está com aquele projeto político dele, é gente boa, tudo bem, mas para a instituição...”.
Interrompi:
- “Todo mundo é gente boa, todo mundo sabe que a cúpula da Polícia Civil é do ‘PSDB’ e não tem espaço com o governo que é do ‘PMDB’, o Secretário é do PMDB, o ‘Neves’, a ‘Sonêa’, ninguém vai dar espaços para a cúpula da Polícia Civil, eles só servem para noticiar prisões de ‘ladrões’ tipo pé-de-chinelo, isso que a gente vê no ‘site’ da Polícia Civil. Você não vê um projeto deles de impacto institucional, não vê absolutamente nada. Me diga o que de concreto até agora nós vimos? Absolutamente nada”.
Abreu reiterou:
- “Pois é, o Maurício só quer viajar, fazer política...”.
Interrompi:
- “Sim, mas isso não é um projeto institucional...”.
Abreu me interrompeu:
- “Claro, é um projeto pessoal dele...”.
No final da conversa, o assunto foi os resultados da assembleia da Adepol – SC e que de concreto não houve nada, apenas um jogo de cena e finalizei:
- “Bom, o que nós teremos de concreto? Talvez o aumento do teto, mas isso não é porque os Delegados querem, isso se deve a pressão dos Fiscais, dos Procuradores e dos Oficiais. Nem a lei dois cinco quatro eu acho que o governo vai cumprir para os policiais, escreve Abreu, depois tu me contas...”.
Na verdade lembrei da conversa que tive com o Delegado Albert naquela mesma manhã, quando acabei me reportando a conversa que tive outro dia com o Delegado Ademar Rezende, tipo ‘pé-de-ouvido’, quando concluímos que do encontro dos Delegados só resultaram incertezas...