DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE CCIV): “INÍCIO DA AGONIA DA DELEGADA  JUREMA (PRISÃO NA DEIC). AS CONFISSÕES DO VELHO AMIGO  MÁRIO E A SUA DILETA CONFIDENTE HEBE 'CAMACAT’”.

Por Felipe Genovez | 17/10/2019 | História

O previsível?

Dia 03.11.08, horário: quatorze horas e vinte minutos, o Investigador Sérgio (Serginho) da 2ª DP/Capital entrou na minha sala para que assinasse uma requisição da Justiça Cível (testemunha numa ação entre Sinpol e Sintrasp) e fez o seguinte comentário:

- “Soube, né doutor? Soube da Delegada hoje?”

Fiquei curioso pois não sabia de nada e questionei:

- “Não, não soube de nada, o que aconteceu Serginho?”

E, a seguir, veio a resposta:

- “O Deic prendeu hoje um monte de gente, inclusive a Delegada lá de Guaramirim, como é mesmo o nome dela... Ela tá lá no Deic, prenderam ela e a Escrivã, as duas estão lá na Deic, foi rolo de ‘bingo’...”.

Arrisquei um nome:

- “Por acaso o nome da Delegada é Jurema?”

Serginho com pesar confirmou enquanto eu por dentro lamentava muito um acontecimento previsível, porém,  intuindo que poderia haver  alguma coisa de podre no ar. Resolvi perguntar:

- “Sim, mas isso foi coisa da Deic?”

Serginho respondeu:

- “Sim, foi a Deic, daquele setor que eles têm lá, como é mesmo o nome...”.

Uma dupla da pesada:

Por volta das quinze horas e trinta minutos estava no hall da entrada do Banco do Besc (agência da rua Tenente Silveira com Jerônimo Coelho – centro de Florianópolis), quando visualizei  a minha diagonal esquerda  a aproximação do Delegado ‘M.C.M.’. Sim, era o meu velho amigo sorridente em carne e osso, parecia estar numa  balada vesperal, sem tempo e documento, talvez fosse tratar de  assuntos não tão inadiáveis, assim sendo,  em razão das circunstâncias não poderia  se furtar de uma parada para as nossas saudações e cumprimentos proverbiais. ‘M.’ passou pela Associação dos Delegados, era experiente, sobrevivente, previdente, percuciente..., talvez, assim como eu. Pude observar que trajava uma camisa branca de meia manga, calça “jeens”, estilo bem casual o que me levou a uma   provocação fugaz do  tipo: “Pô, aquela ‘Ouvidoria-Geral’ (SSP) lá ta te fazendo bem, heim?”  Antes que eu fizesse qualquer pilhéria amistosa ‘M.’ tomou a iniciativa:

- “Tu visse o que aconteceu hoje com aquela Delegada lá de Jaraguá? Uma pena, mas o que há de se fazer...”.

Óbvio que já sabia de antemão do fato protagonizado pela pobre “Jurema” confinada no prédio da Deic e antes que eu ainda  ultimasse  meus cumprimentos, ‘M.’ lançou outra:

- “Bom, Felipe, tu sabes que em ti eu posso confiar, a gente é amigo há tanto tempo, mas deixa eu te contar como é que tudo isso começou, eu vou te contar, mas te peço descrição, bom, eu sei que tu não és de sair por aí e ficar contando. A Hebe (‘N.’) me ligou, bom tu sabes que a Hebe quando tem um problema ela liga direto para mim. É por conta daquela história da nossa isonomia, tu lembras, né? Ela me ligou, olha só o que ela me pediu, ela disse que lá em Jaraguá tinha um Delegado que não queria entrar no esquema de recebimento de grana. A Hebe disse que o pessoal que controla os ‘bingos’ lá na região de Jaraguá dava todo mês cinco mil para a ‘J.’ e dez mil para o ‘M’ (‘E.’), e como estava havendo esse problema ela acertou para que fosse trazido um Delegado novo lá de Videira que estava no esquema para o lugar desse Delegado de Jaraguá. Bom, então ficou tudo acertado. Tu sabes, eu estou te contando isso porque eu sei que tu não és de sair por aí falando, mas como é mesmo, ah, sim, eu  falei para Hebe que a sociedade sempre vê a Polícia Militar como torturadora e a Polícia Civil como corrupta, eu quando falo com ela é nesses termos...”.

Interrompi atônito e curioso:

“Sim, claro ‘M.’, eu não vou sair por aí futricando, o que é isso..., pára!”

E o velho amigo ‘M.’ continuou seu relato:

- “A turma do Maurício acabou batendo de frente com aquele Delegado lá de Rio do Sul, como é mesmo o nome dele...?”

Logo percebi que ele tinha se enganado pois segundo ouvi  ‘M.’ se reportado a um Delegado de Videira o que me fez arriscar um nome:

- “Antonio?”

‘M.’ respondeu  que não era esse o nome e esclareceu que se tratava de um ex-Delegado Regional o que me fez arriscar mais um palpite:

- “Ah, sim, tu estais falando do Flares, o Flares do Rosar, é isso?”

‘M.’ me corrigiu:

- “Eu estou falando de Rio do Sul, o nome dele é alemão, parece que o sobrenome é ‘S.’”.

Interrompi:

- Ah, sei, ‘R. S.’ de Rio do Sul, sei, sei, conheço ele”.

‘M.’ emendou:

- Bom, eu não sei se é mentira, mas o ‘M.’ andou batendo de frente com esse ‘R. S.’ porque queria invadir a área dele, disseram que lá em Rio do Sul esse ‘R.’ é que recebe... e o ‘M.’ também quer morder lá, estão batendo de frente...”.

Fiquei pensando:

- “Essa ‘Hebe’ está sabendo de muita coisa, ela está se tornando muito poderosa com tantas informações assim, um verdadeiro arquivo vivo, também, não é de graça que chegou ao cargo de Secretária de Estado...”.

Resolvi fazer uma provocação:

- “Puxa, eu não entendo, às vezes eu vou lá na Delegacia Regional de Balneário Camboriú e o Ademir Serafim vem me convidar para almoçar por dois, quatro reais... num restaurante tipo boca de caís, num miserê, fazendo cena de dar dó, dá para entender?”

‘M.’ passou batido e não quis comentar nada a respeito do que eu havia acabado de relatar, então parti para uma outra provocação:

- “O pessoal pode criticar o Thomé, mas ninguém pode negar que ele não é uma pessoa de posições firmes, um homem de astúcia e que assume riscos sozinho. No caso da Jurema lá em Jaraguá do Sul, sinceramente, ‘M.’ eu sempre tive o melhor conceito dela, para mim ela sempre foi uma pessoa decente, lutadora e batalhadora. A única queixa talvez que eu tenho dela é que nunca assumiu  riscos por causas institucionais, a gente nunca viu ela levantar uma bandeira em defesa da nossas lutas, ainda mais sendo uma Delegada Regional, talvez isso seja o único senão...”.

‘M.’ fez seu comentário:

- “Sim, Felipe, veja bem, você tem história, você sempre esteve envolvido em lutas institucionais, sempre assumisses riscos...”.

Interrompi:

- “Sim, ‘M.’, eu, você, o próprio Thomé, como já te disse, podemos ter defeitos, mas sempre defendemos causas institucionais, assumimos riscos, mas no caso da Jurema eu não acredito que ela tenha algum envolvimento, sinceramente...”.

‘M.’ me interrompeu:

- “Bom, eu já te disse que a Hebe conversou comigo...”.

Interrompi:

- “Sim, pode até ser, mas ‘M.’ é muito fácil se apunhalar pelas costas, eu prefiro que me provem primeiro que todas essas acusações são verdadeiras, porque do contrário  ela é inocente, está sendo vítima. É como se viessem falar mal de ti para mim e eu concordasse com tudo, que quê é isso....?”

‘M.’  concordou comigo dando a impressão que àquela altura era para encerrarmos a conversa  e emendou  ao final, que  eu tinha toda a razão, o que me fez pensar: “Ele deve estar pensando: ‘ Pobre do..., afinal, em que mundo ele vive, que tamanha santa inocência!’” No final da conversa perguntei se ele esteve no encontro dos Delegados no último final de semana e ‘M.’ relatou que não foi porque sua mãe teria  passado mal e que tinha combinado previamente com o Delegado Lourival Matos para irem juntos... Perguntei se ele soube de alguma novidade e ‘M.’ simplesmente respondeu:

- “Disseram que foram feitas muitas promessas de melhorias...”.

Fixei o olhar enquanto ‘M.’  ao seu estilo tentava passar um ar de “credibilidade” a suas palavras o que me fez arrematar:

- “Bom, são mais promessas, são tantas promessas...”.

Nisso o celular de ‘M.’ tocou e eu aproveitei para deixá-lo à vontade, fui me distanciando ao mesmo tempo que acenava em sinal de despedida, me dirigindo para o interior da agência bancária. Depois que deixei ‘M.’ para trás me fixei em dois pensamentos, o primeiro, quando o velho amigo  disse que não foi ao encontro dos Delegados porque sua mãe teria  passado mal, então imaginei: “Taí, um baita felizardo, ainda tem mãe, a minha faz muita falta!” Depois, me passou um filme sobre minhas viagens para o norte do Estado e quando ouvia as emissoras  FMs de Jaraguá do Sul ficava surpreso porque o pessoal dava os resultados dos jogos de azar  por meio de uma  rádio, fazendo isso de forma escancarada, sem a menor precaução e sem que as autoridades policiais ou representantes das Justiça fizessem alguma coisa, achava aquilo inédito porque não se via em outras regiões do Estado, o que me fez pensar: “Bom, se a Delegada Jurema realmente é inocente nessa história, então deveria ter me ouvido e permanecido no comando da Delegacia Regional, designando por exemplo a Delegada Cristiane ou outro par para responder pela Delegacia da Comarca de  Guaramirim, é incompreensível. Além disso, o Delegado Ilson Silva pode ter muitos defeitos (afinal, quem não tem?) ninguém pode negar que não é trabalhador, sério, competente, determinado... Bom, ‘M.’ pediu que eu mantivesse reserva sobre o que me disse, tudo bem...”.