DELEGADA MARIA ELISA (PARTE CCII): “CISÃO HISTÓRICA NA ‘PC’ (LUTA DOS PERITOS CRIMINALÍSTICOS). A REVOLTA DA DELEGADA ROSI SERAFIM. UM ENCONTRO COM OS DELEGADOS ROSSINI E HENRIQUE STODIEDK (A TURMA DO ‘KIOSKI’).
Por Felipe Genovez | 17/10/2019 | HistóriaDelegada Rosi Serafim:
Data: 13.10.08. Horário: 11:00h. Estava na Dpcami de Blumenau presidindo o interrogatório da Delegada Rosi Serafim em razão de fatos que foram objeto do Inquérito Policial n. 217/2007 (Central de Polícia de Blumenau). Durante o curso dos trabalhos Rosi relatou que havia solicitado a presença de um Perito Criminalístico para uma realizar perícia em três caminhões num sítio localizado na divisa entre as cidades de Blumenau e Indaial, cujos suspeitos teriam sido autores de crime contra o patrimônio. Rosi relatou que teve que apreender os caminhões porque o Perito responsável se negou a ir ao local fazer a diligência, determinando que ela que estava no comando da operação trouxesse os caminhões até um determinado local (Blumenau) onde ele poderia se deslocar facilmente e realizar seus trabalhos. Em razão dessa decisão do expert a Delegada Rosi determinou a apreensão dos caminhões suspeitos (estavam abandonados num sítio), sem que para tanto houvesse o competente mandado de maneira a cumprir a ordem do servidor do IGP. Aproveitei o gancho para perguntar para Rosi porque ela não fez um relatório sobre o fato e procedeu o encaminhamento para o Delegado-Geral Ricardo Thomé. Rosi já bastante indignada com a sua condição de investigada apenas comentou que estava muito revoltada com tudo, pois trabalhou exaustivamente no caso, tendo que se sujeitar a mandar tirar os caminhões do local onde se encontravam para satisfazer caprichos daquele Perito que, segundo constava, estaria cumprindo ordens da direção do “Núcleo de Perícias” de Blumenau. Moral da história: Rosi Serafim acabou tendo que responder procedimento disciplinar... E, quanto ao Perito? Bom, com a palavra os Drs. Thomé, Noronha (Presidente da Adpesc na época em que foi criado o Instituto Geral de Perícias), Ricardo Feijó (Corregedor-Geral da SSP e um dos que - segundo diziam – enquanto na direção da antiga Diretoria de Polícia Técnico-Científica foi um dos principais estimuladores dos Peritos a fazerem sua emancipação institucional...), além dos Delegados Neves (sua esposa Sonêa) e Adriano Luz (principais responsáveis pelo plano na área da Segurança Pública no governo Luiz Henrique da Silveira - 2002). Pensei: “Há anos que Delegados se fecharam para abrir aos peritos um canal de negociação, especialmente, com vistas a velha questão salarial (isonomia), e por um lugar ao sol..., deu no que deu, com um empurrãozinho de colegas desavisados, despreparados, desconectados, desligados, desinteressados, desabilitados...”. Acabei ainda comentando com minha investigada que na verdade a culpa também era de todos os Delegados e policiais civis sempre alheios às causas institucionais, preocupados com seus umbigos, egoístas, sem noção... Rosi Serafim me fixou o olhar pausadamente sem nada comentar e logo percebi que não teria mais clima para continuar a destilação nossos comentários liquidificados por mistos de adjetivações baixas, feições extremas de raiva, gestos beirando o insano..., pois a minha condição exigia um certo grau de formalismo.
O encontro com o Delegado Rossini:
Por volta das dezessete horas, durante o intervalo de uma audiência de ouvida das testemunhas aproveitei para tomar um café na cozinha da Central de Polícia de Blumenau e eis que me defrontei com o Delegado Rossini (Coordenador daquela unidade policial e recomendei), em cujo momento aproveitei para fazer uma recomendação:
- “Olha, Rossini, tu não vais esquecer o encontro dos Delegados agora no final do mês. O pessoal tem que ir para lá para ver quais são as novidades que a presidente da Adpesc tem para apresentar aos Delegados...”.
Rossini me interrompeu:
- “É, eu vou sim. Eu fui no encontro do ano passado em Chapecó, tinha uma ‘banda’ muito boa no baile, foi muito bom. O pessoal aqui que é novo como Delegado já entrou ganhando mal e se acostumou com esse salário, então eles não têm noção, não reclamam muito porque nunca ganharam mais que isso que ganham...”.
Insisti:
- “Ah sim, mas pega o pessoal aí e vai para a assembléia...”.
A turma do Kioski?
Depois da conversa com o Delegado Rossini fiquei preocupado, porque justamente os Delegados novos eram inexperientes, receosos, medrosos..., careciam de conhecimento institucional, desconheciam a história, a maioria neófito, vindo de outras unidades da federação. Em seguida apareceu o Delegado Henrique Stodieck (sobrinho do jornalista Beto Stodieck) que me confidenciou:
- “Eu estava conversando com o meu pai e ele disse que acha que te conhece. Ele perguntou se tu não freqüentavas o Clube Paineiras. Ele disse que tinha a turma do ‘ Kioski’ que freqüentava o Clube Paineiras, não era tu?”
Respondi:
- “Pode até ser. Eu estive algumas vezes no Paineiras, mas isso já faz anos (foi na década de setenta)”.
Henrique me interrompeu:
- “O Paineiras ficava onde?”
Respondi:
- “Lá no Saco dos Limões. Lá no alto...”.
Henrique confirmou dizendo que o clube havia mudado de nome e tentamos lembrar até que ele mesmo lembrou:
- “Ah, sim, depois passou a se chamar Clube Penhasco...”.
Dessa conversa com Henrique ficou evidenciado que ele parecia mais acomodado à condição de policial e Delegado. O profissional que conheci noutros tempos era nitidamente uma pessoa de berço, um tanto deslocado na prima função, talvez ficasse evidente que precisava do apoio e da ajuda financeira dos seus pais, ainda mais com dois filhos pequenos. Passado algum tempo na lida policial Henrique dava a impressão que já se sentia em casa e isso me trouxe uma certa satisfação, ao mesmo tempo fomentou novas esperanças já que poderia engrossar as fileiras daqueles que poderiam se interessar por fazer algo de importante para a instituição como conhecer o passado, vencer desafios presentes e futuro, buscar um porto seguro e, especialmente, deixar um bom legado para as futuras gerações. Ao final, fiquei pensando na tal turma do “Kioski” (tão rememorada por Cacau Menezes...), cuja legião jamais imaginei integrar, sequer virtualmente, porque meus horizontes sempre foram bem outros, sem contar o fato de minha família residir no interior do Estado.
Hotel Vieiras:
Por volta das dezoito horas quando retornávamos para o Hotel Vieiras em Balneário Camboriú (Avenida do Estado) o assunto que tomava corpo era a história da Polícia... Minhas impressões quanto a novata Escrivã Silvane já estavam bem melhores, apesar dela insistir em me chamar a todo tempo de ‘Delegado’, o que ofuscava um pouco a nossa energia e comprometia o brilho de nossas nossa conversas, entretanto, sabia que isso era uma questão de tempo. O Comissário Nolasco, mais reservado e na condição de motorista, apenas ouvia com atenção e às vezes dava seus pitacos comedidos.