Deixe a Crise para a Concorrência

Por Carlos Hilsdorf | 27/01/2009 | Economia

O grande questionamento atual, como não poderia deixar de ser, está ao redor do impacto que o rompimento da “bolha americana” ocasionará à economia brasileira.

Da mesma forma que grandes acidentes aéreos não acontecem por uma única causa, mas sim pela sucessão de erros em cascata, existem várias “micro crises” dentro da crise, e os seus efeitos se somam!

Do ponto de vista meramente econômico, o que acontece de imediato é uma diminuição de crédito, mesmo com a redução da taxa de juros. Como vivemos em um ambiente consumista viabilizado pelo crédito, que permite às pessoas gastarem mais do que ganham e financiar padrões de vida imediatamente incompatíveis com seus rendimentos, fica fácil perceber que se o crédito diminui, as pessoas consumirão menos, por um tempo.

Acontece que a redução de crédito não afeta apenas as pessoas físicas, mas também as empresas, que de imediato adiam a tomada de financiamento para investimentos em função da desaceleração da economia.

A crise de expectativas e incertezas leva os agentes econômicos a pisarem no freio dos investimentos e, ao mesmo tempo, no acelerador da especulação. Apostar na especulação pode parecer mais oportuno que assumir o risco de apostar na produção frente a um mercado que respira “ares recessivos”.

Menos produção se traduz em menos empregos diretos e indiretos e isto realimenta o “efeito freio” sobre a economia, empurrando o nível de negócios para baixo. De maneira bem simples e coloquial, sem economês, é isto que acontece, com um agravante...

O agravante é que o mercado vive de expectativas, e expectativas em um mundo de incertezas significa: medo.

Com medo, todos consumidores, produtores, investidores, pisam no freio com muito mais força do que deveriam, agravando o “efeito freio” que, elevado a níveis mais profundos implica recessão: a economia começa a andar para trás.

Muitas das demissões que estamos presenciando agora em Janeiro de 2009 e muitas das anunciadas para fevereiro de 2009 refletem muito mais a crise de expectativas que a crise real.

Se as expectativas fossem de expansão, mesmo com carros no pátio, as montadoras continuariam produzindo e mantendo os níveis de emprego e investimento.

Em economia de mercado, as crises de expectativas são sempre muito mais poderosas que as crises técnicas. O medo da crise é maior que a própria crise e termina por criá-la e muitas vezes por ampliá-la.

Como sempre acontece, alguns setores são mais afetados que outros. A carga tributária e o câmbio, explicam em parte, estas diferenças, e há até mesmo os que lucram com a crise, um pequeno grupo, normalmente...

O fato é que o verdadeiro tamanho da crise dependerá do conjunto das atitudes de todos os agentes econômicos, tanto no setor público quanto no privado.

A primeira coisa a fazer é buscar informações relevantes e escapar dos efeitos nocivos da má interpretação e precipitação de alguns meios de comunicação. Há muito ruído e sensacionalismo – crise é um fato polêmico e dá muito ibope. Basta lembrar que a redução da taxa de juros não implica, necessariamente, a manutenção do volume de emprego, como foi prenunciado em muitos artigos e comentários equivocados na mídia.

A segunda coisa a fazer é buscar reconhecer (ou seja, conhecer de novo) o nosso negócio dentro dos possíveis cenários que a realidade econômica pode oferecer. Estes cenários são três:

1) Crise com curva em “L”: Este cenário representa uma queda abrupta e fortíssima dos níveis de atividade econômica que se mantém por um tempo bastante longo, daí a imagem do “L”.

2) Crise com curva em “V”: Este cenário representa uma queda rápida e fortíssima dos níveis de atividade econômica, seguido de uma recuperação igualmente rápida (reversão das expectativas ruins e saneamento rápido do crédito internacional).

3) Crise com curva em “U”: Este cenário representa uma queda gradual, seguida de recuperação igualmente gradual dos níveis de atividade econômica.

Em função das condições técnicas da economia brasileira na atualidade, excetuando-se alguma manobra catastrófica da equipe de gestão, o formato em “U” parece ser o mais provável. Ou seja, inevitavelmente experimentaremos uma desaceleração da economia com perspectivas bastante saudáveis de uma recuperação mais rápida. A resposta positiva às promoções de venda de carros novos sinaliza que a percepção da crise não atingiu plenamente a massa dos consumidores e que as pessoas estão respondendo a estímulos de compra. Os consumidores estão considerando que o estado atual é passageiro e que deixar de comprar seria perder uma excelente oportunidade. Os números relativos à venda de carros novos em Janeiro de 2009 confirmam este comportamento ainda otimista do mercado, frente a incentivos nitidamente convidativos, como a redução temporária do IPI e interessantes taxas de financiamento. Se em algum momento o mercado começar a responder menos ou deixar de responder a estes estímulos, então precisaremos dedicar máxima atenção a um acentuado caráter recessivo da economia.

Seja qual for o cenário que se apresente, cabe a cada um de nós como agentes econômicos, tanto no aspecto particular, quanto no aspecto “business”, estabelecer um planejamento estratégico para cada um dos cenários, levando em conta que:

a) A crise não é a mesma para todos. Quem está mais bem estruturado e maneja melhor a gestão e a capacidade de adaptação e inovação, sofrerá menos.

b) Para muitos, a “crise” será uma grande oportunidade, porque em momentos como estes há uma seleção natural no mercado e só permanecem os “players” que estão mais bem preparados.

c) O aspecto mais perigoso da crise é a percepção negativa, as expectativas desfavoráveis e o medo, portanto, esta é a hora de “levantar a moral da tropa” e cativar as pessoas para utilizarem toda a sua determinação, garra e capacidade de fazer acontecer.

d) O fato de que possa não haver crescimento para alguns setores em alguns momentos não implica, necessariamente, que precisa haver prejuízo. É possível não perder, perder menos que a concorrência e, até mesmo crescer e lucrar mais que a concorrência.

e) O melhor remédio é antecipar-se aos cenários e TRABALHAR FORTE PELA VITÓRIA. Esta é a hora de colocar toda a sua capacidade empreendedora e todo o talento da sua equipe para GERAR RESULTADO!

f) Não se deixe abater pelos obstáculos e limites momentâneos, você não está no mercado apenas por um dia ou por um mês.

g) Seja proativo e não reativo. Não espere que as coisas aconteçam para então pensar em como agir. Assuma a responsabilidade de agir prontamente, antecipando-se ao que poderá vir a acontecer.

Vale lembrar que em chinês a palavra crise é formada pela união dos ideogramas que representam “risco” e “oportunidade”, dois aspectos que sempre fizeram parte da cartilha dos profissionais que, de maneira pró-ativa, assumem os riscos, aproveitam as oportunidades e fazem as coisas acontecerem.

A mais preocupante de todas as crises é a falta de competência, esta não podemos permitir. Estabeleça seu plano de vitória e deixe a crise para a concorrência.

* título de uma das novas palestras de Carlos Hilsdorf, criada especialmente para este momento turbulento da economia mundial. A palestra aborda tendências, cenários e atitudes para que as organizações e profissionais estejam preparados para enfrentar os desafios da economia.

Carlos Hilsdorf
Considerado um dos 10 melhores palestrantes do Brasil. Economista, Pós-Graduado em Marketing pela FGV, consultor e pesquisador do comportamento humano. Palestrante do Congresso Mundial de Administração (Alemanha) e do Fórum Internacional de Administração (México). Autor do best seller Atitudes Vencedoras, apontado como uma das 5 melhores obras do gênero. Presença constante nos principais Congressos e Fóruns de Administração, RH, Liderança, Marketing e Vendas do país e da América Latina. Referência nacional em desenvolvimento humano.
www.carloshilsdorf.com.br