Degustação de Cachaça Segundo o Cachacier Vanile de Oliveira Pinheiro

Por Jean Carlos Neris de Paula | 07/08/2011 | Sociedade

Os prazeres da cachaça capixaba

Em Campinho, Domingos Martins, Espírito Santo, tive, a convite de José Onofre, organizador do encontro, o privilégio de participar de um evento profissional e sentimental de degustação de cachaças capixabas. O evento ocorreu no dia 5 de agosto, a partir das 18h, em um local agradável e bastante adequado ao contexto de experimentação de cachaças, o Agrotur, que tem uma construção colonial refinada e ofereceu música ao vivo de qualidade, com uma dupla apresentando, entre outros estilos, diversas modas de viola consagradas na cultura popular, enriquecendo artisticamente o momento de confraternização.
Ao lado de minha esposa Virgínia Lima e de minhas tias Ivana Lima e Catarina Lima, acompanhei o professor Vanile de Oliveira Pinheiro, cachacier, dar um show de didática a respeito de degustação de cachaça. Vanile apresentou a cachaça como um produto que deve ser consumido moderadamente para entretenimento, na medida em que os produtores agregam afetividade a suas produções. O professor dialogou bastante com os degustadores e expôs sua visão de que é necessário mudar o modelo de classificar a cachaça em boa ou ruim, haja vista que existem vários critérios observados em cada cachaça, e todos dependem de subjetividades diversas que variam de pessoa para pessoa, o que dificulta dizer que um determinado produto seja melhor que outro, já que há inúmeras interferências nos múltiplos paladares. Dessa forma, Vanile propõe uma avaliação centrada no desejo de sentir os aspectos que cada cachaça apresenta e de se satisfazer nos prazeres causados pelos sabores vários.
José Onofre e Vanile distribuíram uma ficha de degustação de cachaça, na qual se encontram alguns critérios de avaliação, tais como o exame visual (defeituosa, límpida e brilhante); o exame olfatório de odor alcoólico (ruim, insatisfatório, agradável, bom e ótimo); os odores não alcoólicos (ausência, flor, especiaria, fruta, vegetal, amêndoa, caramelo, madeira); os exames do gosto/sabor, isto é, a adstringência (ruim, insatisfatório, agradável, bom e ótimo); o efeito agulha de pinicação (ausente, insatisfatório, agradável, bom e ótimo); o sabor alcoólico (ruim, insatisfatório, agradável, bom e ótimo); a acidez (ruim, insatisfatório, agradável, bom e ótimo); o equilíbrio (equilibrada e desequilibrada); o corpo (aguada, pouco corpo, médio corpo e encorpada); a persistência odorífera (curta, até 3 segundos; média, de 3 a 8 segundos; e longa, maior que 8 segundos); e final de boca (ruim, insatisfatório, agradável, bom e ótimo).
Analisar todos esse itens constitui, conforme ensina o mestre Vanile, o grande prazer de degustar a cachaça, um produto de ampla aceitação cultural que deve ser valorizado de acordo com as sensações das pessoas, pois nem tudo pode ser explicado racionalmente. Um exemplo dado por Vanile foi a escolha sentimental do copo ideal para se apreciar a cachaça, tendo em vista que o continente influencia no visual, no cheiro e no sabor do produto.
Vanile também explicou a diferença entre cachaça e aguardente, esclarecendo que cachaça tem que ser de cana, enquanto aguardente pode ser de variadas matérias-primas, como banana e outras frutas.
Como se observa, a degustação de cachaça representa diversos saberes técnicos, culturais e, principalmente, filosóficos, na medida em que aproxima a razão da emoção, valoriza a cultura local e desperta a sensibilidade degustativa dos sentidos humanos.

Jean Carlos Neris de Paula