Definição, função e tipos de Memória
Por Oldemar Nunes | 12/04/2010 | PsicologiaA busca do melhor entendimento no que vem a ser a memória tem sido tema de reflexão há muito tempo. Aristóteles considerava a memória como a única fonte de recordação e de transmissão de conhecimento de pessoa para pessoa e de geração para geração.
A memória corresponde a uma grande área de estudo e vem sendo designada por diferentes conceitos, dentre eles os mais frequentes referem-se à capacidade neurocognitiva de codificar, armazenar e devolver informação (GARDNER & JAVA, 1993 apud RUEDA & SISTO, 2007). Atualmente, duas grandes linhas de pesquisa de memória podem ser observadas. A linha unicista, numa visão unitária da memória, utiliza-se de termos como medidas de memória diretas ou explícitas (ou declarativas), e o grupo da abordagem das memórias múltiplas, que considera as memórias indiretas ou implícitas (ou não-declarativas). A visão da memória em seus múltiplos sistemas discute a validade de medidas de memória direta X indireta, uma vez que considera que não existiria uma medida unitária da memória (RICHARDSON-KLAVEHN & BJORK, 1988 apud RUEDA & SISTO, 2007).
Existem diversos sistemas mnemônicos com características peculiares para as diversas funções mentais (BEAR, CONNORS & PARADISO, 2002; HELENE & XAVIER, 2007; VERCEZE, MARQUES & GALERA, 2006). A memória é uma função importante que permite ao organismo codificar, armazenar e recordar informação vinda do meio e que lhe é potencialmente útil. Ela é uma das capacidades que permite ao ser vivo uma adaptação ao meio ao permitir-lhe aumentar o conhecimento do mesmo. Os processos de codificação, formado pela representação do mundo no cérebro através do ajuste de sinapses nas redes neuronais, incluem três etapas: retenção, armazenamento e recuperação da mesma (ZIMMER, 2001).
A memória não é só a retenção de certo conhecimento, mas também ativadora da imaginação, interpretação, problematização, reinvenção etc., nos quais atuam sobre o que é recordado pelo indivíduo. A memória é a capacidade do ser humano em conservar e relembrar mentalmente conhecimentos, conceitos, vivências, fatos, sensações e pensamentos experimentados em tempo anterior. A memória refere-se à retenção de habilidades adquiridas ou de informação e em situações cotidianas, os adultos, especialmente os idosos, podem ter algumas dificuldades de recuperação de memória.. Mesmo sendo conseqüência do envelhecimento, a diminuição da eficiência da memória é também influenciada por questões como genética, fatores ambientais, vivências, hábitos lingüísticos, caráter e personalidade. A perda da memória estaria relacionada com a degeneração dos neurônios cerebrais. E que, conforme o indivíduo fosse envelhecendo, haveria uma perda evolutiva dessas células nervosas, afetando assim a capacidade de memorização (GEIS, 2000).
Pesquisas relacionam o nível de escolaridade dos idosos com a deterioração ou não dos seus aspectos cognitivos. Quanto menor o tempo investido em estudos, maiores são os prejuízos cognitivos, principalmente entre as mulheres (PIVETTA, 2003). É necessário manter a mente ativa, como por exemplo, através de leituras, para manter as atividades cognitivas em bom funcionamento.
Segundo o neurofisiologista Silva (2005), não é a quantidade de neurônios que determina a capacidade de memória, mas sim o número de conexões sinápticas e o tamanho das ramificações dos neurônios, cujo desenvolvimento depende diretamente dos estímulos que o cérebro recebe. As ramificações encontradas nos neurônios podem ser comparadas a um galho de árvore, que se expande conforme os estímulos que recebe, explica, acrescentando que esses estímulos também servem para aumentar a quantidade das conexões sinápticas que são responsáveis pela transmissão de dados entre os neurônios.
Especialistas, segundo Sprenger (2008), afirmam que na verdade existem vários tipos de memória, pois há diversas fontes de armazenamento de dados em nossa mente e não limitado em uma área determinada de nosso cérebro. A autora concordando com outros especialistas, referem-se à Memória Sensorial por exemplo, ou seja, as transitórias, as que duram segundos ou até menos... Apenas muitas vezes para o cérebro reconhecer o que estamos experimentando.
Dentre outros especialistas, temos Brown (1958) e Peterson e Peterson (1959) que conceituam a memória humana em relação ao tempo. Referem-se portanto a Memória de Curto Prazo e Memória de Longo Prazo. Memória Imediata ou Memória de Curto Prazo é a que podemos retê-la cerca de 20 segundos se prestarmos atenção à informação sensorial que nos chega.
Memória de Longo Prazo é a memória duradoura. A informação que se torna uma representação detalhada na memória é considerada uma memória permanente.
Continua os autores, para se transformar em Memória de Longo Prazo temos anteriormente a Memória de Trabalho. É a memória que proporciona o tempo e o espaço para trabalhar a informação que é necessária para tarefas cognitivas complexas. A memória de trabalho pode reter a informação por dias ou até semanas... Para se transformar em Memória de longo prazo, precisa de algum modo se tornar significativa, ou seja, têm que ser feitas conexões entre a nova informação e a já armazenada.
Conceituando outros autores, a Memória de longo prazo divide-se em declarativa (ou explicita) e não-declarativa (ou implícita) (SQUIRE & ZOLA-MORGAN, 1991; COHEN, 1984).
Memória Semântica (Memória intencional) é a memória do conhecimento (noética), ela é explicita, consciente, é declarativa. É aplicada a novos contextos, se refere a fatos e eventos. Não está necessariamente relacionada no tempo ou espaço, mas é um conhecimento livre de contexto de fatos, linguagem ou conceitos. A memória Semântica não é aprendida imediatamente, é aprendida pela repetição. Uma vez aprendida, em geral esquecemos como e quando a aprendemos.
Memória Implícita é geralmente referida como memória não-declarativa. A aprendizagem implícita não é consciente, é a aprendizagem indireta. Um exemplo é andar de bicicleta, realizamos alguns procedimentos, mas não trazemos conscientemente à mente as instruções para realizar o ato.
Memória Procedural é a nossa memória da experiência. Não envolve recordação consciente. È o tipo de memória que se adquire pela experiência, pela tentativa/erro, através do desempenho de tarefas diárias. Às vezes chamada de memória muscular na realidade pode ser tanto motora quanto não motora. Um exemplo motor é amarrar os cadarços de um sapato. Um exemplo não motor é contar uma história do início ao fim. Outro exemplo são os hábitos que adquirimos pela aprendizagem dos procedimentos sociais como: com licença, desculpe, por favos etc.
Memória Episódica significa conhecer a si mesmo (autonoética). Refere-se a locais e descrições de eventos, autobiográfica. O episódio tem um efeito de história, ou seja, um início, um meio e um fim.
Memória Emocional é a reação ao conteúdo emocional sem que tomemos conhecimento dele, pois a informação que não é neural será examinada e armazenada pela amígdala. Isso significa que a área emocional do nosso cérebro recebe e filtra rapidamente a informação chegada mesmo antes de ir ao neocórtex para o pensamento de nível mais elevado e o reconhecimento. Quando se fala em retenção de informações, sabemos que tal assimilação pode se prolongar por um longo período (memória de longo prazo) ou durar apenas na execução de determinada tarefa (memória de curto prazo) (BEAR & cols., 2002; HELENE & XAVIER, 2007).
Miller (1956) já demonstrava que também as palavras que tinham significado e fazendo sentido para os sujeitos, mesmo quando mostradas em grandes quantidades, são também esquecidas rapidamente, mais amiúde, em milésimos de segundos até no máximo um minuto. Assim, afirmou que a memória de curto prazo é uma estrutura cognitiva e suas propriedades básicas seriam a persistência limitada entre 15 segundos a um minuto, além, da capacidade limitada, pois armazenaria apenas informações referentes até sete unidades, que, poderiam ser palavras com ou sem significado, números, letras etc.
Na década de 60, o estudo da memória de curto prazo, referindo-se a retenção de pequenas quantidades de informações em intervalos de tempo breves, formou um componente principal do desenvolvimento da psicologia cognitiva (CROWDER, 1982 apud RUEDA & SISTO, 2007).
Estudos sobre a memória de longo prazo afirmam que os idosos tem um desempenho menor que os adultos jovens (CRAIK & BYRD, 1982). Somente para ilustrar, a memória de longo prazo segundo Isaki e Plante (1997), seria a informação retida sob forma de estruturas permanentes de conhecimento, cuja avaliação é feita através de testes, de conhecimento geral, como conceitos de matemática e história, por exemplo.
Outros estudos afirmam que os tipos de memória são constructos distintos apesar de serem variáveis latentes que se correlacionam entre si, o que sugere que a memória de trabalho esteja relacionada com a inteligência fluida ou habilidade de raciocínio, enquanto essa relação não é observada na memória de curto prazo (ENGLE, TUHOLSKY, LAUGHLIN & CONWAY, 1999 apud RUEDA & SISTO, 2007).
Assim, o processo da memória de curto prazo poderia se referir a um tipo de armazenamento passivo e envolveria apenas a lembrança da informação sem nenhum tipo de manipulação (CANTOR, ENGLE & HAMILTON, 1991 apud RUEDA & SISTO, 2007; CORNOLDI & VECCHI, 2000). Por conseguinte, as tarefas da memória de trabalho exigiriam processos mais ativos e seriam os que a informação é mantida temporariamente enquanto está sendo manipulada ou transformada.