De vilão a herói

Por Evaldo Costa | 18/05/2010 | Economia

Imagine uma pessoa que trabalhe muitos anos na organização e depois de algum tempo torna-se o seu principal dirigente. Não raro, as pessoas desconfiam de que ele vencerá na nova função e costumam apostar mais no fracasso do que na possibilidade de sucesso do recém promovido.

É mais ou menos o que acontece com o Brasil que vem, a cada dia mais, se impondo perante a economia global. Para se ter uma real idéia do que, na prática, isso significa, deixamos a rabeira do ranking dos maiores construtores mundial de automóveis para assumir a parte do alto da tabela.

É tudo muito recente e o mundo ainda não se deu conta da nossa evolução. Continuam pensando que o Brasil é o país do futebol, cerveja, selva e mulher bonita. Imagine-se, por exemplo, viajando entre a França e Alemanha a bordo de um confortável avião.

Daí, um passageiro vira-se para o outro e diz: "que avião confortável, hein? Deve ser da Airbus"? O seu colega, melhor informado, responde: "que Airbus que nada. Esse é o moderno 195 da Embraer". Não satisfeito o outro complementa: "ah sim, fabricado no Canadá, não é mesmo?" "Não", devolve o amigo. "Construído 100% no Brasil e com pura tecnologia brasileira".

Então, em quem você acha que os demais passageiros que ouviam a conversa vão acreditar? É bem provável que duvide da afirmação do que disse ser da Embraer. Afinal de contas, quem vai acreditar que somos capazes de fabricar aviões de classe superior para transportar passageiros no primeiro mundo? Temos sim toda essa tecnologia e fazemos muito bom uso dela.

Situação análoga ocorre com a indústria automobilística nacional. Imagina que no mesmo avião viaje um americano que comentou com seu colega: "o povo norte-americano pode se orgulhar do seu país, pois ele é líder na fabricação de automóveis nas Américas". Imediatamente, o seu interlocutor evidencia: "isso não é verdade, não. O líder de fabricação de automóveis na região é o Brasil". Em quem você acha que os demais passageiros vão acreditar: no passageiro que disse ser o Brasil ou no que garantiu ser os Estados Unidos? É bem provável, mais uma vez, que acreditem no passageiro que disse ser o povo norte-americano, o líder.

Errariam novamente, pois o Brasil, de acordo com levantamento da OICA - The International Organization of Motor Vehicle Manufacturers (Organização Internacional Dos Fabricantes De Veículos), superou mesmo os Estados Unidos, em 2009, no ranking dos maiores fabricantes de carros do planeta. E as boas notícias não param por ai. O brasileiro começa a influenciar os modelos de carros no mercado doméstico e internacional.

Empresas como a VW, em que o Brasil ocupa a terceira colocação em importância de mercado, ficando atrás apenas da China e Alemanha, mantém até 50 profissionais da área de designer na planta da Alemanha, de onde saem modelos que circulam no Brasil e vários outros países.

Tudo isso sem ter fabricante nacional. Não seria a hora de criar a "Embraer" dos carros? Ou então, quem sabe um Eike Batista sobre rodas? Não dá para entender a ausência do Brasil em um setor tão expressivo como é o caso da indústria automobilística. Como nunca é tarde para começar, talvez seja uma boa hora para o país investir neste segmento, afinal de contas, "O futuro não acontece - é moldado por decisões".


Evaldo Costa
Diretor do Instituto das Concessionárias do Brasil
Escritor, consultor, conferencista e professor.
Autor dos livros: "Alavancando resultados através da gestão da qualidade", "Como Garantir Três Vendas Extras Por Dia" e co-autor do livro "Gigantes das Vendas"
Site: www.evaldocosta.com
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