De onde vem a Inovação?

Por Sergio Ricardo Pinto Bandeira | 21/04/2013 | Ecologia

De onde vem a Inovação?

Como o contexto cultural pode fortalecer ou destruir a inovação e qual é a sua importância para a sustentabilidade em territórios impactados por empreendimentos.

Setembro de 2012

 

ABSTRACT

This article build a conscionous about territory development based on Innovation process. It brings a mindset that recognition of civilizations development was improved by creativity. This tool can provide to places and business a change of the current model and also brings another competence on Sustainable Development. The major concepts are Design Thinking and Dialogue, but these tool were against some business interests but now are the new path to confront the limits of Growth. The goal is influencing  enterpreneurs about the importante of Design methodology, the Dialogue and the innovation process on the Territoy Managment.

 

INTRODUÇÃO

 

Toda verdade passa por três estágios.
No primeiro, ela é ridicularizada.
No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria.

Arthur Schopenhauer

 

Inovação: A palavra é derivada do termo latino innovatio, e se refere a uma ideia, método ou objeto que é criado e que pouco se parece com padrões anteriores. (Wikipedia)

 

A cada dia vemos inovações surgirem e mudarem a vida de milhares de pessoas, seja no contexto tecnológico alavancando o capital social de uma comunidade, ou no contexto científico e biomédico. Estas inovações têm transformado as questões problemáticas para alguns, em soluções práticas para suas vidas e objetivos. Vimos nos últimos anos algumas inovações de alto impacto no mundo por um todo. Nas duas últimas décadas, a maior e mais impactante inovação em todos os âmbitos e aspectos foi a internet. Este novo canal de comunicação, transformou o modo de como as pessoas se comunicam, se relacionam e como fazem negócios. Foi uma inovação disruptiva  que gerou diversas inovações incrementais suportadas por ela. Portanto a maioria das supostas inovações que surgem hoje, está relacionada com esta quebra deste paradigma de comunicação e tecnologia (internet). Acaba sendo quase que um sinônimo hoje falar de desenvolvimento tecnológico e falar de inovação, considerando que o desenvolvimento tecnológico tem uma grande capacidade de impactar o mundo em si, por isso é considerado inovação. Não existe inovação sem impacto, isto se classifica como novidade. Mas se ao invés de avaliarmos o resultado da inovação sendo tecnológica ou não e entendermos que ela acontece como um processo, que pode ser conduzido, começamos a encontrar semelhanças no comportamento humano destas inovações. Geralmente os que inovaram estavam tão submersos no contexto do problema a ser resolvido que foi possível a implantação da ideia pelo próprio criador. Porém muitas vezes, não é o que ocorre. Esta é uma característica da inovação, a ação pode ser realizada ou não pelo idealizador. Podemos citar o caso da maior rede social do mundo (O Facebook). Se avaliarmos o processo, percebemos que o diagnóstico inicial, ou o insight, foi concebido por outros idealizadores e conforme a adaptação que sofreu, foi realizada pelo autor da ação (Mark Zuckeberg) e não dos idealizadores (irmãos Winclevosses). Devemos considerar que estas duas etapas de idealização e ação, são etapas interdependentes, é uma ligação necessária ao processo, que desencadeia em um novo impacto na humanidade e a criação de diversas outras demandas e necessidades.  

 

“A raíz da inovação está na teoria e nos métodos, não na prática. Absorver as melhores práticas, como tem estado em moda, não gera aprendizagem real. A organização que aprende não é uma máquina de clonagem das melhores práticas de outros.”

Peter Senge – “A Quinta Disciplina”

 

Quando perguntamos de onde surge este processo humano de idealização e ação, estamos investigando o poder do ser humano de desenvolver novas ideias e implementá-las em nosso planeta, em nosso espaço habitado. Este conceito de inovação como processo transformou o território das civilizações antigas que enfrentavam os problemas naturais de sobrevivência.

 

Em seu livro “Armas, germes e aço”, Jared Diamond , um biólogo evolucionário, aborda como as civilizações que nasceram e cresceram localizadas geograficamente longe da linha do Equador, se desenvolveram mais do que as que estão próximas. Como a Europa (o antigo continente) conseguiu estabelecer suas bases culturais, políticas, econômicas, sociais e tecnológicas antes de outras civilizações do mundo?  Devemos considerar que o nosso território maior, o planeta, oferece condições adversas aos habitantes de áreas diferentes e isto está muito relacionado com as condições climáticas do local, a abundância de recursos naturais e o valor cultural de uma região. As regiões mais distantes do equador, viviam em um clima mais árduo, mais frio e mais adverso. A criação de artifícios que solucionavam estes desafios que os habitantes sofriam passou por um processo de idealização e teste, um processo de Design de maneira intuitiva e causado pela necessidade. (O processo de design feito de maneira consciente se resume em : Imersão, observação, definição, ideação, teste e implantação)

 

Este desenvolvimento desequilibrado nas diversas regiões do planeta, também influenciou como as nações foram se apropriando dos territórios e exercendo domínio sobre outras civilizações. Quem tem mais capacidade de solucionar problemas naturais ao seu habitat criando, desenvolvendo e implementando, consegue estabelecer um domínio intelectual e tecnológico sobre os que não necessitavam fazer. Assim quando os “desenvolvidos” aportaram em regiões ocupadas por civilizações “menos desenvolvidas” artificialmente (considerando artifício, algo criado pelo homem para solucionar um problema), eles foram possibilitados a dominarem estas civilizações e seus espaços. Incorporaram estes espaços a suas nações e injetaram suas bases políticas, sociais, econômicas e culturais. Deram um novo significado para este espaço, transformando em território (Território é todo espaço provido de um significado). Era o começo da prática de Colonialismo. (Colonialismo é a política de exercer o controle ou a autoridade sobre um território ocupado, Wikipedia). Assim todo o desenvolvimento deste território foi estabelecido pelas bases colonizadoras. E hoje, conseguimos identificar qual foi o legado deixado por esta incorporação? Quais foram as bases perpetuadas? Será que a influência da chegada de uma civilização dominante contribuiu para o desenvolvimento daquele território? Esta resposta tem diversas considerações positivas e negativas sem um veredito definido.

 

Nesta reflexão vale inserir a questão de pensar como teria sido o desenvolvimento das colônias, mantendo o interesse do colonizador e do colonizado, respeitando as questões culturais e a vivência do espaço dominado e incorporado. Se a intenção dos colonizadores fosse mais pacífica, poderia existir harmonia dos interesses entre colonizados e colonizadores? Se houvesse interesse, como desenvolveriam seu território preservando a cultura local?

 

Sem levar em conta a quantidade de impactos ambientais e sociais desencadeados na descoberta e na incorporação da época, poderíamos pensar em um desenvolvimento alternativo? Essa proposta de pensamento poderia nos trazer um grande exercício de imaginação e teste de ideias, baseado no conhecimento adquirido sobre o território, uma fagulha da prática da intenção de inovar.

 

Mas esta não era a preocupação das civilizações dominantes. Não era a preocupação das incorporações. Hoje, temos um outro tipo de incorporação territorial que envolve a mesma lógica de exploração de espaço exercido na Idade Média, com suas devidas dimensões e adaptações ao modelo econômico do mundo atual. É uma incorporação de companhias ou indústrias sobre espaços. Seja a exploração de recursos naturais feitos pela indústria extrativa ou seja pela exploração de infraestrutura e demanda de assistência aos novos ocupantes feitos pela indústria de construção Civil. Os responsáveis por esta incorporação estão começando a praticar a consciência de corresponsabilidade com outros stakeholders no desenvolvimento territorial.

 

Mas qual foi o movimento humano no qual as civilizações dominantes viveram que resultou no avanço tecnológico e solucionador? Como a civilização europeia solucionou os desafios que seu habitat demandava deles? Foi com um dos dons mais inerentes da natureza humana, que torna o ser humano em um ser criador: A criatividade. Esta, trabalhada e canalizada para a resolução de problemas. A força desta frase muda todo um contexto cultural, muda a maneira como é encarada a criatividade. Quando pensamos em algo novo, estamos inconscientemente quebrando barreiras sólidas e confiáveis em nossos pensamentos que nos levam a resultados previsíveis. Isto é normal para um mundo feito de desafios e movido a descobertas. A criatividade caminha na imaginação do que pode ser viável e não no que é confiável. Estamos acostumados a relacionar a criatividade como apenas um dom, ou uma capacidade de geração de ideias que são vistas nas letras das músicas, nos quadros pintados, no design, na comunicação publicitária e assim por diante. Todas estas formas de criação também são formas de pensar oriundas de uma problemática, que podem ser para desenvolver e vender produtos ou serviços ou para desenvolver alguma inovação de impacto para a humanidade. Quando pensamos que a problemática seja o desenvolvimento de civilizações, regiões, países, espaços ou territórios, quando tratamos de questões geoestratégicas que envolvem pessoas e lugares, quando falamos de gestão integrada de um território, estamos tratando de problemas sociais, econômicos , ambientais e culturais. E este contexto demanda uma outra visão, uma visão mais destemida e menos determinista sobre o que deve ser, um processo multidisciplinar de investigação, idealização e teste. Um processo que transforma a criatividade em uma carga valiosa no vagão de um trem que segue o trilho do desenvolvimento. Este trem é o processo de inovação. É como se criássemos uma nova habilidade para o planejamento urbano, para o desenvolvimento socioeconômico, para a psicologia ambiental, para as questões geográficas, para apropriação de espaços e para o capital social de um território. Um novo ofício para a criatividade.

 

Qual é a relação entre desenvolvimento de territórios e processo de inovação? O segundo é a esperança de que o legado que deixaremos como capital social, como cultura será bem diferente ao que temos hoje, ao modelo questionado de desenvolvimento. Talvez seja a saída para estabelecermos uma ação real, com tentativas, acertos e erros e não apenas uma reflexão. Uma postura responsável sobre o planejamento territorial e corresponsável com o desenvolvimento territorial. O processo de inovação pode se tornar uma prática, pois é um método que desconsidera o que já está estabelecido, é um processo de desafio.  

 

Este tipo de processo de inovação para o desenvolvimento territorial deve ser alimentado e impulsionado por uma ferramenta interativa de diálogo, que transforma o capital social de qualquer região e investiga as reais necessidades da sociedade. Segundo David Bohm, um físico que escreveu o livro “On Dialogue”. A melhor forma de conhecer a si e ao outro é praticando a investigação dialógica, libertando dos seus pressupostos e observando o seu próprio diálogo, evitando concordar ou discordar de qualquer questão, apenas praticando a dinâmica social investigativa. Este conceito fortalece a criação de uma rede de investigação profunda, por uma visão mais imersa na realidade dos problemas , um ofício antropológico sobre os valores culturais e as condições atuais de um espaço.

 

Esta ação investigativa em uma metodologia criativa deve ser gerenciada por uma visão holística. Vale levantar a questão sobre quem está ambientado com o processo criativo para resolver demandas, ou briefings de necessidades humanas. É o profissional que utiliza este processo metodológico criativo como parte fundamental de seu ofício, como a sua ferramenta de trabalho. Podemos classificar os profissionais da área de humanas e até as biomédicas, principalmente os Designers que projetam seus produtos e serviços focados nos usuários. Os arquitetos e os engenheiros também são profissionais que desenvolvem a metodologia de Planejamento e Desenvolvimento.  O que observamos também como prática de mercado é que grande parte dos profissionais, desenvolvem seus projetos e constroem suas carreiras baseados na confiabilidade que ganham com a própria experiência profissional. Para a maioria, é de suma importância que eles sigam o projeto que estão executando de acordo com o planejamento do mesmo. Pode ser um planejamento de uma casa, o planejamento de um empreendimento imobiliário, de uma usina siderúrgica, de uma ponte, de um evento, de um negócio, ou seja, gasta-se tempo no planejamento que oriente as ações e diretrizes para o desenvolvimento do projeto. Este é o modelo de eficiência de trabalho no qual a expertise adquirida com ele, leva a uma evolução do profissional, uma maestria de sua da função, a transformação em um Gestor. A gestão é a capacidade de gerir um empreendimento, um negócio, uma empresa com seus recursos e sua dinâmica em prol de um objetivo comum. Essa função requer uma atividade racional e controladora (Controller / gestor executivo / Controladoria).

 

Qual é a ofício deste profissional? Gerenciar recursos. É o amadurecimento natural do profissional, ele se especializa, depois ele coordena o planejamento até evoluir a gestão do negócio ou da empresa. Muitos profissionais desenvolvem suas capacidades de gestão focadas na especialização, pois por maior que seja a transformação vivida pelo mundo e pelo negócios, o especialista ainda é a peça que se encaixa no mercado. Portanto no novo desafio da gestão atual, onde envolve questões complexas que demandam uma visão multidisciplinar e um andamento colaborativo, esta característica gestora especialista fica compelida a resolução de problemas de mesma natureza. Não é uma característica eficiente para a resolução de problemas que necessitem de uma colaboração multidisciplinar. É engessado pela forma como é encarada a tomada de decisão. Por maior que seja o desejo da empresa em ser colaborativa e horizontal, o peso da participação idealizadora e criativa não é igual, não é nivelada e suas ferramentas estão baseadas na visão analítica.

 

Roger Martin, Reitor da Roitman School aborda no seu livro “Design de Negócios” a importância de uma condução equilibrada nos negócios entre a intuição e análise. Para Martin, o processo de Inovação baseado no Design Thnking, passa por 3 etapas fundamentais: Mistério, Heurística (derivada do Latim “Eureca”) e Algoritmo. Ele cita em seu livro casos de empresas que conseguiram inovar nos negócios através do processo de Design Thinking gerido por um responsável. Este gestor responsável tinha a incumbência de identificar e prosseguir com as etapas (Mistério, Heurística e Algoritmo), envolvendo as competências multidisciplinares.  

 

Em paralelo, vale imaginar um grupo de profissionais de mesma formação, cada um com sua escala de experiência desenvolvendo uma nova solução para um determinado desafio empresarial. Independente do potencial criativo de cada um, eles não estão acostumados a pensarem de uma outra forma que não seja a do seu universo, da sua experiência. A ansiedade dos mais novos e a impaciência dos experientes, torna a tomada de decisão mecanizada. Um exemplo bem característico é o filme “The Company Men”. Uma cena de executivos de uma holding no ramo de óleo e gás, tomando uma decisão instantaneamente em demitir alguns funcionários devido a uma crise. O que impede o desenvolvimento da companhia não é o resultado da reunião e sim a maneira como é conduzida os processos. A decisão de última palavra foi do Executivo, ninguém chegou com nenhuma proposta, e o desgaste na tentativa de analisar o problema e solucioná-lo levou 3 minutos. É um exemplo extremista que traduz as questões submersas: processos rígidos, pouco investigativos, apegados a confiabilidade, desenvolvidos com maestria e com 100% de acerto. Porém, sempre dentro de uma paradigma confortável. Um paradigma atrelado ao modelo econômico capitalista que vivemos. Um modelo comprometido com o crescimento. Afinal de contas, qual é o gestor atual que deixaria de obter um crescimento anual para satisfazer necessidades de outros stakeholders envolvidos na sua cadeia produtiva? Este comprometimento com o crescimento e com o resultado, está bastante relacionado com a construção de uma imagem de eficiência, com a reputação, o histórico e a trajetória profissional. Construir históricos e trajetórias por líderes ou adeptos a líderes é como passar pelo filtro de excelência profissional, é como ter uma constante performance de alto desempenho, onde os erros não são bem vistos e assim temidos.

 

Como este tipo de cultura, de raciocínio e práxis de trabalho, pode pensar em novas soluções para o desenvolvimento de espaços e territórios respeitando as questões culturais daquele local? Não está na essência do trabalho, não está na competência da Gestão tradicional. Considerando que se tornou indispensável para a implantação de seus empreendimentos, estabelecer uma relação com a comunidade impactada, ou estabelecer novos canais de comunicação com stakeholders, a Iniciativa Privada ainda tem o comprometimento de planejar, de desenvolver ações de relacionamento com estes stakeholders, ações de compensação de seus impactos e a garantia do licenciamento ambiental do empreendimento. Quando estas ações devem ser executadas, o resultado é pouco inovador, o que também resulta em pouco valor para a sustentabilidade do território. Toda a prática de diálogo entre os stakeholders desenvolvida no processo é legítima e eficiente, o que está raso ainda é o propósito de manipulação das informações e as premissas estabelecidas para a retirada destas informações. A estratégia é baseada no pensamento racionalista da gestão. Quando a premissa é a inovação, o contexto todo se modifica, a intenção vai além do diálogo. O diálogo se torna uma ferramenta de um processo de inovação nos territórios.

 

Neste contexto surgem consultorias multidisciplinares que são conduzidas para estreitar o relacionamento entre empreendimento e território, com suas diversas ferramentas de mensuração de impactos e identificação de atores estratégicos. De uma forma bem transparente a articulação política com as lideranças locais ainda é considerada um ativo no processo. Esta função traz resultados no relacionamento dos stakeholders (Sociedade Civil e Iniciativa Privada),  mas acabam perdendo fôlego na construção estratégica e nos planos de investimento. Isto se dá porque a natureza de pensamento e o processo que utilizam não é o um processo almeje a inovação como desenvolvimento territorial. Não adianta ter uma ou outra persona que seja imersiva e criativa no processo, a construção é multidisciplinar.

 

Esta é uma típica dificuldade de se trabalhar na incerteza do processo criativo colaborativo. A conseqüência muitas vezes é a perda de capital inovador e fôlego no projeto pela forma como é gerido o próprio negócio. Existe uma iniciativa de gerir de forma horizontal e colaborativa, mas a iniciativa ainda engatinha nas questões co-criativas. Isto ocorre também pelo modelo de negócio ser baseado na cultura do cliente (grandes empresas). Para se construir empresas com culturas colaborativas, deve-se construir equipes colaborativas de pessoas colaborativas sem medo do erro, da avaliação de desempenho e abertas ao diálogo. Já não se pode pensar em construção participativa e desenvolvimento de negócios, sem uma análise de ganhos mútuos. A consciência está crescendo, assim como cresce a consciência da necessidade e da tentativa da prática da Inovação. Porém o caminho para ela ainda se encontra pouco disseminado e pouco investido. As disciplinas profissionais estão se juntado. Existe uma vontade e uma crença na possibilidade de uma nova postura de trabalho, para novas maneiras de relacionamento.

 

Para isso deve-se estar atento, como dizia David Kelley em seu livro “A arte da Inovação” , para o conceito de profissional em “T”. É aquele que tem um conhecimento profundo sobre uma disciplina ou função, mas que tem interesse por outras competências que podem ser associadas com outros profissionais em “T”. É como uma cadeia ligada e preparada para a concepção de algo disruptivo e que enxergue novas oportunidades.

 

Neste contexto que deveria ser aplicado o Design Thinking, uma metodologia de inovação carregada de personas “T”. Mas o Design Thinking é executado apenas por Designers? Não. É a prática metodológica do design em todas as suas etapas desenvolvidas por profissionais multidisciplinares. A diversidade de conhecimento reunida em um processo investigativo, co-criativo, testado e implementado. Ele não é a inovação em si, é o caminho para a inovação e Inovação é Desenvolvimento.  

 

O Design Thinking é um processo de trabalho que é não-linear e ao mesmo tempo organizado. Apesar de estar planejado metodologicamente os próximos passos, ele não caminha de forma linear, pode ter idas e voltas. Ele é complexo. É oriundo do pensamento complexo e muda as suas conclusões com os testes elaborados. Este tipo de método não está adequado a forma de Gestão de algumas disciplinas administrativas, pois elas ainda não consideram o Design Thinking como uma ferramenta maior, como uma nova competência da Gestão. Pensar no exercício do Design Thinking gerindo outras profissões causa uma reação de proteção, expondo o processo e julgando-o de maneira irrisória. Este cenário é responsável pela morte da inovação. Traça-se uma paralelo comparativo do Design Thinking com processos de outras disciplinas para expor a metodologia como algo irresponsável. É como pensar: Como seria construída uma ponte que tivesse que colocar alguns carros acima para testar a sua eficiência? Se ela não estivesse no padrão do projeto, ela seria refeita? Este tipo de argumento apegado na confiabilidade, trata a hipótese de teste como absurda, mas aí está uma das diferenças. O Designer testa e muitas vezes até responde: “isso vai se construindo com o tempo, vamos aprendendo com os testes”. Este tipo de pensamento não entra na cabeça da gestão tradicional, porque a gestão tradicional quer que você acabe a ponte que tinha sido prometida com aquele desenho pré-estabelecido, com os mesmos ângulos de cabos de aço esticados. Não podem haver mudanças no planejamento, quer dizer, até podem, mas não farão bem para sua reputação. A gestão tradicional está errada? Não. Mas este tipo de pensamento é limitante a própria função. É limitante a decisão do especialista, é limitante em comparação a uma visão de construção participativa e multidisciplinar, é limitante quando se trata de desenvolvimento de espaços e territórios, e hoje o mundo requer cada vez mais multidisciplinariedade. O especialista está ficando preto e branco como os “Tempos modernos” de Chaplin, e este tipo de pensamento é obsoleto para o desenvolvimento de territórios.

 

 Na época de desenvolvimento do Mercantilismo e da Colonização, a civilização acreditava que existiam terras a serem exploradas. Usaram toda sua capacidade de idealização e teste para inventar artifícios que permitiam o homem explorar o desconhecido. Pode-se dizer na época que se tratando de uma demanda pontual, o processo de design contribuiu significativamente para desenvolver soluções para estas demandas (Ex: navios, poços de água, moinhos, roupas de frio). Tudo o que foi criado teve exclusivamente a intenção de resolver um problema de necessidade humana.

 

Pode-se afirmar que na Idade Moderna, as inovações eram mais tangíveis sobre o aspecto físico, como produtos e artifícios. O desenvolvimento socioeconômico era mais baseado nas competências das civilizações dominantes sobre os territórios ocupados. O fator cultura local não era considerado como um ativo no processo de Desenvolvimento Regional, era por muitas vezes considerado um empecilho, retratos de um território pouco dialógico em seus aspectos intencionais e preservacionistas. Hoje, percebemos um mundo em constante evolução onde os problemas a serem resolvidos são problemas mais complexos que os problemas da Idade Moderna. E hoje, atualmente, o homem vive um paradoxo neste aspecto, como afirma Katherine Fulton “A nossa capacidade de resolução de problemas não acompanhou a de criá-los.”

 

Se hoje, permanecemos com o desafio de desenvolver o planeta, o mundo, as nações, os espaços e os territórios, porque quando pensamos em um novo paradigma, não nos livramos das práxis do paradigma passado?

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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