Das virtudes, do bisturi, o bem e mal e outros fundamentalismos

Por Pablo Araujo de Carvalho | 28/08/2017 | Religião

As virtudes estão sempre acima do bem e do mal.

Toda a virtude pauta sua existência em amparar a vida.

A virtude de uma faca é cortar bem, de um colírio limpar os olhos, ou seja, uma faca ou um colírio virtuoso são aqueles que exercem suas funções de acordo com o propósito ao qual ele foi criado.

E o ser humano?

Quando ele é virtuoso?

Quando ele pensa e pensando ampara a vida e por isso torna-se virtuoso.

Quando ele concebe a faca que corta o alimento com o objetivo de saciar a fome.

Quando ele concebe o bisturi com o objetivo de operar e salvar vidas.

Quando ele usa de princípios ativos das plantas com o objetivo de curar males (pelicilina).

Porém quando ele diz: esse bisturi só poderá salvar a vida do honesto e não do bandido!

Quando ele diz: o remédio só deve ser aplicado naquele que provém de nossa raça!

Aí a virtude deixa de amparar a vida e passa a amparar ideologias de raça superior.

Ela deixa de ser o bisturi que salva a vida quando opera, para ser o bisturi ideológico que salva a vida somente de brancos, ricos, heterosexuais, etc. Ele deixa de ser um bisturi virtuoso e se transforma em um bisturi neutro e que assume a sua ideologia de bem e mal, segundo aquilo que você acredita seja bem e mal.

O bisturi assume sua natureza íntima e se torna um bisturi fundamentalista e com uma ideologia que encerra todas as verdades em sí mesmo. Deixando de ser um bisturi altruísta e passando a ser um bisturi egocêntrico.

A virtude médica ampara e salva a vida tanto da vítima como do algoz.

A virtude do conhecimento tanto ensina ao rico como ao pobre.

A virtude do amor acolhe tanto o filho gerado no seu ventre, quanto o gerado em outro ventre, tal qual a ama de leite com seu poderos seio negro e farto alimenta a vida dos filhos brancos do seu algoz cuja a força está no chicote.

Lhe pergunto: Quem tem poder? O chicote que açoita e leva a morte ou o seio farto que acolhe e ampara a vida?

Bendito leite que é fonte imanente de vida pois está nos seres e nas criaturas jorrando dos seios e das tetas e assim cumprindo seu papel Divino de fomentar e estimular a existência das espécies mamíferas, nós entre elas. Bendita a teta da cabra que também serve para alimentar bebês  humanos e bendito o seio humano que serve para alimentar filhotes de cabras. Leite sem partido, sem raça, sem credo, sem fundamentalismo, sem ideologias, somente leite, simplesmente leite, grandiosamente leite que é fonte de vida.

Voltando ao assunto sem sair dele, pois bem, a virtude da fé agrega em sua cátedra tanto a prostituta quanto o rabino que até lá a conduziu.

O sangue do doador tanto será doado do honesto para o bandido ferido em tiroteio, quanto do bandido para o policial ferido em tiroteio e assim tanto será doado do homossexual para o homofóbico e tanto do homofóbico para o homossexual, o coração do doador negro tanto batera no corpo do branco, quanto do branco no corpo do negro e isso se for compatível e não por ideologias e sim por tipagem sanguínea, pois por dentro tanto do corpo quanto da alma somos iguais. Em pleno século XXI já sabemos que não existe o tal sangue de cor azul, isso foi só uma ideologia sanguinária e fundamentalista na idade média que ainda hoje segregam e encontram seus afins.

Criamos raças, ideologias e fundamentalismos que na virtude não existem.

No final de tudo isso, só existe ser humano servindo ser humano.

Aliás a vida só se justifica no outro.

Abandonemos o bem e o mal a favor do amparo à vida.

Abandonemos nossas concepções sempre que elas segregam ou pelo bem ou pelo mal.

Há um grande mal estar no bem e no mal, posto que eles são visões subjetivas que herdamos de uma sociedade que já existia antes de nós, pois quando nascemos tudo já estava pronto.

É preciso desconstruir-se!

Abandonemos o bem e o mal a favor do bisturi que sem discutir salva o bandido e o honesto, a vítima e o algoz.

Pois a virtude do bisturi é cortar, pois enfim foi para isso que ele foi criado e legitimado como tal. E a nossa virtude é amar e foi para isso que fomos criados.

O bisturi corta e realiza sua função na criação, porém quem o segura ao realizar sua função na criação deve manejá-lo com amor, enxergando não o cristão ou o islâmico, não o alemão ou o judeu, não o protestante ou o umbandista, não o hétero ou o homossexual, enxergando não as escolhas e sim o humano que existe por trás das escolhas deliberadamente escolhidas por eles.

O amor e o respeito são irmãos gêmeos e não conseguindo amar ao menos respeite e estará iniciando o caminho virtuoso que leva ao amor.

Abandonemos o bem e o mal a favor do amor, pois é esse sentimento que justifica a nossa existência, pois o amor está acima do bem e do mal.