DAS SITUAÇÕES LIMITES AO INÉDITO VIÁVEL: PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Por CLÁUDIA CRISTINA MUSACCHIO GOMES | 07/08/2014 | Sociedade

DAS SITUAÇÕES LIMITES AO INÉDITO VIÁVEL

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

 

Vimos refletindo ao longo do curso de licenciatura em pedagogia e mais intensamente neste 5°semestre sobre a importância e efetivação do Projeto Político Pedagógico que é a proposta da escola, quanto ao ensino, aprendizagem e formação cidadã/identidade da escola, ao qual se refere sobre o exercício de opinar, argumentar e ouvir os anseios da comunidade escolar em avaliar sua realidade e principalmente a sua história, que modifica constantemente o cenário dos alunos que chegam à escola, e esta deve estar atento para as atuais necessidades considerando assim, os afazeres, contribuições diretas ou indiretamente efetivadas, pelos funcionários, colaboradores, pais, alunos e profissionais de educação. Neste propósito, se realiza uma análise crítica sobre o PPP documento este, que rege as normas e imprime os objetivos e metodologia proposta pela instituição da escola.

Este trabalho teve como objetivo verificar como a comunidade escolar participa nas decisões e ações desenvolvidas pela escola para que a educação pública, popular, democrática e de qualidade se concretize. Para isto, foi realizado um estudo em que se investigaram as causas que justifica a pouca participação dos pais com relação às atividades desenvolvidas no âmbito escolar.

 

 

 

 

 

 

 

 

A indisciplina como situação limite

 

 

A indisciplina foi pautada como uma situação limite no aprendizado do aluno e nas relações entre o aluno/professor.

O pensamento de Paulo Freire que destaca:

...a radical idade do compromisso com a transformação social, o educando como sujeito de conhecimento, a urgência do diálogo, a convivência solidária, a importância da ética e da estética e a rigosidade do trabalho com os conceitos, jamais separado do desvelamento da realidade.

 Indica-nos os caminhos para que o limite apresentado pelos sujeitos da escola venha a ser uma possibilidade de mudança, de um novo olhar, de transformação, para que outro conceito se acentue.

Ao observar os sujeitos da escola, pais, alunos, professores, gestores, funcionários e demais envolvidos, apontarem a indisciplina como causadora de desencanto pela atuação tanto do educador quanto do educando, ao questionar a indagação de possíveis causas, os mesmos relatam que:

Os alunos-

a)“ A professora nunca deixa eu falar, sempre ela tá certa”

b)” Rodei de ano e agora tô vendo tudo o que já dei ano passado”

C)”sempre é copiar, ou folha de Xerox, a gente nunca sai, ou nunca faz nada diferente”

Professores:

a)        “Hoje é os alunos que tem autoridade, antes nós podíamos mandar, agora, a lei protege eles. Dia desses chamei atenção de um aluno, tive que gritar para ele me ouvir, e daí ele gritou mais alto comigo”

b)        “Penso que falta limite dos pais, mas tento conversar para saber o que ouve, às vezes as crianças passam por problemas que não querem contar e então ficam agressivas, mas vejo que com carinho eles vão se ajeitando.”

Gestoras- “São crianças acostumadas a ficarem na rua brincando

então ficarem quatro horas sentadas dentro de uma sala de aula, para elas é uma tortura”.

As situações-limites, conforme Freire: 

... não deve ser compreendido como obstáculos intransponíveis, mas como lugar da possibilidade, situações que nos permitem criar formas de superá-las, pois são consideradas como relações históricas. As situações-limite devem ser compreendidas como possuidoras de uma possibilidade e não como limitadores, obstáculos. Dialogam com a denúncia das condições sócio-históricas a caminho do anúncio do que é possível, ou seja, o inédito viável.

Vivemos em meio a muitas informações e a escola acaba por se tornar “atrasada” frente a tantos avanços, e o ensino cientifico fica a desejar desmotivando assim, os alunos que chegam eufóricos por mais informações que venham acalmar suas expiações por mais afazeres que condizem com sua realidade concreta. Realidade esta que combina seus afazeres fora da escola com o ensino escolar, ou seja, com o seu tempo de ser criança.

Revisão do Projeto Político Pedagógico da escola

 

Partindo do proposto pelo PPP da escola podemos citar alguns pontos como sendo relevante, para a análise do entendimento do real, possível e necessário para que haja um comprometimento, de ambos os sujeitos que atuam nos espaços da escola:

 

Marco operativo consolidado como deve ser

Realidade da escola

Desenvolver no aluno o espírito de busca e a investigação

Em geral as respostas são prontas sem motivar a curiosidade.

O exercício da cidadania

A não participação dos alunos nos projetos já os impede de praticar a cidadania., de praticar seus direitos e deveres.

Primar pela integração de todos os segmentos da Comunidade

A falta de informação impede este contato direto entre escola e comunidade nos interesses em comuns sobre o que querem o porquê, e para que.

Linguagem com a função da interação social, história, filosofia

Ao negar a língua materna que constrói a identidade do aluno, nega-se a ele sua história e experiências. Sem expor seu ponto de vista, o aluno fica submisso e deixa-se controlar.

O projeto político pedagógico envolveu toda a comunidade escolar

Boas propostas, mas não houve o envolvimento da comunidade escolar, pais, alunos, funcionários, e não aponta estratégias coletivas para amenizar a indisciplina na escola. E o mesmo se torna um projeto de gaveta ao não ser visto como algo possível além de um mero documento exigido por lei.

Embora a escola tenha autonomia nas decisões sobre questões, pedagógicas, financeiras o que consta que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (Art. 14. LDBEN) o artigo 14 da LDB.

Esta referência reafirma a participação legal e política de pais, alunos, comunidades escolar e local nos conselhos escolares ou órgãos colegiados. O desafio consiste em estarmos atentos ao que se passa no interior da escola, com seus problemas e suas dificuldades e ao mesmo tempo, em sermos contemporâneos das mudanças em curso na sociedade. A vida nas escolas não se restringe mais às salas de aula ou a aulas expositivas dos professores. Aspectos diversos da vida cultural, social e política das cidades interferem na vida e no currículo das escolas. Um exemplo são as numerosas propostas de inclusão de disciplinas como educação para o Trânsito, educação e sexualidade, educação e ecologia são todos temas importantes e necessários à formação humana e cidadã. Entretanto, eles podem constituir-se como temas transversais a serem abordados pelo conjunto de disciplinas e experiências curriculares desenvolvido nas escolas.

O que no caso foi pouco notório na escola parceira, apenas o negro e o índio são lembrados, mesmo assim, sem uma exploração da real historicidade de suas causas conseqüências de tempos passados e atuais, que envolvem toda uma cultura que se disseminou por todo o nosso Brasil e está viva em nossas histórias cotidianas.

Contudo, se percebe que o PPP está com clareza e adequado para a leitura de qualquer leitor que tenha interesse em aprofundar-se no seu conteúdo e na sua intencionalidade.

Ao analisar o PPP em contra partida com a situação limite apontada, observa-se uma justaposição. O aluno que não sente motivação nas aulas, em que sua participação é dada no momento escolhido pelo educador, sente-se de certa maneira fora do contexto, sem expor sua ideia, seu ponto de vista, sente-se pressionado. No PPP a Linguagem é contida como função social, ou seja, o aluno não é visto como mero ouvinte ou expectador, na qual o educador deposita seu conhecimento.

Contudo esta contrariedade pode ser um dos determinantes que influenciam na indisciplina do aluno.

 

 

Com a palavra os sujeitos

No cotidiano escolar é frequente a carência das falas dos autores que marcam a história do ensino. Em geral, se tornam expectadores em que o saber lhes é transferido, e na maioria das vezes não considera a realidade de seu conhecimento de sua expectativa de vida.

A escola enquanto espaço social deve agir com senso de democracia, visando o desenvolver de todos os sujeitos da escola sem distinção. É na concretização das intenções em caráter de transformação que prevalece a gestão democrática, que ambiciona difundir o conhecimento.

Para entender de forma abrangente a situação limite, as falas dos sujeitos que ajudaram nesta pesquisa, fora imprescindível. Ou seja, como suas ações são afetadas por tal situação? O que os pais, os alunos, os professores, as funcionárias e demais pensam sobre a situação? Como a percebem? Como acreditam que ela interfere? Como pensam que pode se chegar a avanços?

Observou-se, como uma questão tida pelos sujeitos da escola, como maior obstáculo a participação para que a questão da indisciplina seja amenizada e que o trabalho diário advenha com autonomia e sensação de “liberdade”, no sentido de poder fazer a diferença.

Uma aluna comentou que não se sente a vontade para expor suas ideias sobre os assuntos trazidos pela professora, pois a mesma não lhe transmite confiança para que ela, a aluna, dialogue, questione sobre o que lhe é apresentado. ”Tudo tem que ser como ela explicou e pronto”. A aluna não pode aprender de outra maneira, chegar a sua conclusão por outros meios, e isto foi notório ao ouvir o comentário desta professora em questão, num dado momento em que ela fala “se deixarmos os alunos se aprofundarem em suas ideias, daqui a pouco vão querer me ensinar como tenho que dar minhas aulas”.

Analisa-se também que os pais em sua maioria desconhecem os seus direitos em participar das questões que dizem respeito à educação de seus filhos (as), alguns pais com quem pude ter uma breve conversa, deixa clara esta falha de comunicação entre escola e pais, no sentido de juntos buscarem soluções para o melhor aprendizado de seus filhos. “Nem sabia que tinha esse projeto que era feito para escrever o que agente pensa que é bom pros nosso filho, como a escola pode faze pra que a gente ajude os aluno a serem menos teimosos com as profe, e elas reclamam muito que eles não obedecem, mas as vezes elas não mudam as aula, tenho um guri que rodo de ano e se eu tivesse o caderno dele do outro ano pra te amostra tu ia ri, porque a profe do 3º- tá dando tudo igual o que ele já deu”.”O meu filho falo pra ela que já tinha visto isso ano passado e daí ela disse que ele lembra mesmo; então pode ser que ele passe esse ano”.

Todos de alguma maneira chegam à mesma conclusão, que se faz indispensável o diálogo mais ativo, que aproxime aluno e professor, no entanto, dirigentes, professores e funcionários sentem dificuldade em reconhecer esta participação. Dialogar com as famílias e com as crianças, registrar seus saberes e suas culturas, ouvir suas vozes e compreendê-las, pressupõe-se uma reeducação dos educadores, uma postura aberta ao outro enquanto sujeito, conforme escreveu Paulo Freire: a participação do povo deve ser “um estar presente na História e não simplesmente nela estar representadas”.

E a participação de pais, alunos, funcionários deve ocorrer numa primazia para de fato fazer o diferencial da escola, numa proposta que concretize o sujeito como ser central e fundamental para a escola, ou seja, o aluno. A escola é um espaço social, onde as pessoas que nela circulam, buscam orientações, trazem informações, creditam seu “futuro” suas expectativas; percebendo a escola enquanto espaço social, de inter-relações e de certa forma político, pois dependem de diálogos, negociações para se chegar á um senso sobre os objetivos traçados.

A escola precisa ser reinventada, e cada um de seus agentes além de se apropriar dos espaços e tempos, deve adicionar aos Projetos da escola, as fragilidades e limites que os impedem de transformar a educação. Como afirma Libâneo (2008, p.78), “escola democrática é a que propicia as condições de desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos alunos.” E Segundo Silva (2005, p.25):

Um trabalho com ação participativa em que todos os integrantes têm um alvo comum é indubitavelmente satisfatório e positivo, enquanto um trabalho com discussões polarizadas, com ideias fragmentadas, não possibilitará resultados eficazes, ou, nem mesmo, haverá nesse trabalho objetivos traçados visando o estar social e, em se tratando do aluno, a formação de um cidadão critico e preparado para a sociedade.

A Escola, sendo um órgão público, deve ser dirigida por todos os seus usuários. Apesar das dificuldades encontradas na efetivação da participação escola-comunidade, devemos ter em mente que uma escola não se faz apenas com professores e alunos, mas com todos, pais, alunos, professores, funcionários e sociedade civil organizada.

 

Relação do PPP com a aprendizagem

Retomando o PPP a fim de perceber o papel da escola, sua intencionalidade, as formas pelas quais define a organização e o acompanhamento do processo de aprendizagem, apontam-se em que medida a situação limite destacada compromete a aprendizagem dos alunos. Apesar do PPP da escola apontar que o ensino será voltado à formação integral do aluno, nota-se que o limite apontado, ou seja, a indisciplina se torna um desafio na aprendizagem significativa.

Para Vasconcelos ( 2009,p.240)

(...) é muito comum ouvirmos dos professores a queixa de que os pais não estabelecem limites, não educam seus filhos com os princípios básicos como saber se comportar, respeitat os outros, saber esperar sua vez, etc.

Neste ponto de vista, percebe-se que a indisciplina causa grave conseqüência o que dificulta a aquisição e difusão do ensino aprendizagem. Os professores sentem-se desmotivados, os alunos que querem aprender, ficam desconcentradas por causa do mau comportamento de alguns alunos, que causam barulhos, desordens e não respeitam colegas e professoras.

Para tentar amenizar este problema, o PPP se torna um grande aliado, na medida em que o mesmo conta a participação da família, professores, orientador, supervisor e comunidade, a partir da ativação e concretização, defluirão boas respostas a respeito dos problemas apresentados dentro do âmbito escolar, num diálogo que permita cogitar seus agentes e consequências e a elaboração de projetos desenvolvidos ao logo do ano na tentativa de resgatar no aluno o interesse em integrar-se na sociedade escolar. Segundo

Oliveira ( 2005,p.21)

Além de a indisciplina causar danos ao professor e ao processo de ensino aprendizagem , o launo também ´eprejuducado pelo seu próprio comportamento: Ele não aproveitará quase nada dos conteúdos ministrados durante as aulas, pois o barulho e a movimentção impedem qualquer trablaho reprodutivo.

No PPP consta que o ensino será voltado à formação integral do aluno, que os educadores se propõem ”rever práticas pedagógicas para um melhor aprendizado do aluno”. Neste sentido nota-se que, que falta união por parte dos educadores e familiares, em juntos formular soluções, discutirem a realidade dos alunos, e quem sabe os encaminhar para um psicólogo, para então compreender como aproximar-se deste aluno.  Saber dele o que o desmotiva? O porquê de sua rebeldia?

Nem sempre a causa é por atritos familiares pode ser por fatores que envolvam a escola/professo. O aluno sem ter a quem recorrer mostra-se arredio para chamar a atenção para si, e na maioria das vezes o diálogo em separado, pode ser um grande aliado. Diálogo aberto, sem a intenção do certo e do errado, mas na intenção de ouvir o que o aluno tem para dizer.

Para Freire (1996, p.73)

“O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca.”

Com a indisciplina, as aulas por mais elaboradas que sejam se tornam tensas, e o aprendizado para acontecer de forma prazerosa com a participação do aluno e professor deve ocorrer num clima de harmonia.

Contudo necessita-se que o PPP seja visto como uma possibilidade de transformar a aprendizagem, em que todos os sujeitos atenham-se como atores principais e que precisam ser responsabilizados por iguais nas propostas pensadas por eles próprios. Se a escola prima pelo objetivo de formar cidadãos críticos reflexivos sobre realidade, capazes de transformá-la, então porque não proporciona espaços de discussões para que a aprendizagem seja de fato significativa?

Na medida em que a indisciplina é vista como obstáculo, acaba por comprometer o aprendizado do aluno, e dos demais em sala de aula, pois de certa forma atrapalha o desenvolvimento da aula.

Então seria possível organizar aulas dinâmicas que envolvem esse aluno “problema” que traga o seu contexto de vida para dentro das atividades propostas, o que não se pode fazer é deixá-lo de fora, já que, a escola tem a função social, de resgatar valores, o que cabe a ela então, é buscar meios para que juntos escola/família e aluno, cheguem a um senso comum, através do diálogo, e não com autoridade, como sugere Freire ao apontar como falha a educação bancária que deposita no aluno seus conhecimentos sem deixá-lo defender seus conceitos, ou ainda, oprimindo a aluno, com autoridade de quem manda e de quem sabe mais. “ Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: Os homens se libertam em comunhão” (Freire, Paulo Pedagogia do oprimido, 17°.ed. Rio de Janeiro, Paz\ e Terra, 1987).

Acredito que sim, a indisciplina atrapalha o aprendizado, no entanto cabe ao educador buscar elementos que contribuam com a aprendizagem, e sempre intermediada pelo diálogo aberto, transparente.

A partir do momento em que, a elaboração do projeto político pedagógico contemplar a missão, a clientela, dados sobre a aprendizagem, relação comas famílias, recursos, diretrizes pedagógicas, plano de ação da escola. Promoverá articular e envolver a ação das pessoas no processo de gestão escolar, estará consciente quanto aos impactos do bairro e da cidade sobre o dia adia da instituição e desta sobre o seu entorno. A autonomia deve ser exercida no âmbito escolar como processo de construção coletiva cotidiana desse processo pedagógico. Com o objetivo de propor alternativas de solução para obstáculos e dificuldades encontradas no cotidiano escolar. Articular novos conhecimentos e conteúdos de ensino com experiências e vivências dos alunos.

Colocar em ação o fruto da vontade da comunidade escolar é um exercício democrático e promove maior autonomia pedagógica, administrativa e financeira da escola. (art. 12 e 15 da LDB)

0 diálogo entre docentes, equipe gestora e comunidade favorece a melhor qualidade da educação na escola e a aprendizagem do aluno.

O inédito viável

Criar as necessárias relações de confiança com a comunidade escolar, estabelecer pactos que permitam o trabalho avançar diante de diferenças e adversidades, conhecer a política da escola e seu currículo exige dedicação, trabalho constante e rigoroso.

A própria organização do trabalho na escola impõe limites em relação ao tempo, porque se trabalha com pessoas com diferentes histórias de vida, nem sempre convergente em relação a intencionalidades, conhecimentos e habilidades. Paulo Freire entendia os sujeitos como seres humanos em construção, construção que se daria por meio da constante busca de conhecimento.

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1992, p.11-12).

O processo de conscientização, como a própria palavra sugere, vai exigindo cada vez mais das pessoas uma ação, uma intervenção no mundo, à medida que dele se tornam mais conscientes. Torna-se vital a busca por propostas que contribuam para a construção de um currículo mais humanizado e democrático, que é o que acredito ser possível por meio da aproximação do diálogo com o currículo da escola, na perspectiva crítica. Fazer isso não é um trabalho fácil, porque exige enfrentar estruturas autoritárias, rever concepções e práticas estabelecidas, mudar valores, hábitos e crenças, educar os medos e superar dificuldades. Isso exigirá da sociedade, em diferentes esferas, compromissos políticos na direção de uma educação pública, popular, democrática e de boa qualidade.

A necessidade de promover a articulação entre a escola e a comunidade a que serve, é fundamental. O entendimento de que a escola não é um órgão isolado do contexto global de que faz parte, deve estar presente no processo de organização de modo que as ações a serem desenvolvidas estejam voltadas para as necessidades comunitárias. Todas as pessoas da família são responsáveis para que a criança participe efetivamente do processo educacional, sob pena da escola não conseguir atingir seus objetivos. A família deve necessariamente fazer o acompanhamento de perto do que é desenvolvido nos espaços escolares.

Para a comunidade, participar da gestão de uma escola significa inteirar-se e opinar sobre os assuntos para os quais muitas vezes se encontra despreparada; significa todo um aprendizado político e organizacional (participar de reuniões, darem opiniões, anotar, fiscalizar, cumprir decisões); mudar sua visão de direção de escola, passando a não esperar decisões prontas para serem seguidas; significa, enfim, pensar a escola não como um organismo governamental, portanto externo, alheio, sim como um órgão público que deve ser não apenas fiscalizado e controlado, mas dirigido pelos seus usuários. (HORA, 1994, p. 134)

Na prática, encontramos diferentes vivências dessa proposta, pois ao se falar em autonomia ela se apresenta de forma complexa, uma vez que ao se crer na idéia de independência, temos de considerar os diferentes agentes sociais e as muitas interconexões e interdependências que fazem parte da organização educacional. Por isso, deve ser muito bem trabalhada, a fim de equacionar a possibilidade de direcionamento camuflado das decisões, ou a desarticulação total entre as diferentes esferas, ou o domínio de um determinado grupo, ou, ainda, a desconsideração das questões mais amplas que envolvem a escola. Como por exemplo, a indisciplina apontada pelos sujeitos da escola como situação limite.

A indisciplina envolve diferentes aspectos e fatores, causando assim uma grande complexidade no ambiente escolar. As manifestações indisciplinares em sala de aula causa transtornos, falta de atenção, desinteresse e por conseqüência baixo rendimento escolar.

Paulo Freire (1996) fala que o educador deve conhecer o dia-a-dia do aluno, porque é nessa realidade que o aluno desenvolve seus instintos e desabrocha a indisciplina. Na maioria das vezes por falta de orientação sobre como agir diante da indisciplina em sala de aula, cada professor atua de forma que mais lhe convém, utilizando-se apenas de sua experiência e bom senso.

No momento que o aluno compreender que o respeito a regras faz parte do processo educacional e da disciplina, (compreensão essa que não se percebe no dia a dia da escola, pois só é lembrada quando há episódios de mau comportamento), ele saberá desde o inicio de sua formação a conviver com regras e limites, sentirá que a escola precisa de seu auxílio para manter-se limpa, para que a aula tenha conversas saudáveis, barulhos de alunos aprendendo e não de tumultos.

Em consenso com VASCONCELLOS, (2006) as regras estabelecidas nos combinados e elaboradas em conjunto devem ser assumidas por todos e ficar em local visível e registrada no caderno para ser revista sempre que necessário, pois é desedificativo jogar as responsabilidades e problemas para outrem. As regras, em qualquer situação precisam preservar e propiciar ao sujeito o respeito por si próprio e pelo outro. O professor compreende que as regras contidas nos combinados auxiliam na construção de um lugar de interação, portanto, não deve elaborar normas supérfluas ou descabidas, mas em propor juntos normas e regras que sejam desempenhadas.

Outro exemplo é trazer temas que discutam sobre a violência, que é a situação limite apontada pelos sujeitos da escola conforme já descrito anteriormente:

  • Sugerir aos alunos que tragam sugestões para que se amenize ou acabe com a indisciplina em sala de aula, que por vezes envolve violência, verbal e até física
  • Realizar atividades teatrais que representem fatos ocorridos dentro da sala de aula, levando-os a refletir sua atitude
  • Fazer pactos de convivência, respeito mútuo, em que cada aluno e professor envolvido na proposta, assinem o termo de compromisso ao firmar sua palavra.
  • Brincadeiras, que envolvam regras, limites
  • Resgate das palavras “mágicas”: Bom dia, boa tarde, com licença, desculpa, por favor, obrigada,
  • Envolver a família que também que eles venham conversar com o professor sobre algum problema que possa desencadear no aluno/filho, atitudes de indisciplina.

A participação do educando na elaboração das regras de conduta é uma das formas de cumprimento das mesmas, sendo necessário à mediação do professor para que o aluno não insira normas que não serão obedecidas.

A escola pode usar de ações simples para melhoria da relação professor-aluno. Fazer levantamentos prévios sobre a vida extra-escolar dos alunos pode contribuir para um melhor equilíbrio em situações diversas que gerem indisciplina na sala de aula, se o professor sabe do contexto social em que seu aluno está inserido ele passa a trabalhar formas diferentes para melhor mediar os conflitos em sala.

Vale ressaltar que a indisciplina não só envolve aspectos externos como: problemas sociais, baixa qualidade de vida e conflitos nas relações familiares, mas envolve também aspectos internos, desenvolvidos dentro da escola, como a relação professor-aluno por exemplo. Não é raro depara-se com professor intransigente que se considera o dono da verdade, impondo e dando ordens em sala de aula, isso implica em desencadear indisciplina dos alunos, como uma forma de protesto a atitudes do professor.

Para Freire (1996, p.73)

“O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca.”

      

Por isso a importância do professor saber lidar com todos os tipos de situações, e está sempre preparado para desenvolver seu papel da melhor forma possível dentro da sala de aula. Como bem diz Freire, qualquer que seja o tipo de professor ele desencadeia marcas no seu aluno. 

 Outra consideração importante é a da participação podemos pensá-la em todos os momentos do planejamento da escola, de execução e de avaliação, não podemos pensar em participação apenas ao convidar a comunidade para eventos ou para contribuir na manutenção e conservação do espaço físico.

Deste modo, as conhecidas indagações sobre O que queremos para nossos alunos? Qual o objetivo? O que isso vai proporcionar? Qual a importância das decisões tomadas? Devem estar presentes nas pautas de discussão da gestão na escola e nos espaços que definem a política educacional É de suma importância à interação da família no cotidiano escolar de seus filhos, pois tudo que se relaciona com os filhos tem a ver de algum modo com os pais e vice-versa.

 “Tudo que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em torno da escola, no sentido de participarem um pouco do destino da escola (...). Tudo o que a gente puder fazer neste sentido é pouco ainda, considerando o trabalho imenso que se põe diante de nós, que é o de assumir esse país democraticamente.” Paulo Freire (1987)

Na prática isso não vem acontecendo, pois há pouco interesse da comunidade escolar na tomada de decisões, seu envolvimento com os órgãos colegiados: Circulo de Pais e Mestre, Projeto Político Pedagógico, Grêmio Estudantil, Conselho Escolar ainda não é motivador.

Porque a escola ainda está enraizada no autoritarismo e centralização de decisões que não favorece essa participação ou ainda porque a comunidade desconhece seus direitos e não está consciente do “poder“ que tem, ou que poderia ter.

Concluo que o Projeto e o Regimento escolar são o Marco que refletem a missão da escola, e que feito por várias mãos tem o poder de legitimar as lutas por uma educação igualitária e pública de qualidade que prima por uma sociedade justa e mais humana.

REFERÊNCIAS:

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BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselhos escolares: democratização da escola e construção da cidadania. Programa nacional.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1987

 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.37. ed. São Paulo, 2008.

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GOMES, Nilma Lino. “Diversidade cultura, currículo e questão racial. Desafios para a prática pedagógica”. In: ABRAMOWICZ, Anete, BARBOSA, Maria de Assunção e

HORA, D. L. da. Gestão democrática na escola:Artes e ofícios da participação

coletiva. Coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico. Campinas, SP:

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SILVÉRIO, Valter Roberto (Orgs). Educação como prática da diferença. Campinas: Armazém do Ipê, 2006, p.21-40.

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Lück, Heloisa ET AL. A Escola Participativa: O trabalho do gestor escolar.4ed.Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

PARO, Henrique Vitor. Gestão Democrática da Escola Pública. 3ª ed. São: Editora Ática,2005 p., 11- 25.

PIMENTA, Selma Garrido. O pedagogo na escola pública. São Paulo: Loyola, 1991.

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