Da Lucidez!

Por Phelipe Fabres | 25/01/2009 | Crônicas

Lindos são os dias. Não um especial, todos. "Viver a vida", simples diria Godard. Mas ele filmou sua simplicidade, e na plenitude de umgênio a simplicidade é um artefato esquecido no fim de uma estante. E eu, e você? Vivemos? Diria que "Sim, com certeza!", mas as minúcias não são tão simples e além dos anjos nós conseguimos ouvir pensamentos, mesmo que próprios, e sendo que eles não se comunicam diretamente não nos privilegiam de sua necessária opinião. Isso por que em nossas entranhas os delírios sempre possuem aspectos muitas
vezes por nós não compreendidos, talvez por que sejamos confiantes demais achando que a nossa lucidez e certeza são reais. Nós esquecemos da dor que um sentimento pode causa, e nem estou me referindo aos bons.
E ali estou parado, aproveitando sozinha a minha humilde solidão. Nesse instante ninguém pode me abalar, meus vícios, defeitos, manias... tudo está a mostra sem qualquer tipo de julgamento apenas aquele que por mim já foi proferido. Este é o momento de maior lucidez que posso ter. A solidão é a motriz da sensatez simplesmente por não permitir que fatores esternos possam em eu gerar algum tipo de cegueira parcial. Ali eu descubro como me "alimentar"; como funciona "o médico e o monstro" Phelipe; maniqueísta ao extremo, mas seria a linha entre as extremidades sentimentais um bom clichê?Eu gosto dela, mas eu adoro o medo! Ele me faz sentir que estou pronto, que isso é essencial pra mim. Definitivamente eu só temo o que me agrada, o que pode mudar a tenuidade que se torna o dia a dia, enfim o que me faz suar frio. Isso é ótimo! Faz-me humano.
Também ando. Nesse "estado" eu não posso ser mais lúcido. O vento que sopra a minha cara faz meus olhos lacrimejarem e acabou-se aqui a nitidez do horizonte, a cada passo descubro uma nova sensação materializada em vários tons e preceitos: tem Maria; tem José; Eles sempre vão e voltam, me atacam, explodem seus sentimentos fortes o suficiente para fragmentos de suas "bombas" sentimentais me afetarem a ponto de eu querer fazer parte disso. Isso me faz feliz, traz a sensação de estar completo. Não da medo! E então surge a linha! A mesma das extremidades: ter ou não ter o medo. Eu posso escolher segui-la. Nesse exato momento eu me encontro, parado. Fixo meus olhos no fim de uma paisagem imaginária e então observo um aquário gigante onde milhares de peixes nadam como se
cumprissem os passos de um balé. Eu estico minha mão e jogo pedaços de pães, depois frutas silvestres, e nada. O balé simplesmente continua, por vez ou outra um vem e experimenta uma migalha olha em meus olhos e com um olhar me mostra que eu sou o peixe e eles o dono do aquário: ali se encontra no horizonte a indiferença pelo ser! Nesse estágio não há escolha, lucidez ou medo. É o humano primitivamente agindo como
instinto passando de caça a caçador sem se dar conta do seu papel apenas do seu objetivo maior: ter o poder da escolha!
Despedaçado e sem ter pra onde correr, pra que fugir então?
 "Eu demorei pra estar em sua casa,
De quarto em quarto, pacientemente.
Eu vou esperar por você lá, como uma pedra.
Sozinho..."