Da alma à Psicanálise

Por Paula Patrícia Santos Oliveira Martins | 21/05/2021 | Psicologia

Etimologicamente, o termo psicanálise é uma referência ao grego psyche, que significa “sopro”, mas que possui um conceito mais complexo, relacionado com as ideias do que seria o espírito e a alma. Começou a ser usada com a conotação de mente ou ego por psicólogos contemporâneos para evitar ligações com a religião e espiritualidade.

Conta-se que o termo Psicanálise (análise da alma) fora inspirado no mito de Eros (o amor) e Psiquê (a alma) que retrata a união entre o amor e a alma. Uma alegoria à imortalidade da alma que é purificada por paixões, desgraças e sofrimentos para finalmente ser aprovada, recebendo como prêmio o verdadeiro amor que é eterno, podendo assim, desfrutar da verdadeira e pura felicidade.

Assim, nasce a Psicanálise, um método desenvolvido pelo médico neurologista alemão Sigmund Freud, que utilizou o termo pela primeira vez em 1986, para nomear esta forma particular de tratamento pela fala, por analogia à análise da psiquê, tendo como foco tratar os distúrbios psíquicos a partir da investigação do inconsciente.

A Psicanálise é um viés clínico teórico que estuda o funcionamento da mente humana, para auxiliar no tratamento das alterações do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa na vida pessoal e social e, sua compreensão sobre si mesmo e suas interações com o outro. Assim, a relação entre os desejos inconscientes e os comportamentos e sentimentos vividos pelas pessoas, são o objeto direto da Psicanálise.

Sigmund Freud (1856 – 1939) considerava que grande parte dos processos psíquicos da mente humana está em estado de inconsciência, sendo estes controlados pelos desejos sexuais. Dessa forma, os impulsos, desejos, memórias e instintos recalcados estariam guardados no inconsciente do sujeito e, por meio de associações, o psicanalista analisa,  detecta e esclarece os motivos das neuroses e de certos comportamentos específicos dos pacientes.

Para isso, é necessário utilizar-se do método basilar da Psicanálise - a interpretação da transferência e da resistência com a análise da livre associação. No ambiente psicanalítico, o analisado é direcionado a falar tudo que vier à mente, de forma livre, sem metodismos, apenas como se estivesse conversando informalmente, numa postura relaxada. Todos os relatos são de interesse analítico, os sonhos, os anseios, as conquistas, os desejos, as fantasias. Assim, o analisando trará suas vivências, desde os primeiros anos de vida, perpassando por toda a sua construção identitária. Em um ambiente seguro e confortável, adotando uma postura empática e neutra, o analista usa de uma escuta apurada e desprovida de todo e qualquer julgamento, tecendo comentários, apenas quando percebe uma significativa oportunidade, para que o analisando seja cônscio dos conteúdos reprimidos que ele acabara de emergir, durante sua fala, a partir de suas associações.

A regulação da emoção, por meio da Psicanálise

É importante registrar que até o final do século XIX, a psiquiatria observava o “doente” sem escutá-lo, não se preocupava com as doenças da alma (psiquê). Levava em consideração apenas o corpo físico, ignorando totalmente o emocional. Todavia, hoje, sabe-se que regular e gerenciar as variáveis comportamentais, bem como entender os distúrbios e transtornos mentais, requer uma análise mais atenciosa sobre o indivíduo, para ajudá-lo a manter a sua saúde mental equilibrada. Muitas vezes, os sentimentos difusos geram desmotivação, ausência de objetivos pessoais, afetividade vazia e conturbada, criando perfis comportamentais apáticos, pretensos à procrastinação e significativamente descontrolado, frente às atividades cotidianas e aos pensamentos regulados. Nosso emocional desregulado culmina em conturbações, desentendimentos, depressão, angústias e descontroles, nos mais vários aspectos da vida humana.

Partindo destes pressupostos, com o advento da Psicanálise, busca-se compreender “a alma humana”, pautado nas interpretações realizadas nas explorações do inconsciente, com a ajuda da livre associação de ideias (e de emoções), por parte do analisado, conduz o individuo a encontrar suas respostas, facilitando o convívio pleno e salutar e a regulação de suas emoções e sentimentos.

O legado Psicanalítico

O inconsciente agrega todos os conteúdos que estão fora da percepção consciente. Para o pai da Psicanálise, esta instância psíquica contém informações que podem ser perturbadoras para os padrões normativos da sociedade. Por este motivo, elas encontram-se reprimidas, pois sua emersão, consciente, poderiam gerar um sofrimento psíquico devastador. Porém, embora esses conteúdos estejam fora da instância consciente, eles continuam a influenciar o comportamento e a tomada das emoções e sentimentos, causando, muitas vezes, uma desordem psicológica.

A Psicanálise fomenta a consciência ‘normativa’ de emoções e comportamentos inconscientes, permitindo que os aspectos anteriormente reprimidos interajam, conscientemente e promovam um funcionamento saudável da mente. Após as sessões psicanalíticas, os analisados podem sentir-se confortáveis ao explorar os conteúdos antes reprimidos, o que contribui para uma regulação satisfatória das suas emoções e sentimentos quanto aos traumas recalcados.

Indubitavelmente, Sigmund Freud deixou um grande legado para a humanidade, que passou a procurar entender melhor como a mente humana funciona e quais são as influências do inconsciente na vida humana. É notório que a Psicanálise mostrou ao mundo, que só se entende o adoecimento psicológico do homem se compreender o que ele reprime, inconscientemente, em sua alma psíquica.

Referenciais Bibliográficos

American Psychiatric Association (2003). DSM-IV-TR: Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artes Médicas.

BETTELHEIM, Bruno. Freud e a Alma Humana. 12. Ed. São Paulo: Cultrix, 1998.

BRENNER, Charles. Noções Básicas de Psicanálise. 3a. ed. trad. Ana M. Spira. Rio de Janeiro: Imago.1975.

Freud, Sigmund. “Obras psicológicas completas”. Edição Standart Brasileira. RJ, Imago Editora, 1976.

NASIO, J.D. O prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 1999

Psicanálise I e II – Uyratan de Carvalho – SPOB.