Da alegoria da caverna à alienação de karl marx
Por robert sodre dos santos | 13/08/2012 | FilosofiaDA ALEGORIA DA CAVERNA À ALIENAÇÃO DE KARL MARX.
¹SANTOS, R.S; ²FAGUNDES, D.O..S.
¹,² Graduando da Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas
RESUMO
A alienação encontra-se nos dias atuais em todo o lugar seja ela silenciosa ou demonstrativa, não só é um problema sério a tratar, mas também em Marx esse termo é empregado como auto alienação contida no trabalho, termo este com o qual faremos uma análise ligando a alegoria da caverna de Platão.
Palavras-chave: Platão, Alegoria, Alienação.
ABSTRACT
The sale is today all over the place either silent or demonstrative, not only is a serious problem to address, but also in Marx that term is used as self contained alienation at work, a term with which we will analyze linking the allegory of Plato's cave.
Keywords: Platão, Allegory, Alienation
1- Introdução:
Platão, em sua bela alegoria da caverna, nos deixa um exemplo explícito de alienação (uma caverna com prisioneiros acorrentados) que, por fim, poderemos fazer uma ligação ao sistema capitalista ao qual somos forçados a aderir sem mais nem menos – sem direito de escolha.
A alegoria da caverna que será destrinchada mais adiante ganhará um novo olhar acerca da alienação fazendo um paralelo com a ideia do pensador Karl Heinrich Marx, que foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna.
2- Alegoria da caverna
Platão no livro VII "A República", narra a alegoria (Mito) da caverna no qual seu pensamento é ilustrado através do mito, que serve como processo de compreensão da realidade, ou seja, descrição imaginativa do real ou ainda uma narrativa sobre a origem de alguma coisa. Platão descreve de modo metafórico o papel do conhecimento, cuja busca se dá através da filosofia.
A Alegoria é uma caverna subterrânea na qual se encontram homens acorrentados desde sua infância, acreditando que a única realidade são as sombras de objetos variados projetadas na parede. Platão usa dois personagens que dialogam entre si: Sócrates e Glauco. O segundo, seu discípulo, passa a imaginar as abstrações sugeridas por Sócrates que apresentaremos a seguir.
Imagine uma caverna subterrânea. Lá, estão homens prisioneiros, acorrentados pelas pernas e pescoço desde a sua infância. Por esta razão devem permanecer imóveis, olhando só para frente. A caverna é levemente iluminada por uma clareira. Do lado de fora, titeriteiros manipulam objetos variados que projetam nas paredes da caverna, sombras de bonecos de homens, figuras de animais feitos de pedra e outros objetos de madeiras e outros materiais variados. Ao longo de sua vida, os prisioneiros só puderam contemplar sombras projetadas nas paredes da caverna, ouvir as vozes dos homens que conversam entre si do lado de fora.
A metáfora apresentada pelo autor nos mostra que quando somos cerceados do conhecimento, nos tornamos "prisioneiros" das "verdades" imputadas a nós. A representação distorcida da realidade é absorvida pelos nossos sentidos como única realidade. A separação do homem em relação ao mundo real representa para Marx a "alienação social", um modo de estranhamento entre os homens e as coisas. Através dela, apenas a representação da realidade prevalece sobre a sua verdadeira realidade. Isso nos leva a refletir que o homem que vive das representações sociais e materiais, da ideologia, é um "prisioneiro" de uma classe manipulatória que projeta "imagens", idéias e concepções de mundo em geral, que atendam aos seus interesses.
É dada a oportunidade para que um dos prisioneiros seja libertado das correntes. Inicialmente ele sente dores no pescoço e tem que subir a longa escarpada da caverna para chegar ao lado de fora. Ao chegar do lado de fora, o primeiro impacto que o prisioneiro tem é com a luminosidade do Sol, que cega temporariamente seus olhos. Aos poucos, seus olhos se habituam a esta claridade e ele pode contemplar mais próximo da realidade objetos reais, com uma visão mais verdadeira, porém, tendo dificuldade em nomear os objetos, pois se encontra perplexo diante da contemplação mais verdadeira da realidade.
A impressão dada pelo autor nos sugere que a conquista do conhecimento nos impõe um sacrifício. Antonio Gramsci, em sua obra "Os Intelectuais e a Organização da Cultura", afirma que "estudar é um ato enfadonho, mas é o único ato que leva o homem a sua libertação". Isso significa dizer que o conhecimento nos impõe um sacrifício que, no entanto, representa a liberdade. É através do conhecimento de sua realidade e de seu mundo, que o homem faz a história e revoluciona o mundo, é sujeito da práxis. Se vigorasse um prêmio entre os prisioneiros por se distinguirem em fazer as melhores conjecturas acerca das sombras projetadas nas paredes da caverna, certamente o homem desacorrentado abriria mão desse prêmio e diria como Homero: "é preferível lavrar a terra a serviço de um homem de patrimônio ou sofrer qualquer outro destino a viver no mundo das sombras". E se tivesse que voltar ao mundo da caverna e contar aos prisioneiros o que vira, certamente seria considerado um louco e tentariam matá-lo.
Percebe-se aqui a exaltação que Platão faz ao conhecimento: à medida que o homem depara-se com a possibilidade do conhecimento, não há como retroceder ao mundo da ignorância. Conhecer é um ato permanente de descobertas, que impõe ao homem um sacrifício necessário: o trabalho. Por outro lado, a descoberta feita pelo sujeito do conhecimento é considerada loucura diante das verdades instituídas. O instituinte é transformador, o instituído é conservador.
Platão conclui: a caverna subterrânea é o mundo visível aparente. A clareira que ilumina a caverna é a luz do sol. O acorrentado que se eleva à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. "(...) é este pelo menos o meu modo de pensar, que só a divindade pode saber se é verdadeiro. Quanto a mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nas últimas fronteiras do mundo inteligível está a idéia do bem, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da Inteligência e da verdade no mundo invisível e, sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos levantados para agir com sabedoria nos negócios individuais e públicos" (p.238).
Existe nesta metáfora a ideia de conhecimento de um mundo aparente, limitado por circunstâncias materiais e sensoriais. Existe um mundo real a ser conhecido que dependerá da libertação do homem dessas circunstâncias a fim de que ele possa indagar e refletir a realidade e construir conhecimentos. Existe também um mundo inalcançável pelo homem, a essência da coisa que está na ideia e não pertence ao mundo sensível. Aqui, Platão revela o seu idealismo acerca da realidade do mundo.
3- Abordagem da alienação na alegoria de Platão
Pensemos aqui na caverna platônica, representada pela importante e desenvolvida cidade grega Atenas. Embora estivesse vivendo um processo notável de desenvolvimento econômico e agitações políticas, berço da tão combalida, mas importante democracia, também tinha em seus governantes a rigidez política. A sociedade vivendo às amarras da ignorância política e o próprio processo de exclusão, ainda recorriam aos mitos, aos ritos e, acima de tudo, aos deuses na busca pela explicação de sua própria existência.
Ilustremos aqui a sociedade ateniense representada pelos homens prisioneiros da caverna e que ao virem um de seus companheiros escapar das amarras, ficam assustados e temerários com as novas realidades por ele trazidas. Vão impiedosamente castiga-lo com a morte, não aceitam a possibilidade de haver outro mundo, outra realidade diferente da que estão há muito tempo vivendo.
A morte de Sócrates não representa tão somente a morte de um homem. Podemos dizer que tentaram matar a filosofia na sua origem, silenciando a criticidade e a visão filosófica e verdadeira do mundo.
Assim, ao falarmos da alienação, nos remetemos ao filósofo Karl Marx, que desenvolveu o conceito Hegeliano de alienação. A saber, Marx, em seus escritos, notadamente, os da juventude, identificou três tipos de alienação.
4- rês tipos de alienação
A alienação do trabalho, típica do capitalismo, em que um operário elabora um produto que será transformado em mercadoria e vendido a um consumidor anônimo, ou seja, não existe a interação entre quem produz em quem consome, mas apenas a intermediação do burguês que se apossa do dinheiro obtido com a venda da mercadoria.
Outro tipo de alienação do trabalho, em sua visão materialista, afirmou que o homem se realiza através do trabalho (que pode até mesmo ser considerado um critério para diferenciar o homem do animal).
O trabalho transforma-se apenas num meio para garantia da subsistência. Finalmente, Marx observou que as duas primeiras formas de alienação acabaram determinando a maneira como se dão as relações dos homens entre si: Elas passam a ser medidas pelo dinheiro, havendo forte tendência de se transforma toda a atividade humana em valor de troca.
Esta alienação ou estranhamento descritos por Marx nos leva à conseqüência imediata, pois a alienação do trabalho da vida genérica da humanidade é a alienação do homem pelo homem.
5- Cheque mate na alienação
"Em geral, a proposição de que o homem se tornou estranho ao seu ser, enquanto pertence a um gênero, significa que um homem permaneceu estranho a outro homem e que, igualmente, cada um deles se tornou estranho ao ser do homem". Esta alienação recíproca dos homens tem a manifestação mais tangível na relação capital - operária.
Ainda, a pensar no mito (caverna) e todos os seus desdobramentos reflexivos podemos buscar neste passado de estranhezas sociais e políticas de um
a sociedade dominada por diferentes amarras (ignorância) uma relação inequívoca com a sociedade contemporânea. Assim, como a alienação é um estado em que o indivíduo não consegue identificar-se com a realidade por ele vivida ou mesmo coloca- se (afaste-se) da realidade política e social, devemos buscar a nossa identidade enquanto ser transformador do mundo em que vivemos e compreender os meios manipuladores para podermos combatê-los.
Como dizia o próprio Marx: "a raiz do homem é o próprio homem". Logo, a sociedade individualizada construída pelo processo de produção capitalista deve ser superada e o ser valorizado coletivamente e de forma mais justa. "O indivíduo fabricado pelo capital globalizado fica reduzido à sua funcionalidade". Tem a impressão de ser livre porque não consegue reconhecer no projeto dos determinismos nascentes que exercem sobre ele a alienação que o governa e priva da sua individualidade.
6 - CONSIDERAÇÔES FINAIS
Uma vez que os prisioneiros viviam na caverna (platônica) e acreditavam numa realidade a partir de imagens projetadas na parede, verificamos de certa forma um distanciamento com o pensar crítico e com o questionamento. Viviam um mundo de valores prontos e sem a preocupação de buscar compreender o mundo exterior a eles.
De tal forma, a sociedade contemporânea vive também em tantas outras cavernas, repletas de "realidades" prontas ou projetadas por discursos ou falácias do poder hegemônico.
Assim, o poder midiático de comunicação e seus similares, formam a grande corrente colocada sobre os ombros ou mentes daqueles que também se contentam com as imagens ou informações recebidas sem a percepção crítica para compreendê-las.
Logo, o conformismo massificado contido na caverna pode ser entendido de certa forma, guardadas as devidas proporções de época, como uma extensão da alienação da sociedade aqui descrita.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
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