DA AGONIA NASCE O DESEJO

Por Cilas Emilio de Oliveira | 17/03/2016 | Poesias

Ser um colibri, uma abelha, uma borboleta, ou um pequenino ser voador, daqueles que escolhem a noite para suas revoadas, eis o que almeja uma criatura voltada à natureza, quando o aroma das flores fazem um convite à meditação. Fugir do trivial, ganhar alturas, voar, seguir os adores agradáveis das flores, quando levados pelo vento. Eis o que ocorre ao aspirante à uma vida diferente, moldada pelo raro conteúdo apreciado pelas tenras criaturas, quase imperceptíveis. Pétalas, ramos, caules e sementes, ladeados pelo regato que corre sereno e tranquilo; a benfazeja harmonia do cantar dos pássaros em árvores mais altas, tudo apontando para o belo, ao abstrato, quando tais momentos incutem uma vontade louca à abstração, o que leva um poeta a divagar sobre o abstrato, indo a fundo em suas reminiscências.
Aura matinal, quando a primeiras abelhas vêm colher o preciso néctar; quando os bicos ponteagudos dos beija-flores iniciam o retirar seu sustento, é quando inicia a agonia do inquieto ser, mergulhado no seu âmago. Do depósito sentimental retira fragmentos do passado, quando teve início seu perambular neste mundo. Foi ali que tudo começou. Amor desfeito, aflição, vida atribulada, somada à incompreensão de seus iguais, o conteúdo que vem à tona no mirar as flores, no sentir a calma da face do lago tranquilo, eis o momento de desejar que a terra desapareça de sob seus pés. Antes da calmaria do lago, o serpentear do riacho foi, como o poeta, um agitado curso, para depois desembocar num terreno cercado pela densa vegetação. É nesse instante, tendo a natureza como sua igual, que o aspirante às aventuras além terra se compara ao início do correr das águas. Sua vida, agitada desde outrora, seguiu, como as águas, um curso repletos de altos e baixos, daí a comparação.

Não pôde safar-se dos paralelos. Rios, águas, árvores, flores e pequenos seres, todos os elementos que fazem o conteúdo extenuante na alma do suposto viajor. Da abelha o beijar das flores, como o beijo dado na amada de outrora. Do colibri o embrenhar-se em em jardins desconhecidos, tal e qual sua busca da fonte do perpétuo amor. Não, não pode mais ir em frente em suas lembranças! Não resta outro afazer senão deixar o jardim florido, que se tranforma em seu martírio natural. So resta o querer, o desejar, almejando estar além, voar como pássaros a um mundo distante. Bem longe de onde sua existência o trouxe a um mundo de contrastes, tendo somente a natureza como alento às suas ambições de viajante do tempo. Um dia este ser irá também ver concretizadas suas aspirações em demanda a novos horizontes, onde o florir dos ramos, o cantar das aves e sugar das abelhas e o correr das águas, não sejam seu martírio, assim com a vivência de um poeta.