Da África ao Brasil: Sou Maculelê
Por LUCIENNE COUTINHO | 08/07/2009 | ArteDa África ao Brasil: SOU MACULELÊ
BÁRBARA DIAS DOS SANTOS *
LUCIENNE ELLEM MARTINS COUTINHO**
LUIZ THOMAZ SARMENTO CONCEIÇÃO***
RESUMO:O referido trabalho deu-se com o intuito de apreendermos a respeito de uma manifestação brasileira oriunda da Bahia, mas que foi implantada no Brasil pelos negros Africanos escravizados e exilados nesta terra, a manifestação é considerada uma dança, um jogo é o Maculelê.Como o Maculelê não é da cultura paraense era de suma importância adentrar a esse campo de forma empírica a fim de vivenciarmos os movimentos e a sensação de jogar, de dançar a referida manifestação.Entretanto para adentramos ao Maculelê procuramos fazer um percurso histórico na origem dessa manifestação, será um trajeto histórico da África até a Bahia, dissertando a respeito da influência africana na cultura, população, etnia, religião,falar-se-á da capoeira enquanto luta,dança desenvolvida pelos negros africanos até chegarmos ao Maculelê que apresentava um duplo sentido tanto para o divertimento como para protestar a situação ao qual o negro enfrentava.
Palavras – chave: África, Dança, Maculelê.
*Bárbara Dias dos Santos;**Lucienne Ellem Martins Coutinho; ***Luiz Thomaz Sarmento Conceição – Discentes da primeira turma de Licenciatura Plena em Dança da Universidade Federal, trabalho a ser apresentado como avaliação parcial da disciplina Manifestações Espetaculares Brasileiras I ministrada pelo docente Msc Éder Jastes.
MÃE ÁFRICA.
Afri era o nome de vários povos que se fixaram perto de Cartago no Norte de África. O seu nome é geralmente relacionado com os fenícios como afar, que significa "poeira",O continente africano cobre uma área de cerca de 30 milhões de quilômetros quadrados, um quinto da área terrestre da Terra, e possui mais de 50 países. Suas características geográficas são diversas e variam de tropical úmido ou floresta tropical, com chuvas de 250 a 380 centímetros a desertos. O monte Kilimanjaro (5895 metros de altitude) permanece coberto de neve durante todo o ano enquanto o Saara é o maior e mais quente deserto da Terra. A África possui uma vegetação diversa, variando de savana, arbustos de deserto e uma variedade de vegetação crescente nas montanhas bem como nas florestas tropicais e tropófilas.
DIVERSIDADE ÉTNICA
A África é o lar de inumeráveis tribos, grupos étnicos e sociais, algumas representam populações muito grandes consistindo de milhões de pessoas, outras são grupos menores de poucos milhares. Alguns países possuem mais de 20 diferentes grupos étnicos. Todas estas tribos e grupos possuem culturas que são diferentes, mas representam o mosaico da diversidade cultural africana.Estas tribos e grupos étnico/social incluem os Afar, Éwés, Amhara, Árabes, Ashantis, Bacongos, Bambaras, Bembas, Berberes, Bobo, Bubis, Bosquímanos, Chewas, Dogons, Fangs, Fons, Fulas, Hútus, Ibos, Iorubás, Kykuyus, Masais, Mandingos, Pigmeus, Samburus, Senufos, Tuaregues, Tútsis, Wolofes e Zulus.
ESCRAVIDÃO.
A escravidão africana na colônia portuguesa - Brasil teve início por volta de 1.550 quando foram desembarcados os primeiros negros em Salvador. A partir de então se tem o início do uso da mão-de-obra escrava para sustentação econômica da colônia e, por conseqüência, da metrópole Portugal. Durante, aproximadamente três séculos e meio, nas várias etapas da economia colonial (açucareira, mineira, etc.), os escravos atuaram como sustentáculos dessa sociedade, garantindo com isso a sobrevivência dos seus Senhores. E ainda, havia membros da sociedade colonial e da metrópole que obtinham grandes lucros com o tráfico negreiro.
Escravidão no Brasil
No Brasil, a escravidão teve início com a produção de açúcar na primeira metade do século XVI. Os portugueses traziam os negros africanos de suas colônias na África para utilizar como mão-de-obra escrava nos engenhos de açúcar do Nordeste. Os comerciantes de escravos portugueses vendiam os africanos como se fossem mercadorias aqui no Brasil. Os mais saudáveis chegavam a valer o dobro daqueles mais fracos ou velhos.
O transporte era feito da África para o Brasil nos porões do navios negreiros. Amontoados, em condições desumanas, muitos morriam antes de chegar ao Brasil, sendo que os corpos eram lançados ao mar.
Nas fazendas de açúcar ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), os escravos eram tratados da pior forma possível. Trabalhavam muito (de sol a sol), recebendo apenas trapos de roupa e uma alimentação de péssima qualidade. Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentados para evitar fugas. Eram constantemente castigados fisicamente, sendo que o açoite era a punição mais comum no Brasil Colônia.
Eram proibidos de praticar sua religião de origem africana ou de realizar suas festas e rituais africanos. Tinham que seguir a religião católica, imposta pelos senhores de engenho, adotar a língua portuguesa na comunicação. Mesmo com todas as imposições e restrições, não deixaram a cultura africana se apagar. Escondidos, realizavam seus rituais, praticavam suas festas, mantiveram suas representações artísticas e até desenvolveram uma forma de luta: a capoeira.
As mulheres negras também sofreram muito com a escravidão, embora os senhores de engenho utilizassem esta mão-de-obra, principalmente, para trabalhos domésticos. Cozinheiras, arrumadeiras e até mesmo amas de leite foram comuns naqueles tempos da colônia.
No Século do Ouro (XVIII) alguns escravos conseguiam comprar sua liberdade após adquirirem a carta de alforria. Juntando alguns "trocados" durante toda a vida, conseguiam tornar-se livres. Porém, as poucas oportunidades e o preconceito das sociedades acabavam fechando as portas para estas pessoas.
O negro também reagiu à escravidão, buscando uma vida digna. Foram comuns as revoltas nas fazendas em que grupos de escravos fugiam, formando nas florestas os famosos quilombos. Estes,eram comunidades bem organizadas, onde os integrantes viviam em liberdade, através de uma organização comunitária aos moldes do que existia na África. Nos quilombos, podiam praticar sua cultura, falar sua língua e exercer seus rituais religiosos. O mais famoso foi o Quilombo de Palmares, comandado por Zumbi.
DA ÀFRICA AO BRAIL,MAIS ESPECIFICAMENTE NA BAHIA.
BAHIA.
É o estado brasileiro com maior número relativo de negros e mulatos e o que possui maior influência da cultura africana: a música, culinária, religião e o modo de vida de sua população apresentam grande contribuição dos escravos africanos.Foi na Bahia, na região de Porto Seguro e Santa Cruz de Cabrália, que a frota de Pedro Álvares Cabral chegou, em 1500, marcando o descobrimento do Brasil. Em 1º de novembro de 1501, o navegante genovês Américo Vespúcio descobriu a baía de Todos os Santos. A povoação formada nessas margens tornou-se a primeira sede do governo-geral, com Tomé de Sousa chegando em 1549 para ocupar o cargo.
Com a miscigenação das culturas, hoje o Brasil é um país que possui uma diversidade cultural imensa, com uma forte presença negra. O estado brasileiro que possui a maior influência daqueles vindos da África é a Bahia. A Bahia apresenta os traços africanos desde a religião (candomblé), a vestimenta do povo mais tradicional, até a culinária exótica e a capoeira. Até mesmo as músicas com forte presença de percussão vêm de influencia da África. Abaixo uma síntese da influência africana na música, culinária, religião, e na capoeira.
A música:
Nas últimas décadas, a Bahia tem sido um verdadeiro celeiro musical. Surgiram muitos artistas (músicos, instrumentistas, cantores, compositores e intérpretes) de grande influência no cenário musical nacional e internacional. Tendo a maior cidade das Américas durante muitos séculos, sua capital foi local dos nascimentos, a partir da influência africana, do samba de roda, seu filho samba, o lundu e outros tantos ritmos, movidos por atabaques, berimbaus, marimbas - espalhando-se pelo resto do Brasil, e ganhando o mundo.
A Culinária:
Do Candomblé ou do tabuleiro da Baiana brotam o acarajé, o abará, o vatapá e tantos pratos temperados pelo azeite de dendê, festejando aos santos, como o caruru ou festejando a vida, como a moqueca, a Bahia tem sempre um quindim a despertar o paladar.
A Religião
O catolicismo é a religião dominante no estado, e também a primeira forma organizada de culto que se introduziu no país, desde a celebração da primeira missa no Brasil. Em Salvador foi erguida a primeira igreja em solo brasileiro, graças à Catarina Paraguaçu, onde hoje é o bairro da Graça. A capital baiana possui centenas de templos católicos, sendo a cidade a sede do governo católico no país, morada do Arcebispo Primaz. O padroeiro do estado é Senhor do Bonfim, cujo templo é alvo de adoração. Possui ainda centro de peregrinação de Bom Jesus da Lapa, alvo de romarias anuais. Possui ainda a Arquidiocese de Vitória da Conquista. Ressalta dentro do catolicismo as figuras das freiras Joana Angélica e Irmã Dulce.
O sincretismo, entretanto, com as religiões de origem africana, que na Bahia mais que em qualquer outra parte do país se mantiveram vivas, veio a misturar o candomblé com o catolicismo (como a Irmandade da Boa Morte e a Irmandade dos Homens Pretos) e outras variantes cristãs. Surgiu ali, então, religiões mistas, como o Cabula(é o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma religião sincrética que passou a ser conhecida no final do século XIX com o fim da escravidão, com caráter secreto e fundo religioso, é também o nome de um bairro de Salvador que teve origem do Quilombo do Cabula e de um ritmo da Diáspora musical africana no Brasil, toque de percussão religioso de Angola, base rítmica do samba, música de origem sudanesa) e a Umbanda (é uma religião formada dentro da cultura religiosa brasileira que sincretiza elementos vários, inclusive de outras religiões como o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro-brasileiras. Os conceitos aqui relatados podem diferir em alguns tópicos por se tratar de uma visão generalista e enciclopédica. Por se tratar de um conjunto religioso com várias ramificações, as informações aqui expostas buscam informar aos leitores da forma mais abrangente possível e sem discriminação ou preconceitos, pois todas as "Umbandas" têm suas razões de existir e de serem cultuadas). Sobressai, neste campo, a figura cultuada de Mãe Menininha do Gantois, e os terreiros como o Opo Afonjá, além de toda uma cultura que permeia as crenças do povo baiano.
Desde o início do século XX que a Bahia é palco de missões evangélicas protestantes, que redundaram na capital na fundação do Colégio Dois de Julho, e na presença de missionários como Henry John McCall. Hoje todo o estado testemunha o crescimento das múltiplas denominações cristãs.
A Capoeira.
A capoeira é uma expressão cultural Afro-brasileira que mistura luta, dança, cultura popular, música. Desenvolvida no Brasil por escravos africanos e seus descendentes, é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando os pés, as mãos, a cabeça, os joelhos, cotovelos, elementos ginástico-acrobáticos, e golpes desferidos com bastões e facões, estes últimos provenientes do Maculelê. Uma característica que a distingue da maioria das outras artes marciais é o fato de ser acompanhada por música.
A palavra capoeira tem alguns significados, um dos quais refere-se às áreas de mata rasteira do interior do Brasil. Foi sugerido que a capoeira obtivesse o nome a partir dos locais que cercavam as grandes propriedades rurais de base escravocrata. Também, a palavra Tupi-Guarani "capuera" significava "Mata destruida pela mão de homem e renascida, não virgem".
Durante o século XVI, Portugal enviou escravos para o Brasil, provenientes da África Ocidental. O Brasil foi o maior receptor da migração de escravos, com 42% de todos os escravos enviados através do Oceano Atlântico. Os seguintes povos foram os que mais frequentemente eram vendidos no Brasil: grupo sudanês, composto principalmente pelos povos Iorubá e Daomé, o grupo guineo-sudanês dos povos Malesi e Hausa, e o grupo banto (incluindo os kongos, os Kimbundos e os Kasanjes) de Angola, Congo e Moçambique.
Os negros trouxeram consigo para o América "o novo mundo" as suas tradições culturais e religião. A homogeneização dos povos africanos e seus descendentes no Brasil sob a opressão da escravatura foi o catalisador da capoeira. A capoeira foi desenvolvida pelos escravos do Brasil, como forma de elevar a sua moral, transmitir a sua cultura e principalmente como forma de resistir aos seus escravizadores, geralmente era praticada nas senzalas onde os escravos ficavam acorrentados pelos braços, o que explica o fato de a maioria dos golpes serem desferidos com os pés, foi também muito praticada nos quilombos, onde os escravos fugitivos tinham liberdade para expressar sua cultura.
Todas as culturas têm algum tipo de manifestação rítmica e/ou expressiva. No Brasil existe uma riqueza muito grande dessas manifestações. Danças trazidas pelos africanos na colonização, danças relativas aos mais diversos rituais, danças que os imigrantes trouxeram em sua bagagem, danças que foram aprendidas com vizinhos de fronteira, danças que se vêem pela televisão (BRASIL apud JANNUZZI,1997, p. 39).
Há relatos de historiadores de que Zumbi dos Palmares e seus quilombolas comandados, só conseguiram defender o Quilombo dos Palmares dos ataques das tropas coloniais, porque eram exímios capoeiristas, mesmo possuindo material bélico muito aquém dos utilizados pelas tropas coloniais e geralmente combatendo em menor número, resistiram a pelo menos vinte e quatro ataques de grupos com até três mil integrantes, comandados por capitães-do-mato, e foram necessários dezoito grandes ataques de tropas militares ao Quilombo dos Palmares para derrotar os quilombolas, soldados de Portugal relatavam ser necessários mais de um dragão (militar) para capturar um quilombola, porque se defendiam com estranha técnica de ginga, pernas, cabeça e braços, muitos comandantes de tropa portugueses e até um governador-geral, consideraram ser mais dificil derrotar os quilombolas do que os holandeses. Há registros da prática da capoeira nos séculos XVIII e XIX nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro, e Recife, porém durante anos a capoeira foi considerada subversiva, sua prática era proibida e duramente reprimida. Devido a essa repressão, a capoeira praticamente se extinguiu no Rio de Janeiro, onde os grupos de capoeiristas eram conhecidos como maltas, e em Recife, onde segundo alguns a capoeira deu origem à dança do frevo, conhecida como o passo.
Em 1932, Mestre Bimba fundou a primeira academia de capoeira do Brasil em Salvador. Mestre Bimba acrescentou movimentos de artes marciais e desenvolveu um treinamento sistemático para a capoeira, estilo que passou a ser conhecido como Regional. Em contraponto, Mestre Pastinha pregava a tradição da capoeira com um jogo matreiro, de disfarce e ludibriação, estilo que passou a ser conhecido como Angola. Da dedicação desses dois grandes mestres, a capoeira deixou de ser marginalizada, e se espalhou da Bahia para todos os estados brasileiros.
No vídeo de B. M. Farias "Relíquias da Capoeira - Depoimento do Mestre Bimba", o próprio Manuel dos Reis Machado, criador da capoeira regional, comenta sobre os motivos que o fizeram se mudar para Goiânia.Depois, em uma reunião de especialistas em capoeira no Rio de Janeiro, entendidos explicam mais sobre o nome do esporte, sobre a criação da capoeira de Angola e falam mais sobre esse lendário personagem chamado Mestre Bimba. A palavra capoeira quer dizer:Capo:mato Eira:cortado.
Capoeira Angola
- Mestre Pastinha (fundou a primeira escola de capoeira legalizada pelo governo baiano)
- Mestre João Pequeno (aluno de Pastinha é o mais velho e importante mestre da Capoeira Angola em atividade)
Capoeira regional
- Mestre Bimba criador da capoeira regional e benguela
- Mestre Eziquiel aluno de Bimba, divulgou a capoeira pelo mundo e foi um de seus maiores cantadores e compositores
Música
A música é um componente fundamental da capoeira. Foi introduzida como forma de ludibriar os escravizadores, fazendo-os acreditar que os escravos estavam dançando e cantando, quando na verdade também estavam treinando golpes para se defenderem. Ela determina o ritmo e o estilo do jogo que é jogado durante a roda de capoeira.
A música é composta de instrumentos e de canções, podendo o ritmo variar de acordo com o Toque de Capoeira de bem lento (Angola) a bastante acelerado (São Bento Grande). Muitas canções são na forma de pequenas estrofes intercaladas por um refrão, enquanto outras vêm na forma de longas narrativas (ladainhas). As canções de capoeira têm assuntos dos mais variados. Algumas canções são sobre histórias de capoeiristas famosos, outras podem falar do cotidiano de uma lavadeira. Algumas canções são sobre o que está acontecendo na roda de capoeira, outras sobre a vida ou um amor perdido, e outras ainda são alegres e falam de coisas tolas, cantadas apenas para se divertir.
Os capoeiristas mudam o estilo das canções freqüentemente de acordo com o ritmo do berimbau. Desta maneira, é na verdade a música que comanda a capoeira, e não só no ritmo mas também no conteúdo. O toque Cavalaria era usado para avisar os integrantes da roda que a polícia estava chegando; por sua vez, a letra é constantemente usada para passar mensagens para um dos capoeiristas, na maioria das vezes de maneira velada e sutil.
Os instrumentos são tocados numa linha chamada bateria. O principal instrumento é o berimbau, que é feito de um bastão de madeira envergado por um cabo de aço em forma de arco e uma cabaça usada como caixa de reverberação. O berimbau varia de afinação, podendo ser o Berimbau Gunga (mais grave), Médio (médio) e viola (mais agudo). Os outros instrumentos são: pandeiro, atabaque, caxixi e com menos freqüência o ganzá e o agogô.
Toques de capoeira.
Os diferentes ritmos utilizados na capoeira, como tocados no berimbau, são conhecidos como toques; estes são alguns dos toques mais comumente utilizados:
- Angola
- São Bento Grande de Bimba
- São Bento Grande de Angola
- São Bento Pequeno
- Iúna
- Cavalaria
- Samango
- Santa Maria
- Benguela
- Amazonas
- Idalina
- Regional de Bimba
A dança na capoeira
"Segundo Adorno (1999) a expressão corporal nos ensina há milênios uma linguagem sem palavras que permite a comunicação, estabelece a fraternidade nos gestos comuns, a dança revela os sentimentos e evidencia idéias"(apud JANNUZZI,2007,p.45).Assim se serviam os escravos,protestavam e reivindicavam seus direitos e deveres,na revolta expressavam a linguagem corporal,buscavam assim a afirmação cultural em suas danças. "As danças afro-brasileiras permanecem acopladas na pluralidade da capoeira, estas que serviram como pilar de sustentação, camuflando a luta libertina e enganando a sociedade feudal" (idem). As danças eram feitas com um duplo caráter como a capoeira, tanto para protestar como divertimento, em momentos de festas, citamos como exemplo: o maculelê, a puxada de rede, a dança guerreira,dança do fogo, samba de roda ou umbigada, frevo ou passo.etc.
Roda de capoeira regional.
Os capoeiristas se perfilam na roda de capoeira batendo palma no ritmo do berimbau e cantando a música enquanto dois capoeiristas jogam capoeira. O jogo entre dois capoeiristas pode terminar ao comando do capoeirista no berimbau ou quando algum capoeirista da roda entra entre os dois e inicia um novo jogo com um deles.
Em geral a capoeira não busca destruir o oponente, porém contusões devido a combates mais agressivos não são raras. Entretanto, de maneira geral o capoerista prefere mostrar sua superioridade "marcando" o golpe no oponente sem no entanto completá-lo. Se o seu oponente não pode evitar um ataque lento, não existe razão para utilizar um golpe mais rápido.
A ginga é o movimento básico da capoeira, é um movimento de pernas no ritmo do toque que lembra uma dança, porém capoeristas experientes raramente ficam gingando pois estão constantemente atacando, defendendo, e "floreando" (movimentos acrobáticos). Além da ginga são muito comuns os chutes em rotação, rasteiras, golpes com as mãos, cabeçadas, esquivas, saltos, mortais, giros apoiados nas mãos e na cabeça, movimentos acrobáticos e de grande elasticidade e movimentos próximos ao solo.
Estilos de capoeira
Angola.
A Angola é o estilo mais próximo de como os negros escravos jogavam a Capoeira,caracterizada por ser mais lenta, porém rápida, movimentos furtivos executados perto do solo, como em cima, ela enfatiza as tradições da Capoeira, que em sua raiz está ligada aos rituais afro-brasileiros, caracterizado pelo Candomblé, sua música é cadenciada, orgânica e ritualizada, e o correto é estar sempre acompanhada por uma bateria completa de 08 instrumentos.
A designação "Angola" aparece com os negros que vinham para o Brasil oriundos da África, embarcados no Porto de Luanda que, independente de sua origem, eram designados na chegada ao Brasil de "Negros de Angola", vide ABC da Capoeira Angola escrito pelo Mestre Noronha quando ele cita o Centro de Capoeira Angola Conceição da Praia, criado pela nata da capoeiragem baiana no início dos anos 1920. Mestre Pastinha (Vicente Ferrera Pastinha) foi o grande ícone do estilo. Grande defensor da preservação da Capoeira Angola, inaugurou em 23 de fevereiro de 1941 o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA). Dos ensinamentos do Mestre Pastinha foram formados grandes mestres da capoeiragem Angola, a exemplo dos Mestres: João Pequeno, João Grande, Valdomiro Malvadeza, Albertino da Hora, Raimundo Natividade, Gaguinho Moreno, 45, Pessoa Bá-Bá-Bá, Trovoada, Bola Sete, dentre outros que continuam transmitindo seus conhecimentos para os novos angoleiros, como Mestre Morais.
É comum a primeira vista ver o jogo de Angola como não perigoso ou não elaborado, contudo o jogo Angola se assemelha ao xadrez pela complexidade dos elementos envolvidos. Por ter uma sistemática estruturada em rituais de aprendizado completamente diferentes da Regional, seu domínio é muito mais complicado, envolvendo não só a parte mecânica do jogo mas também características como sutileza, o subterfúgio, a dissimulação, a teatralização, a mandinga e/ou mesmo a brincadeira para superar o oponente. Um jogo de Angola pode ser tão ou mais perigoso do que um jogo de Regional.
Regional
A capoeira regional foi criada por Mestre Bimba (em Manuel dos Reis Machado, 1900-1974),Bimba criou sequências de ensino e metodizou o ensino de capoeira. Inicialmente, Bimba chamou sua capoeira de "Luta regional baiana", de onde surgiu o nome regional.
Manoel dos Reis Machado, conhecido por ser um habilidoso lutador nos ringues, e inclusive, ser um exímio praticante da capoeira Angola, procurou fazer com que a capoeira tivesse uma maior força como luta e fez isto incorporando a ela novos golpes. Um fato que é conhecido, é de que Bimba teria incorporado golpes do batuque, uma luta já extinta, que era rica em golpes traumáticos e desequilibrantes. Inclusive, sabe-se que o pai de Mestre Bimba era praticante desta luta.
Há muita discussão também sobre se Bimba teria ou não absorvido golpes de outras lutas, como judô, o jiu-jitsu, a luta livre e o savate, luta de origem francesa, para compor sua capoeira Regional. Entre os velhos mestres, essa é a opinião vigente, mas, apesar disso, eles não acham que este fato seja negativo ou descaracterizador.
A Regional surgiu por volta de 1930. Mas Mestre Bimba se preocupou não só em fazer com que a capoeira fosse reconhecida como luta, ele também criou o primeiro método de ensino da capoeira, as "sequências de ensino" que auxiliavam o aluno a desenvolver os movimentos fundamentais da capoeira.
Em 1932, foi fundada por Mestre Bimba a primeira academia de capoeira registrada oficialmente, em Salvador, com o nome de "Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia".
Das muitas apresentações que Mestre Bimba fez, talvez a mais conhecida tenha sido a ocorrida em 1953, para o então presidente Getúlio Vargas, ocasião em que teria ouvido do presidente: "A capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional."
Na academia de Mestre Bimba, a rigorosa disciplina que vigorava determinava três níveis hierárquicos: "calouro", "formado" e "formado especializado". Uma das maiores honras para um discípulo era poder jogar Iúna, isto é, jogar na roda de capoeira ao som do toque denominado Iúna, executado pelo berimbau. O jogo de Iúna tinha a função simbólica de promover a demarcação do grupo dos formados para o grupo dos calouros. A única peculiaridade técnica do jogo de Iúna em relação aos jogos realizados em outros momentos no ritual da roda de capoeira era a obrigatoriedade da aplicação de um golpe ligado no desenrolar do jogo, além do fato de destacar-se pela maior habilidade dos capoeiristas que o executavam. O jogo de Iúna era praticado apenas ao som do berimbau, sem palmas ou outros instrumentos o que reforçava seu caráter solene. Ao final de cada jogo, todos os participantes aplaudiam os capoeiristas que saíam da roda.
A Regional é mais recente, com elementos fortes de artes-marciais em seu jogo. A Regional (Luta Regional Baiana) tornou-se rapidamente popular, levando a Capoeira ao grande público e mudando a imagem do capoeirista tido no Brasil até então como um marginal. Seu jogo é mais rápido, mas também existem jogos mais lentos e compassados. Apesar do que muitos pensam, na capoeira regional não são utilizados saltos mortais, pois um dos fundamentos da capoeira regional, segundo Mestre Bimba é manter no mínimo uma base ao solo (um dos pés ou uma das mãos). O forte da capoeira regional são as quedas, rasteiras, cabeçadas.
Em toques rápidos como São Bento Grande de Bimba se faz um jogo mais rápido, porém sempre com manobras de ataque e defesa (importante ressaltar que todos os golpes devem ter objetivo), mas sempre respeitando o camarada vencido (parar o golpe se perceber que ele machucará o parceiro, mostrando assim sua superioridade e humildade diante do camarada). Ambos os estilos são marcados pelo uso de dissimulação e subterfúgio - a famosa mandinga - e são bastante ativos no chão, sendo frequentes as rasteiras, pontapés, chapas e cabeçadas.
Tipos de capoeira existem apenas dois a capoeira angola (que é composta pelo jogo de angola, são bento pequeno de angola e são bento grande de angola) e a capoeira regional (que é composta pela benguela a regional e a iuna), o que muda não é o tipo de capoeira, mas sim o jeito de se expressar.
Golpes e movimentos da capoeira regional
Embora os nomes dos golpes de capoeira variem de grupo para grupo, alguns dos principais são:
- Armada
- Aú
- Baiana
- Banda
- Benção
- Bote Lampejo
- Cabeçada
- Chapa
- Galopante
- Macaco
- Martelo
- Martelo Cruzado
- Meia-lua
- Meia-lua de compasso
- Meia-lua de frente
- Pisão
- Ponteira
- Queixada
- Rabo-de-arraia
- Rasteira
- Ponte
- Trança
- Giro de mão
- Quebra de rins
- Esquiva
- Esquiva com rolê
- Giro de cabeça
- Ginga
MACULELÊ.
Era em Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano, que se dançava o Maculelê, dentro das celebrações profanas locais, comemorativas do dia de Nossa Senhora da Purificação (2/Fev.), a santa padroeira da cidade. No restante do estado da Bahia, desconhecia-se o folguedo. Folguedo popular do recôncavo baiano, misto de dança guerreira ou jogo de bastões e grimas, remanescentes dos antigos cucumbis. O nome deriva provavelmente do quicongo makélelè "barulho", "algazarra" "vozearia", "tumulto". Essa manifestação de forte expressão dramática, ponto alto dos folguedos populares, destinava-se a participantes do sexo masculino que dançavam em grupo, os figurantes batem o bastão uns contra os outros em compasso binário, executando passos de capoeira e samba, e entoam canções cujos textos fazem referência expressa a localidades históricas do contexto angolano como Cabinda, Quibala, Luanda etc. "Nós somos pretos da Cabinda de Luanda/Nós somos pretos do soba de Quibala", diz uma delas. Originalmente, o Maculelê era coreografado em círculo, com uma dupla de participantes dançando no centro, comandada pelo mestre.
Atualmente,
adaptou-se a dança para exibições folclóricas. O Maculelê passou a
ser coreografado com uma entrada em fila indiana e com os figurantes
fazendo evoluções em duplas. Dentre todos os folguedos existentes em
Santo Amaro, cidade marcada pelo verde dos canaviais, o Maculelê era o mais rico
em cores. Seu ritmo vibrantecontagiavaa todos.
De impressionante efeito
plástico, o Maculelê pode ser coreografado com bastões, facões ou até com
bastões terminando em chamas. Os participantes se apresentam com vistosas
fantasias e pinturas pelo corpo, inspiradas nas tribos africanas. A fantasia do
Maculelê conta de uma espécie de sarongue feito com um tipo de
"palha", ao centro, participantes se apresentam com os rostos
cobertos pelo mesmo material.
Com os troncos nus, os figurantes do Maculelê ganham maior amplitude de movimentos para a prática da dança. Há quem diga que o Maculelê era um divertimento que os escravos praticavam nas senzalas, mas na verdade, são contraditórias e pouco esclarecidas suas origens.
Tem-se como um ato popular de origem africana que teria florescido no século XVIII nos canaviais santo-amarense e que se integrara, há mais de duzentos anos, nas comemorações daquela cidade.
Um dos seus
registros mais significativos consta de nota fúnebre publicada pelo jornal
"O Popular" (10/Dez/1873), que circulava em Santo Amaro:
"Faleceu no dia primeiro de dezembro a africana Raimunda Quitéria, com a
idade de 110 anos. Apesar da idade, ainda capinava e varria o adro (terreno em
volta) da igreja da Purificação, para asfoliasdoMaculelê.
No início deste século, com a
morte dos grandes mestres de Maculelê daquela cidade, o folguedo começou a
desaparecer, deixando de constar, por muitos anos, das festas da padroeira. Em
1943, outro mestre, Paulino Aluísio de Andrade, conhecido como Popó do Maculelê
e considerado como "pai do Maculelê, no Brasil", reuniu parentes e
amigos para ensiná-los a dançar, com base nas suas lembranças, pretendendo
incluí-lo novamente nos festejos religiosos locais. Seu grupo passou a ser
conhecido como "Conjunto de Maculelê de Santo Amaro".
A respeito, a pesquisadora Hildegardes Vianna,chama à atenção para uma remota referência quanto a existência de "uma dança esquisita de gente preta da roça, que aparecia nos festejos de N. S. da Purificação".
Entretanto,
é através dos estudos de Manoel Querino (1851-1923) que se encontram indicações
de tratar-se o Maculelê de um fragmento de Cucumbi, uma dança dramática em que
os negros batiam pedaços roliços de madeira, acompanhados por cantos. Em seu
"Dicionário de Folclore Brasileiro", Luís da Câmara Cascudo aponta a
semelhança do Maculelê com os Congos e Moçambiques. Emília Biancardi escreveu
um livro de título "Olelê Maculelê", considerado como um dos estudos
mais completos sobre o assunto.
Os exemplos acima citados já
servem para demonstrar o grau de incerteza que persiste com relação às
possíveis interpretações sobre os primórdios do Maculelê. Mesmo considerando
que já não vivem os praticantes primitivos dessa dança, devem por certo existir
ainda valiosos documentos inéditos com dados esclarecedores, para subsidiar
elaboração de hipóteses mais consistentes a respeito dessa manifestação, tão
pouco estudada nos dias de hoje.
METODOLOGIA
Buscamos por meio da Pesquisa Bibliográfica levantarmos informações a respeito do desenvolvimento do maculelê em Belém e como ela surgiu no Brasil, mais especificamente na Bahia, e principalmente objetivávamos experienciar tal manifestação e tentar entender o sentimento que perpassa a prática do maculelê agora em pleno século XXI e vivenciar um pouco da sensação daqueles negros ao praticarem essa dança.
Procuramos fazer um estudo de caso por ser uma abordagem "que considera qualquer unidade social como um todo. Quase sempre esta abordagem inclui o desenvolvimento dessa unidade... um conjunto de relações ou processo... ou mesmo toda uma cultura (PÁDUA, 2004, p.74). Principalmente por ser uma tentativa de abranger as características mais importantes do tema que se está pesquisando, assim como seu processo de desenvolvimento.
Nesse estudo nosso objetivo foi entender como se dava a difusão da dança,como se estruturava coreograficamente,experienciar a sensação dessa dança enquanto uma expressão cultural de cunho étnico. Portanto, nossa técnica de coleta de dados foi a observação e prática, ou seja, observávamos o processo de ensino-aprendizagem da dança concomitante praticávamos essa dança.
Como difusão do resultado obtido da prática vivenciada ministrar-se-á uma aula com a introdução da capoeira e posteriormente do Maculelê, com o objetivo de possibilitar a experimentação dessa manifestação por parte de nossos colegas de classe e demais indivíduos.
RESULTADOS.
Em relação a bibliografia não encontramos nenhum material que falasse especificamente do maculelê,resolvemos então fazer uma pesquisa e conseguir angariar então artigos e mesmo assim encontrávamos apenas enciclopédias ou alguns parágrafos em livros.Foi então que utilizamos mais o acesso a materiais on-line para fazer a nossa base teórica.Já a prática foi realizada em uma escola com um professor de capoeira.
Nossa prática deu-se com o Professor Fábio que ministra capoeira no Colégio Moderno, com ele nós praticamos a capoeira regional aprendemos as movimentações e fomos introduzidas no maculelê, o impressionante em relação a prática dessa manifestação é a energia que envolve a kinesfera ao redor dos praticantes,foi muito maravilhoso experienciar essa prática,nós nos sentíamos os verdadeiros negros dançando.E como se dá a dança?
A dança se dar em círculo com todos os integrantes da roda com um bastão em cada mão, e o início da dança é ditada pelo toque do atabaque que soa como se fosse abrir o "ritual" do maculelê, a entrada na roda não se dá de qualquer jeito para se adentrar no círculo deve-se sair sempre em dupla e um de cada lado do atabaque e o toque das canções é em compasso binário, e mediante a difusão da música os participantes vão para o centro da roda e começam a "jogar" no ritmo da música na qual se ginga em dois tempos e batem-se os bastões em dois, um tempo o participante bate em seu próprio bastão e no segundo bate no bastão de quem estiver dividindo o centro do círculo, e a partir daí é só acrescentar giros, caminhadas, batidas no chão. Os textos das músicas são vários uma das mais conhecidas tem o seguinte refrão: "sou eu, sou eu, sou maculelê, sou eu...". A dança termina quando todos os participantes já se encontraram em dupla e dançaram ao centro do círculo e quem dá a batida para terminar é o tocador do atabaque e assim termina mais uma mostra performática.
Quando nós o indagamos a respeito da verdadeira história do maculelê Fábio nos ratificou que não há, o que há apenas suposições em relação a origem do maculelê nos falou também que deveríamos elencar qual história mais acreditássemos para colocarmos em nosso trabalho, foi então o que fizemos ,de todas as histórias que encontramos decidimos por escolher aquela que apresentava um cunho histórico mais "verdadeiro".
Como nosso objetivo era sentir e experienciar a sensação de praticar essa manifestação, foi o que fizemos praticamos e ainda estamos praticando tanto a capoeira quanto o maculelê e a partir dessa "experimentação" o resultado do que apreendemos e aprendemos será difundido em uma aula a ser ministrada em classe para nossos colegas e demais integrantes de curso técnico de dança.
O que podemos concluir a respeito dessa experiência é que as manifestações são muito ricas em conhecimento e podem contribuir com sensações diferentes e diversificadas, sobretudo no que tange a relação com o outro, uma relação de reciprocidade, de energia, de vínculo, de percepção visual, corporal, de confiança principalmente, em interagir com o outro através da linguagem corporal.
ILUSTRAÇÕES FOTOS ENUMERADAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
JANNUZZI, Luciano. Nas voltas que o mundo deu, nas voltas que o mundo dá. Capoeira. Espírito Santo do Pinhal: UNIPINHAL, 2007.45 p.
NEI, Lopes. ENCICLOPÉDIA BRASILEIRA DA DIÁSPORA AFRICANA./NEI LOPES. SÃO PAULO: ed. SELO NEGRO, 2004.p.405.
PÁDUA, Elisabete Matallo Machessini de.Metodologia da Pesquisa- Abordagem teórico-prático.Campinas, 13º ed.Papirus ,2004.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Capoeira
http://images.google.com.br/images?(imagens)
Revista Capoeira nº 3.