Cursos de cidadania e autoconhecimento oferecidos aos funcionários públicos numa escola profissionalizante
Por Marcelo Leandro de Campos | 23/11/2010 | EducaçãoCursos de cidadania e autoconhecimento oferecidos aos funcionários públicos numa escola profissionalizante
Citizenship courses and self-knowledge offered to public servants in a vocational training school
CAMPOS, Marcelo L. Graduando do Curso de História ? PUC Campinas
e-mail: mlcampos_2005@hotmail.com
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Resumo
Apresentação dos cursos voltados à cidadania e qualidade de vida; breve descrição dos treinamentos e análise dos resultados à luz das idéias de Vygotsky e Wallon.
Palavras-chave: cidadania, autoconhecimento, desenvolvimento interior.
Abstract
Presentation of the courses on citizenship and self-knowledge developed by the Human Resources Service of the one municipality, brief description of the training and analysis of results in light of the ideas of Vygotsky and Wallon.
Keywords: citizenship, self-knowledge, inner development.
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Introdução
O objetivo deste trabalho é relatar os treinamentos observados durante a prática de ensino numa escola profissionalizante que atende servidores da Prefeitura Municipal de Campinas; o método empregado para coleta de dados foi o acompanhamento de algumas aulas e a realização de entrevistas com professores e alunos.
O programa de ensino profissionalizante voltado aos servidores da Prefeitura de Campinas foi criado basicamente para atender às demandas da modernização da máquina administrativa e permitir o aumento da eficiência; os primeiro programas, criados no início da década de 90, destinavam-se à alfabetização dos servidores e supletivos de 1º. Grau; na população de servidores com idade entre 40 e 50 anos observa-se um quadro de alto grau de evasão nos primeiros anos de formação escolar; levantamento realizado entre funcionários do Departamento de Parques e Jardins na faixa etária citada revelou que haviam em média freqüentado a escola por quatro anos. Os motivos mais freqüentes de abandono escolar alegados são a repetência e a necessidade de trabalhar; as duas dinâmicas de exclusão apontadas por Dubet (2003): a exclusão social produzindo exclusão escolar, por um lado, e os processos de seleção escolar reproduzindo as desigualdades sociais por outro. Em seguida o treinamento priorizou a inserção digital e o ensino de noções básicas de informática. Mais tarde o treinamento se aperfeiçoou e passou a priorizar outros programas; dois deles são particularmente interessantes:
Programa de Cidadania: parte da percepção de que os serviços públicos municipais são importantes ferramentas de inclusão social e que a conscientização dos servidores envolvidos nestes serviços é indispensável para promover a cidadania. Os servidores de todas as áreas que envolvem atendimento ao cidadão (educação, saúde, serviços públicos, segurança) são orientados sobre as demandas específicas de públicos como idosos, jovens e crianças em situação de vulnerabilidade social, minorias raciais, minorias de gênero e pessoas com necessidades especiais. O treinamento envolve conceitos de inclusão social, respeito à diversidade e reflexões sobre preconceitos e discriminação, além de conhecimento da legislação recente sobre o assunto. Espera-se que, além de promover estes valores em seu ambiente de trabalho, os servidores transformem-se em multiplicadores dos mesmos. O programa foi proposto para reverter um quadro cada vez mais preocupante de queixas de usuários de serviços públicos de discriminação (racial e de gênero, sobretudo) praticada por servidores públicos; as queixas mais constantes eram referentes a grupos sociais como afrodescendentes e homossexuais. O trabalho gira em torno de reflexões positivas sobre diferenças culturais e diversidade em geral; uma das analogias propostas como exercício de reflexão é a dos dedos da mão: são todos diferentes uns dos outros, mas articulam-se perfeitamente e são indispensáveis para as funções executadas pela mão.
Programa de Qualidade de Vida: trabalha a esfera de autoconhecimento e estimula mudanças comportamentais; dá subsídios que permitem ao aluno refletir sobre suas dificuldades emocionais e de relacionamento com outras pessoas e construir um novo imaginário de valores que estimulem a motivação e o desenvolvimento interior. O treinamento envolve técnicas de Gestalt, uma escola de psicologia que dá grande ênfase ao processo de interpretação de tudo que é percebido pelos sentidos, e cujos resultados podem ser analisados à luz das idéias de Vygotsky (OLIVEIRA, 1992) sobre a formação da linguagem simbólica, a dinâmica entre pensamento e linguagem que dá origem aos conceitos, base cultural onde a pessoa alicerça seu comportamento.
Alguns treinamentos focados em autoconhecimento estimulam atividades lúdicas, encenações, interações em grupo e expressão corporal e podem ser entendidos dentro das idéias de Wallon (OLIVEIRA, 1992) sobre o desenvolvimento integrado do ser humano partindo das esferas do cognitivo, do emocional e do motor. Sua idéia da importância da linguagem no processo de desenvolvimento do pensamento parece validada pela observação de atividades onde o estudante é estimulado a falar de suas dificuldades; a partir do esforço de expressar pela linguagem o que sente percebe-se uma melhora na dinâmica de compreensão de sua situação e de propor alternativas para resolver seus problemas. O mesmo se observa em relação às atividades motoras: quando o debate sobre algum assunto está sendo pouco produtivo o grupo é convidado a desenvolver atividades motoras, normalmente exercícios de alongamento ou exercícios de expressão livre, onde o estudante faz os movimentos que deseja; em seguida o debate é retomado e percebe-se um nítido progresso; os próprios estudantes se percebem como estando mais motivados e criativos.
Outro diferencial interessante deste treinamento é que ele é essencialmente voluntário; o quadro de funcionários e a verba do serviço de recursos humanos da prefeitura são pequenos, e as atividades da escola são mantidas basicamente pela colaboração voluntária de profissionais vindos das diversas secretarias do serviço municipal; os cursos são oferecidos por profissionais como médicos, psicólogos, pedagogos e pessoas com as mais variadas formações, o que confere uma grande dinâmica ao processo de organização dos cursos.
Considerações Finais
A escola não dispõe ainda de mecanismos para quantificar a eficiência destes treinamentos; estuda-se a adoção de um questionário para ser aplicado aos estudantes seis meses após os cursos para avaliar a efetividade das mudanças comportamentais. Mas uma quantidade significativa de estudantes envia espontaneamente depoimentos à escola descrevendo experiências particulares de melhoria nas relações com outras pessoas, aumento da auto-estima e da motivação e adoção de novos paradigmas de viver a partir de conteúdos trabalhados nestes cursos.
Referências Bibliográficas
DUBET, François. A Escola e a Exclusão. São Paulo. Revista Cadernos de Pesquisa, no. 119. 2003.
LIBANEO, José Carlos; FREITAS, Raquel A. M. M.. Vygotsky, Leontiev, Davydov ? três aportes teóricos para a teoria histórico-cultural e suas contribuições para a didática.
OLIVEIRA , Marta Kohl; DANTAS, Heloísa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão.São Paulo, Summus Editorial. 1992.
SANTANA, Ana Lucia. Gestalt. In http://www.infoescola.com/psicologia/gestalt/ (consultado em 17/11/2010)