Cultura Popular: Para conhecer e valorizar
Por Ernande Arcanjo | 06/08/2010 | SociedadeA identidade de um povo está na sua cultura. Podemos entender como tudo aquilo que é construído pelo ser humano. Inclui os mitos, símbolos, ritos, todas as crenças, todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento etc. Portanto, conhecer e valorizar a nossa cultura são auto-afirmações do que somos. Do contrário, poderemos ser conduzidos por qualquer maré que chega. Por exemplo, ser conduzidos pelo fenômeno da globalização (Não considerado seus valores) que busca homogeneizar as culturas locais a fim de controlar as nações do mundo com as doutrinas capitalistas. Este processo chama-se aculturação. Quer dizer, a infusão de uma cultura sobre outra a fim de matar uma. Já a inculturação, por sua vez, pode ser considerada um fator positivo ou negativo, pois alude a incorporação de elementos de uma na outra. Falo negativo e positivo, porque o processo pode dar-se de modo imposto ou partilhado.
A lei n.º 1676/99 sobre a influência do estrangeirismo, autoria de Aldo Rebelo, gerou uma discussão em torna da identidade cultural. Quem foi contra argumentou sobre a idéia da livre expressão. Eu diria que imposição é o que a mídia faz, servindo de instrumento de propagação da cultura das elites a fim de derrubar o que muitos chamam de cultura primitiva. Porque quer derrubar? De fato, a Cultura Popular expressa à realidade do povo, o seu cotidiano, os mitos, ritos e símbolos que denunciam as injustiças sociais. Basta pegar na música: A obra de Luiz Gonzaga; Na Literatura de Cordel: A obra de Patativa do Assaré; na dramaturgia: Ariano Suassuna. Também Têm o mestre Vitalino como cemista
É importante termos claro que tradição difere de tradicionalismo. O primeiro refere-se à preservação da essência. Pode mudar, mas as raízes permanecem. Já o tradicionalismo nada quer mudar. Tudo deve ficar tal como é. A preservação das raízes da cultura popular é uma questão de respeito á identidade do povo. Ressalto como exemplo, a música e dança forró que nos últimos tempos vem perdendo a sua essência, embora algumas bandas ainda considerem suas raízes. As letras distantes da vida social do povo nordestino, o romantismo banalmente como apelo erótico; a mulher vista numa perspectiva machista e reduzida a instrumento sexual.
Uma das estratégias do capitalismo é apresentar lixos culturais através dos meios de comunicação de massa e outros meios. Chega até nós através da música, das propagandas comerciam auditivas e visuais, através da internet, principalmente através da TV, responsável por criar modismos incoerentes à vida de sofrimento do povo; criar deuses falsos a fim de ludibriar através da estética. Também, difundindo o estrangeirismo da língua e outros costumes.
A cultura de massa não pergunta se o povo quer, ela impõe. Quem não ouviu falar sobre Halloween (Dia das bruxas), Uma cultura difundida pelos meios de comunicação que cresce cada vez mais o número de adeptos no Brasil. Em contra partida, foi criado em 2005 o Dia do Saci, na mesma data que se comemora o Dia das Bruxas (31 de outubro).
Necessariamente, precisamos ajudar outras pessoas conhecerem, de modo mais consciente, a nossa cultura, não deixar morrer os costumes construtivos. Não deixar de transmitir a sabedoria dos nossos antepassados, valorizar os ritos da religiosidade popular, utilizar acentuadamente os símbolos que externam o que somos; voltar às brincadeiras sadias, as danças circulares etc. Não existe cultura arcaica e ruim uma vez que esta exista em defesa do povo. Há, sem dúvida, na cultura popular elementos opressores que devem ser eliminados. Mas, o que prevalece é o conjunto de riquezas que permanece vivo e atuante na vida do nordestino, servindo de resistência diante da sua árdua realidade. Como diz Ariano Suassuna. "A cultura popular não morre, mas podem matar ela". Certamente não vamos deixar, porque não negamos a nossa identidade. Somos nordestinos, somos cabras-da-peste, somos do Ceará.