Cuidar da cidade
Por Frei Jonas Matheus | 30/06/2011 | Filosofia
Pessoas poluem a cidade porque, não possuem a moral do cuidado público como valor, porém, como dever. Dado que, não se concebem como responsáveis pelo zelo e urbanização da cidade; ignoram a relação de causalidade entre poluição e futuros prejuízos à "urbe" e aos seus habitantes; bem como, estão presos a uma ética do inexorável dever, não transitando para uma moral valorativa, que nos afigura mais eficaz.
A mentalidade popular, de isenção do cuidado pelo espaço urbano, provém da concepção que tal responsabilidade é restrita aos administradores públicos, que devem garantir o saneamento e manutenção deste espaço. Por isso, não são fenômenos estranhos, encontrar pessoas poluindo o espaço em questão, aqui enfatizamos o descarte de materiais inorgânicos nas sarjetas, córregos, ruas praças etc., sem esquecermos as poluições, aérea, sonora, visual e química, muito freqüentes na urbe. Esses poluidores agem destrutivamente, já que delegam a total responsabilidade pelo ambiente urbano para os seus administradores, tomando uma aparência de neutralidade na esfera política.
Ademais, afigura-nos que estes poluidores desconhecem a causalidade entre sua poluição na cidade e seus efeitos nefastos, que os mesmos sofrerão com os demais cidadãos. Por exemplo, os detritos, jogados nas sarjetas e córregos, obstruem os bueiros, contribuindo para alagamentos em períodos de chuva intensa.
Além disso, o comportamento dos agentes poluidores se evidencia como postura consequente da ética do dever pelo dever (Kant), que os leva a agir mal para com o zelo público, desde que esta atuação não lhes acarrete algum prejuízo imediato, como a má fama. Esses agentes poluidores não se vinculam a ética do valor (Max Scheler), que, em nosso caso, implicaria o zelo publico centrado no cuidado pelos outros, sem que seja praticada por medo de algum prejuízo advindo de não praticá-la.
Por tanto, estando fundamentada a ideia, que a atitude de poluir o espaço público é consequência de uma moral da obrigatoriedade e, não do valor; para que alcancemos uma moral cidadã, centrada no cuidado pelos bens públicos, com atos eficazes, faz-se necessário, erigir para todos os cidadãos, uma educação moral, axiologicamente radicada, em detrimento do constrangimento, pois cuidar da cidade com eficácia requer um afeto pessoal dos citadinos para com o local público e, para com as demais pessoas.
REFERÊNCIAS
ROVIGHI, Sofia Vanni. Husserl e a fenomenologia. In: _______. História da Filosofia Contemporânea: do século XIX à neoescolástica. [Trad.: Ana P. Capovilla]. São Paulo: Loyola, 1999, p.359-395.
WOJTYLA, Karol. Max Scheler e a ética cristã. [Trad.: Diva T. Pisa]. Curitiba: Champagnat, 1993.