Cuidado com a qualidade medíocre!
Por Andreia Monteiro | 16/11/2009 | EducaçãoUm estudo apresentado esta semana, levado a cabo na União Europeia, revelou que um dos problemas no sector da tradução é o facto de quase não haver barreiras para a entrada na actividade, levando a que intervenientes pouco qualificados e sem escrúpulos se introduzam no mercado, apresentando preços significativamente mais baixos, mas também níveis de qualidade medíocres.
A nova norma de certificação EN 15038, totalmente implementada na Multilingues, está a ser crescentemente implementada na Europa, mas a própria norma apenas aborda de forma parcial a questão da qualidade. O relatório lança, assim, o alerta para uma das questões que as empresas têm de ter em conta, a necessidade de terem cautela com os serviços que contratam, para não adquirirem produtos de qualidade inferior.
Este estudo, levado a cabo durante o primeiro semestre do ano para a Direcção-Geral de Tradução da Comissão Europeia, teve como objectivo tomar o pulso à indústria da língua na União Europeia e especular sobre como se desenvolverá no futuro. Para tal, foram estudadas as vertentes da tradução e interpretação, adaptação de software e globalização de sites de internet, desenvolvimento de ferramentas de tecnologia da língua, ensino de línguas, consultoria em aspectos linguísticos e organização de conferências internacionais com requisitos multilingues. O estudo contou com mais de 1000 respostas oriundas dos 27 Estados-Membros da União. Em Portugal, a Multilingues foi um dos participantes.
Durante o ano de 2008, o valor aproximado da indústria da língua nos Estados-Membros da União Europeia, foi de 8,4 mil milhões de euros.
A taxa de crescimento da actividade estimada para os próximos anos será da ordem dos 10%, no mínimo, o que apontará para um valor mínimo de 16,5 mil milhões de euros em 2015. Estima-se, embora esses dados tenham de ser confirmados através de estudos mais aprofundados, que o valor em 2015 poderá situar-se muito acima dos 20 mil milhões de euros, uma vez que a indústria da língua parece ser a menos afectada pela crise financeira global.
A importância da indústria começa, lentamente, a ser compreendida pelas empresas, o que é demonstrado pelo interesse crescente que as sociedades de investimento manifestam na aquisição de acções em empresas com actividades ligadas às línguas.
No caso da tradução e interpretação, que é a vertente que mais nos interessa, durante o ano de 2008, o valor calculado do sector (que inclui a adaptação de software e a globalização de sites) foi de 5,7 mil milhões de euros, uma larga fatia do valor global da indústria da língua na União Europeia. A tendência da actividade da tradução e interpretação é de consolidação de mercado, que se deverá manter constante no futuro.
As línguas mais utilizadas continuam a ser o Inglês, o Alemão, o Espanhol, o Francês e o Italiano, com o crescimento dos usos regionais das mesmas.
Estudos paralelos demonstram que a indústria da língua tem a maior taxa de crescimento de todas as indústrias europeias.
Apesar das limitações do estudo, em termos de dimensão no tempo, participações das empresas e organismos dos Estados-Membros e tempos de resposta longos que diminuíram significativamente o tempo atribuído à análise, o relatório demonstra uma tendência de crescimento inegável na indústria da língua e, nomeadamente, na indústria da tradução.
As informações constantes do relatório serão uma mais-valia e servirão de alicerce para estudos mais extensos, abrangentes e aprofundados que, num futuro próximo, nos permitam traçar um cenário mais fiel da verdadeira dimensão da indústria da língua na União Europeia.