Crueldade: um prazer naturam e contra naturam uma abordagem dos impulsos ou da moralização de atos cruéis no espaço ficcional de Guimarães Rosa
Por Sandra Moreira dos Santos | 18/02/2012 | LiteraturaMinha maldade vem do mau acomodamento da alma no corpo. Ela é apertada, falta-lhe espaço interior.
Clarice Lispector.
Não é raro observarmos em alguns indivíduos sua incapacidade para tomar o outro ou a si próprio como sujeito e não como objeto. Tal atitude pode efetivamente ser caracterizada como um ato cruel, quando são priorizados qualquer meio, consciente ou inconsciente para se chegar a um fim.
Para tanto, o que poderia significar a crueldade, ato estranho e familiar, o sofrer por sofrer, o fazer sofrer, ou o jogo do gozo do sofrimento? Na Genealogia da Moral, livro polêmico de Nietzsche, encontra-se a concepção do autor sobre a origem dos sentimentos morais. Ele nos oferece uma dentre as variadas possibilidades de leituras sobre os atos de crueldades, sua origem e função no contexto social primitivo, além das motivações subjetivas que perpassam as ações e as atitudes nos tempos mais modernos.
Se buscarmos a ascendência latina da palavra crueldade, detectamos uma relação com história de derramamento de sangue (cruor, crudus, crudelitas), com crime e laços sanguíneos. Situando-a em outras línguas e outras significações, não encontramos uma ligação com derramamento de sangue e sim com “a designação do desejo de fazer ou de se fazer sofrer por sofrer, sentir um prazer psíquico no mal pelo mal, para gozar do mal, em todos esses casos a crueldade seria difícil de determinar ou delimitar” [1].
Entre os povos primitivos, sem o que Nietzsche chama de moralização dos costumes, os homens eram indiferentes às mortes e as torturas, ocorria uma constante aceitação pelo grupo social. Valiam todos os meios para fazer prevalecer a própria vontade. Segundo Nietzsche, foi esta sociedade primitiva quem inventou e tolerou as relações de contrato entre o devedor e o credor. Tal relação consiste no pensamento de que todo danos encontre de algum modo seu equivalente, sendo susceptível de compensar-se ao menos por uma dor que sofra o autor do prejuízo, cujo consiste no devedor.
Ainda de acordo com Nietzsche, o homem foi educado para disciplinar sua natureza, tornando-se metódico, regular e necessário, tanto em função do próximo quanto em função de suas próprias idéias. Segundo este filósofo, o homem submetido à moralização dos costumes procura tornar-se apreciável mediante à força social.
Nietzsche afirma categoricamente que nos tempos primitivos, quando a humanidade não se envergonhava ainda de sua crueldade, a vida era mais serena e feliz, pois os instintos eram exteriorizados. Por outro lado, a origem da má consciência ou o remorso é colocada como instintos reprimidos que não podem se exteriorizar e então se voltam para dentro, contra o homem que possui esses instintos, promove a noção de dívida, proveniente da relação credor/devedor, implicando na idéia de culpa.
Com concepção similar, Freud afirma que “não leva a nada querer abolir os pendores agressivos no homem”[2] . Relativo a essa concepção Nietzsche afirma que o castigo doma o homem, mas não o melhora, afirmando o pensamento de que o homem nada mais é do que um ser instintivo.
A tessitura narrativa de João Guimarães Rosa é bastante fértil e reveladora de personagens que vivenciam a crueldade de diversas formas. Percebemos alguns episódios, grandes e pequenos, que, ligados em trama sutil, constituem a reflexão sobre atos e comportamentos que emana crueldades embasados por princípios e motivações subjetivas.
Representando instintos primitivos exteriorizados temos o narrador personagem do conto “Meu tio o iauretê” pertencente a Estas Estórias, “Pedro Pindó” de Grande Sertão: veredas e Joãoquerque de Estória nº 3. O primeiro vive em crise de identidade: como branco, cometendo ações contra os valores da religião judaico-cristã; enquanto índio defende alguns valores do mundo branco e, como animal, entra em confronto com a sua natureza humana.
Axe, axi! Preto Bijibo gostando tanto de comer, comendo de tudo bom, arado e pobre da onça vinha vindo com fome, querendo comer Preto Bijibo (...) Tirei o de-comer, todo, todo, levei, escondi (...) De manhã cedo, dava gosto ver, quando preto Bijibo acordou e não me achou, não. O dia todo ele chorava, percurava, percurava (...) arregalava os olhos (...) tremia (...) Despois, ele ficava estuporado, deitava no chão, debruço, tapava os ouvidos. Tapava a cara...Esperei o dia inteiro, trepado no pau, eu também já tava com fome e sede, mas agora eu queria ver jaguaretê comendo o preto... (...) Preto tinha me ofendido não. Preto Bijibo muito bom (...) Levei o preto pra a onça. Preto porque quis me acompanhar, uê.[3]
Notamos neste trecho que Guimarães compôs um personagem constituído de um alto grau de crueldade primitiva. Essa característica insensibiliza o narrador e demonstra o prazer que experimenta ao ver a vítima agonizar de desespero condimentado com a alegria de assistir ao estraçalhamento de seu corpo pela onça. Observa-se que não ocorre peso de consciência, ou melhor a “má consciência” descrita por Nietzsche. Este sentimento não aparece na voz do narrador mesmo quando reconhece a bondade da vítima, pelo contrário, ele vivencia tudo outra vez através da narração. “Mas ele veio, chegou na beira da pirambeira, na beiradinha, debruçou, espiando pra baixo. Empurrei! Empurrei, (...) Seo Rioporo despencou no ar...(...) ele inda tava vivo, quando caiu lá embaixo, quando onça Porreteira começou a comer...Bom, bonito! Eh, p´s, eh porá! Come esse, meu tio...” [4]
O narrador desse conto afirma ter se arrependido da caça às onças, arrepende-se de ter matado muitas delas. Para tanto, o convívio com estes animais faz com que o onceiro se identifique com eles, passando a matar homens no lugar das onças. O locutor-onceiro revela que após ter conhecido Maria-Maria, nunca mais quis saber de matar onças, essa para ele era a fêmea ideal, dela sentia ciúmes e cuidava com carinho e zelo não deixando que nenhum macho se aproximasse. Logo, o arrependimento pelas mortes das onças coloca-o como devedor perante os animais e como credor perante os homens, pois foi contratado por um homem para matar as onças e livrar os demais de seu perigo iminente.
Dessa forma, de acordo com a concepção nietzscheana, a lógica dessa compensação é que na qualidade de devedor para com as onças “seus parentes” ele dar-lhes os homens como pagamento pela dívida, logo na condição de credor ele exerce a crueldade impunemente. “ o deleite de fazer o mal pelo gosto de o fazer, a alegria de tiranizar.”[5]. Assim, a compensação consiste no direito de ser cruel que de acordo com Nietzsche “ o fazer sofrer causava um prazer imenso à parte ofendida: fazer sofrer, isso era uma verdadeira festa.”[6]
Mas ele era que dormia, dormia, dormia o dia todo. De repente, eh, eu oncei...eu aguentei não. Arrumei cipó, arranjei embira, boa, forte. Amarrei aquele Gugué na rede. Amarrei ligeiro, amarrei perna, amarrei braço. Quando ele queria gritar, hum, xô! Axi, aí deixei não: atochei, folha, folha lá nele, boca a dentro. Tinha ninguém lá. Carreguei aquele Gugué, com a rede enrolada Pesadão, pesado, eh. Levei para o Papa-Gente (...) Papa-Gente onção enorme, come rosnando, rosnando, até parece oncinho novo...Despois eu inté fiquei triste, com pena daquele Gugué, tão bonzinho, teitê... (...)Preto Tiodoro (...) me dava de comer, me chamava pra ir passear mais ele, junto. (...) Ela rosnava baixinho pra mim, queria vir comigo pegar o preto Tiodoro (...) preto Tiodoro com os olhos doidos de medo, ih, olho enorme de ver... Ô urro!” (...) eu encostei ponta da zagaia nele...(...) A´bom ele careceu de ir andando, chorando, sacêmo, no escuro, caía levantava... “não pode gritar, não pode gritar...” – Que eu falava, ralhava, cutucava, empurrei com a ponta da zagaia. Levei pra Maria-Maria...[7]
Guimarães Rosa impõe esse mundo mítico, primitivo, metafísico, onde o narrador se metamorfoseia transitando do humano para o animal revelando uma imagem que se transfigura diante dos olhos do leitor ao longo da narrativa, mostrando não mais o homem, mas sim, a onça, o Iauaretê, a onça verdadeira:
De repente, eh, eu oncei...eu aguentei não (...) Uma hora deu aquele frio, frio aquele, torceu minha perna... Eh, depois não sei, não: acordei- (...) Eu tava em barro de sangue, unhas todas vermelhas de sangue. Veredeiro tava mordido morto, mulher do veredeiro, as filhas, menino pequeno (...) Cê fala que eu matei? Mordi mas matei não... não quero ser preso...Tinha sangue deles em minha boca, cara minha (...) Mas quando eu fiquei bom de mim, outra vez, eu tava nu de todo, morrendo de fome (...) Aí me deu aquele frio, aquele friiio, a caimbra toda...[8]
A subjacente metamorfose inconsciente sugere um portal que conduz o narrador para uma esfera animal interior lembrando As bacantes,[9] de Eurípedes revelando que Agave, tomada pelo transe causado por Dionísio, trucida selvagemente o filho Penteu, julgando-o um filhote de leão. Ela só terá consciência de que matou o próprio filho, quando retorna ao palácio e, pouco a pouco livre dos sortilégios de Dionísio, perceber que a suposta cabeça de leão que traz como prêmio é a de Penteu, como Cadmo angustiosamente lhe mostra. Com o onceiro também ocorre uma espécie de transe semelhante: ele sente-se transmudado em onça e mata pessoas ou animais, depois volta ao estado da normalidade e não consegue lembrar-se exatamente do que aconteceu.
O final do conto é enigmático e ambíguo, se abre para duas possibilidades: a morte do onceiro pelo visitante ou a morte do visitante após a metamorfose do onceiro. O leitor é surpreendido, fica a meditação e a dúvida, o Iauaretê morre ou devora mais um homem para que se cumpra o ciclo mitológico da narrativa e da crueldade. A voz se cala para que o imaginário do leitor possa finalizar, ou não, o conto.
Outro personagem criado por Guimarães nesta mesma linha de crueldade primitiva é, Pedro Pindó. Este, sob o pretexto de corrigir as inclinações perversas do filho externa seus instintos primitivos e animalescos.
Modo de corrigir isso, e a mãe, dão nele, de miséria e mastro — botam o menino sem comer, amarram em árvores no terreiro, ele nu nuelo, mesmo em junho frio, lavram o corpinho dele na peia e na taca, depois limpam a pele do sangue, com cuia de salmoura. (...) o Pindó e a mulher se habituaram de nele bater, de pouquinho em pouquim foram criando nisso um prazer feio de diversão — como regulam as sovas em horas certas confortáveis, até chamam gente para ver o exemplo bom[10]
Pedro Pindó e sua mulher demonstram o que Nietzsche chama de vestígio daquelas ferozes alegrias primitivas. Percebe-se um movimento contrário do comportamento de “homem de bem por tudo em tudo, ele e a mulher dele, sempre sidos bons, de bem.”[11] em relação de reversibilidade com o mal. Ao contrário do Aleixo, de Joé Cazuzo e de Nhô Augusto os quais revelam a transformação de homens cruéis em homens caridosos e tementes a Deus, porque é como um movimento contrário, a crescente atração com que o mal, sob a forma de sadismo, vai atraindo Pindó à sua esfera.
A estória nº 3 de Tutaméia conta o episódio do encontro entre opostos. Joãoquerque, homem medroso, é surpreendido na casa de sua amante pelo bandido Ipanemão, assassino e estuprador de mulheres.
A descrição destes personagens evidencia aspectos completamente antagônicos e complementares. Guimarães constrói um protagonista com as descrições de fraqueza e de covardia contrastando-se com seu rival o terrível Ipanemão. “Joãoquerque, avergado homenzarrinho que ora se gelava em azul angústia, retornados os beiços, mas branco de laranja descascada, pálido de a ela lembrar os mortos.”[12]. Por outro lado, Guimarães revela o valente, o seu oposto “medonho” aquele que é “cruel como brasa mandada, matador de homens, violador de mulheres, incontido e impune como o rol dos flagelos(...) mandava no arraial inteiro (...) do tamanho do mundo”[13]. Guimarães dá um instante epifânco para que o covarde Joãoquerque se veja-se como projeção do outro, o valente, como seu reflexo:
Emana do inesperado; ou que, vezes, a gente em si faz feitiços fortes, sem nem saber, por dentro da mente.(...)Foi nesta altura que ele não caiu em si(...)Veio-lhe a Mira à mente(...)O medo depressa se gastava? - caíra nas garras do incompreensível. Então, se levantou, e virou volta.(...) Joãoquerque, porém, o rodeou, também, lhe pediu - Olhe! - baixo, e, erguendo com as duas mãos o machado, braz!, rachou-lhe em duas boas partes os miolos da cabeça.[14]
Dessa forma, a crueldade de Joãoquerque em “erguendo com as duas mãos o machado, braz!, rachou-lhe em duas boas partes os miolos da cabeça”, remete-se não à crueldade racionalizada, mas àquela da qual Nietzsche atesta pertencer a natureza primitiva do homem-animal, a busca da sobrevivência desvinculada da moralização, da má consciência e da crueldades psíquica.
Daí, o despertar de Joãoquerquer, a ruptura com seu comportamento comum, “Foi nesta altura que ele não caiu em si”[15]. Guimarães, para trazer à tona o que está fora da consciência, mas que é natural dá ao sujeito a epifania como um espelho em cujo reflexo Joãoquerque vizualiza sua imagem invertida de “avergado homenzarrinho” em cobra grande e o novo ser “Remedava de ele próprio se ser então o Ipanemão”, visto que segundo Riobaldo “a mandioca-doce pode de repente virar azangada” e ‘ a outra, a mandioca-brava, também é que às vezes pode ficar mansa, a esmo, de se comer sem nenhum mal.”[16].
Nesta perspectiva notamos o gosto de Guimarães Rosa pela inversão, este aspecto impede que se crie um ponto de vista absoluto e estereotipado de seus personagens. Assim, a matéria ficcional de que se nutre a tessitura narrativa de Estória nº 3 como também em Duelo e Os irmãos Dagobé deixa o âmbito comum para tecer as cenas com fios de inversão, já que relativisam verdades absolutas conforme o próprio Guimarães em entrevista avisa: “ espero uma literatura tão ilógica como a minha, que transforme o cosmo num sertão no qual a única realidade seja o inacreditável.”[17]
Neste conto, tão rico em significações, apenas o exemplo da crueldade natural que implica na luta pela sobrevivência nos serve de objeto. Segundo a concepção psicanalítica, o medo da morte faz com que o“sujeito projeta num outro sujeito ou num objeto desejos que provêm dele, mas cuja origem ele desconhece, atribuindo-os a uma alteridade que lhe é externa”[18]
Assim, Para trazer à tona o que está fora da consciência, mas que encontra no interior naturam é necessário a presença de um espelho, em cujo reflexo será possível visualizar as imagens invertidas.
Como em um espelho, Joãoquerque visualiza a imagem de seu perseguidor de forma invertida: corajoso na superfície, mas covarde “nos subterrâneos” e intui que sua covardia é superficial, mas que sua coragem é profunda.
Nietzsche diz que o moralismo ensinou o homem a envergonhar-se de todos os seus instintos “ Na sua porfia de converter-se em anjo”[19]. Nessa perspectiva notamos os personagens
Aleixo, Joé Cazuzo e Maria Mutema. Também se pode enquadrar Augusto Matraga e Mula Marmela, entretanto nesses dois observa-se não apenas a atitude de renúncia à crueldade contra o outro, mas um novo direcionamento para a mesma, quando seguimos a linha de pensamento de Nietzsche, notamos o predomínio de uma sutil auto-crueldade.
O Aleixo, homem cruel dos que “matam só pra ver alguém fazer careta. (...)“homem de maiores ruindades calmas que já se viu”[20]. Renuncia seu instinto cruel evidenciando depois de seus filhos perderem a visão, arrependimento pelos erros cometidos. “Uma dia, só por graça rústica, ele matou um velhinho que por lá passou, desvalido rogando esmola. (...) O Aleixo não perdeu o juízo, mudou: agora vive da banda de Deus, suando para ser bom e caridoso”.[21]
O remorso e a tentativa de redenção que Guimarães incute em Aleixo demonstra a idéia de se ter uma obrigação para com Deus. Tal idéia, Nietzsche diz que consiste num instrumento de tortura, visto que se imagina Deus como o contraste de seus próprios instintos animais, o sujeito diaboliza a “natureza”, transformando os instintos em falta para com Deus, portanto em rebelião contra Ele. Nessa perspectiva encontramos outro personagem que se arrepende de seus crimes no meio de um combate.
Joé cazuzo “homem muito valente – se ajoelhou girou no chão do cerrado, levantava os braços que nem esgalho de jatobá seco, e só gritava, urro claro e urro surdo: - “Eu vi a Virgem Nossa, no resplendor do céu, com seus filhos de anjo! (...) E que se acabou sendo o homem mais pacificioso do mundo, fabricador de azeite e sacristão.[22]
Para Nietzsche o homem foi treinado para educar sua natureza, para esquecer a vontade própria e o livre arbítrio. Ele diz que o estado primitivo do homem não foi refreado de forma insensível ou voluntária, nem contudo ocorreu uma adaptação orgânica, senão um rompimento obrigado e total.
Assim, tanto a expressão dos instintos de Joé Cazuzo outrora quanto sua a repressão através da renúncia são equivalentes a nível de crueldade, mas o que evidencia o remorso é a contenção dos instintos e o desejo de remi-los. Segundo Nietzsche, o remorso ou a má consciência nada mais é que a crueldade represada.
A concepção de Nietzsche se combina com a atitude de renúncia desses personagens no sentido de que o deleite da crueldade não desapareceu, mas sutilizou-se, se espiritualizou e se cobre com “nomes hipócritas: compaixão trágica, nostalgia da cruz”[23].
O episódio de Maria Mutema constitui um dos “casos’ mais conhecidos de “Grande Sertão: veredas”. Mais que o crime em que ela a seu marido “Matou — enquanto ele estava dormindo — assim despejou no buraquinho do ouvido dele, por um funil, um terrível escorrer de chumbo derretido. O marido passou, lá o que diz — do oco para o cão — do sono para a morte”[24] ou as mentiras propostas ao padre Ponte, em uma farsa-confissão:
E, depois, por enjoar do Padre Ponte, também sem ter queixa nem razão, amargável mentiu, no confessionário: disse, afirmou que tinha matado o marido por causa dele, Padre Ponte — porque dele gostava de fogo de amores, e queria se concubina amásia... Tudo era mentira, ela não queria nem gosta. Mas, com ver o padre em justa zanga, ela disso tomou gosto, e era um prazer de cão, que aumentava de cada vez, pelo que ele não estava em poder de se defender de modo nenhum, era um homem manso, pobre coitado, e padre. Todo o tempo ela vinha em igreja, confirmava o falso, mais declarava — edificar o mal. E daí o, até que o Padre Ponte de desgosto adoeceu, e morreu em desespero calado... Tudo crime, e ela tinha feito! E agora implorava o perdão de Deus, aos uivos, se esguedelhando, torcendo as mãos, depois as mãos no alto ela levantava.[25]
A crueldade de Maria Mutema consiste em uma crueldade psíquica, pois mesmo sendo cruel com os outros, também sente necessidade de se punir. A estrutura discursiva criada por Guimarães e contada por Riobaldo sobre a revelação dos seus homicídios, atesta em primeiro lugar, um desejo de aniquilação, uma espécie de morte própria, pessoal, já que, ela pode aspirar só a uma reconciliação com Deus e com o próximo.
Para tanto, o castigo ao qual Mutema se impõe consiste em se expor violentamente e dramaticamente ao juízo do povo, antes mesmo que o de Deus. A intenção de sua personalidade se reduziria se apenas ela se reintegrasse ao povo por via do perdão, visto que seu anseio é purgar a maldade contida através da expiação assistida. Não se trataria apenas de ser “considerada” santa, mas de se tornar santa, de “ficar santa”. “Mesmo, pela arrependida humildade que ela principiou, em tão pronunciado sofrer, alguns diziam que Maria Mutema estava ficando santa”.[26]
Convém destacar que os dramas contados por Guimarães não devem ser enxergados por uma única via de visão, pois a complexidade que os envolve ultrapassa os limites do Bem e do Mal, do Certo e do Errado, do Fraco e do Forte, do Provável e do Improvável. Portanto, “ser santa”, do ponto de vista ontológico, com uma série de delitos realizados no mais puro sadismo e com um “prazer de cão”, é ato que foge da compreensão do homem. Dentro desse raciocínio, Maria Mutema transgride as regras do jogo, alterando o esperado em inesperado porque aceita enfrentar a tensão dramática e afetiva dos crimes cometidos na expectativa perversa de não apenas ser considerada santa, mas de receber esse título mediante os crimes cometidos e aceitos como motivos de penitências.
A hora e a vez de Augusto Matraga é um conto que narra a trajetória de Nhô Augusto em seu devir. O personagem abandona o comportamento anterior, patriarcalista, valente cruel “estúrdio, estouvado e sem regra [...] bicho grande do mato [...] doido [...] couro duro por curtir”[27], para atingir virtudes. Augusto Matraga procura redimir-se absorvendo a ética Cristã para renunciar à vingança. Sua trajetória inicia-se a partir da humilhação pela qual passou quando foi largado pela mulher que fugira com outro e principalmente ao ser espancado pelos capangas de seu rival. Depois da surra, Augusto Matraga trava um embate consigo mesmo, ele renuncia a uma ética de coronel ainda imbuída do ethos forte e valente para buscar sua redenção.
Dentro desse raciocínio é que Guimarães elabora o percurso de Augusto Matraga em direção aos paradigmas cristãos. “Você em toda a sua vida, não tem feito senão pecados muito graves, e Deus mandou estes sofrimentos só para um pecador poder ter a idéia do que o fogo do inferno é!”[28]
Nesta perspectiva o ascetismo de Nhô Augusto significa uma crueldade para consigo mesmo. Guimarães Rosa elaborou um personagem que escolhe um ideal para ocultar sua impotência através da máscara do mérito. Sua esperança de vingança é a vitória de sua penitência , de sua austeridade. Torna-se uma pessoa irrepreensível até no momento final de sua vida em que exterioriza sua natureza, confia na justiça de outro mundo.
Para Nietzsche a má consciência de ter um débito com a divindade, no aspecto religioso gera a idéia de se ter uma obrigação para com Deus. Segundo ele o sujeito nega a natureza para afirmar o real criando uma “imaginação contra naturam”[29]
Você não deve pensar mais na mulher, nem em vinganças. Entregue para Deus e faça penitência [...], pois de agora por diante cada dia de Deus você deve trabalhar por três e ajudar os outros [...] peça a Deus [...] Reze e trabalhe[...] cada um tem a sua hora, e há de chagar a minha vez! [...] [30]
Nota-se que Guimarães revela que Nhô Augusto demonstra suas tendências instintivas reprimidas, entretanto, as controla entendendo que precisa se redimir. É isto que na concepção de Nietzsche desperta no culpado o sentimento de falta e de remorso.
Tenho é de ficar pagando minhas culpas, penando aqui mesmo, no sozinho. Já fiz penitência esses anos todos, e não posso ter prejuízo deles! Se eu quisesse esperdiçar essa penitência feita, ficava sem uma coisa e sem outra [...][31]
É evidente o conflito existencial do herói entre o desejo de vingança e seu arrependimento pelos erros cometidos.
Era só bulir com a boca que seu Joãozinho Bem-Bem (...) e todos rebentavam com o Major Consilva, com o Ovídio, com a mulher com todo-o-mundo que tivesse tido mão ou fala na sua desgarração (...) mas, qual, aí era que se perdia, mesmo, que Deus o castigava com mão mais dura...(...) , e só então que ele soube de que jeito estava pegado à sua penitência, e entendeu que essa hitória de se navegar com religião, e de querer tirar sua alma da boca do demônio era a mesma coisa que entrar num brejão que para a frente, para trás e para os lados, é sempre dificultoso e atola sempre mais.[32]
A crueldade psíquica segundo Nietzsche se caracteriza pela vontade de o sujeito se achar culpado e se castigar. Esse estado evidencia o remorso, de Nhô Augusto através da sua crueldade consigo mesmo através da contenção dos seus instintos:
Nhô Augusto sentia saudades de mulheres e a força da vida nele latejava (...) Assim, sim, que era bom fazer penitência, com a tentação estimulando.(...) Bastava-lhe rezar e agüentar firme, com o diabo ali perto, subjugado e apanhando de rijo, que era um prazer[33]
Nietzsche diz que a secreta violação de si mesmo através da repressão dos instintos naturais demonstra “ uma alma partida ao meio voluntariamente que sofre pelo prazer de sofrer.”[34]
Guimarães Rosa insere Augusto Esteves, Augusto Matraga, Nhô Augusto na esfera das relações de contrato entre credor e devedor social. Ele é o devedor é aquele que promete, que está em dívida e é quem expia comprometendo-se com seu débito. O pagamento consiste em sua própria tortura em resistir aos apelos que procura expiar. Entretanto, assim como João Querquer, Matraga conserva dentro de si os instintos reprimidos aguardando a hora e a vez de manifestá-los.
A benfazeja é uma narrativa ambígua porque os fatos em si levam o leitor a princípio a considerar a protagonista, Mula Marmela, uma criatura estranha e até maléfica, porque matou o marido e talvez tenha cegado o enteado. Entretanto, o narrador está determinado a convencer que a Mula Marmela não é uma personagem maldita como sempre fora apregoado. Sua função fora benfazeja, pois eliminara dois personagens sedentos por sangue. “Seu antigo crime? Mas sempre escutei que o assassinado por ela era um homem hediondo, o cão de homem, calamidade horribilíssima, perigo e castigo para os habitantes desse lugar.”[35]. A situação trágica pela qual a Mula Marmela dirige sua sina, é a de matar o marido cruel, cegar e depois envenenar o enteado colérico implicando em soberba por parte da comunidade.
Segundo Nietzsche “À comunidade, o credor far-se-ão pagar a sua dívida.” Em vista dos atos de crime de Marmela, o narrador usa argumento em favor da protagonista afirmando que assim como o pai, o cego Retrupé poderia ter sido um flagelo para a comunidade e a maldade sobreporia a crueldade.
Nota-se que seu exercício de sacrifício, revelado na tessitura narrativa de um narrador benevolente para com a personagem, será sua sentença condenatória: vagar isolada, ser os olhos do cego e tornar-se a rejeitada do mal. Convém notar a dupla crueldade que se incidi sobre a personagem, assinalando a marca da diferença perante todos. Repudiada pela comunidade, a Marmela também parece se punir cruelmente quando aceita abnegada a indiferença de todos, adotando a penitência de se tornar a salvadora do lugarejo. Para isso, investe num ritual de purificação do local para que seu sacrifício seja completo. Na crença de que sua miséria é uma prova, uma bem-aventurança, uma eleição como Aleixo, Joè Cazuzo, Mutema e Nhô Augusto a benfazeja segue seu caminho como uma mula, que transporta nos ombros o simbólico de seus pecados.
Para Nietzsche, o devedor compromete-se para gravar na sua própria consciência a necessidade de pagamento. Ele indeniza o credor com alguma coisa que possui de valor. No caso de Nhô Augusto e de Marmela eles buscam ressarcir a comunidade com uma auto-punição através do sacrifício, pois acreditam que assim redimem e purificam a alma. Entretanto, de acordo com a genealogia da Moral de Nietzsche a abnegação e o sacrifício são da mesma essência da crueldade, ele questiona o seguinte: “ Até que ponto as noções contraditórias, como o altruísmo, a abnegação e o sacrifício podem encerrar um ideal de beleza?”
Afirmando que a dor oculta e sem testemunho é sem significação, e que para tanto, foi necessário inventar deuses como criaturas intermediarias que testemunhassem todas as dores. Assim os gregos condimentavam a felicidade de seus deuses com os prazeres da crueldade e dos horrores trágicos. Assim, estes personagens precisam de testemunhas para legitimarem sua expiação masoquista movidas por ideais subjetivos naturais ou incutidos, como diz Nietzsche contra naturam.
A crueldade psíquica consiste na vontade de se achar culpado e castigado eternamente. Nietzsche afirma que “não há dúvida que isto é uma doença, a mais terrível que tem havido entre os homens (...) o grito de redenção por amor (...) Há tantas coisas no homem que infundem em espanto!”[36]
Lembrando que a expiação voluntária considerada por Nietzsche como sendo imaginação contra naturam, difere do castigo infligido a um culpado. Isto porque a punição tem a função de despertar neste o sentimento de falta o que implicaria na mudança de comportamento. Entretanto, Nietzsche diz que o verdadeiro remorso é excessivamente raro entre os malfeitores e criminosos, já que em geral o castigo endurece, concentra e aguça os sentimentos de aversão aumentando a força de resistência, segundo este filósofo, o castigo doma o homem, mas não o melhora.
Para Nietzshe, a origem da má consciência ou remorso se deu em vista das barreiras que a organização social construiu para se defender contra os instintos de liberdade através do domínio dos apetites. Assim, era preciso procurar novas satisfações, já que os instintos sob a enorme força repressiva “ Volvem para dentro a isto se chama interiorização do homem”.[37] O pequeno e subterrãneo mundo interior amplia-se gradativamente a medida que a exteriorização humana encontra obstáculos. Dessa forma, segundo Nietzsche, todos os instintos do homem selvagem e livre se voltam contra o “homem interior’, a ira, a crueldade, a necessidade de perseguir, tudo isso, se dirige contra o possuidor de tais instintos. Daí, surge o homem doente de si mesmo, que se despedaça com impaciência, que se persegue, se devora, se amedronta e se maltrata e que fatalmente acha em si um campo de suplícios. Tudo isso, ocorre como conseqüência da ruptura violenta com seu passado animal para adotar novas condições de existência.
Muito embora se tenha abordado aqui as concepções nitzscheanas, sabendo-se que a mesma é contra todo tipo de razão lógica e científica, e por isso leva a cabo uma crítica feroz à razão especulativa e à cultura ocidental em todas as suas manifestações: religião, moral, filosofia, ciência e arte, interessa consideramos os comportamentos também sob uma vertente psicanalítica.
A concepção de Freud busca funções físicas para as partes da mente. O Id, regido pelo "princípio do prazer", possui a função de descarregar as tensões biológicas, consiste na reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética e voltados para a preservação e propagação da vida.
Nesta categoria, observamos o aflorar do Id nas ações do narrador do conto “Meu tio o iauretê”, em Pedro Pindó e sua esposa e em Joãoquerque, personagens que apresentam ações mais próximas dos instintos primitivos e naturais, ações estas que de alguma forma contém algo considerado com cruel, sem no entanto, exprimir premeditação, mas antes atos impulsivos.
Segundo a teoria de Freud, o "Ego" lida com a estimulação que vem tanto da própria mente como do mundo exterior. O ego é racional e pode agir em favor do Id, mas é governado pelo "princípio de realidade". Consiste na parte racional da alma. Foi esta parte perceptiva e a inteligente que Guimarães fez prevalecer nos personagens Joé Cazuzo, Aleixo, Maria Mutema e Mula Marmela a fim de que os mesmos, conduzissem todo o comportamento a satisfazer simultaneamente as exigências do Id, através das crueldades cometidas, mas também do Superego através de compromissos consigo em redimir seus atos cruéis.
Freud diz que a forma fundamental da existência para o Ego é a angústia existencial, pois é pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e os perigos do mundo exterior. Submete-se ao Id, torna-se imoral e destrutivo; se submete-se ao Superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter á realidade do mundo, será destruído por ele. Daí a divisão entre o principio do prazer (que não conhece limites) e o principio de realidade (que nos impõe limites externos e internos). Tem a dupla função de, ao mesmo tempo, recalcar o Id, satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poderio do Superego.
Segundo Freud, no indivíduo normal, essa dupla função é cumprida de forma satisfatória. Já nos neuróticos e psicóticos o Ego sucumbe, seja porque o Id ou o Superego são excessivamente fortes, seja porque o Ego é excessivamente fraco. Daí o fato dos personagens citados fraquejarem e se submeterem a crueldade contra si mesmo, visto que não equilibram a contento os dois princípios.
O "Superego" é gradualmente formado no "Ego", e se comporta como um vigilante moral. Contem os valores morais de uma sociedade, ou da moralização dos costumes de acordo com Nietzsche, atua como juiz moral. Faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. O Superego desenvolveu sua repressão, principalmente no personagem Augusto Matraga. Sua censura cruel o impulsiona contra si mesmo, a auto-crueldade é efetivada a tal ponto de a tortura lhe proporcionar o prazer masoquista.
Observa-se além da temática uma intercomunicação entre os dramas das narrativas analisadas. Um conto pode se articular com outro em uma outra narrativa. Assim, o caráter dialógico entre eles faz com que se leia um no outro, como já foi dito pelo filosofo contemporâneo Derrida, o qual afirma que todo texto pode servir como “cabeça de leitura” para outro.
Dentro dessa perspectiva, o remorso esperado em Pedro Pindó e em o Iauretê, sujeitos livres da moralização dos costumes, toma forma em Aleixo, Joé Cazuzo, Mutema, Marmela e Matraga. Logo, a possibilidade redentora opera-se em uma outra estória e em uma outra vez, não nos ombros da Mula Marmela, que se mantém resignada e muda, mas na redenção confessional de Maria Mutema que é “mutema”: muda ( sem voz) apenas no começo, mas que é mutável de humana a santa, muda ( modifica) porque quer, não como Joãoquerque , em cujo a mudança ocorre como uma explosão espontânea e inesperada de um instinto desconhecido que Nhô Augusto angustiosamente conhece mas que não quer que se manifeste reprimindo-o.
Assim, leva-se em consideração a teoria de Riobaldo o qual descreve a mutabilidade, o devir ou o inesperado das atitudes ou dos instintos das pessoas com uma explicação simples como “o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam.”
REFERÊNCIAS
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
ROSA, João Guimarães. A hora e vez de Augusto Matraga. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984.
ROSA, João Guimarães. Os irmãos Dagobé In: Primeiras Estórias. 14. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
(Derrida, 2001).
ROSA, João Guimarães. Meu Tio o Iauaretê. In: Estas Estórias. Rio de Janeiro: ed. José Olympio, 1969.
ROSA, João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas.20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
COUTINHO, Eduardo de Faria (Org.). Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. (Coleção Fortuna Crítica, 6) p. 93.
ROSA, João Guimarães, A hora e vez de Augusto Matraga. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984.
ROSA, João Guimarães. A benfazeja. In: Primeiras Estórias. 14. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
[1] (Derrida, 2001).
[2]
[3] ROSA, João Guimarães. Meu Tio o Iauaretê. In: Estas Estórias. Rio de Janeiro: ed. José Olympio, 1969. p. 126-159.
[4] Op. Cit.
[5] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
[6] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
[7] ROSA, João Guimarães. Meu Tio o Iauaretê. In: ____. Estas Estórias. Rio de Janeiro: ed. José Olympio, 1969. p. 126-159
[8] Op. Cit.
[9] Eurípedes (1993)
[10] ROSA, João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas.20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.12,13.
[11] Op. Cit.
[12] ROSA, João Guimarães. Tutaméia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p.59- 63.
[13] Op. Cit.
[14] Op. Cit.
[15]
[16] ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas.20ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.
[17] COUTINHO, Eduardo de Faria (Org.). Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. (Coleção Fortuna Crítica, 6) p. 93.
[18] (ROUDINESCO, 1998. p. 603);
[19] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
[20] ROSA, João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas.20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.12,13.
[21] Op. Cit p
[22] Op. Cit.
[23] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
[24] ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas.20ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.207- 212.
[25] Op. Cit.
[26] (ROSA, 2001, p. 243).
[27] ROSA, João Guimarães, A hora e vez de Augusto Matraga. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984.
[28] Op. Cit. 110.
[29] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997
[30] ROSA, João Guimarães, A hora e vez de Augusto Matraga. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984
[31] Op. Cit.
[32] ROSA, João Guimarães, A hora e vez de Augusto Matraga. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984.
[33] Op. Cit.
[34] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
[35] ROSA, João Guimarães. A benfazeja. In: Primeiras Estórias. 14. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. P. 113-122.
[36] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
[37] Op. Cit.