CRÔNICA QUE SE PRETENDE SÉRIA
Por Alexandre Gazetta Simões | 26/04/2011 | CrônicasCRÔNICA QUE SE PRETENDE SÉRIA
"Se você não votou em mim, não pode me cobrar nada. Eu vou fazer do jeito que eu sei. Eu não sou político de profissão." (Em reunião de deputados eleitos e empresários na Fiesp (06/11/2006) CLODOVIL
Em torno do índice de aprovação pessoal do Presidente Lula, noticiados nos jornais de hoje, como de 77,7%, respaldado em uma aprovação positiva em todas as classes sociais, ocorre-me questionar até que ponto, no panorama político atual e do passado, nós, povo brasileiro, titulares do poder soberano (art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal), somos lúcidos o suficiente para termos uma avaliação justificável na hora de exercer o direito de voto.
Sem levar em consideração os "sins" e os "nãos" desse caso em particular. Hipoteticamente, conseguimos realmente justificar nosso voto em argumentos racionais e objetivos, dentro de uma lógica voltada ao bem público e o desenvolvimento da nação (artigo 3º da Constituição Federal).
No caso em pauta, entretanto, utilizando-se da análise do historiador Luiz Felipe de Alencastro (matéria publicada no Jornal Estado de São Paulo de hoje, 28/08/2008), é necessário que se leve em consideração a habilidade política de Lula, seu papel histórico, como primeiro operário a chegar ao poder, mas, isso tudo deve ser contextualizado e explicado racionalmente, dentro de um panorama que envolve, desde o seu carisma pessoal, somado a uma campanha eleitoral de mais de 20 anos, até um conjunto de programas assistenciais como Bolsa-Família e de inclusão educacional, como o ProUni; além de uma calmaria mundial (até agora), utilizada como elemento de retórica, em um discurso potencializado pelos futuros petro-dólares (lembraremos disso em 2014?).
Ora, a partir daí, mutatis mutandis (mudando o que deve ser mudado), até que ponto, todos nós somos capazes de fazer essa análise, por nós mesmos. Embasar o voto em raciocínio respaldado em dados objetivos, em conquistas concretas, em vitórias reais, de nossos candidatos. Sem música, sem Show, sem populismo. Aqui não se trata de um jogo de futebol. Está mais para uma celebração religiosa (ou você é daqueles que não respeita o solo sagrado).
Como separar o que realmente interessa, dos bordões e musiquetas irritantes, que infestam os nossos dias pré-eleitorais. Essa é a nossa responsabilidade. Não nos é permitido sermos levianos. Pense nos seus filhos. Valorize o seu futuro, o próximo desempregado pode ser você (afinal, o seu candidato pode ser um bom orador, mas não ter nenhuma habilidade para gerar empregos).
As campanhas que tenho visto (e ouvido) são um misto de mediocridade e asneira pura (basta acessar o youtube ). Ocorre-me que ninguém quer falar sério. Parece que estamos discutindo os problemas do vizinho, o País dos outros, a cidade de papelão, onde não moram nossas famílias, onde ninguém fica doente, ninguém estuda, ninguém caminha pelas calçadas, ou dirige seus carros pelas ruas, ou pior, utiliza-se do transporte público. Saneamento básico, então! Obra de subsolo, não dá votos, secura de argumentos.
Acredito realmente no corpo a corpo (já lutei por algumas pessoas que acreditava, com a cara e a coragem, panfletando por ideologia). Mas é necessário um programa de governo. É imprescindível um discurso coerente. Conhecimento de causa. Não basta escrever somente o nome, e ser um analfabeto funcional. Que tenha conhecimento empírico, ao menos; afinal, não é democrático somente termos acadêmicos no poder, parece-me. Em síntese, ter conteúdo é fundamental, nesse momento que somente se valoriza a forma de uma mensagem vazia e repetitiva (Candidato, não precisa nos enfiar pelos ouvidos, o seu nome, seu partido e seu número ! Todo mundo usa cola ! Afinal, para que serve aquela chuva de santinhos, na madrugada de 05 de outubro).
Desse modo, como tudo me parece obscuro (e para mim, o tema de eleição é tão difícil, tão profundo, tão dramático). Como tudo é mostrado de maneira tão superficial, parece-me, acredito ser nosso dever aprender a ler as entrelinhas. Sabedoria não é erudição, e como já dizia um cabloco da minha terra, político de carterinha, e homem do campo de profissão: O negócio é confiar desconfiando.
Para terminar, fica o conselho de Bertold Brecht.
Aprende - lê nos olhos,
lê nos olhos ? aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa com tua cabeça.
Faça perguntas sem medo
não te convenças sozinho
mas vejas com teus olhos.
Se não descobriu por si
na verdade não descobriu.
Confere tudo ponto
por ponto ? afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco,
"aí pagar o pato", vai
pegar no leme um dia.
Aponte o dedo, pergunta
que é isso? Como foi
parar aí? Por que?
Você faz parte de tudo.