CRÍTICA DE MARX À CONCEPÇÃO BURGUESA E CAPITALISTA DE TRABALHO
Por wagner dutra da costa | 08/10/2014 | FilosofiaCRÍTICA DE MARX À CONCEPÇÃO BURGUESA E CAPITALISTA DE TRABALHO
Wagner Dutra da Costa[1]
Resumo
O trabalho é na teoria de Marx uma discussão de suma importância, uma vez que nele há um fundamental processo de construção e desenvolvimento da humanidade, ou seja, do individuo enquanto ser social que se produz e reproduz em sua existência humana. Isto é percebido em vários de seus escritos desde as elaborações teóricas iniciais até as mais recentes.
Palavras chaves: trabalho, alienado, produção, reprodução.
1. Introdução
Inicialmente nos deparamos com o seguinte questionamento: Como Marx desenvolve esta crítica a toda teoria burguesa e capitalista de trabalho ligando diretamente as relações dos seres humanos em sociedade?
A resposta que Marx dá esta questão em pauta será discutida no percurso desta breve explicação que, de forma metodológica estará divida em três momentos.
No primeiro momento, faremos uma contextualização histórica no tempoem que Marxconfrontava a burguesia que se tornava a classe dominante, como também mostrar o conceito marxista de trabalho em contraposição às teorias desenvolvidas por Hegel, Feuerbach, e economistas como Adam Smith e Ricardo, mesmo, que de forma indireta. No segundo, explicaremos de como se dá o processo capitalista de trabalho como produção do próprio capital, conseqüentemente, adentrando num terceiro que tratará da tese de que o trabalho assalariado é trabalho alienado já fundamentado desde o conceito marxista no inicio de nossa exposição.
Ademais, o que Marx procura é dar uma resposta a pergunta inicial criticando o capitalismo que se instaurava apos a revolução industrial[2], época em que as máquinas se tornavam o principal meio de produção.
2. Contextualização e Conceito
Para entender a épocaem que Marx(idealizador de uma sociedade com uma distribuição de renda justa e equilibrada, o economista, o cientista social, e revolucionário socialista alemão, cursou filosofia, direito e historia) viveu, no século XIX, onde ele aprofundou seus estudos filosóficos e econômicos é preciso salientar três pontos: 1. O mundo passava por grandes transformações econômicas;2. Aindustria se desenvolvia de forma acelerada e a burguesia se afirmava como a classe dominante; 3. Os proletariados, isto é, os trabalhadores viviam de forma muito degradante, em outras palavras, marginalizados do restante da sociedade.
Para conceituar a categoria trabalho Marx utilizou-se do conceito hegel onde o mesmo desenvolve sua critica dialética ao dizer, nos seus manuscritos econômicos filosóficos, que Hegel “…descobriu apenas a expressão abstrata, lógica, especulativa do processo histórico, que não é ainda a real história real do homem enquanto sujeito pressuposto, mas só a história do ato de criação da gênese do homem” (MARX, 2001, p.174)
É interessante perceber nesta afirmação que Marx demonstra a importância da relação homem-trabalho onde o ser social não é apenas uma abstração alienada de sua realidade histórica, mas sim um ser objetivo que a partir de uma práxis revolucionaria é capaz de criar e transformar o mundo, portanto, não é como dizia Hegel, e sua Fenomenologia do Espírito, em que o mesmo identificava o sujeito como a “consciência de si”, um significado puramente espiritualista, idealista, totalmente criticado por Karl Marx. Eis a afirmação:
Assenta um ser, que nem é ele próprio objeto nem tem um objeto. Um tal ser seria, em primeiro lugar, o único ser, não existiria nenhum ser fora dele, ele existiria isolado e solitariamente. Pois, tão logo existam objetos fora de mim, tão logo eu não esteja só, sou um outro, uma outra efetividade que não o objeto fora de mim. Para este terceiro objeto eu sou, portanto, uma outra efetividade que não ele, isto é, seu objeto. Um ser que não é objeto de outro ser, supõe, pois, que não existe nenhum ser objetivo. (MARX, 2001, p. 127-8)
3. Processo do Trabalho como Produção de Capital
Antes de tudo, é necessário dar um destaque aos dizeres de Marx na obra “O Capital”, escrito por Bruno Maffi:
No processo de trabalho que é simultaneamente processo capitalista de produção, os meios de produção empregam o operário, de tal sorte que o trabalho só aparece como um meio graças ao qual determina quantidade de valor, ou seja, determinada massa de trabalho aparece assim como processo de autovalorização...do trabalho objetivado. (2004, p.75)
Enquanto Hegel via somente o lado positivo do trabalho como essência confirmativa do homem. Contudo, Marx desenvolve seus argumentos críticos ao mostrar o processo do trabalho no contexto capitalista, explicitando a reais relações entre capitalista (proprietário) e trabalhador (proletariado), onde este sempre leva desvantagem no ponto de vista de suas condições de trabalho, pois o trabalhador é tratado como uma mera mercadoria regulada pela demanda. Toda esta complexidade sobre o processo do trabalho na produção da existência humana aos moldes capitalistas nos remete a outras leituras.
Nas teses sobre Feuerbach, Marx destaca a centralidade do conceito de atividade humana da práxis como relação indissociável entre teoria e eixo constituinte da humanização. Neste aspecto Marx sublinha que toda vida social é essencialmente prática. São questões recorrentes, nessas teses, no contraponto entre o materialismo antigo e o moderno, a distinção entre os dois na teoria do conhecimento, mas também, a sua conseqüência para a uma compreensão da sociedade humana entendida como um conjunto de relações sociais. Enquanto um concebe o individuo de forma isolada, natural, puramente abstrata[3], para Marx, a essência humana é efetividade no conjunto das relações sociais, conforme está citação encontrada na obra “Ideologia Alemã”:
Feuerbach quer objetos sensíveis, realmente distintos dos objetos do pensamento; mas ele não considera a própria atividade humana como atividade objetiva…ele considera como autenticamente humana apenas a atividade teórica, ao passo que a práxis só é por ele apreendida e firmada em sua manifestação judaica sórdida. É por isso que ele não compreende a importância da atividade “revolucionaria”, da atividade “prático-crítica. (MARX, 2002, p.99)
Neste aspecto, é necessário salientar que e a produção do saber se dá pelo conjunto dos homens nas relações que estabelecem para garantir a sua sobrevivência. Portanto, em sua ação sobre a natureza para satisfazer suas necessidades, os homens produzem conhecimento, cujo conteúdo é determinante do processo de humanização.
O conteúdo referente a essas teses pode ser resumido na explicitação do conceito de práxis, de modo a colocar em relevo as conseqüências, para o trabalhador, do desenvolvimento do processo do trabalho na constituição do capitalismo[4]. Ao superar o feudalismo, a sociedade burguesa na sua apropriação privada dos meios de produção, transforma o servo em trabalhador livre, visto que este se liberta de suas relações naturais com seu senhor, e a partir daí, vem a estabelecer uma relação remunerada, isto é, mercadológica. Marx, nos seus Manuscritos Econômicos Filosóficos, aponta as contradições do processo do trabalho que fornece uma falsa liberdade ao trabalhador. Eis a afirmação:
A economia política oculta a alienação na característica do trabalho enquanto não analisa a imediata relação entre o trabalhador ….e a produção. É evidente, o trabalho produz coisas boas para os ricos, mas produz a escassez para o trabalhador. Produz palácios, mas choupanas para o trabalhador. Produz beleza, mas deformidade para o trabalhador. (MARX, 2001, p.113)
Com isso, Marx desenvolve seus argumentos clarificando a história da organização capitalista e desmascarando conceitos contidos na economia política moderna de Adam Smith[5] e Ricardo.
4. Trabalho Assalariado é Trabalho Alienado
Com base em que podemos afirmar que o trabalho assalariado é trabalho alienado?
Pois bem, como se observou a explicação do processo do trabalho aos moldes do capitalismo a alienação desta categoria é conseqüência. O que há na verdade, é venda da força do trabalho do trabalhador comprado pelo capitalista (proprietário) a um preço muito inferior ao que se merece.
Desta maneira, salientamos três aspectos da alienação do trabalho ocorrida no interior deste processo capitalista. O primeiro em que o “...trabalhador no seu produto significa não só que o trabalho se transforma em objeto, assume uma existência externa, ...fora dele e a ele estranho...”(MARX,2001,p.12). O segundo consiste em que o capitalista se torna proprietário da força de trabalho e, como conseqüência, determina a atividade do trabalhador. E um terceiro aspecto diz respeito ao trabalho como atividade central, lúcida do homem que se transforma em simples e único meio de existência, isto é, de garantir sua sobrevivência.
Sendo assim, Marx aponta para a importância da compreensão da atividade humana, a práxis, na constituição e desenvolvimento da historia da humanidade. Essa transformação no modo de produzir a existência humana, provoca alterações no desenvolvimento histórico da humanidade, conforme sua explicação em seus manuscritos filosóficos:
É evidente na atuação sobre o mundo objetivo que o homem se manifesta como verdadeiro ser genérico. Esta produção é a sua vida genérica ativa. Por meio dela, a natureza nasce como sua obra e a sua realidade. Em conseqüência, o elemento do trabalho é a objetivação da vida genérica do homem...Na medida em que o trabalho alienado tira do homem o elemento de sua produção, rouba-lhe do mesmo modo a sua vida genérica, a sua objetividade real como ser genérico...De forma geral, a afirmação d que o homem se encontra alienado da sua vida genérica, significa que um homem está alienado dos outros, e que cada um dos outros se encontra do meso modo alienado da vida humana.(MARX,2001, p.117-8)
A crítica de Marx está chamando atenção para o fato de que, um programa socialista deve consideram contexto em que se efetive através de objetos e instrumentos próprios, e não permitir que tópicos burgueses[6] silenciem essas condições sem a quais o homem trabalhador perde sua humanidade.
Foi este reconhecimento sobre a produção e reprodução da vida real, como fato determinante da historia que permitiu à teoria de Marx e Engels a desmascarar toda a mitologia. Nas suas relações entre si e com a natureza, o homem produz sua existência. No manifesto comunista, Marx afirma:
A grande indústria estabeleceu o mercado mundial que o descobrimento da America preparara. O mercado mundial deu ao comercio , a navegação, as comunicações por terra, um desenvolvimento imensurável. Este, por sua vez, reagiu sobre a extensão da industria, e na mesma medida em que a industria, o comercio, a navegação, os caminhos-de-ferro se estenderam, desenvolveu-se a burguesia, multiplicou seus capitais...( MARX, 1997, p.26)
5. Conclusão
O que se conclui deste esboço, é que Marx critica toda economia clássica que compartilha de uma visão puramente burguesa e capitalista da categoria trabalho.
É contraditório aceitar um sistema como o capitalismo, haja vista que o homem é tratado como uma mercadoria qualquer, tornando-se conseqüentemente um ser social alienado da sua realidade e, até mesmo de sua condição humana, pois, como vimos no processo do trabalho aos moldes do capitalismo o homem perde sua humanidade, ao invés de produzir sua própria existência enquanto individuo histórico – pratico.
Desta maneira, o que Marx propõe é uma atividade (práxis), por meio da revolução, objetiva, prática, histórica capaz de criar e transformar o mundo num lugar melhor para se viver, e não apenas sobreviver com um trabalho propriamente injusto, desumano, alienado.
6. Referencias Bibliográficas
- MARX, Karl. Manuscritos econômicos filosóficos. São Paulo: Editora Martin Claret, 2001.
- __________. Manifesto do Partido Comunista. Tradução: José Barata Moura. Lisboa, Portugal: Editorial Avante, 1997.
- MAFFI, Bruno. Introdução à edição italiana. In:____Karl Marx. Capitulo VI inédito de o Capital. Tradução: Klaus Von Puchen. 2ª Ed. São Paulo: Centauro Editora, 2004.
- MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 3ª Amostragem, São Paulo: Martins Fontes, 2002.
- MARX, Karl. Critica Del programa de Ggtha. Moscú. Editorial Progresso, 1979.
[1] Graduando do curso de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará.
[2]A Revolução Industrial teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção. Enquanto na Idade Média o artesanato era a forma de produzir mais utilizada, na Idade Moderna tudo mudou. A burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção acelerada, buscou alternativas para melhorar a produção de mercadorias. Também podemos apontar o crescimento populacional, que trouxe maior demanda de produtos e mercadorias. Informação tirada do site: www.sua pesquisa.com/indústria.
[3] Assim como Hegel, para Marx Feuerbach também conceitua o individuo nestes termos: isolada, natural e abstrata.
[4]Encontramos a origem do sistema capitalista na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Com o renascimento urbano e comercial dos séculos XIII e XIV, surgiu na Europa uma nova classe social: a burguesia. Esta nova classe social buscava o lucro através de atividades comerciais. Informação tirada do site: www.suapesquisa.com/capitalismo.
[5] Na obra “A Riqueza das Nações”, Smith explica que a produção da riqueza se dá por meio do trabalho.
[6] Os burgueses atribuíam ao trabalho uma “força criadora sobrenatural” (MARX, 1979, p.10)