CRIANÇAS COM HIPERATIVIDADE

Por ILZENY BARBOSA RODRIGUES | 08/11/2017 | Educação

     CRIANÇAS COM HIPERATIVIDADE

                                                                     Ilzeny Barbosa Rodrigues¹

                                                                     Maria de Lourdes S. Lacerda²

                                                                     Suely Ribeiro³

                               RESUMO 

       Apesar dos fatores genéticos (desde a formação do feto na gestação) serem um grande determinante, não se pode arrolar fatores isolados para a causa do TDAH, inclusive fatores ambientais. Esta produção reflete sobre como ocorre o processo de aprendizagem na criança hiperativa e a sua construção do conhecimento. Analisa as dificuldades da criança hiperativa na escola e as dificuldades encontradas por pais e educadores.

      Assim, traça-se o percurso do interesse pelos estudos sobre o TDAH e a sua relação teórica-prática com a criança hiperativa. Desse modo, esta produção busca evidenciar a importância do professor, como mediador no processo ensino-aprendizagem e da necessidade de se planejar uma proposta pedagógica efetiva de trabalho com crianças com TDAH

Palavras – Chave:  Déficit de Atenção, Hiperatividade, Impulsividade.

 

INTRODUÇÃO

Sabe-se que o fator que mais caracteriza a hiperatividade é a pouca capacidade da criança se concentrar e prestar a atenção no que está fazendo sem se distrair com outros estímulos externos. Essas crianças estão sempre em movimento e não conseguem ficarem paradas mesmo que outras pessoas exerçam uma força enorme em sua direção, pois, esse tipo de criança sente uma grande necessidade de prestar a atenção em estímulos novos e por vezes sem relevância, passam uma impressão de que dificilmente conseguem finalizar uma atividade iniciada, pois, assim que começa uma tarefa se distraem e começam a fazer outra coisa e assim consecutivamente, deixando um rol de tarefas incompletas. Essa grande parte avalia que o número de crianças que apresentam algumas dificuldades na aprendizagem é grande, e a presença dessas crianças com TDAH ocasiona uma responsabilidade a mais, para o qual não se acha preparado.

A APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS HIPERATIVAS

Portanto, uma das definições mais aceitas de aprendizagem é o procedimento pelo qual o comportamento se transforma em decorrência da experiência, pois a aprendizagem é um processo através do qual a criança se apropria ativamente do conteúdo do conhecimento humano, daquilo que seu grupo social conhece. Para que a criança aprenda, ela necessita interagir com outros seres humanos. Assim, as pessoas, em especial as crianças, aprendem através de ações divididas e mediadas pela linguagem e pelo saber. Sabe se, que,

A aprendizagem é um processo interno e pessoal, que ocorre dentro do sujeito. No entanto, só as ações manifestas ou os comportamentos do sujeito (o que ele faz, diz ou produz) permitem a um observador externo concluir se houve ou não aprendizagem, na extensão e na competência desejava. Para que haja aprendizagem é necessária a ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento. (PANTOJA, 2005, p.35)

Sendo assim, a criança pequena aprende naturalmente a coordenar seus movimentos, a reagir às outras pessoas e a falar o idioma do meio em que está inserida, por meio da interação com o grupo a qual pertence. O processo de aprendizagem pode acontecer dentro e fora do espaço escolar, pois, a aprendizagem é tão habitual e contínuo que nos acompanha durante toda a nossa vida, já que os obstáculos aparecem, pondo em questão o que conhecíamos ou acreditávamos conhecer e ela está sujeita à influência de fatores internos e externos, sociais e individuais.

Segundo Jean Piaget (1896-1980), o objeto de conhecimento refere-se tanto aos aspectos físicos como aos sociais. Pois, para ele, conhecer significa organizar, estruturar e explicar o real a partir das experiências vividas. De acordo com a teoria piagetiana, o problema está associado à aprendizagem, ou seja, aprender é saber fazer, realizar e conhecer, pois, a aprendizagem refere-se aos conteúdos adquiridos em função das experiências e também compreende as ações que são construídas por processos de dedução referindo-se, assim, à coordenação das formas de pensamento.

Para Piaget (1896-1980), a ação da criança sobre o meio produz conhecimento funcional cada vez mais difícil, por criar dia após dia, novas combinações ou novos esquemas. Quando a criança dá início a coordenar seus esquemas, estabelecendo suas ações no espaço e no tempo, inicia-se a “lógica das ações”, ou seja, as noções de causalidade, constância de objeto, velocidade, conservação, relatividade e outras, donde deriva a construção do real, primeiro no plano concreto e em seguida, no abstrato.

O referido autor, definiu o desenvolvimento em quatro estágios ou períodos, correspondentes ao sensório motor (do nascimento aos 2 anos), onde a criança baseia-se exclusivamente em percepções sensoriais e em esquemas motores para resolver seus problemas, que são necessariamente práticos; o pré-operacional (2 a 7 anos) onde é caracterizado pelo surgimento da linguagem oral e a criança já pode trocar objetos, ações, situações e pessoas por símbolos, que são palavras e ela não depende mais exclusivamente das sensações e de seus movimentos; o estágio das operações concretas (7 a 12 anos) que é chamado operatório porque é reversível, ou seja, o sujeito pode retornar, mentalmente, ao ponto de partida e concreto porque a criança só consegue pensar corretamente se os exemplos ou materiais que ela utiliza para sustentar seu pensamento existem mesmo e podem ser observados; e o último estágio é o operatório-formal (corresponde ao período da adolescência, dos 12 anos em diante), apresenta-se como principal característica, a distinção entre o real e o possível, onde o pensamento está livre das limitações da realidade concreta, ou seja, a criança se torna capaz de pensar logicamente mesmo se o conteúdo do seu pensamento for falso.

Piaget (1896-1980) preconiza que o desenvolvimento é o processo fundamental que dá base para cada novo conhecimento de aprendizagem, ou seja, cada aprendizagem acontece como função do desenvolvimento na totalidade e não como um fator que o explica. Para o referido autor, a noção de aprendizagem à aquisição de um conhecimento novo e característico derivado do meio, diferenciando-a do desenvolvimento da inteligência, que corresponderia à totalidade das estruturas de conhecimento construídas. Para o mesmo, o indivíduo tem uma estrutura mental, essa visão de aprendizagem diferencia do conceito associacionista (o homem aprende por um processo de associação de idéias – da mais simples para a mais complexa), baseada no esquema estímulo-resposta.

Pode-se, inferir, que o conceito piagetiano de aprendizagem difere do modo como o termo é empregado no cotidiano escolar. Ela não se acaba no sentido limitado do conhecimento mediato, mas, juntamente com o processo de equilibração, assume a grandeza do próprio desenvolvimento da estrutura cognitiva, que significa o desenvolvimento biológico e intelectual do sujeito.

Além de Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896-1934), psicólogo russo, que estudou teorias sobre o desenvolvimento cognitivo e a relação entre o pensamento e a linguagem, assinala a existência de quatro estágios durante o desenvolvimento das operações mentais que envolvem o uso dos signos: o primeiro estágio, denominado, “natural ou primitivo”, onde corresponde à fala pré-intelectual (balbucio, choro, riso) e ao pensamento pré-verbal (caracterizado por manifestações intelectuais rudimentares, associadas à manipulação de instrumentos); o segundo estágio é o “das experiências psicológicas ingênuas”, período que se manifesta pelo uso correto das formas e estruturas gramaticais, mesmo antes da criança ter entendido suas respectivas representações lógicas; o terceiro estágio, “dos signos anteriores”, o pensamento atua com operações externas, das quais a criança se apropria para resolver problemas interno, é caracterizado pelo período da fala egocêntrica; e por fim, o quarto estágio, que é denominado de “crescimento interior” e se caracteriza pela interiorização das operações externas, é o estágio da fala interior ou silenciosa.

Para Vygotsky (1896-1934), esses estágios de desenvolvimento cognitivo não possuem caráter universal, pois reconhece que existe uma grande variedade nas condições histórico-sociais em que as crianças vivem, dando evidência ao social na formação do pensamento. Segundo o autor, o desenvolvimento do pensamento é determinado pelos instrumentos lingüísticos e pela experiência sócio-cultural da criança.

Atualmente, o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDAH - é uma terminologia usada para descrever uma desordem específica do desenvolvimento exibido por crianças com deficiências em sustentar a atenção, inibir os impulsos e regular a atividade motora nas diversas situações de vida.

A causa principal do TDAH é uma predisposição genética do indivíduo, associada a fatores ambientais. Deve ser levada em conta, para a configuração desse quadro, a importância do papel exercido pela sociedade atual, que é marcada por um ritmo acelerado, competitivo, consumista e estressante. (FERREIRA, 2008, P.13)

Para fins diagnósticos, o DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da American Psychiatric Association, 1994 – 4ª edição) exige que os sintomas de falta de atenção, hiperatividade e impulsividade tenham surgido antes dos sete anos, que ocorram freqüentemente, que sejam mal-adaptativos e contraditórios com o nível de desenvolvimento da criança, que persistam por no mínimo seis meses e se manifestem em dois ou mais ambientes. Pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade têm que estar presentes freqüentemente na vida da criança.

Segundo Wajnsztejn (2005), as crianças devem estar sempre à vontade no meio em que estão inseridas.  Quando a criança deixa de querer ir à escola, se sente incomodada, fala mal do grupo ou reclama que não tem amigos, é preciso estar alerta. Esse é o sinal mais importante de uma dificuldade. E, às vezes, as crianças se tornam irritadas e agitadas, porque não conseguem aprender, portanto, não é uma boa opção mudar a criança de escola, o melhor procedimento é identificar o que está acontecendo dentro da mesma escola para não fugir do problema

Desde quando a criança é pequena, são percebidos atrasos na aquisição e desenvolvimento de sua linguagem, provavelmente pela falta de atenção e lentidão para ultrapassar as etapas do desenvolvimento da linguagem oral.

A maioria dessas crianças apresenta dificuldade escolar, mesmo quando têm nível intelectual esperado para sua idade cronológica, e ainda sofre com aumento das suas reações emocionais.

  A hiperatividade pode se manifestar na área motora, mas também na área verbal, determinando indivíduos que falam em demasia, não conseguindo realizar suas atividades em silêncio; pode também, manifestar-se no pensamento, descrita, neste caso, como hiperatividade ideativa. (CATURANI, 2005, p. 89-92

É importante entender melhor o processo de pensamento de uma criança com hiperatividade, sabe-se que ela ao conduzir sua atenção somente a um objeto devido a sua sensibilidade a estímulos externos, traça-se um emaranhado de associações que se acercam muito à abstração. Pode-se dizer então, que uma criança hiperativa tem uma capacidade de abstração muito grande que levam a um potencial intelectual e criativo muito elevado. Da mesma maneira que isolando essa criança do local escolar, com os estímulos existentes nele, é prejudicial, pode-se dizer que o oposto pode tornar-se difícil. Geralmente o trabalho de um professor visa igualmente o individual e junto com isto uma concepção do que é grupo. Essa criança necessita de uma atenção especial, mais cuidadosa, um trabalho amplo, fazendo uma ligação entre sua casa – escola.

Segundo Piaget (1999), as condições do mundo atual induzem a uma ansiedade pela alfabetização que em alguns casos tem se realizado a partir dos três anos de idade, faz com que as crianças deixem de desenvolver algumas outras atividades fundamentais que serviriam como apoio para uma alfabetização futura, expandindo a base para a aquisição. Entre estas características está o esquema corporal, pois, sabe-se, que o corpo de uma criança pode lhe proporcionar prazer além de ser uma fonte receptiva e transmissora de informações externas e internas. A criança vai desenvolvendo o seu esquema corporal através da superação de obstáculos e treinamento dos movimentos: partindo de movimentos grosseiros até a coordenação motora fina.

O corpo sensivelmente capta e percebe sensorialmente o mundo. Essa porta de entrada possibilitará para a criança criar critérios qualitativos e discriminativos que serão fundamentais para a sua percepção espacial, social e corporal. Nas escolas de hoje, o trabalho corporal resume-se às aulas de educação física que podem levar estas crianças à fadiga e conseqüente desinteresse em desenvolver estas habilidades. O trabalho corporal não deve ser limitado apenas à atividade esportiva, trabalhos em grupos, introdução de regras, etc. Ele é sensível, é dramático, é o processo criativo que se apresenta como um facilitador para obter a atenção da criança. Através do corpo sensibilizamos outras áreas. O esquema corporal de uma criança hiperativa se vê comprometido por disfunções de inibição e controle. (PIAGET, 1999, p.195)

Importante ressaltar, que as dificuldades da criança hiperativa ficam mais visíveis quando essas iniciam o seu processo educativo e vão para escola, já que, na instituição, cobra-se um trabalho de organização e concentração, principalmente para os alunos. WAJNSZTEJN, Rubens. 

 

Distúrbios de Atenção e Memorização na Infância e Adolescência, 2006. Palestra realizada no Centro de Convenções da Bahia em 21 e 22 de julho/2006. Futuro Eventos.

FERREIRA, Claúdia. TDAH NA INFÂNCIA: Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade Orientações e técnicas facilitadoras.  Belo Horizonte: MG: Uni Duni Editora, 2008, 56 p.

 

CYPEL, Saul. Criança com Déficit de Atenção. Diagnóstico e terapêutica. São Paulo: Editora Lemos, 2000.

GOLDSTEIN, Sam; GOLDSTEIN, Michael. HIPERATIVIDADE: Como desenvolver a capacidade de atenção da criança.Campinas, SP: Papirus, 1994, 240 p.

PANTOJA, D. O Processo de Aprendizagem: A Construção do Conhecimento. In: WAJNSZTEJN, R. Dificuldades escolares: um desafio superável. São Paulo: Editora Ártemis, 2005, p. 207.