Criança TEA e suas dificuldades alimentares

Por Raquel Rocha Drews Valadares | 27/09/2023 | Educação

Criança TEA e suas dificuldades alimentares

Alessandra de Oliveira [1] 

Ana Dionízia de Souza Aquino [2]

Gardênia de Castro Farias [3]

 

Maria Aparecida Alves de Jesus [4]

Raquel Rocha Drews Valadares [5]

Tânia Lucia dos Reis [6]

A alimentação é um aspecto fundamental para o desenvolvimento das crianças, sendo assim nesse artigo apresentaremos uma breve reflexão teórica com o tema: “Criança TEA e suas dificuldades alimentares”. Sabe-se que há desafios bem conhecidos relacionados à comunicação, interação social e comportamento, além de que muitas crianças com TEA enfrentam um conjunto igualmente complexo e desafiador de dificuldades alimentares. Essas dificuldades não impactam apenas a qualidade de vida da criança, mas também representam uma preocupação constante para seus pais, cuidados. Entre esses desafios, as dificuldades alimentares em crianças com TEA merecem atenção especial. Essas dificuldades podem variar em intensidade e natureza, afetando a qualidade de vida tanto da criança quanto de sua família. Pois, MARCELINO (2010), afirma:

Mudar hábitos alimentares é uma das coisas mais difíceis que podemos fazer na vida. São costumes arraigados e que mexem com a família inteira. Não só com os da casa, os pais e filhos, mas também com os mais próximos, como tios e avós e também os amigos que frequentam a casa (Marcelino, 2010, p. 24).

 

 As dificuldades alimentares em crianças com TEA são mais comuns do que se pode imaginar. Essas crianças podem apresentar uma aversão a certos alimentos, texturas, cores ou mesmo a determinadas formas de preparo. Isso pode levar a uma ingestão limitada e desequilibrada de nutrientes essenciais, o que, por sua vez, pode impactar negativamente seu crescimento, desenvolvimento e saúde em geral.

As causas das dificuldades alimentares em crianças com TEA são multifacetadas e complexas. “A seletividade alimentar é caracterizada pela tríade: pouco apetite, recusa alimentar e desinteresse pelo alimento.” (Santana; Alves, 2022) Algumas possíveis explicações incluem:

  • Sensibilidade Sensorial: Muitas crianças com TEA têm sensibilidades sensoriais aumentadas, o que pode fazer com que determinadas texturas, cheiros ou sabores se tornem aversivos.
  • Rigidez Comportamental: Crianças com TEA tendem a ser mais rígidas em relação a rotinas e mudanças. Isso pode se manifestar também nas preferências alimentares, tornando-as resistentes a experimentar novos alimentos.
  • Dificuldades na Comunicação: Alguns indivíduos com TEA têm dificuldades na comunicação verbal e não verbal, o que pode dificultar a expressão de suas preferências alimentares ou desconfortos.
  • Problemas Gastrointestinais: Algumas pesquisas sugerem que problemas gastrointestinais podem ser mais prevalentes em pessoas com TEA. Esses problemas podem contribuir para as dificuldades alimentares. (PASTORINO, 2015)

Assim, lidar com as dificuldades alimentares em crianças com TEA requer uma abordagem cuidadosa e individualizada. Algumas estratégias que podem ser úteis incluem:

  • Introdução Gradual: Introduzir novos alimentos de forma gradual, permitindo que a criança se acostume com diferentes texturas e sabores.
  • Terapia Ocupacional: A terapia ocupacional pode ajudar a criança a lidar com sensibilidades sensoriais e a desenvolver habilidades de alimentação.
  • Comunicação Aprimorada: Utilizar sistemas de comunicação alternativos, como imagens ou tecnologias assistivas, pode ajudar a criança a expressar suas preferências alimentares.
  • Modelagem de Comportamento: Observar outras crianças comendo diferentes alimentos pode incentivar a criança com TEA a experimentar novas opções.
  • Inclusão Social: Comer em grupo pode incentivar a criança a experimentar novos alimentos, imitando o comportamento de seus colegas.

Superar as dificuldades alimentares em crianças com TEA muitas vezes requer persistência e paciência. (ROCHA, 2019) É possível que as melhorias sejam graduais, e pode ser necessário tentar várias estratégias antes de descobrir como funciona melhor para uma criança. Manter uma atitude positiva e estar disposto a adotar abordagens é fundamental. Assim, compreender e abordar as dificuldades alimentares em crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma jornada complexa, mas essencial. Neste contexto, é importante destacar algumas considerações adicionais:

  • Aceitação e Respeito à Individualidade: É fundamental lembrar que cada criança com TEA é única, com suas próprias sensibilidades, preferências e desafios alimentares. Portanto, a abordagem para lidar com essas dificuldades deve ser altamente individualizada. Respeitar as necessidades e limitações de cada criança é essencial para criar um ambiente alimentar positivo e inclusivo.
  • Persistência e Paciência:  Superar as dificuldades alimentares em crianças com TEA muitas vezes requer persistência e paciência. É possível que as melhorias sejam graduais, e pode ser necessário tentar várias estratégias antes de descobrir como funciona melhor para uma criança. Manter uma atitude positiva e estar disposto a adotar abordagens é fundamental.
  • Abordagem Holística: Uma abordagem holística é crucial ao lidar com as dificuldades alimentares em crianças com TEA. Isso significa considerar não apenas os aspectos nutricionais, mas também as necessidades sensoriais, emocionais e comportamentais da criança. Trabalhar em equipe com uma variedade de profissionais de saúde pode ser benéfico para todos
  • Inclusão Social: Promover a inclusão social da criança é outro aspecto importante. Compreender as dificuldades alimentares da criança e educar amigos, familiares e cuidadores sobre como apoiá-la pode ajudar a criar um ambiente mais acolhedor e seguro.

As dificuldades alimentares em crianças com TEA são um desafio real que pode afetar tanto a saúde física quanto emocional da criança e de sua família. No entanto, com compreensão, paciência e abordagens personalizadas, é possível superar essas dificuldades e ajudar as crianças a desenvolverem hábitos alimentares mais saudáveis e diversificados. É fundamental envolver uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais de saúde, terapeutas ocupacionais e familiares, para oferecer o suporte necessário e promover uma abordagem abrangente para lidar com essas dificuldades. Deste modo, é fundamental lembrar que cada criança com TEA é única, com suas próprias sensibilidades, preferências e desafios alimentares. Portanto, a abordagem para lidar com essas dificuldades deve ser altamente individualizada. Respeitar as necessidades e limitações de cada criança é essencial para criar um ambiente alimentar positivo e inclusivo.

 

Referencial teórico

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

 

______. Ministério da Saúde. Linha de Cuidado para a Atenção às Pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo e suas Famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2015.

 

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 39 p.

 

______. Ministério da Saúde. SUS oferece linha de cuidado à pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/ntu1ap Acesso em: 2 abr. 2017.
» http://www.blog.saude.gov.br/ntu1ap

 

MARCELINO, Cláudia. Autismo esperança pela nutrição. São Paulo, SP: Editora: M. Books, 2010.

 

Oliveira PL. Processamento sensorial e alimentação em crianças com desenvolvimento típico e com transtorno do espectro autista. [dissertação]. Rio Grande do Sul: Mestrado em Distúrbios da Comunicação Humana - Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Maria, 2019; 77f. Available from: http://repositorio.ufsm.br/handle/1/19742

 

PASTORINO V, et al. Clinical differences in children with autism spectrum disorder waith and without food selectivity, Roma. 2015; 1-6.

 

Rocha CC, Souza SMV, Costa AF, Portes JRM. O perfil da população infantil com suspeita de diagnóstico de transtorno do espectro autista atendida por um centro especializado em reabilitação de uma cidade do sul do Brasil. Physis. 2019 nov;29(4):1-20. Available from: https://www.scielo.

 

ROCHA  G, et  al.  Análise  da  seletividade  alimentar  de  crianças  com  transtorno  do espectro autista, Maranhão. 2019; 1-8.

 

Santana, P.S., & Alves, T. C. H. S. (2022). Consequências da agitação alimentar no estado nutricional na infância: uma revisão narrativa. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento, 11(1),     e52511125248.

 

[1] Graduada: Pedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade Rondonópolis, Mato grosso. 

[2] Graduada em: Pedagogia. Especialista em: Alfabetização e Letramento, e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade Rondonópolis, Mato grosso.

[3] Graduação: Pedagogia, Especialista em: Educação Infantil e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade Rondonópolis, Mato grosso. 

[4] Graduação: Pedagogia; Especialização em: Apoio Educacional Especializado e professora/coordenadora pedagógica na Rede Municipal de Ensino Público na cidade Rondonópolis, Mato grosso. 

[5] Graduação em: Pedagogia; Especialista em: Psicopedagogia Clínica e Institucional/ Neurociência Aplicada a Aprendizagem/ABA e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade Rondonópolis, Mato grosso. 

[6] Graduação em: Pedagogia; Especialização em: Métodos e técnicas de ensino e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade Rondonópolis, Mato grosso.

 

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