Crer em Deus? Pra quê?

Por Eduardo de Castro Gomes | 22/04/2011 | Religião

Capítulo 1 - Acho que Deus crê que sirvo pra alguma coisa

Essa é uma história verdadeira.
Sabe aqueles dias nos quais os problemas se amontoam e trazem o pensamento que Deus não está mais interessado em você e não vai acontecer mais nada de bom, que lhe dê uma nova perspectiva e você esfria totalmente? Aí você pergunta "crer em Deus? Pra quê?". De vez em quando me vejo mais ou menos assim. Disse "mais ou menos" porque lá no fundo ainda insisto em querer acreditar que um grande milagre vai acontecer. Quero deixar claro que eu creio, e muito, na existência de Deus. O problema, às vezes, é crer se ele vai mesmo agir em determinadas situações.
Eu já cheguei a dizer para o Senhor me esquecer. Há uns dez anos eu disse a Ele: "não precisa trabalhar mais em mim, isso dói muito. Eu já vi que não vou mudar, por isso, não perca seu tempo comigo". Mas desconfio que Ele ainda perde esse tempo. Essa leitura que você está fazendo agora pode ser um indício disto. Não sei se vai lhe ajudar em alguma coisa, mas se você sentiu curiosidade no título ou pela história, pelo menos em algum grau consegui chamar sua atenção para alguma coisa sobre Deus.
Aliás, acho que o investimento de Deus em mim está causando alguma mudança. Se fosse em outros tempos, desistiria de contar o que estou contando aqui, nem continuaria a escrever, pois acabei de ter um grande aborrecimento. E o que estou fazendo? Escrevendo. Talvez para me vingar. Não sei de quem nem de quê, mas estou escrevendo.
Agora, se você me perguntar como eu, no meio de tanta bagunça pessoal, ainda encontro um pavio de fé a fumegar e esperar que ainda vai acontecer alguma coisa boa, para ver se você também muda, sinto muito: não sei. Não sei se vem de Deus, ou se é de mim mesmo, o negócio é que, mesmo querendo desistir de crer que Deus vai se pronunciar, eu, lá no íntimo, fico esperando algo bom da parte dEle.
Um desses momentos ruins foi lá pelo início de fevereiro de 2008. Eu andava angustiado com minha vida espiritual, profissional, financeira e, consequentemente, pessoal. Saí de um apartamento muito bem localizado, apesar de não ser grande nem de luxo, nem em área nobre, e fui morar com a família em um bairro longe e esquecido pela prefeitura. A casa, apesar de boa, ficava em uma rua poeirenta, esburacada e sem tratamento de água e esgoto.
Para completar, o fato de não ter perspectiva de promoção no trabalho e outras coisas me deixavam muito irritado. Em casa eu era taxado de grosso e não tinha um amigo por perto com quem me abrir. Se tivesse, acho que não saberia como dizer o que se passava comigo. Além disso, na época não estava congregando em lugar nenhum, apenas ia esporadicamente a alguma igreja e, apesar de ensaiar me fixar em alguma, nunca me decidia em qual.

Aí, um dia, sei lá de onde nem como, me inspirei no profeta Daniel.

Senti um desejo profundo de fazer uma campanha de 21 dias de oração. Eu fiquei fã do Daniel ainda criança, quando vi um filme sobre ele, e o que mais me chamou atenção foi o fato dele orar três vezes por dia com o rosto voltado para o lado de Jerusalém. Pois bem, eu resolvi que ficaria por uma hora completa em orações naquelas noites da campanha, para buscar a Deus e ver se melhorava minha vida em todas as áreas, principalmente a espiritual.
Numa das noites de oração, enquanto me esforçava por buscar uma direção e comunhão com Deus, aconteceu algo rápido e inesperado. Tive uma visão relâmpago, comigo mesmo, como se fosse um desenho em uma folha em branco. Na visão eu estava de pé, ao lado de uma mulher grávida sentada em uma cadeira. Durou menos de um segundo, mas deu pra ver tudo isso.
Aquilo me deixou muito curioso. Parei de orar e fiquei repetindo várias vezes:
- Quem é essa mulher grávida?
- Quem é essa mulher grávida?
Sabe o que aconteceu? Deus não me respondeu.

Cerca de três dias depois, lá estava eu, de novo, orando, e tive outra visão. Desta vez, eu e a mulher grávida estávamos em pé, próximo a uma porta, encostados numa parede verde de um corredor. E novamente parei a oração, repetindo: "de novo essa mulher grávida? Mas, afinal de contas, quem é essa mulher?". E Deus, de novo, não me respondeu.
Fiquei intrigado com aquelas visões, porque havia cinco anos que eu e minha esposa não tínhamos confirmação de uma gravidez. Os sinais sempre eram alarmes falsos. Toda vez que ela precisava tomar algum remédio para uma inflamação severa na garganta, fazia antes um teste de gravidez, desses de farmácia, e nada. Podia se medicar sem problemas. O remédio era muito forte, à base de azitromicina. Bastavam três cápsulas, uma por dia, e ela ficava curada. Quando o compramos pela primeira vez, o vendedor disse que esse medicamento só é receitado quando nenhum outro faz efeito. Era, digamos, o último recurso.
Em janeiro de 2008 ela havia ficado doente. Desta vez, tomou o remédio sem se preocupar em fazer o exame, pois não acreditávamos mais em uma gravidez. Mas a inflamação não parou, e se acrescentaram outros problemas: febre, fraqueza, tontura, enjôos fortes. Certa vez, dirigindo sozinha, quase desmaiou no carro. Nesse tempo, ela começou a perceber que as roupas dela começaram a ficar apertadas. Tentou usar uma cinta de modelagem do corpo, mas se sentiu como se fosse partir ao meio. A cinta durou só um dia.
Nesse período ela chorava muito, se sentia fraca e, pior, sem a mãe por perto, nem ninguém da família que pudesse ficar em nossa casa ajudando. Eu trabalhava o dia todo. Em dias de movimento eu levava uma hora ou mais para chegar a casa, o que, para uma cidade como Manaus, significa uma eternidade.
Em um sábado, enquanto ela estava na casa de uma tia, esperando minha sogra, que mora em outra cidade, chegar de viagem para passar um tempo conosco para ajudar, eu fazia compras em um supermercado com minhas irmãs, e uma delas me perguntou:

- Quando tu vais me dar um sobrinho?

Comentei que não estava preparado para cuidar de crianças. Ao deixá-las em casa, resolvi entrar para acessar o computador e dar uma olhada na minha página de relacionamentos. Havia uma mensagem nova: "Sua vida mudará radicalmente hoje!". Nunca dei muita importância para mensagens de internet. Mas, naquele dia foi diferente.
Ao chegar a casa da tia de minha esposa, minha sogra já estava lá. Comecei a carregar as bagagens dela para o carro. De repente, sobre a bolsa de minha esposa, vi um bastãozinho de teste de gravidez. Peguei e observei dois tracinhos, indicando teste positivo, com um tracinho mais escuro que o outro. Olhei para minha esposa sem jeito e, ao mesmo tempo, curioso:

- O que é isso?
Ela viu minha cara apreensiva e disse:
- Eu fiz o teste.

Já em casa, surpresos, ainda sem acreditar muito, nem comemorando nem nada, resolvemos fazer outro teste. Pedi por telefone, da farmácia, o melhor kit de teste de gravidez. Desta vez os dois tracinhos eram fortes.

- Tu "tá" mais grávida agora à noite do que hoje à tarde - brinquei.

Mesmo com essa confirmação, ela fez um exame de sangue para nos deixar completamente convencidos. Iniciamos, então, a maratona exigida para a situação. O exame de sangue, positivo, tirou a fagulha de dúvida que ainda pairava sobre nós. Alegramo-nos, como todo casal normal que recebe uma notícia dessas. Mas a gravidez não foi tão tranquila como pensamos que seria.

(aguarde a continuação)