"Corró" vai da lama ao céu
Por Edson Terto da Silva | 29/07/2011 | SociedadeEdson Silva
Prá começar explico que "Corró" era o apelido carinhoso de um dos melhores meiocampistas(médio-volante) do futebol mundial Clodoaldo Tavares de Santana, ou simplesmente Clodoaldo. Nascido em Aracaju e santista desde infância, "Corró" começou jogar aos 13 anos na Vila Belmiro, estádio do seu time do coração e na sua escalada das categorias de base pode jogar ao lado de muitos de seus idolos, só para citar um: Pelé. A habilidade de Clodoaldo o levou à Copa de 70, no México, para ser titular absoluto na equipe formada por estrelas de primeira grandeza, como o próprio Pelé, Rivellino, Gérson, Tostão, Piazza, Carlos Alberto e Jairzinho.
Podemos dizer que o jogo da vida de "Corró", em 70, foi a 37ª partida da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo e ocorreu em 17 de junho, contra o Uruguai, era uma semi-final, quem vencesse disputaria o titulo. Jogar contra os uruguaios numa Copa tinha toda uma simbologia, afinal, em 1950, 20 anos antes tinhamos perdido prá eles, em pleno Maracanã, no Brasil, a final da Copa, mesmo tendo uma equipe infinitamente superior. Mas, em 50, mais uma vez valeu a famosa garra uruguaia e por isso o fantasma da celeste olimpica e primeira campeã mundial nos assombrava sim e muito.
Alguns dos nossos jogadores minimizavam o eventual tabu, Rivellino, que tinha apenas quatro anos quando o Brasil perdeu a Copa de 50, dizia estar tranquilo; "Corró", que tinha só um ano em 1950, obviamente nada tinha a recordar do desastre, que pudesse lhe causar trauma. O Rei Pelé, que tinha 9 anos em 50 não demonstrava preocupação. Ele tinha cumprido e com sobras a promessa feita ao pai, que chorava muito pela derrota brasileira em 50. O menino que viraria Rei disse que ainda faria o Brasil campeão mundial para consolar o pai. E ele levou o Brasil ao titulo em 58, aos 17 anos, e, por se machucar, esteve só em dois dos seis jogos de 62, quando o Brasil foi bicampeão.
Mas voltando a Clodoaldo e ao Uruguai de 70. Aos 19 minutos do primeiro tempo, nosso "Corró" falha feio. Ele tocou uma bola de calcanhar, de maneira displicente e a mesma foi interceptada pelo rápido jogador Cubilla, 1x0 Uruguai. Uma legião de fantasmas azuis celestes nos assombravam, o primeiro tempo caminhava para o fim, nossos jogadores estavam muito bem marcados, como era o caso do genial Gérson que não tinha espaço para encaixar seus lançamentos precisos. E foi ele quem recomendou que Clodoaldo descesse mais ao ataque, o rapaz, de 19 anos, tinha sobre ele o peso da falha que levava à aquele derrota parcial. Aos 44 minutos, "Corró" empatou o jogo foi o seu único gol nos seis jogos da Copa de 70.
O segundo tempo continuou duro, Pelé fazia jogadas genais não convertidas em gols, somente aos 31 minutos, o furacão Jairzinho desempatou; e aos 44, a patada atômica do nosso Rivellino fazia 3x1 e enterrava de vez qualquer fantasma celeste, seja dos anos 50 ou 70. Clodoaldo pode comemorar em paz e no outro jogo, contra a Itália, sagrar-se tricampeão mundial. Infelizmente, em 74, num episódio polêmico envolvendo Zagallo e o médico Lidio Toledo, "Corró" machucou-se e foi cortado da Copa que seria disputada na Alemanha. O jogador encerrou a carreira aos 29 anos, contabilizando no Santos (único clube pelo qual atuou) 13 gols marcados em 510 jogos.
Edson Silva é jornalista em Sumaré
edsonsilvajornalista@yahoo.com.br