Correntes teóricas da Cartografia e as concepções de mapa destas
Por Luana Caroline Künast Polon | 03/07/2018 | GeografiaBreve histórico da Cartografia
A Cartografia teórica moderna inicia-se no século XIX: levantamento e topografia militar (Yves Lacoste, “A Geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra”). Supervalorização da técnica, pouca visão da teoria. Em 1930, Cartografia visa se transformar em um campo independente da ciência. Há uma ênfase na Cartografia Temática e um interesse dos pesquisadores da Geografia Regional na Cartografia. Destaque para o domínio da Alemanha na Cartografia. Já Após a Segunda Guerra Mundial, o domínio da Cartografia passa aos Estados Unidos e Inglaterra. Acontecem as Reuniões da Associação Cartográfica Internacional: discussões sobre as teorias, quando define-se a primeira conceituação da Cartografia em 1966, a qual entendia que esta era um “conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas que intervêm a partir de resultados de observações diretas ou da exploração de uma documentação existente, tendo em vista a elaboração e a preparação de plantas, mapas e outras formas de expressão, assim como sua utilização” (ARCHELA, 2002, p. 162).
As correntes da Cartografia e o mapa
Para Robinson (1995 apud MENEZES; FERNANDES, 2013) o mapa é uma representação gráfica de conjuntos geográficos. Já para Martinelli (1990, p. 53), os mapas são “representações gráficas e como tais fazem parte do sistema que o homem construiu para comunicar-se com outrem”. Enquanto para Alves (2004) “os mapas [...] auxiliam na visualização, apreensão e compreensão dos fenômenos que ocorrem em determinados lugares e no entendimento da lógica da organização do espaço”. Ainda, “a Cartografia vai fornecer um método ou processo que permitirá a representação de um fenômeno, ou de um espaço geográfico, de tal forma que a sua estrutura espacial será visualizada” (MENEZES; FERNANDES, 2013, p. 20).
Comunicação Cartográfica
As teorias cartográficas começam a ser discutidas com maior intensidade a partir de 1970, quando vários autores propõem modelos de comunicação, os quais visavam constituir um sistema teórico da Cartografia como ciência. Todas as correntes apresentadas têm em comum: realidade, criador de mapas, usuário de mapas e imagem da realidade, com variação apenas no veículo da informação (ARCHELA, 2002).
- Teoria da Informação: Estabeleceu um esquema de transmissão de informações (emissor, mensagem, receptor), visando a diminuição dos ruídos entre emissor e receptor. O primeiro grande expoente da Cartografia nesta corrente foi Antonin Kolacny, para o qual a Cartografia era uma relação entre Teoria, Técnica e Prática, na criação e uso de mapas. “Kolacny enfatizou justamente o fato de que até aquele momento, a teoria havia se preocupado com a criação e produção de mapas, dando pouca ou nenhuma importância ao seu uso enquanto leitura e meio de retorno à realidade” (ARCHELA, 2002, p. 162). Nesse caso, o MAPA é visto COMO VEÍCULO DE INFORMAÇÃO!
- Teoria da Modelização: “Emergiu no contexto da chamada revolução teorético-quantitativa da Geografia, sendo que sua principal formulação teórica é a proposição e utilização dos modelos” (MATIAS, 1996, p. 55). O autor de destaque em relação a esta teoria foi Christopher Board, para o qual o mapa deveria ser desenvolvido a partir de um método científico de investigação. É um método que se baseia em seleção, classificação, padronização e execução de simplificações e combinações. Nesta, o MAPA é visto COMO MODELO DA REALIDADE! A modelização cartográfica como base teórica, foi introduzida no Brasil na década de 1970, especialmente no IBGE, UNESP de Rio Claro e na UFRJ. O reflexo mais moderno da teoria da modelização está na introdução da tecnologia de sistemas de informações geográficas – SIG, resultado, de um lado, da intensiva utilização de métodos matemáticos e estatísticos.
Teoria Geral dos Signos (Semiologia)
Sua fundamentação advém do pensamento do estudioso suíço Ferdinand de Saussure que desenvolveu a Semiologia. Na Cartografia, Jacques Bertin foi o autor expoente nesta área. Ele “sistematizou a linguagem gráfica como um sistema de símbolos gráficos com significado [conceito] e significante [imagem gráfica] (ARCHELA, 2002, p. 164). A Semiologia Gráfica possibilitou mapas de compreensão ampla (não só para especialistas), pois possuem apreensão instantânea do fenômeno apresentado. Para Jacques Bertin, a linguagem gráfica é monossêmica, ou seja, possui um significado único, universal. Ele distinguiu as relações entre os objetos em 3 variáveis: Diversidade (#), Ordem ou Hierarquia (O) e Proporção ou Evidências Quantitativas (Q). Nesse caso, o MAPA é visto COMO REPRESENTAÇÃO.
Teoria Cognitiva (percepção)
Desenvolvida a partir da Psicologia do Desenvolvimento. Ela baseia-se na percepção que os sujeitos constroem da realidade que tentam atingir. É considerado o caráter cognitivo do cartógrafo, e também do leitor. São produzidos mapas que levam em consideração a imagem mental do espaço geográfico. Destacam-se no Brasil autores como Lívia de Oliveira, com o “Estudo metodológico e cognitivo do mapa” e Maria Elena Ramos Simielli, com as discussões sobre a Alfabetização Cartográfica. Nesse caso, o MAPA é considerado como uma FONTE VARIÁVEL DE INFORMAÇÕES, dependendo das características do usuário!
Teoria Social
Nesta teoria, “dá-se maior relevância à compreensão dos fatores extra-mapa que propriamente àqueles relacionados às tarefas de sua execução. A ideia que permeia essa corrente é a de que “o mapa é uma imagem construída socialmente e, portanto, antes de mais nada, cabe compreender a sociedade que o produziu” (MATIAS, 1996, p. 74). Brian Harley é destaque quando relaciona o mapa com conhecimento e poder. Há uma preocupação maior em relação aos aspectos sociais e políticos que transcendem a elaboração do mapa (FRANCISCHETT, 2010). Nesta teoria, o MAPA é visto como IMAGEM CONSTRUÍDA SOCIALMENTE.
Visualização Cartográfica
Se pauta nos avanços na área tecnológica, com uma proposta de descobrir e gerar novas informações através do mapeamento. Desenvolver, através das tecnologias da informação, imagens não visíveis anteriormente. O MAPA é visto COMO INSTRUMENTO DE PESQUISA.
Importância do conhecimento das teorias no ensino
A compreensão das correntes teóricas da Cartografia se faz necessária ao professor de Geografia, uma vez que os conhecimentos cartográficos se estabelecem em um contínuo processo de Educação Cartográfica, através da alfabetização cartográfica e dos aprofundamentos teóricos e práticos nos conteúdos cartográficos. A Cartografia não é uma mera técnica, nem serve apenas para localização. Ela é um recurso que, quando aliado à Geografia, possiblidade a compreensão da organização do espaço geográfico, por meio de sua linguagem gráfica. Linguagem esta que foi aperfeiçoada pelas correntes teóricas que embasam a Cartografia.
Referências
ALVES, Márcia Eliana. Os mapas nos livros didáticos de Geografia da 5ª série do Ensino Fundamental. In: ASARI, Alice Yatiyo; ANTONELLO, Ideni Terezinha; TSUKAMOTO, Ruth Youko (Orgs.). Múltiplas Geografias: ensino, pesquisa, reflexão. Londrina: AGB, 2004. p. 59-83.
ARCHELA, Rosely Sampaio; ARCHELA, Edilson. Correntes da cartografia teórica e seus reflexos na pesquisa. Geografia, v. 1, n. 2 - Jul./Dez. 2002. Disponível em: < http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia/article/view/6721>. Acesso em 09 Mar. 2017.
FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. A cartografia no Ensino da Geografia: abordagens para o entendimento da representação. Cascavel: EDUNIOESTE, 2010.
LUDWIG, Aline Beatriz; VACARIN, Flavia Carla, MASS, Flávia Ruti; NASCIMENTO, Ederson. Cartografia Temática e ensino de Geografia: reflexões e experiências. In: ENCUENTRO DE GEÓGRAFOS DE AMÉRICA LATINA, 14º, 2013, Lima – Peru. Anales del 14º EGAL: reencuentros de los saberes territoriales latinoamericanos. Disponível em: < http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal14/Ensenanzadelageografia/Metodologiaparalaensenanza/47.pdf>. Acesso em 10 Mar. 2017.
MARTINELLI, Marcello. Orientação semiológica para as representações da Geografia: mapas e diagramas. Orientação, n. 8, São Paulo, 1990.
MATIAS, Lindon F. Por uma Cartografia Geográfica: uma análise da representação gráfica na Geografia. São Paulo, 1996. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo (Dissertação de Mestrado).
MENEZES, Paulo Márcio Leal de; FERNANDES, Manoel do Couto. Roteiro de Cartografia. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.
QUEIROZ, Deise Regina Elias. Cartografia Temática - evolução e caminhos de pesquisa. Boletim de Geografia, v. 25, n. 1 (2007), UEM. Disponível em: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/view/11777>. Acesso em 10 Mar. 2017.