Correndo no mesmo lugar
Por GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA | 04/11/2011 | PoesiasCORRENDO NO MESMO LUGAR
Belo Horizonte, 17-01-1977
É noite. A neblina domina.
Vou andando pela rua
Em meio à cor cinzenta
Do espaço poluído.
Mal diviso a sombra
Da pessoa que se aproxima.
Talvez um assassino,
Talvez uma múmia.
Penso então:
Tudo isso é inútil,
Até pensar.
Quanto mais, pensar em múmias
Ou então num duende.
No mundo em que vegetamos
Há tantas coisas inúteis,
Que a felicidade
Só é vitoriosa
Quando essas coisas morrem.
De repente, quando o sol
Fabricou o dia
Em plena madrugada,
Não fugiu à regra
Previamente determinada.
E eu vi tudo com clareza,
E eu vi tudo com tristeza.
Eu estava angustiado
Como se nadasse
Num intenso mar de tensão,
Que nos dá uma certa distancia
Para fazer-nos voltar
Ao ponto de partida,
Numa ordem irônica,
Numa voz arrogante,
Numa voz imperial
Que não admite réplicas,
Que não admite diálogos.
Ninguém ousava, portanto,
Ser uma exceção
A essa dura regra.
Todos sabiam disso.
Tudo existe na vida,
É só a pessoa viver
E saberá o que eu digo.
Ontem foi de uma forma,
Hoje é outro com forma diferente,
Mas o modelo é o mesmo.