CORAÇÃO DE PAPEL - HANTARO - O HAMSTER

Por VALDESSARA CONSTANCIO | 19/04/2010 | Contos

HANTARO - o hamster assustador


Era uma época em que eu saía pela manhã e trabalhava em outra cidade, distante setenta quilômetros de casa. Quando eu chegava, muitas vezes as crianças já estavam dormindo e eu ia até suas camas para dar um beijo nelas e já aproveitava para verificar se estava tudo bem.

 

Olhava os cadernos da escola, lia os bilhetes das professoras, via se elas tinham feito a tarefa de casa, recolhia as roupas sujas, verificava os uniformes da escola, via as lancheiras e comia o que sobrou dos lanches, enfim, fazia as coisas que toda mãe faz.

 

Eu e meus filhos conversávamos por telefone várias vezes ao dia, pois eu precisava acompanhar a casa mesmo estando fora e em outra cidade. Mas, naquele dia especialmente eu tinha ficado o tempo todo em reuniões e quase não tinha tido como falar com as crianças, não tendo conhecimento das novidades.

 

Ao chegar, fui direto para o quarto da minha filha e vi que estava tudo bem, ela já estava dormindo. Fechei a janela para não entrar vento e apaguei a luz.

Depois fui ao quarto do meu filho e vi que ele estava dormindo descoberto, pois ele se mexia muito durante o sono e se descobria com facilidade. Abaixei-me para pegar o cobertor e naquele momento em que levantei a coberta, eu quase enfartei ao ver um roedor minúsculo aninhado junto à cama.

 

Eu dei um grito aterrorizado e tirei o sapato para acertar aquele animal pequeno, marrom, de cauda longa, olhos pretos e bigodes compridos.

Eu tremia e gritava de pavor, pois não imaginava como é que um roedor havia entrado no quarto do meu filho e estava ali tão pertinho dele que dormia tranquilamente.

Naquele momento, meu filho acordou assustado com os meus gritos e deu um pulo na cama dizendo que não era para eu jogar o sapato no seu novo amiguinho chamado Hantaro: um hamster chinês que ele ganhara naquele dia.

Ele rapidamente pegou o pequeno roedor que se ajeitou quietinho e sonolento na palma de sua mão.

 

Eu parecia uma vara de bambu tremendo além de ter ficado alguns minutos sem fala de tanto susto. Eu tentei me acalmar e recuperar o fôlego e quando consegui falar pedi para que ele colocasse aquele bichinho no viveiro de acrílico que continha vários brinquedos para ele se exercitar e brincar, além de um ninho para ele dormir sem que precisasse ficar solto pela casa.

 

Com o tempo o Hantaro passou a ser também meu amiguinho e até me acostumei com suas costumeiras escapadas para andar pela casa.