CORAÇÃO DE PAPEL - ESTHER: A PITBULL
Por VALDESSARA CONSTANCIO | 17/04/2010 | ContosESTHER: a pitbull
Passeávamos por uma feira de animais, quando de repente minha filha Rayssa, que na época tinha oito anos de idade, avistou dentro do porta-malas aberto de um carro, três filhotes de cão da raça pitbull. Paramos para vê-los e o proprietário nos informou que tinham quarenta e cinco dias e que estavam à venda.
Minha filha já segurou um deles no colo e não soltava por nada. Era uma fêmea pitbull red nose, de pelos curtos e brancos e uma mancha de pelos marrons na região do olho esquerdo – que a deixava parecida com um pirata e fazia ressaltar ainda mais seus olhos verdes. Naquele momento houve entre a Rayssa e a filhote o que se pode dizer de paixão à primeira vista.
Eu não conseguia convencer minha filha de que nós não tínhamos condições de criar um cão pitbull, pois eu já tinha ouvido muitas histórias sobre esses cães e seu temperamento agressivo. Mas a Rayssa não queria ouvir e quanto mais eu explicava, mais ela abraçava o filhote que na mesma hora já ganhou o nome de “Esther”, que era o nome de uma personagem do desenho preferido dela. Acabei pagando ao vendedor o valor pedido e levamos a Esther para casa.
Ao chegar, todos ficaram muito preocupados com a nova companheira de minha filha, pois as notícias sobre cães perigosos eram muito freqüentes nos jornais e nas reportagens da televisão. À noite, enquanto a Rayssa dormia, eu peguei a Esther e a levei de volta para a casa do vendedor e expliquei a ele que não podíamos ficar com ela porque era perigoso e eu não me sentia preparada para criar um cão daquela raça.
Na manhã seguinte, ao acordar, minha filha procurou pela cadelinha e não a encontrou. Eu expliquei... mas ela não entendeu. Chorou o dia todo, não comeu, não foi à escola, não saiu da cama. Ficou assim durante três dias. Até que eu, com medo de que ela ficasse doente, voltei à casa do rapaz para reaver a filhote. Ele veio me receber no portão e pediu para que eu entrasse e visse que a cachorrinha também não comia há três dias, não brincava como os outros filhotes. Estava desanimada e triste, deitada quietinha num canto da casa. Quando minha filha se aproximou e chamou-a por “Esther”, ela levantou-se num pulo e começou a abanar o que podia dizer ser um rabinho. Percebi então que algumas amizades são instantâneas e não há quem as interrompa ou afaste.
Hoje, a Esther é a melhor amiga de minha filha e vivem e convivem juntas há quase dez anos. Nunca tivemos nenhum tipo de acontecimento que nos deixasse preocupados em relação ao temperamento dela. Pois o animal é o reflexo do ensinamento recebido pelo seu dono.