Convescote poético

Por FELLIPE KNOPP | 25/12/2009 | Poesias

 14-05-03

 

 

 

CAPITULARES

 

 

 

 

 

Vi aqueles homens de gravata,

sorriam e bebiam, como no Olimpo.

De cara suja, mas terno limpo,

esperavam a hora exata.

Quem são aqueles homens que se chamam Zeus,

que temem mais a mão do mercado do que a mão de Deus?

Quem são eles que decidem a vida dos outros, que se acham acima de todos?

Anunciai ao povo que o reino está em franca expansão,

não haverá tolerância pra qualquer dissolução, nem heresia, nem dissensão,

as Capitulares já estão promulgadas, anunciai a população!

Agora somos livres, podemos ir embora para qualquer lado, para qualquer condado!

Mas quem ficar vai ter de trabalhar dobrado e pelo mesmo pago!

Contudo somos livres, foi o conde quem disse!

Se ficarmos temos de obedecer, mas somos livres, o barão disse!

Nem dissensões, nem heresia, o rei dizia.

Sim ele disse, mas quem pensou tudo foi o “missi dominici”.

Quem são aqueles homens que vivem ali sentados,

que largaram as leis de Deus pra guardarem as leis de mercado?

Leis de Deus, leis de mercado, mercado de almas, decreto assinado.

Um passo em falso e as leis são aplicadas, e Deus é implacável, sua lei intolerável!

Nada pode dar errado, tudo tem de ser muito bem pensado!

Acendamos incenso, façamos uns holocaustos

à Deus, mercado!                                         

Tudo estará pronto até que a trombeta soe

e que a mão invisível de Deus nos abençoe.

 

 

                                               

 

  FELLIPE KNOPP

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

18-10-02

 

 

 

 NOBRES DE TOGA

 

 

És suja, és podre

Como outra qualquer.

Te adornas por fora,

O povo lhe quer.

 

Aí também há gases;

Aí também há fezes;

Teus homens também urinam;

Defecam sim tuas mulheres.

 

Mulheres lindas,

Mas defecam ainda;

Também se limpam;

Também vomitam.

 

Também as nádegas

Lhes cobrem o ânus,

E envelhecem,

Lhes passam os anos.

 

Também mau cheiro;

Fétido odor;

Cheiro de esgoto;

Podre fedor.

 

Tu és altiva

Por ter riquezas;

Acha-se muito

Por ter belezas.

 

Aí também há doenças;

Sangram-se teus cortes;

Aí também há desgraças;

Também não escapas à morte.

 

Aí também há tristeza;

Teus filhos também pecam;

Teus homens também têm fraquezas;

Tuas lindas mulheres defecam.

 

Escondes teu podre organismo,

Teu câncer, vaidade, altivez.

Atrás dos teus prédios cinismo,

Soberba, charutos, xadrez.

 

A nódoa de teu preconceito,

Racismo, elitismo a expandir-se.

Pois se vejam teus malfeitos,

Teu fígado, pâncreas ferir-se.

 

Tu chamas horror poesia,

De um velho ignoto a cantar,

Que esqueceu o devir d’ um dia,

Tuas fortunas a desmoronar

 

Tu julgas melhor teu destino?

Tu pensas da morte escapar?

Pensas não ter fezes por dentro?

Pensas não ter qu’ir defecar?

 

Tens gente ativa, tens gente à-toa,

Tens coisas más e tens coisas boas.

“Litoral”! “Litoral”!

Também há pessoas.

 

 

                                 

FELLIPE KNOPP

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

04/12/2004                                                                                               

 

 

 

QUARTO-DE-HOSPEDE

 

 

 

 

 

 

Meu quarto cheira a fumo a fumo e cloro

E o lençol apodrece

Úmido pelas lagrimas que não choro

Mas ela desce

Desse uma chance de mudar o rumo

Perfumaria as vestes

Apagaria incenso e acenderia o fumo

Já que amanhece

 

               

 

 

 

FELLIPE KNOPP