CONVERSA ATRAPALHADA
Por Edevaldoleal | 12/01/2013 | CrônicasCrônica
CONVERSA ATRAPALHADA
Edevaldo leal
Você já se imaginou vivendo em um mundo diferente? Diferente quanto à capacidade de compreensão do que você fala? Não falo da interpretação de má fé do que você diz, que isso , de quando em quando , acontece. Falo do entendimento oposto a uma ou outra palavra dita e olhe que isso já é suficiente para você pensar que o mundo desabou.
Palavra entendida por outra, uma só, faz estrago maior ou igual a uma virgula mal colocada na frase.
Não chega a ser a Babel dos relatos bíblicos.
O bugalho que você recebe não é o alho que você pediu.
Você até compreende o que o seu interlocutor fala, mas ele só entende uma parte do que você diz. Às vezes essa parte é tão pequena, uma palavra apenas e o discurso inteiro vira uma confusão.
O assunto desta crônica surgiu logo depois de uma tentativa de consulta com o meu cardiologista. A recepcionista, após me ouvir ao telefone, meio que alterou a voz:
— O senhor pode falar um pouco mais alto?
— Vou repetir.
— Tucupi?
— Preciso marcar consulta com o cardiologista.
— Otorrino não temos.
— Cardiologista — gritei.
— Ah, entendi, ortopedista. O ortopedista está com a agenda lotada para este mês. O senhor quer para que dia do mês que vem?
— Moça, por favor, eu disse car-di-o-lo-gis-ta — gritei novamente, separando a palavra em sílabas .
— Entendi. Posso encaixar o senhor para o dia 7 do mês que vem. Serve?
— Pode ser — concordei
— Está marcado para o dia 7, às 15:00h.
— O nome do paciente e o telefone para contato, por favor.
— Ok, senhor, está marcado.
— Um momento, moça, — interrompi, temeroso de que ela tivesse marcado a consulta em nome de outra pessoa.
— Em nome de quem, mesmo, você marcou a consulta?
— Em nome de Edevaldo Leal—tranquilizou-me.
No dia marcado, bem antes do horário da consulta, entreguei o RG e a carteira do plano de saúde na recepção, para os procedimentos de praxe. Aguardei a hora da chamada. Para não jogar o tempo fora, comecei a ler o jornal do dia. Aliás, o que restava do jornal — o caderno de cidade, perdido entre várias revistas. Estava na metade de uma reportagem, quando a recepcionista anunciou:
— Senhor Edevaldo Leal, sala nº 5.
Consultei o relógio e constatei o atraso do médico. Eram 17:00h.
Pensei: estou no consultório errado. Era uma médica que me aguardava.
— Doutora, acho que entrei no consultório errado.
— Como é o seu nome?
Em menos de um minuto,depois de consultar a tela do computador, a médica confirmou:
— É o senhor mesmo, seu Edevaldo. O que o senhor está sentindo?
— Preciso verificar a pressão, reavaliar os remédios para a hipertensão arterial e refazer os exames de colesterol, triglicerídeos, glicemia, ácido úrico e outros a seu critério.
— O senhor tem razão — interrompeu a médica, não sem um certo espanto. E acrescentou:
— Eu sou oftalmologista. Retorne à recepção e diga que houve um equívoco — recomendou.
Ananindeua/Pa, 07 de janeiro de 2013.