CONTRIBUIÇÕES DA ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO DO PACIENTE DEPRESSIVO

Por Iracildo Pereira Castro | 07/08/2019 | Educação

Andrey Rocha Dos Santos[1]

Iracildo Pereira Castro[2]

Murilo Viegas[3]

 

RESUMO

SANTOS, Andrey Rocha; CASTRO, Iracildo Pereira; VIEGAS Murilo . Contribuições da atividade física no tratamento do paciente depressivo. 2019. 29f. Belém-Pa, 2019.

 

A contribuição da atividade física no tratamento do paciente depressivo trata de uma investigação realizada com sujeitos que freqüentam um espaço lúdico em uma academia de musculação na região central da cidade de Belém, Estado do Pará. O estudo inicia-se com um referencial teórico, seguido de pesquisa de campo, de cunho qualitativo por meio de estudo de caso. Nesse processo analisamos os dados que emergiram de entrevistas semi-estruturadas com fundamentação na abordagem sócio-histórica, e profissionais da Educação Física e com autores contemporâneos desse aporte teórico. Neste estudo foram investigados vinte sujeitos que freqüentam a academia. Objetivamos com esta investigação alcançar os seguintes objetivos: analisar influência da atividade física nas formas depressivas; identificar a importância da atividade física na prevenção, sintomas e tratamento da depressão, evidenciar a importância do movimento humano, necessário a todo indivíduo, a fim de que ultrapassem os limites impostos pelo quadro depressivo. Pretendemos responder a seguinte situação problema: como a atividade física pode influenciar no tratamento do paciente com depressão? Neste estudo fazemos um breve resgate histórico sobre a atividade física e a depressão, apresentamos o caminho metodológico empregado e recorte da pesquisa de campo.

 

 

Palavras Chave:  Atividade Física. Depressão. Educação. Saúde

 

ABSTRACT

SANTOS, Andrey Rocha; CASTRO, Iracildo Pereira; VIEGAS, Murilo. Contributions of physical activity in the treatment of depressive patients. 2019. 27f. Belém-Pa, 2019.

 

The contribution of physical activity in the treatment of depressive patients deals with an investigation carried out with subjects who attend a recreational space in a gymnasium in the central region of the city of Belém, State of Pará. The study begins with a theoretical reference, followed of field research, of qualitative character through a case study. In this process we analyze the data that emerged from semi-structured interviews with a foundation in the socio-historical approach, and Physical Education professionals and contemporary authors of this theoretical contribution. In this study, twenty subjects who attended the academy were investigated. We aim to achieve the following objectives: analyze the influence of physical activity on depressive forms; to identify the importance of physical activity in the prevention, symptoms and treatment of depression, to highlight the importance of human movement, necessary for every individual, so that they exceed the limits imposed by the depressive picture. We intend to answer the following problem situation: how can physical activity influence the treatment of patients with depression? In this study we make a brief historical rescue on physical activity and depression, we present the methodology used and the field research.

 

Keywords: 1. Physical Activity 2. Depression 3. Education 4. Cheers

 

 

 

INTRODUÇÃO

                   O ponto inicial que motivou este trabalho é a trajetória percorrida por nós, enquanto pesquisadores nas áreas da Psicologia e Educação Física. Tal trajetória, conforme será descrita a seguir, embora de modo breve, justifica a preocupação com a temática: a relação da atividade física no tratamento da Depressão que desenvolveremos neste trabalho. Esse percurso tem se caracterizado no decorrer da nossa formação como um movimento de buscas e desafios por conceber esse período de formação um tempo complexo, mas ao mesmo tempo privilegiado, de vez que temos oportunidade de interagir em sala de aula com o conhecimento por meio da pesquisa e ensino e, ao mesmo tempo, com as experiências que ocorrem nas atividades que exercemos nas academias de musculação e atendimento psicológico.

O interesse desses pesquisadores por essa temática se deu por meio das atividades desenvolvidas em academias e a parceria com o profissional de Psicologia. Despertou-nos o interesse, uma vez que durante as atividades físicas realizadas verificávamos que alguns clientes apresentavam sintomas depressivos.

Nesse sentido, nossa investigação parte do pressuposto de que a atividade física é uma atividade de fácil acesso ao cidadão, sem precisar de alto investimento financeiro que o impeça dessa prática, porém precisa ser orientada, tanto nas escolas, quanto nas academias, visto que, como acreditamos, a atividade física favorece ao bem-estar físico e psicológico do indivíduo, sendo capaz de alterar o humor de quem a pratica, uma vez que coloca o organismo humano em movimento, mantendo em estado satisfatório tanto o sistema cardiovascular, como auxilia no tratamento de problemas como diabetes, obesidade e a própria depressão.

Diante do exposto, esse trabalho pretende responder a seguinte situação problema: Como a atividade física pode influenciar no tratamento do indivíduo com depressão? Busca ainda alcançar os seguintes objetivos: analisar a influência da atividade física nas formas depressivas; identificar a importância da atividade física na prevenção, sintomas e tratamento da depressão.

A metodologia deste estudo será efetivada por meio da pesquisa de campo, de cunho qualitativo por meio de estudo de caso. Nesse processo serão analisados os dados de entrevista semi-estruturada com base em teóricos da Psicologia, da sociologia, da Psiquiatria e Educadores Físicos.

Privilegiamos a pesquisa qualitativa, para permitir compreender como os educadores constroem e reconstroem seus saberes e fazeres ao levar em conta os aspectos biopsicossociais do cotidiano dos indivíduos. Os dados serão construídos por meio dessa modalidade, os quais possibilitarão aos sujeitos maior participação da construção do objeto da pesquisa. As entrevistas ocorreram individualmente e em grupo, gravadas com a autorização dos sujeitos. Após a exposição do tema, os objetivos da pesquisa, a agenda, o local e o horário dos encontros, foram solicitados a participação de todos. Os dados foram analisados por meio da Análise de Conteúdo segundo Bardin, (2009) e, interpretados com base no referencial teórico interpretados.

A pesquisa está assim estruturada: Considerações iniciais, e na segunda seção apresentamos um panorama teórico sobre atividade física e a depressão, em que se aborda a importância da atividade física para o desenvolvimento de um corpo saudável, bem como a conceituação de depressão, seus efeitos, e a contribuição da atividade física, tanto na prevenção quanto no tratamento da doença. A terceira seção denominamos de o trilhar metodológico da pesquisa, na qual traçamos a metodologia e os procedimentos utilizados em nossa pesquisa. A quarta seção é a pesquisa de campo e seus resultados analisados, que ocorreu em uma academia de musculação bem freqüentada, em um bairro central da cidade de Belém-Pará, seguindo se as considerações finais.

 

PANORAMA TEÓRICO SOBRE ATIVIDADE FÍSICA E A DEPRESSÃO

 

A atividade física faz parte da história da raça humana, sendo uma prática tão antiga quanto o surgimento do homem. Sabe-se que a atividade física pode ser definida como um movimento corporal, o qual é produzido pelos músculos do esqueleto, resultando em gasto energético maior do que os níveis de repouso, cujo objetivo final é manter a saúde física do indivíduo e aumentar a sua resistência contra o aparecimento de doenças.

Nesse sentido, a atividade física está associada com a boa forma, o desempenho e a saúde do corpo humano. Sabe-se, porém, que o ser humano não se limita ao reducionismo fisiológico, uma vez que este, para viver bem, necessita relacionar-se com os outros da mesma espécie, pois é um ser social, além de precisar conviver com seus sentimentos de angústias, euforias, conflitos e a própria busca pela sobrevivência, em um mundo tão complexo como é o nosso, globalizado, estando, portanto, imbricada a sua dimensão psicológica. Inicialmente faremos um resgate teórico da atividade física, seus conceitos atuais e o que dizem os autores, bem como as implicações e suas contribuições nos casos relacionados à depressão.

 

DIALOGANDO COM OS CONCEITOS SOBRE ATIVIDADE FÍSICA

Oliveira (2005, p. 20) infere que “a idéia de que a atividade física está associada com a boa saúde não é nova”. Essa idéia é influenciada pelo desenvolvimento tecnológico deflagrado com a revolução industrial. Desde então, observa-se uma grande transformação na sociedade, a qual passa produzir uma população de indivíduos estressados e ansiosos, que a própria tecnologia não deu conta de manter em equilíbrio, uma vez que deixou em segundo plano a harmonia orgânica em função da inatividade física.

Nesse sentido a atividade física apresenta componentes de ordem biológica, sociológica e psicológica, como é possível perceber nos jogos, lutas, danças, esportes, atividades laborais e deslocamentos. Esse conjunto de idéias compõem a definição atual da atividade física: “Atividade Física é definida como qualquer movimento corporal, produzido pela musculatura esquelética, que resulta em gasto energético”(CASPERSEN, POWEL & CHRISTERSON, apud  PITANGA, 2004, p. 12).

Reitera esse mesmo autor, que a aptidão física seria uma série de atributos adquiridos em função da prática regular da atividade física. Esse conceito, de aptidão física, até o início do nosso século concentrava-se na concepção de força muscular, porém, hoje com nova compreensão, pois além da força muscular, envolve a pressão sanguínea, freqüência cardíaca em repouso e pós-esforço.

Sabe-se, porém, que apesar desse interesse crescente e da própria crença de muitos adultos sobre o benefício pessoal proveniente da atividade física, pesquisas revelam dados assustadores em países desenvolvidos, como nos Estados Unidos:

Aproximadamente 60% dos americanos não se exercitam regularmente semanalmente e 25% não se exercitam. Os seguimentos populacionais que notadamente não se encontram dentre aqueles que se engajam na prática de exercícios incluem os indivíduos idosos (particularmente as mulheres); aqueles de menor nível educacional, os fumantes e obesos. (KIG & MARTIN, apud OLIVEIRA, 2005, p. 20).

 

Segundo esse mesmo autor, o sedentarismo se constitui em uma séria ameaça para o organismo, provocando a deteriorização das funções corporais normais. Os resultados podem ser nomeados como problemas clínicos graves e comuns, tais como as coronarianopatias, a hipertensão arterial, a obesidade e os problemas do humor. A ausência de atividade física também pode ocasionar problemas clínicos, incluindo o tabagismo, hábitos alimentares inadequados, álcool, e estresse emocional.

 

Estudos epidemiológicos e experimentais evidenciam uma correlação positiva entre a prática da atividade física e a diminuição da mortalidade, sugerindo um efeito positivo nos riscos de enfermidades cardiovasculares (BROWNELL & STUNKARD, 1980), perfil dos lipídios  plasmáticos, manutenção da integridade óssea, melhores perspectivas no controle de enfermidades respiratórias, diabetes, menor prevalência de câncer, além dos benefícios psicológicos como melhora na função cognitiva, humor, diminuição da ansiedade e depressão ( McARDLE et al, 1998; MAZZEO et al, 1998; NIEMAN, 1999; POWERS et al, 2000; WILMORE & COSTIL, 2001; apud OLIVEIRA 2005,  p. 21).

 

Como é possível perceber, a atividade física está diretamente relacionada à saúde do indivíduo. Nesse sentido, educadores destacam a importância de se alertar as escolas e a sociedade em geral quanto aos benefícios da prática regular e supervisionada de atividades físicas, uma vez que a inatividade física se torna um perigo à própria existência. Entre esses perigos destaca-se a obesidade, atualmente com grande incidência no mundo inteiro.

Obesidade é doença que apresenta excesso de peso podendo alcançar proporções epidêmicas em decorrência da inatividade física. A falta de exercício físico, portanto, provoca doenças e, além disso, altera os estilos de vida das pessoas. Ao contrário, a atividade física contribui para a melhora da qualidade de vida da população, sendo indicada para todas as idades, cujos benefícios giram em torno não só da esfera física, mas também psicológica de cada pessoa.

Verifica-se nos dias atuais, um grande crescimento do universo de academias para atividades físicas, tanto nos grandes centros urbanos quanto nos pequenos centros populacionais em que há um fluxo considerável de pessoas que buscam a performance física e a melhor qualidade de vida, porém, verifica-se também uma mudança de paradigma em termos da função do educador físico na escola, este, voltado para o aperfeiçoamento dos talentos, em detrimento de uma concepção de educação física voltada para a prevenção de doenças, o desenvolvimento saudável do corpo e a qualidade de vida satisfatória.

Percebe-se, com freqüência a exigência de um treinador para os alunos da escola, e não a figura do educador físico. Nesse sentido, “a educação física precisa buscar sua identidade como área de estudo fundamental para a compreensão e entendimento do ser humano, enquanto produtor de conhecimento”(MURRIE, 2000, p. 34).

A falta de exercícios físicos por parte da população tem sido apontada como desencadeadora de problemas clínicos, por outro lado, há indivíduos que se envolvem na prática de exercício físico com tanta intensidade ou freqüência, sem orientação profissional, e acabam causando prejuízo à sua saúde. A esse respeito, Rosa; Mello; Formigoni (2000, p. 61) afirmam:

 

Nas últimas décadas, a prática excessiva de exercícios físicos tem despertado o interesse de pesquisadores de diversas áreas. Alguns estudos se relacionam à associação entre prática excessiva de exercício em pessoas com transtornos alimentares (isto é, anorexia e bulimia nervosa), sendo a hiperatividade uma considerável evidência clínica presente em muitos pacientes com essas patologias. Estudos têm demonstrado que cerca de 80% das mulheres com anorexia nervosa e 50% com bulimia nervosa exercitam-se excessivamente durante a fase aguda de suas doenças. Além disso, sabe-se que uma expressiva parcela desses pacientes envolve-se em esportes competitivos ou em programas regulares de atividades físicas, antes mesmo de apresentarem as alterações do hábito alimentar que caracterizam esses transtornos. Esses dados permitem sugerir que a atividade física pode estar intimamente relacionada ao desenvolvimento dos transtornos alimentares.

 

Embora sejam visíveis os benefícios da prática regular de atividades físicas, é preciso considerar que o corpo humano não é uma máquina que funciona de maneira saudável, apenas com a simples prática do exercício físico desregulado. É necessária uma prática orientada para que o físico possa colher todos os seus benefícios e, ao mesmo tempo, o praticante não incorra em exercícios excessivos e desnecessários, os quais muitas vezes se tornam prejudiciais a saúde do corpo.

 

 

DESVENDANDO OS CAMINHOS DA DEPRESSÃO

 

A depressão é uma doença de ordem psicológica que afeta o estado emocional do indivíduo tornando-o incapaz de sentir prazer afetando diretamente o funcionamento fisiológico. Segundo Del Porto (1999), “é uma das doenças que causam maior índice de incapacitação psico-físico-social à população geral, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) perderá apenas para as doenças cardiovasculares quanto a esse índice” (http: // w.w.w.efportes.com/efd79/depres.htm).

A depressão tem como característica principal a predominância dos sentimentos de tristeza e vazio interior; pacientes se referem à perda da capacidade de experimentar prazer nas atividades em geral e à redução do interesse pelo ambiente. Constantemente, associa-se à sensação de fadiga ou perda de energia, caracterizada pelas queixas de cansaço.

Em geral, as pessoas com depressão são incomodadas pela dor psíquica e pelo desconforto somático, apresentam uma diminuição da capacidade de exercer tarefas rotineiras e atividades da vida cotidiana, perda do autocontrole, percepção de falta de incentivo para viver, frustração, e exposição do stress contínuo, podendo chegar ao suicídio.

Do ponto de vista biológico “a depressão é encarada como uma possível disfunção dos neurotransmissores devido à herança genética ou alterações funcionais em áreas cerebrais específicas” (BARRETO, 1993, p. 42).

Do ponto de vista psicológico e social, “a depressão pode ser classificada como exógena, resultante de problemas psicológicos e/ou ambientais” (AMARAL e BARBOSA 1990, p. 31).

Sobre a depressão, o principal documento da OMS em seu relatório sobre a saúde no mundo diz que:

A saúde mental, os novos conhecimentos e as novas esreanças, confere à depressão o quarto lugar entre as vinte doenças de maior AVAD (anos de vida perdidos por morte prematura e por diminuição de capacidade). O conceito de AVAD avalia a morbidade combinando a informação relativa ao impacto da morte prematura e a relativa a outros problemas de saúde incapacitantes, mas não mortais. As projeções para os próximos vinte anos são de que a depressão alcance o segundo lugar entre as doenças de amor (AVAD STELLA,S.; ANTUNES,H.; SANTOS, R. ; GALDUROZ J.; MELLO M., 2005, p. 53).

Estes mesmos autores afirmam que 5% da população mundial sofre de depressão, sendo diagnosticado que a incidência em mulheres são duas vezes mais que nos homens.

Os sintomas da depressão na infância variam de acordo com a idade. Até os sete anos, as crianças têm dificuldade para verbalizarem seus sentimentos, o que torna difícil o diagnóstico, sendo necessário levar em consideração a comunicação não verbal, a expressão facial e a postura corporal. Na adolescência, a depressão é caracterizada por alterações de conduta, tais como: diminuição das atividades diárias, negativismo e comportamento anti-social, perda da auto-estima, ansiedade e deficits cognitivos. A permanência desses sintomas implica em risco de depressão na vida adulta.

 

Ao contrário do que muitos pensam, os adolescentes são tão susceptíveis à depressão quanto os adultos; muitas pessoas apresentam uma primeira crise de depressão durante a adolescência, apesar de nem sempre essa crise ser reconhecida. Segundo os especialistas, a depressão comumente aparece pela primeira vez em pessoas com idade entre 15 e 19 anos [...] Algumas pesquisas também mostram que cerca de 20% dos estudantes do ensino médio sentem-se profundamente infelizes ou têm algum tipo de problema emocional. O motivo para essa incidência pode estar relacionado à complexidade do mundo moderno, competitividade e exigência deste mundo, e muitos adolescentes têm dificuldades para lidar com as necessidades de adaptação com que se deparam diariamente (ibidem, 2005, p. 54).

 

Segundo MARTINSEN et al. (1989), MARTINSEN (1990), a redução nos escores da depressão pode ser realizada também pelo exercício aeróbico. Em seu estudo de 1989 foram realizados com 99 indivíduos com depressão moderada ou maior. Os pacientes foram divididos em dois grupos, um que realiza atividade aeróbica e outra anaeróbica. O programa teve duração de oito semanas, que era constituído de uma hora de atividade física, três vezes por semana. Ambos os grupos reduziram suas pontuações na depressão na Escala de Depressão de Beck (Beck Depression Inventory), no final do programa.

   Segundo Cooper (1982), o exercício físico, em particular o chamado aeróbico, realizado com intensidade moderada e longa duração (a partir de 30 minutos) propicia alívio do stress ou tensão, devido a um aumento da taxa de um conjunto de hormônios denominados endorfinas que agem sobre o sistema nervoso, reduzindo o impacto estressor do ambiente. Com isso, pode prevenir ou reduzir transtornos depressivos, comprovado em vários estudos. A atividade física parece promover um aumento considerável no nível de dois neurotransmissores pós-exercícios, as monoaminas e endorfinas, contudo, há poucas pesquisas com conclusões definitivas sobre essa questão.

O movimento corporal humano, trabalhado por meio das relações entre o individuo e seu ambiente, bem como pela aquisição do equilíbrio das dimensões morfológicas, funcional-motora, fisiológica, sensorial e comportamental, auxilia na redução dos sintomas da depressão, resultando na melhora da qualidade de vida por proporcionar bem-estar pessoal e melhorando principalmente a saúde emocional. A atividade física, portanto, proporciona benefícios físicos e psicológicos, e o bem estar emocional, além de promover benefícios cognitivos e sociais a qualquer individuo. Alguns estudos indicam que o efeito antidepressivo da atividade física pode ser verificado rapidamente, sendo que de 3 a 4 semanas de atividade regulares são o suficientes para a melhora no estado de humor em indivíduos com depressão.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana (DSM – IV) a depressão pode ser classificada em: Transtorno Depressivo Maior. Esse é o tipo de depressão mais grave, com o risco maior de suicídio, pois trata-se de uma depressão endógena que ocorre em razão da menor atividade das monoaminas cerebrais.

Outro tipo de depressão é a Distimia. Essa classificação corresponde a um quadro depressivo leve, intermitente, de início insidioso, em que o indivíduo sofre oscilações de humor depressivo súbitas ou contínuas, de intensidade variável durante anos. Trata-se de uma alteração do humor que geralmente está ligada a acontecimentos desagradáveis da vida e podendo ser agravada por eles.

De acordo com o DSM-IV  existem também os estados de mania e hipomania, que implica em o indivíduo apresentar irritação, elevação ou expansão do humor, podendo ocorrer ainda características psicóticas como: paranóia, ilusões e alucinações.  O indivíduo apresenta humor eufórico, auto-estima inflada, grandeza, maior sociabilidade e energia.

Nos episódios de hipomania os sintomas são similares, porém menos severos. Os casos de Distúrbio Bipolar – o antigo maníaco depressivo – a característica básica é o aparecimento de episódios maníacos juntamente com episódios depressivos. Finalmente a ciclotimia: Caracteriza-se por persistente instabilidade do humor, com duração de mais de dois anos, com períodos depressivos mais leves e períodos de hipomania.

 

IMPLICAÇÕES DA ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

 

A depressão é um transtorno que afeta o ser humano em sua totalidade, cujas dimensões envolvem o seu biopsicossocial, uma vez que este é um ser integral constituído dos aspectos biológicos, psicológicos e sociológicos. Nesse sentido, a atividade física deve ser aplicada ao paciente, como parte integrante do tratamento, visto que a atividade física tem demonstrado influência positiva nos estados de ansiedade e depressão.

A esse respeito infere Mesquita (1999, p. 42) “O exercício físico aumenta a auto-estima, melhora a capacidade funcional, reduz a obesidade e melhora a qualidade de vida da população em geral”.

Como se sabe, a inatividade física é um fator que tem sido fortemente associado a pessoas com estados variados de depressão e ansiedade. Nesse sentido é elementar que se busque compreender a intensidade e a duração dos exercícios físicos aplicados nos clientes (pacientes) depressivos, para que sejam observados os seus efeitos, e assim poder diagnosticar, com segurança, se o exercício físico pode atuar na redução desses sintomas, uma vez que, embora haja consenso quanto a importância do exercício físico no tratamento da pessoa depressiva, ainda há falta de comprovação contundente como isso ocorre.

Sabe-se, portanto, que existe uma vasta literatura que demonstra a relação positiva entre exercício físico e depressão, em que a prática de exercícios físicos minimizam o sofrimento do depressivo, tanto nos estados leves, quanto moderados. Exercícios aeróbicos e até os anaeróbicos tem mostrado serem eficientes melhorando o quadro clínico da depressão.

Em geral, a literatura existente no Brasil em relação a eficiência dos exercícios físicos nos casos de pacientes depressivos são relatos de experiências realizados por pesquisadores nos Estados Unidos, porém, Lopes (2001) em sua dissertação de Mestrado na Universidade Católica de Brasília aborda os efeitos crônicos do exercício físico aeróbico nos níveis de serotonina e depressão em mulheres com idade entre 50 e 72 anos de idade, na qual apresenta um estudo em que observou os efeitos de 8 semanas de exercício físico aeróbico nos níveis de serotonina e depressões  em mulheres com idade entre 50 e 72 anos. Estudos demonstram os efeitos psicológicos crônicos do exercício físico, bem como do exercício juntamente com uma estratégia cognitiva sobre estados depressivos, como no relato a seguir:

 

Na pesquisa foram avaliados adultos com idade entre 40 e 69 anos, de ambos os sexos, num total de 69 mulheres e 66 homens. Um dos grupos foi submetido a caminhadas de baixa intensidade mais tarefa de relaxamento (ouvir uma fita cassete com uma voz calma enquanto caminhava). Os resultados demonstram que, nesse grupo, os índices de depressão diminuíram mais em relação aos outros grupos, ou seja, todos os grupos tiveram seus índices/escores diminuídos, mas, no grupo em que foi utilizado um suporte cognitivo, a redução foi maior. A hipótese, portanto, do estudo é que exercício mais programas de treinamento estratégicos cognitivos são mais eficientes do que os programas de exercício, faltando um componente cognitivo estruturado na promoção de benefícios psicológicos ( BROWN, apud STELLA; ANTUNES; SANTOS; GALDURÓZ E MELLO, 2005, p. 57).

 

Os resultados apresentados nas pesquisas em questão, mostram a existência de uma bipolaridade inseparável entre corpo e mente, sendo que o ser humano não poderá ser analisado sem se considerar que ambos são indissociáveis. Feijó (1998, p. 2) afirma que “a personalidade humana, na sua estrutura de contínuo energético bipolar, nunca se expressa através de um pólo só. Os dois pólos Corpo-Mente sempre estão presentes na dinâmica da energia pessoal”.

Segundo esse mesmo autor, pesquisas de psicologia e medicina esportiva demonstram que a recuperação de um atleta contundido não depende tanto da extensão médica da contusão. E afirma:

Dependendo de como o atleta responde às suas próprias perguntas, desta postura dependerão suas emoções (medo ou coragem), seu comportamento (seguir fielmente ou não seu tratamento), seus planos futuros (“perderei meu contrato?”), (minha performance continuará sendo a mesma?) (FEIJÓ, 1998, p. 3).

 

As afirmações de Feijó (1998) evidenciam a relação que há entre o movimento físico e a mente do indivíduo, assim torna-se cada vez mais evidente o papel do exercício físico como coadjuvante no tratamento da depressão, e que cabe ao educador físico desenvolver ainda mais a sua capacidade de observação e de percepção, para poder desenvolver suas atividades adequadamente, no sentido de atender as demandas da sua clientela.

 

 

O TRILHAR METODOLÓGICO DA PESQUISA

 

 

A trajetória humana é sempre o resultado de muitas experiências, às vezes marcadas por situações que nem sempre agradam as pessoas, uma vez que são conflitivas estressantes e com um elevado grau de ansiedade, todavia, contribuem para o desenvolvimento humano, quando são internalizadas compreensivamente pelos sujeitos, nas trocas das relações familiares, profissionais e em sociedade.

 Dessa forma, essa pesquisa vai ao encontro do ser humano em um dos ambientes bastante requisitados, no qual ele busca uma melhor qualidade de vida: a academia de musculação.

Apresentamos os resultados de uma investigação destinada a conhecer a importância da atividade física como aliada ao tratamento da depressão em uma academia de musculação, na cidade de Belém-Pará, como fator importante na recuperação desses pacientes. A escolha dessa academia se deu pelo fato de ser o campo de atuação profissional de muitos professores de educação física.  

A pesquisa de campo iniciou com uma entrevista semiestruturada com vinte clientes, adotando a metodologia do Estudo de Caso, uma vez que a investigação passa a configurar de forma mais específica à vida social desse grupo de atores sociais no espaço da academia. Nesse sentido, buscamos a atividade física e a depressão como objeto de estudo, e como locus da pesquisa de campo, a academia de musculação, e como sujeitos, os clientes que se mostraram receptivos em participar da pesquisa. O desenho desta investigação foi assim traçado em virtude da exiguidade do tempo.

O Estudo de Caso se restringiu a uma clientela do turno matinal, formada por adultos que praticam atividades físicas. A escolha privilegiou como critério a receptividade e a disponibilidade dos sujeitos para com a pesquisa. O objeto investigado, por se tratar de uma atividade física com implicações psicológicas, envolve um percurso marcado por grande complexidade, por estarem relacionados a sentimentos, emoções, ansiedade e elevado grau de conflitos internos, que são qualidades tipicamente humanas e, sem sombra de dúvida, forças poderosas nas relações eu – outro.

A nossa pesquisa, que se configura como estudo de caso consiste em uma minuciosa investigação da pessoa ou de grupos sociais, que propicia a análise de contexto e de processos inerentes ao objeto em estudo, como pressupõe Meyer (2001). Trata-se, portanto, o estudo de caso, de um conjunto sistemático e detalhado de informações sobre uma pessoa, cuja unidade de análise é a sua própria vida. Nesse sentido, a investigação pode ser feita por meio de reconstrução de aspectos da história individual, da análise das evidências obtidas de diferentes fontes e das interpretações decorrentes.

O estudo de caso é uma estratégia que é indicada para os estudos que visam compreender um problema específico e para aqueles cuja especificidade é a ação prática. De acordo com André (2005), há muito os estudos de caso vêm sendo usados por diferentes áreas de conhecimento, tais como: Sociologia, Antropologia, Medicina, Psicologia, Serviço Social, Direito e Administração, embora com variações quanto aos métodos e finalidades.

Em Educação, como é a área desta pesquisa, entretanto, os estudos de caso só vêm a aparecer nas décadas de 1960 e 1970, nos manuais de metodologia de pesquisa, com um sentido muito estreito: estudo descritivo de uma unidade,  seja ela uma escola, um professor, um grupo de alunos, uma sala de aula, ou uma academia. Como se percebe estudo de caso, é empregado para levantar informações ou hipóteses para estudos futuros.

Segundo afirmam pesquisadores da área da Educação, muitos utilizam instrumentos de coleta, apresentam dados empíricos, mas há pouca exploração dos dados em termos de suas relações com o contexto em que foram produzidos e dos significados a eles atribuídos pelos sujeitos envolvidos. Para André (2005), tais pesquisas não atendem aos princípios das abordagens qualitativas, que constituem os fundamentos do Estudo de Caso consolidados na área de Educação nestes últimos 30 anos.

 

Um marco importante na introdução dessa perspectiva de Estudo de Caso qualitativo na área de Educação, foi uma conferência realizada em dezembro de 1975, em Cambridge, na Inglaterra, para discutir novas abordagens, em pesquisa e avaliação educacional. A conferência teve como título “Métodos de Estudos de Caso ”em Pesquisa e Avaliação Educacional”e deu origem ao livro editado por Helen Simons (1980) “Em direção a uma Ciência Singular” ( ANDRÉ, 2005, p.14).

 

Então, o que caracteriza o estudo de caso não é um método específico, mas um tipo de conhecimento: Estudo de Caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha do objeto a ser estudado. A questão fundamental, portanto, é o conhecimento que se deriva do caso, que se aprende ao estudar o caso.

Meyer (2001) recomenda que a apresentação de um Estudo de Caso especifique as decisões tomadas pelo pesquisador e também o que orientaram a seleção dos casos. E ainda, as técnicas e/ou instrumentos empregados na coleta das informações, bem como as formas por meio das quais os dados foram analisados e interpretados, seguido da apresentação dos procedimentos empregados na avaliação dessa pesquisa.

Entendemos, dessa forma, que o estudo de caso deve seguir o caminho da explicitação dos critérios científicos empregados nos diferentes momentos da realização de uma pesquisa. Essa recomendação contribui para a consolidação do Estudo de Caso como relevante estratégia de pesquisa, sendo assim, um caminho muito importante para ajudar na compreensão desse fenômeno tão complexo como é a relação da atividade física no tratamento da depressão.

 

O conhecimento que é gerado a partir de um estudo de caso tem características diferenciadas dos que se originam por outras formas de pesquisa. Os conhecimentos gerados pelo estudo de caso são: mais concretos, porque são vindos das experiências do dia-a-dia dos indivíduos e não de situações abstratas; são mais contextualizados, porque suas raízes estão dentro do contexto dos sujeitos e os conhecimentos produzidos, como parte da realidade local; mais voltados para a interpretação do leitor (MERRIAN apud ANDRÉ, 2005, p. 16).

 

 Como vemos, os sujeitos trazem para os estudos de caso as suas experiências e compreensões, que podem generalizar-se quando novos dados do caso são adicionados aos já existentes; são baseados em populações de referência determinadas pelo leitor. Implica que, ao generalizar, os leitores têm em mente certa população, dessa forma, o próprio leitor participa ao estender a generalização para populações de referência. Com base nessas características (André, 2005, p. 21) afirma que:

 

O estudo de caso educacional é quando muitos pesquisadores, usando estudo de caso, estão preocupados não com teoria social nem com a compreensão da ação educativa. Eles buscam enriquecer o pensamento e o discurso dos educadores seja pelo desenvolvimento de teoria educacional, seja...pela documentação sistemática e reflexiva de evidências. 

 

Nesta pesquisa, o estudo de caso, foi empregado como estratégia porque se compatibiliza com os objetivos que nos propusemos investigar e, ainda, por entendermos que o estudo de caso abre portas para melhor compreendermos o objeto da nossa investigação e assim contribuir para o bem-estar físico e psicológico, especialmente das pessoas que sofrem com a depressão.

Adotamos o procedimento de dar nomes fictícios aos sujeitos da nossa investigação, para que, dessa forma seja resguardada a ética na pesquisa.  Os sujeitos entrevistados foram selecionados aleatoriamente para efeito de organização dos dados e conseqüente análise e interpretação.

É pertinente ressaltar que os sujeitos aqui elencados são profissionais liberais que praticam atividade física diariamente nos últimos 5 anos nesta academia. Participaram deste trabalho porque mostraram disponibilidade de tempo e interesse para com a nossa pesquisa.

Com base nessa metodologia vemos que a mesma não pretende alcançar resultados capazes de descrever, em termos de regularidade, certas maneiras de agir nem formalizar padrões predizíeis de comportamento. O estudo de caso busca oferecer ao pesquisador instrumento que o auxilie a tratar e analisar as informações fornecidas pelos participantes da pesquisa, no intuito de construir um entendimento acerca dos pontos de vista e experiências relatados, no sentido de refletir sobre as significações que os próprios entrevistados a eles atribuem.

Como sabemos, em uma pesquisa qualitativa, o pesquisador é um dos principais instrumentos, entendendo que a sua compreensão é construída a partir do lugar sócio-histórico no qual se situa e como este se relaciona com os sujeitos da pesquisa.

Nesse sentido, a pesquisa qualitativa na abordagem sócio-histórica permite a relação entre sujeitos, e favorece uma interação mais próxima dos fenômenos psicológicos e dos sentimentos construídos. Na abordagem sócio-histórica, a pesquisa qualitativa tem “peculiaridade de ser compreendida como produção de linguagem” como afirma Freitas (2007, p. 34).

Este procedimento tem como característica a observação e a entrevista como instrumentos metodológicos coerentes na área das ciências humanas, de modo especial, no campo educacional para a produção de conhecimento. Nele, são verificadas todas as formas de discursos verbais, os gestos e outras expressões, as quais são internalizações da realidade da vida social e formadoras da consciência do indivíduo. Elas retratam a linguagem, acontecendo entre duas ou mais pessoas, sempre em um processo de interação verbal, dialógica, cujo objetivo é a compreensão mútua dos sujeitos em suas experiências sociais e culturais.

Esse método permite que as pessoas sejam ouvidas e as suas histórias valorizadas, não apenas por meio das significações expressas em seus discursos, mas também os subtextos e as ideologias implícitas e explícitas, uma vez que toda fala do indivíduo, na abordagem sócio-histórica, tem significado, pois ela é social, sendo essa, essencial para a existência humana.

Assim, com base nesta metodologia, os relatos são de entrevistas individuais, semiabertas, sendo que os pesquisadores se valeram de um roteiro mínimo pré-estabelecido.  Essa estratégia permitiu o diálogo mais aberto e franco entre os pesquisadores e os sujeitos, uma vez que o roteiro da entrevista não foi formado por perguntas e sim tópicos que facilitaram aos sujeitos maior interação durante a entrevista.

 

RECORTE DA PESQUISA DE CAMPO: ESTUDO DE CASO

 

 nossa pesquisa perpassa os rumos da história da saúde física e psicológica dos indivíduos sob o prisma da Educação Física e da Psicologia.  São os resultados de uma investigação destinada a conhecer a importância da atividade física como aliada ao tratamento das pessoas com depressão, em uma academia de musculação de grande porte e influência, estrategicamente localizada na cidade de Belém-Pará.  

A pesquisa de campo iniciou com uma entrevista semiestruturada com indivíduos que praticam atividade física nessa academia de musculação, no centro da cidade de Belém. Assim, a atividade física e a depressão se configuram como objeto de estudo e, como locus  da pesquisa de campo, a academia de musculação. Os sujeitos são 20 clientes matriculados nessa academia.

Os resultados dessa pesquisa são apenas um recorte do Estudo de Caso que, Runyan apud André (2005, p. 14) o conceitua como “um conjunto sistemático e detalhado de informações sobre uma pessoa, cuja unidade de análise é a sua própria vida”. Esse autor entende que a investigação pode ser feita por meio de reconstrução de aspectos da história individual, da análise das evidências obtidas de diferentes fontes e das interpretações decorrentes.

 

OS SUJEITOS DA PESQUISA

Para selecionarmos os entrevistados adotamos o seguinte critério: Levamos em consideração a disponibilidade de tempo, interesse e envolvimento com a pesquisa por parte dos sujeitos. É claro que não foi tarefa fácil, uma vez que os sujeitos entrevistados não dispunham de tempo suficiente para a nossa pesquisa, visto que são profissionais liberais, cuja agenda de compromissos os impede de ficar muito tempo na academia. Entrevistamos apenas vinte pessoas, sendo que dez pessoalmente e outros dez preferiram responder as questões de próprio punho. Os sujeitos foram selecionados aleatoriamente em um universo de 80 clientes, do horário matinal, compreendido das 05:00 às 09:00. Esses sujeitos receberam nomes fictícios para resguardar a ética na pesquisa.

Quando perguntados se a atividade física alterava os estados físico e mental, 9 pessoas manifestaram a mesma compreensão em suas respostas:

Maria, nível acadêmico superior, 40 anos de idade: “Me sinto muito bem e 

    diferente”.

José, nível acadêmico superior, 35 anos de idade: “Tenho dificuldade com o meu humor depressivo. Depois das atividades na academia, tudo fica bem melhor pra mim”.

Jennifer, Pedagoga, 30 anos de idade: “Busco viver bem, em equilíbrio entre o meu corpo e a minha cabeça. Isso pra mim é a busca da felicidade”.

Alice, nível acadêmico superior, 30 anos de idade: “Alivia as tensões das atividades profissionais. Serve para relaxar e melhorar o desempenho do corpo e da mente”.

César, nível acadêmico superior, 57 anos de idade: “Depois da atividade física a mente fica alegre, as coisas ruins vão embora. Faço atividade física para ficar bem fisicamente e me relacionar com outras pessoas na academia”.

Rodrigo, Nível acadêmico segundo grau completo, 66 anos de idade: ”Busco o equilíbrio físico e mental Acredito que a atividade física tem essa capacidade de manter a pessoa em equilíbrio”.

Graça, nível acadêmico segundo grau completo, 46 anos de idade: “Manter o equilíbrio mental. Atividade física me deixa mais relaxada e tranqüila”.

Rosenete, biomédica, 34 anos de idade: “Manter o equilíbrio entre o físico e o mental. Me deixa mais extrovertida e com mais ânimo”.

Socorro, Nível acadêmico médico completo: “Tenho depressão. Me deixa mais feliz, disposta, com paciência com a família, principalmente com o maridão e os filhos”.

Outra questão levantada foi em relação à importância da prática da  atividade física no tratamento do depressivo. Entre as respostas, apenas um dos sujeitos referiu não conhecer nada a respeito. Quanto aos demais sujeitos, todos foram unânimes em afirmar positivamente quanto à importância da atividade física aliada ao tratamento, como se verifica no relato da Graça, quando foi entrevistada:

“Tive depressão e síndrome do pânico. Fazer atividade física ajuda a equilibrar o bem-estar mental e físico. Era assim que eu me sentia e hoje sei que atividade física faz bem e me ajuda a organizar a minha vida e meus sentimentos”.

 

Entre as falas dos investigados foram recorrentes as afirmações de que a atividade física era, sim, coadjuvante no tratamento, visto que ela melhora o humor e a auto-estima do indivíduo, assim como regula o stress e proporciona a socialização.

Assim, os sujeitos relataram os principais benefícios que a atividade física proporciona:

Gilber, Nível acadêmico superior, 42 anos ( depressivo):” Melhora o humor e tira o stress. Agente consegue viver melhor”.

Socorro, Nível acadêmico médio, 35 anos (depressiva): “A pessoa se sente mais útil, feliz e a auto-estima fica lá em cima”.

Rodrigo, nível acadêmico segundo grau completo, (depressivo): “Melhora a auto-estima e levanta o astral”.

Segundo o relato desses sujeitos, a prática da atividade física, em qualquer modalidade, apresenta resultados satisfatórios, na medida em que esses sujeitos começam a interagir com outras pessoas, preenchem o tempo com uma atividade prazerosa, a qual os deixa mais animados e com a cabeça pensando em outra direção.

 

 

O LOCUS DA PESQUISA

 

Privilegiamos como locus dessa investigação uma Academia de Musculação que está situada na capital paraense, localizada numa área central da cidade de Belém, em uma avenida com grande movimentação de veículos, onde alguns edifícios e confortáveis casas luxuosas são erguidos em seu entorno.

 O edifício em que funciona a academia é uma construção recente, com espaço amplo para as atividades, assim distribuído: 3 salas de musculação,  1 sala de cárdio e alongamento, 1 piscina,  2 salas de ginástica localizada e 6 salas de avaliação física. O espaço físico da academia comporta 200 aparelhos de musculação, incluindo os aparelhos ergométricos.

A academia é servida por 4 vestiários com instalações sanitárias para homens e mulheres em separado. Conta ainda, com uma secretaria, departamento pessoal, recepção e serviço de segurança terceirizada, estacionamento para aproximadamente 100 carros,  1 lanchonete, 3 salão de beleza, 2 lojas de materiais esportivos, produtos de beleza, estética e suplementos alimentares. Nessa academia estão matriculados em torno de 5 mil pessoas nos turnos matinal, vespertino e noturno, sendo que a mesma funciona 24 horas por dia em que trabalham 150 funcionários no serviço de limpeza e 6 outros que cuidam da portaria. Ao todo são 60 professores entre estagiários e profissionais já formados em Educação Física, além de 3 nutricionistas, 1 psicóloga e 6 fisiologistas.

 

OS PROCEDIMENTOS ADOTADOS NA PESQUISA

 

Inicialmente os pesquisadores se reuniram para definir o tema a ser investigado, seguindo-se a elaboração do pré projeto. Para selecionarmos os entrevistados adotamos o seguinte critério: Levamos em consideração a disponibilidade de tempo, interesse e envolvimento com a pesquisa, adotando a seguinte estratégia complementar:

  1. Os entrevistados ficaram livremente para falar sobre a importância da atividade física para o bem estar físico e mental deles.
  2. As entrevistas oportunizaram um momento livre para que os sujeitos abordassem livremente sobre a compreensão deles tanto sobre a importância da atividade física quanto sobre os casos de depressão.
  3. O papel dos entrevistadores foi o de instigar os sujeitos a falarem sobre o tema, e sempre que os sujeitos falavam, os pesquisadores se preocupavam em prestar atenção à fala, repetir a pergunta ou repetir o que tinham escutado, de modo que os entrevistados ficassem com total liberdade e segurança para se manifestar.

As entrevistas foram realizadas na sala de avaliação física, ambiente da própria academia, sendo que as condições em que ocorreram todas as entrevistas contribuíram para que os sujeitos se sentissem à vontade ao compartilhar suas experiências, expressando confiança nos pesquisadores.

As entrevistas foram gravadas com a autorização dos sujeitos.  De acordo com Nogueira-Martins (2004, p.53) “a gravação tem a vantagem de registrar todas as expressões orais, deixando o entrevistador livre pra prestar toda a sua atenção ao entrevistado”. Como sabemos a pesquisa pode se beneficiar do uso da gravação ou outros recursos técnicos como instrumentos mediadores e reveladores das intensas experiências culturais e subjetivas que estamos vivendo no momento atual.

Realizamos a transcrição dos dados coletados das gravações, procurando preservar as características da fala dos entrevistados a fim de manter a autenticidade dos relatos. Terminada a transcrição, procedemos à sistematização dos dados. As considerações realizadas nesta análise serviram de base para as considerações finais apontadas em nossas conclusões.

 

ANÁLISE COMPLEMENTAR

 

Com base nos relatos dos sujeitos, podemos inferir que a atividade física é importante aliada no tratamento do paciente depressivo, visto que em suas falas foram objetivos em fazer declarações afirmativas, como aparece no fragmento argumentado pela Jennifer, 30 anos de idade, cliente da academia:

“É importante porque nos deixa de bem com a vida, além de nos auxiliar no cumprimento de nosso dia-a-dia que é repleto de atividades. Eu que sou pedagoga (depressiva), estou em constante atividade e realizando diferentes atividades em um único dia, se eu não praticasse exercícios físicos, talvez não teria um bom rendimento em meu trabalho, que é exaustivo”.

 No transcorrer da nossa pesquisa, foi possível transitar por uma relação de teóricos conceituados nas áreas da educação física e da psicologia. Isso nos fez ver a importância que tem a Educação Física, tanto para o desenvolvimento físico quanto o psicológico na formação do caráter dos indivíduos e sua saúde mental. Vemos, portanto, que a atuação do professor de Educação Física, é bastante ampla, como é o caso do objeto deste estudo. Foi, portanto, a partir dessa reflexão que empreendemos a pesquisa. Essa é uma constatação que se verifica não penas no campo teórico como afirma Cheik  (2003):

 

Além disso, o exercício físico leva o indivíduo a uma maior participação social, resultando em um bom nível de bem-estar biopsicofísico, fatores esses que contribuem para a melhoria de sua qualidade de vida (9, 14). Durante a realização de exercício físico, ocorre liberação de bendorfina e dadopamina pelo organismo, propiciando um efeito tranqüilizante e analgésico no praticante regular, que frequentemente se beneficia de um efeito relaxante pós-esforço e, em geral, consegue manter-se um estado de equilíbrio psicossocial mais estável frente às ameaças do meio externo (HTTP://www.wfdeportes.com/efd79/depres.htm ) acesso em 27 de abril de 2010.

 

Esse relato é constatado no depoimento de Ricardo, cliente da academia de musculação, que assim se referiu:

“Sempre lutei com muita dificuldade por causa dessa depressão. Muitas vezes eu quis morrer porque achava a vida sem motivo. Você não imagina o que é essa doença, mas graças a Deus hoje vivo bem melhor. Faço psicoterapia e fui aconselhado a alguma atividade física [...] hoje sou outra pessoa. A atividade física relaxa, ganhei amigos na academia, saio para me divertir e os maus pensamentos foram embora”.

Como se percebe, a atividade física beneficia não só a saúde física, como também a mental, sendo, portanto, eficaz tanto na prevenção quanto no tratamento da depressão.

Das vinte pessoas entrevistadas, seis declararam serem depressivas diagnosticadas, em tratamento ou fora dele, porém mantendo a atividade física. Ficou claro que a atividade física que praticam é a musculação. Relatam que houve evolução no tratamento, uma vez que a vida deles mudou para melhor. Os principais resultados giram em torno da regularidade do humor estável, a auto-estima, a socialização, o desejo de querer encarar os desafios que a vida lhes impõe e novas perspectivas para o futuro.

Durante o percurso da pesquisa, esses clientes da academia, que em nossa investigação são os sujeitos, mostraram-se bastante entusiasmados em poder participar do trabalho. A aproximação com eles ficou mais relacional e, eles queriam sempre saber como estava evoluindo a nossa pesquisa. Era como se quisessem contribuir um pouco mais dando outras informações.

As entrevistas aconteceram em um período de dois meses, porém os clientes, após a pesquisa, mantiveram e intensificaram a relação com os pesquisadores, visto que um dos pesquisadores continuou a exercer suas atividades profissionais na mesma academia de musculação, locus desse trabalho.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A nossa investigação partiu do desejo dos pesquisadores em querer aprofundar conhecimento sobre a contribuição da atividade física no tratamento da depressão, visto que em nossas atividades profissionais, o numero de pessoas que nos procuram para fazer os seus relatos sobre a depressão aumenta à proporção que o tempo evolui e a confiança é conquistada. Após o percurso teórico e a pesquisa de campo, chegarmos ao término do trabalho com as nossas Considerações Finais.

Construir esse trabalho não foi tarefa fácil, mas ao mesmo tempo prazeroso, uma vez que a temática nos remete a um grande desafio que a cada dia precisa ser revisitado, tanto pelo aumento de numero de casos, quanto pelo sofrimento psóquico que as pessoas apresentam.

Recorremos ao estudo de caso como estratégia para tornar clara a temática. Essa estratégia de pesquisa possibilita a interpretação de informações pormenorizadas sobre uma cultura, um evento ou uma pessoa, como vimos em André (2005). E nesta pesquisa, na configuração do caso, o grande desafio foi enfrentar a complexidade imbricada dos objetos estudados: a atividade física no tratamento da depressão.

É claro que ao chegarmos a esse momento da pesquisa, nem de longe ousamos afirmar ter esgotado o tema e colocar um ponto final na discussão. Certamente continuará a ser uma temática geradora de tantas outras reflexões, visto que se trata de um fenômeno cada vez mais recorrente na sociedade atual, a depressão.

A atividade física hoje, não é uma questão de modismo, em que as pessoas buscam o bel, o estético e a performance corporal, mas antes de tudo, uma questão de saúde do ser total em suas indivisíveis dimensões biológicas, psicológicas e sociais. É nesse contexto que o ser humano constrói e reconstrói os seus saberes e as relações consigo mesmo e com o outro. Como pensamos cada indivíduo constrói sua história por meio das relações familiares e sociais, e, ao mesmo tempo, o conhecimento e as emoções vão sendo construídos em um processo de múltiplas aproximações e trocas entre as pessoas. Esse movimento não ocorre como uma abstração inerente ao ser humano singular, mas consubstancia-se enquanto ser objetivo, produzindo, reproduzindo e construindo a sua história.

 Neste estudo, fazemos um breve resgate do conceito de Atividade Física  e sua importância como aliada no tratamento da Depressão. Constatamos, nas falas dos sujeitos que não há dúvida quanto as contribuições resultantes da atividade física, sendo, assim elementos constituintes no processo. O estudo de caso, portanto, revelou que tanto atividade física quanto depressão se entrecruzam, sendo que o indivíduo que sofre de depressão recebe influências favoráveis em seu tratamento quando pratica atividades físicas de modo regular e orientada por profissionais qualificados.

Identificamos, ainda, que a atividade física além de prevenir contra os sintomas, também favorece ao tratamento. Constatamos que pacientes procuram a atividade física como forma de tratamento dos seus sintomas e são ajudados a ultrapassarem os limites que a depressão lhes impõe.  

As atividades físicas são lúdicas e permitem o contato e o contágio social e, dessa forma, podemos afirmar que o ambiente da academia de musculação beneficia aquele que busca viver bem, com o equilíbrio biopsicossocial, dimensões que constituem o ser humano como um ser total, multidimensional.

Constatamos neste estudo o quanto o papel do professor de física é importante como mediador da saúde do ser humano. Trata-se, portanto da significação e da valorização desse profissional no processo da busca do bem-estar das pessoas.  E como se trata de uma complexa compreensão sobre o quadro depressivo, é pertinente que o profissional de educação física tenha, ao menos, a mínima informação sobre o que é e como se configura um quadro depressivo, para, a partir de então, elaborar um plano que atenda a sua clientela.

A compreensão a que chegamos sobre a contribuição da atividade física no tratamento da depressão é que essa se constitui aliada no tratamento do depressivo, da qual não se pode abrir mão, visto que as pesquisas comprovam os seus benefícios.

Nesse sentido, fazemos o resgate da fala do cliente da academia de musculação, o Claudio que assim se referiu:

“Eu faço atividade física porque me sinto muito bem e fico pronto para as minhas atividades no trabalho. No dia que não pratico atividade física parece que o dia fica mais chato, coisa que não consigo explicar [...] mas eu tenho um parente que faz musculação porque sofre de depressão. Eu noto a diferença nela desde o dia em que ela começou a fazer atividade física. Com certeza ela tem reagido bem melhor. A diferença entre o antes e o depois é muito grande”.

Certamente que ao término desta pesquisa, ainda muitas dúvidas poderão surgir quanto ao papel da atividade física nesse processo, afinal,  por serem naturais a qualquer ser humano, considerando que somos seres inacabados, alguém que vive em constante busca do conhecimento e de sua auto-afirmação. E como sabemos a própria ciência ainda não desvendou totalmente os mecanismos que propiciam os ganhos da atividade física aos indivíduos. Aparentemente, quando praticada com regularidade aumenta a liberação pelo cérebro de substâncias como a serotonina, a qual melhora o humor e bem-estar, e endorfina que propicia o alívio da tensão e da ansiedade.

Certamente que a caminhada ainda parece ser longa, e esperamos que essa pesquisa possa abrir caminhos para que outros pesquisadores avancem nessa construção. Ao final de nossas existências teremos alcançado o final de todas as nossas buscas, ou continuaremos tentando alcançar essa conquista?

 

 

 

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[1] Andrey Rocha dos Santos, acadêmico de Educação Física;

[2] Psicólogo, Mestre em Educação;

[3] Prof. Educação Física, especialista em Fisiologia do Exercício.

Andrey Rocha Dos Santos[1]

Iracildo Pereira Castro[2]

Murilo Viegas[3]

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