Contribuições ao Entendimento do que Possa vir a Ser Realidade

Por Gustavo Limeira | 17/09/2014 | Filosofia

 “O que pode vir a ser realidade?” questiono-me. Obviamente que, realidade é tudo aquilo que existe. Que pergunta mais louca esta minha. “Mas, como sei que algo existe?” questiono-me novamente. Sentindo: vendo, ouvindo, tateando, etc. “Então, tudo que passa pela minha faculdade de sentir, é real?!” Obviamente que sim. Eu e estes meus questionamentos sem sentido. Entretanto, deixe-me olhar isto com mais atenção. 

As coisas são reais, justamente porque eu as enxergo. Entretanto, como meu cérebro humano, as enxerga? Sendo eu um ser tricromata, ou seja, um ser dotado da capacidade de perceber três tonalidades distintas (azul, verde e vermelho), que somente a partir delas me é possível enxergar as demais cores, penso: para que possa perceber estas três tonalidades, é necessário que eu tenha múltiplas células sensoriais, que filtrem a intensidade do espectro luminoso ao qual dirijo meu olhar, e envie para meu cérebro. E como isto só é possível quando presente o espectro luminoso, penso novamente: o que vem a ser isto? Pois bem. O chamado “espectro luminoso” é uma pequena faixa visível ao olho humano, que vai de aproximadamente 400, até 600 ou 700 nanômetros (1 nanômetro, equivale a 1 milímetro, dividido por 1 milhão). E é justamente dentro desta faixa de onda, que nossas múltiplas células sensoriais filtram o espetro, e enviam com estímulos eletrônicos para nosso cérebro, possibilitando assim, a nossa visão. Contudo, isto não será possível se os cones não reconhecerem as cores, os bastonetes não reconhecerem a luminosidade, e enfim, não haver estes estímulos no cérebro. Sendo assim, nossa visão, só é possível quando há estes estímulos. 

Pois bem. Já entendi como se da minha visão. Agora penso: como se da minha audição?. Vejamos. Tomemos por base o espectro sonoro, que nada mais é do que o conjunto de freqüências de vibrações, que podem ser produzidas pelas mais diversas “fontes sonoras” existentes em nosso planeta. E, assim como não temos olhos capazes de enxergar todos os espectros luminosos, assim também, não temos ouvidos para captar todos os sons emitidos por nosso planeta, ou pelos seres que nele habitam. De um modo geral, existem três níveis de sons em nosso planeta, que são eles: 1) infra-sons. Possuem uma freqüência inferior a 20Hz, que geralmente são emitidos pela crosta terrestre, e que o ser humano não é capaz de ouvir; 2) ultra-sons. Possuem uma freqüência superior a 20.000Hz, e são usados geralmente em pescas, para a identificação de grandes cardumes, ou na medicina, para fins ecográficos; 3) sons audíveis. Estes, são os que estão entre 20Hz e 20.000Hz, que é justamente tudo o que conseguimos ouvir. Pouco, se comparado a animais como os golfinhos ou morcegos, que conseguem captar sons que chegam a 120.000Hz. Todavia, de igual modo, tudo isto não seria possível, se o órgão de corti não enviasse os estímulos nervosos ao cérebro. Sendo assim, mais uma vez, nossa audição só é possível quando há estes estímulos.

Pois bem, é muito bom ter o conhecimento de como funciona determinados órgãos de nosso corpo. Mas, isto só contribui para a idéia de que, a realidade, ou o que a maioria das pessoas chama de realidade, nada mais é do que estímulos nervosos enviados a nosso cérebro. E aí eu lhe pergunto: estaria certa esta afirmação? A realidade não passaria de estímulos cerebrais? Pois, sendo a realidade somente estímulos que meu cérebro consegue captar, boa parte das coisas existentes no mundo – e nem ouso dizer em nossa via láctea – não existiria, simplesmente pelo fato de não as percebermos, e seguindo esta linha de raciocínio, estaria claro que a noção comum de realidade esta tremendamente equivocada. 

Sendo assim, o que pode vir a ser realidade nada mais é do que a junção que fazemos de estímulos perceptíveis a nós, a qual criamos mais estímulos para tentarmos explicar ou ilustrar para nossos semelhantes, o que aquilo se parece para nós e ainda por cima que sentimentos muitas das vezes brotam em nosso interior, após atribuirmos algum significado aquela determinada coisa, pessoa, situação, construção, relação, etc. Ou seja, muito ou quase todo o mundo que temos a nossa volta, é basicamente virtual. Nada mais que isto. Pois, temos: estímulo, sensação, tentativa de descrição da sensação, e quando há êxito, há a concordância coletiva devido a descrições extremamente semelhantes da mesma coisa, pessoa, situação, construção, relação, etc., e fim, a partir disto julgamos estar vivendo a realidade, quando, verdadeiramente, não vivemos mais que mundos de sentidos, isolados e virtuais. 

Entretanto, pode haver uma pequena confusão no que diz respeito a realidade. Pois, se nada é aparentemente real, nada existe. Daí, tenho a oportunidade de concluir: toda linha de raciocínio aqui exposta, não passa de uma grande bobagem. Entretanto, posso concluir de igual maneira:  toda linha de raciocínio aqui exposta esta em perfeita harmonia com os processos naturais de nossas mentes. Pois, ao mesmo tempo em que todas as coisas são virtuais e não reais, como pensava que fossem, tudo dentro desta virtualidade é real. Seja olhando para os diversos mundos particulares, que cada um de nós criamos, seja olhando para o mundo a qual todos nós cremos ser real, isto se da de igual modo. Dentro desta nossa grande rede de virtualidade, tudo é aparentemente real.