Contos de Fada - Segundo Carl Jung

Por Carmem Melo Lima Nascimento | 02/08/2011 | Psicologia

Contos de Fada - Segundo Carl Jung

(Por: Carmem de Melo Lima Nascimento)

Contos de fada, assim como os sonhos, são representações de acontecimentos psíquicos. Contudo, os sonhos têm caráter pessoal enquanto os contos de fada encenam os dramas da alma de todos os homens em comum.
Originam-se nas camadas mais profundas do inconsciente (arquétipos). Por isso repetem-se de maneira tão evidente em distintos países.
Segundo Jung, "mitos e contos de fada dão expressão a processos inconscientes e sua narração provoca a revitalização desses processos, estabelecendo assim conexão entre consciente e inconsciente", visto que tratam-se de verdades subjetivas narrada na linguagem dos símbolos.
Analisando o conto da "Bela adormecida", vemos que inicialmente uma rã anuncia que a Rainha finalmente será mãe. (É freqüente um período de esterilidade antes do nascimento dos heróis, assim como é freqüente estados de depressão antes de fases de intensa atividade do inconsciente).
A rã é um animal relacionado ao anúncio da primavera, ou seja, da boa nova. Como sai da água para abordar a Rainha, pode ser subentendida como o pênis que a fecundará.
Uma fada deixa de ser convidada. (Se deuses, deusas ou fadas representam conteúdos do inconsciente coletivo, esquecer de um deles significa que surgirão desarmonias dentro do sistema psíquico).
A fada esquecida lança um feitiço e, por ele, a princesa morrerá na puberdade. Outra fada atenua o feitiço transformando-o em sono. (Aqui a morte representa a completa repressão do inconsciente enquanto o sono secular indica que um longo período de repressão decorrerá ainda antes que esse conteúdo possa atingira a consciência. Fica evidente aqui a repressão do instinto sexual, sanção máxima da civilização cristã. A princesa adormece exatamente no momento em que torna-se apta a procriação, ou seja, na puberdade).
No dia de seu aniversário a princesa encontra-se com a velha (provavelmente a fada esquecida que reaparece) e, ao tocar no tear (tecer relaciona-se estritamente com a feminilidade), fere-se no fuso (que, pela forma e contexto, agrega características evidentemente fálicas, representando o órgão masculino que não pode ainda ser tocado e, caso haja o desrespeito a esta sanção, inicia-se o período de castigo). Verificamos aqui o afloramento das características coletivas da civilização patriarcal cristã. Esta situação coletiva causa estagnação no desenvolvimento da psique da mulher, produzindo reações agressivas, representadas neste conto pela sebe de espinhos, instransponível até que a princesa esteja pronta, o que ocorre cem anos mais tarde quando o príncipe consegue entrar com facilidade no castelo (reflete a mudança brusca da situação coletiva).
Do ponto de vista masculino, o conto aborda o rompimento dos laços familiares do príncipe (filho) que vai em busca da mulher desconhecida e aprisionada. Unindo-se a ela, o herói cumpre o requisito necessário para completar sua personalidade e estabelecer seu próprio reino.
A Dra. M.L. Von Franz do Instituto C.Jung, depois de estudar inúmeros contos de fada, concluiu que todos descrevem o mesmo tema: A busca da totalidade psíquica.